UM LIVRO BÍBLIA, DOIS PASQUINEIROS TROCANDO FIGURINHAS E AS FRASES RECOLHIDAS ANTES DO PRESENTE SER REMETIDO VIA CORREIOS Márcia Neme Buzalaf tem profundos laços em Bauru e hoje reside em Londrina, mestra na UEL – Universidade Estadual de Londrina. Éramos amigos internéticos sem nos conhecer pessoalmente. No Congresso realizado em março na Unesp Bauru, o RED INAV a conheci. Tínhamos trabalhos para apresentar na mesma sala. Conversando descobri ser ela pasquineira, ou até mais que isso. Pasquineiro sou eu, ela é uma estudiosa do que foi e representou de fato o semanário (ou hebdomadário, como Jaguar o chamava) carioca O PASQUIM. Disse ter sido indicada (por não me lembro quem) para pesquisar algo sobre o jornal no meu blog, pois escrevia muito desse assunto. Assim nos tornamos amigos. Ainda no Congresso falo de um livro, lido décadas atrás e esquecido numa estante no Mafuá e que talvez pudesse servir para ela, era algo contando da história deles. Passado mais de um mês, tiro foto da capa do livro e envio com um recado: “O livro que tenho é esse (O Pasquim e os anos 70, José Luiz Braga, Edit.UNB,1991, 258 págs). Quer?”. Ela me responde informando já ter tido o mesmo: “Este livro do Braga é a bíblia sobre o Pasquim! Eu o tinha, emprestei para algum aluno e se perdeu. Tenho uma cópia, mas tê-lo em papel, ainda mais como presente seu, seria maravilhoso”. Acerto de lhe enviar o livro e quando vou fazê-lo, encontro um amigo e o mesmo se interessa pelo dito cujo. Digo que já tem dono, ele insiste e o máximo conseguido foi produzir algo gileteado, ou seja, cópia do mesmo, com espiral e encadernação. O livro seguiu ontem para ela e como retribuição sugeri algo assim: “Recebendo ele, escolha um dos que acha que não tenho e me envie”. Ela topou e dessa forma ganharei o “O queijo e os vermes”, do Carlos Ginsburg, que também já tive e o perdi não sei onde e como, talvez cupins, enchentes, empréstimos, surrupiado, enfim, o terei de volta.
O livro seguiu pelo Correio ontem, sexta, 20/05, mas antes tive o capricho de copiar e aqui as espalho ao vento, as frases que havia grifado quando da leitura (esqueci de dizer isso a ela, tudo meu eu grifo). Quem foi leitor do velho e saudoso Pasquim vai adorar rever algo dele e para quem não o foi, talvez a importância de conhecer algo único na história do jornalismo brasileiro. Vamos a elas:
- “O Pasquim g(l)ozava os grandes temas da imprensa acomodada, fazendo uma revisão, via humor e ironia, do noticiário impingido diariamente e oferecendo assim uma saudável terapia para uma ampla camada que não tendo alternativa era também leitora da grande imprensa”,
- “...é um órgão tagarela, falando de tudo, que no seu humor giratório, não poupa nem a si próprio”.
- “... a vontade de escrever sobre esse jornal deriva de um sentimento da importância de sua contribuição, como oposição à política dominante, como contestação ao silêncio e à repressão, como criação original de imprensa, e como sustentação de valores alegremente libertários (em sua essência, populares)”.
- “O Pasquim – sempre em alta graças ao nosso baixo nível”.
- “Um jornal que só diz a verdade quando está sem imaginação”.
- “Estranho que num país com mais de 60% de analfabetos o poder público esteja tão preocupado com o que dizem meia-dúzia de escritores”.
- “A frase lema propõe: imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”.
- “O Pasquim conclui que só é possível fazer oposiçãozinha”.
- “Empacotados sim, embrulhados nunca”.
- “O jornal não faz reportagem: apresenta-se quase sempre com a característica de comentário, análise, opinião. Nisso coincide com uma expectativa associado a seu ritmo semanal”. - “Na grande imprensa ninguém diz nada. Todo mundo declara, afirma, anuncia, redargue, retruca, obtempera”.
- “Não foi o Pasquim que se tornou mais sério, foram os outros que perderam algo da rigidez anterior”.
- “Cada artigo é desenvolvido por seu autor sem obediência a uma pauta. O resultado tem a aparência de uma coleção de ensaios – e o Pasquim poderia ser visto como uma revista cultural mais do que jornal de assuntos gerais. (...) ...a atualidade é vista através das preferências pessoais do jornalista”.
- “...o Pasquim adota como lema uma frase que muda a cada semana. (...) O Pasquim tem que se redefinir a cada semana, e ao fazê-lo exprime também sua opinião sobre sua atualidade política: que exige do jornal o esforço de renascer (ou de morrer) semanalmente”.
- “...a charge é uma espécie de editorial, independente e personalizado”.
- “...cada colaborador traria uma contribuição inteiramente pessoal e independente, sem obedecer a nenhum plano. (...) A pauta é o jornal. (...) O Pasquim seria uma espécie de jornal de colunas. Como sabemos, as colunas pessoais nos jornais são espaços dentro dos quais se escapa à pauta. (...) ...o discurso do jornal aparece sempre dirigido a alguém. (...) ...são as preferências pessoais que vão determinar a escolha de fatos importantes e dignos de abordagem. (...) O tom geral das matérias é o do argumento, da crítica, da sátira”.
- “Pobre da cultura, do movimento que não sabe rir de si próprio”. - “...desponta sempre a crítica contra a lógica autoritária. (...) O debate interno é tornado viável pelo riso que apazigua certas contradições”.
- “...embora carregada muitas vezes de indignação ou de agressão satírica, a análise pasquiniana é rigorosa, bem informada e objetiva, o que afasta a ideia de simples panfletagem”.
- “O Pasquim lembra que quem tem cu tem medo e funciona como uma estratégia para lembrar que há motivos reais de se ter medo”.
Enfim, continuar falando e escrevendo mais e mais do Pasquim é tudo de bom. Não me canso de fazê-lo e Márcia, mais que isso, a danada estuda a coisa e conhece a fundo (epa!) a história toda. E escrever de e sobre livros, um deleite. Sempre que o faço, meu astral sobe pra estratosfera.
- “...é um órgão tagarela, falando de tudo, que no seu humor giratório, não poupa nem a si próprio”.
- “... a vontade de escrever sobre esse jornal deriva de um sentimento da importância de sua contribuição, como oposição à política dominante, como contestação ao silêncio e à repressão, como criação original de imprensa, e como sustentação de valores alegremente libertários (em sua essência, populares)”.
- “O Pasquim – sempre em alta graças ao nosso baixo nível”.
- “Um jornal que só diz a verdade quando está sem imaginação”.
- “Estranho que num país com mais de 60% de analfabetos o poder público esteja tão preocupado com o que dizem meia-dúzia de escritores”.
- “A frase lema propõe: imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”.
- “O Pasquim conclui que só é possível fazer oposiçãozinha”.
- “Empacotados sim, embrulhados nunca”.
- “O jornal não faz reportagem: apresenta-se quase sempre com a característica de comentário, análise, opinião. Nisso coincide com uma expectativa associado a seu ritmo semanal”. - “Na grande imprensa ninguém diz nada. Todo mundo declara, afirma, anuncia, redargue, retruca, obtempera”.
- “Não foi o Pasquim que se tornou mais sério, foram os outros que perderam algo da rigidez anterior”.
- “Cada artigo é desenvolvido por seu autor sem obediência a uma pauta. O resultado tem a aparência de uma coleção de ensaios – e o Pasquim poderia ser visto como uma revista cultural mais do que jornal de assuntos gerais. (...) ...a atualidade é vista através das preferências pessoais do jornalista”.
- “...o Pasquim adota como lema uma frase que muda a cada semana. (...) O Pasquim tem que se redefinir a cada semana, e ao fazê-lo exprime também sua opinião sobre sua atualidade política: que exige do jornal o esforço de renascer (ou de morrer) semanalmente”.
- “...a charge é uma espécie de editorial, independente e personalizado”.
- “...cada colaborador traria uma contribuição inteiramente pessoal e independente, sem obedecer a nenhum plano. (...) A pauta é o jornal. (...) O Pasquim seria uma espécie de jornal de colunas. Como sabemos, as colunas pessoais nos jornais são espaços dentro dos quais se escapa à pauta. (...) ...o discurso do jornal aparece sempre dirigido a alguém. (...) ...são as preferências pessoais que vão determinar a escolha de fatos importantes e dignos de abordagem. (...) O tom geral das matérias é o do argumento, da crítica, da sátira”.
- “Pobre da cultura, do movimento que não sabe rir de si próprio”. - “...desponta sempre a crítica contra a lógica autoritária. (...) O debate interno é tornado viável pelo riso que apazigua certas contradições”.
- “...embora carregada muitas vezes de indignação ou de agressão satírica, a análise pasquiniana é rigorosa, bem informada e objetiva, o que afasta a ideia de simples panfletagem”.
- “O Pasquim lembra que quem tem cu tem medo e funciona como uma estratégia para lembrar que há motivos reais de se ter medo”.
Enfim, continuar falando e escrevendo mais e mais do Pasquim é tudo de bom. Não me canso de fazê-lo e Márcia, mais que isso, a danada estuda a coisa e conhece a fundo (epa!) a história toda. E escrever de e sobre livros, um deleite. Sempre que o faço, meu astral sobe pra estratosfera.
Um comentário:
COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
Gilberto Truijo como dia leila diniz.
Maria Cecilia Martha Campos Ficava só esperando a chegada do novo número! Que companhia da *#* eu tinha!
Fatima Brasilia Faria Sempre bom ler suas escrivinhações Henrique Perazzi de Aquino, o Pasquim era delicioso e as charges.....
Henrique Perazzi de Aquino Lembro muito bem do dia em que comprei esse livro. Foi no Rio de Janeiro, numa pequena livraria junto ao teatro Glauce Rocha, tempos da FUNARTE (nem sei se ainda existem, a livraria e o teatro), na avenida Rio Branco, centro nervoso da capital carioca. Pasquineiro bate o olho em algo sobre essa sua preferência, logo fica assanhado. Conferi o que tinha nos bolsos e trouxe o livro pra casa. Foi em 1999, tanto tempo na minha estante e hoje indo conhecer outros ares.
Henrique Perazzi de Aquino Maria Helena Ferrari, o teatro Glauce ainda existe? E a pequena livraria?
Maria Helena Ferrari O teatro foi reformado e está lá. A livraria, não sei; porque a gente tem ali perto a nossa, não é? hihihi! Brincadeira: vc está se referindo à Leonardo da Vinci? Esta quase acabou, mas acho que foi ressuscitada por alguns abnegados. Rodrigo Ferrari poderá lhe informar melhor. Beijo.
Henrique Perazzi de Aquino Não era a Da Vinci não (essa conheço bem, era ou ainda é, pois estava para fechar, num subsolo na Rio Branco), era uma junto do teatro, mas acredito não mais existir.
Ana Maria De Carvalho Guedes Márcia Neme Buzalaf é coisa nossa.
Márcia Neme Buzalaf Somos da República Democrática de Bauru, né, Ana Maria De Carvalho Guedes amada. Saudades!
Ana Maria De Carvalho Guedes Te amo muito.
Márcia Neme Buzalaf Vínculo com a família Carvalho Guedes vem de tempos e é pra vida toda Emoticon heart
Ana Maria De Carvalho Guedes Dia do abraço.
Glauce Gonçalves Marcia, linda uma excelente profissional. Tive o prazer de te la como professora na faculdade. Sds bjao.
Márcia Neme Buzalaf Ô, querida, lembro de vc. Na USC, né? Obrigada pelo carinho.
Glauce Gonçalves Sim sim. Emoticon smile sds bjao
Maria Cecilia Martha Campos Também tive a sorte de estar com ela por uns anos no curso de Jornalismo. Saudade de seu entusiasmo!
Márcia Neme Buzalaf Aprendi muito ali na Unip com vcs, Maria Cecilia. Turminha boa, né? Dia desses recomendei a uma aluna sua dissertação de mestrado. Beijão com saudade de vc.
Márcia Neme Buzalaf Pô, que duca! (como cunhou o Pasquim) Obrigada pela homenagem, Henrique. Nos conhecemos meio que já nos conhecendo. Sempre admirei seu trabalho e estou honradíssima por fazer parte do Mafuá. Esperando ansiosa pelo livro. Na sequência, Ginzburg vai ao te encontro. Beijão.
Márcia Neme Buzalaf Henrique Perazzi de Aquino, me marque na publicação Emoticon smile
Ivy Wiens Quanta coisa boa junta, para começar bem a semana!!!!!! Gratidão Henrique Perazzi de Aquino por todas as lembranças (e pinçadas de frases certeiras no meio de uma obra tão rica). E que bom ver a Márcia Neme Buzalaf no Mafuá!!!!
Henrique Perazzi de Aquino Quando a descobri pasquineira de mão mais que cheia, pronto a empatia foi imediata.
Márcia Neme Buzalaf Ivy Wiens, quanto tempo! Henrique realmente extraiu trechos incríveis do Pasquim. Beijo nos 2.
Fábio Alves Silveira que legal! Conheci a bauruense Márcia Neme Buzalaf aqui em Londrina e o bauruense Henrique Perazzi de Aquino lá em Bauru, mesmo. Fizemos uma disciplina na Unesp no ano passado. Esse livro do Ginsburg, repassado pela Márcia, é muito bom. Ela o indicou para mim com uma recomendação: dá para ler tomando uma cerveja. Interessante que quando eu passei no vestibular da UEL, em 1991, também passei na Unesp/Bauru, mas no fim optei pela UEL e por Londrina. Não me arrependo, mas 25 anos depois, minha vida passou novamente por Bauru, agora no doutorado. Pela amostragem que tive das pessoas de Bauru, como a Márcia e o Henrique, minha passagem pela cidade está sendo e será muito proveitosa.
Postar um comentário