domingo, 4 de junho de 2017

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (90)


UM BAR

Vi dias atrás um trailer de um novo filme espanhol, “Um bar” (El bar), do espanhol Alex de la Iglesia e, na qualidade de emérito frequentador de variados e múltiplos bares, me pus a pensar sobre isso, a ocorrência de inesperados acontecimentos nesses sacrossantos lugares. Impossível não associar o que vi no filme com o ocorrido aqui meses atrás com uma pessoa querida de muitos, o servidor público do Jardim Botânico, Gerson Nascimento, que por tentar dialogar com um violento no único bar do Vale do Igapó, esse saiu e voltou com um revólver e o mata assim do nada, pelo fútil motivo de ter atravessado sua vida e o ter interpelado. Gerson não fez nada além de querer dialogar e, por fazê-lo, morre. Tudo bem, podem argumentar que, fatos dessa natureza não se limitam a ocorrer em bares e sim, nos mais diversos lugares. Sim, concordo, mas escrevo de bares e para começar sugiro que assistam ao trailer do “El Bar”, clicando a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=vBeL7crOfB8.

Alex de la Iglesia já havia dirigido um filme dos mais emblemáticos, o “El dia la bestia” e comentando sobre seu novo filme, numa frase curta diz muito sobre esses inusitados momentos, vividos num bar ou pela aí: “O nosso dia a dia demonstra como somos animais”. Quando ainda tentava analisar o que estava querendo dizer com isso, conclui com um algo mais: “Há uma coisa que se chama religião e outra, cultura, que acha que podemos viver em sociedade, porque sem sociedade nos destruímos como cultura”. Daí eu me transporto para os bares frequentados por mim desde que me conheço por gente: bar do Barba (o da feira), bar Aeroporto, bar da Rosa, Templo bar, Brazucas bar, bar Bada, bar Baridade... A gente encontra e reencontra pessoas variadas em bares, mera causalidade ou até mesmo encontros pontuais. Tem bares que vou só por saber que lá encontrarei certo tipo de pessoas, gente com quem conseguirei conversar, jogar sinuca, beber daquele aguardente que só tem naquele lugar ou mesmo, por ser o único naquele lugar, como o que o zoólogo foi morto. Tem bares para todos os gostos, até para quem gosta de confusão e agitação outras.

Isso do medo dominar a ação individual de locomoção nunca deve ser o impeditivo para frequentar bares. Enfim, tragédias acontecem também no interior de igrejas, lugares de gente muito mais louca que bares. Bares são lugares de encontro, onde tento desfrutar momentos aprazíveis com amigos, bebo uma cerveja, tomo cafés, almoço com a pessoa amada ou a família, mas também estou sujeito ao inesperado. Quando só, reparem, num bar sempre existe alguém querendo conversar, contar sua história. Impossível entrar só num bar e passar incólume a conhecer alguém predisposto a um relacionamento, uma nova conversa. As muitas faunas oriundas de um bar, confesso, me atraem. Sou atraído por esses ambientes e se existe perigo, enfrento-os, da mesma forma com enfrento todos os perigos desta vida quando me ponho a sair de casa diariamente. Problemas existem até permanecendo somente em casa, enfurnado e encolhido. Todo frequentador de bar tem muitas histórias ali vivenciada e a imensa maioria delas não é de violência. O filme retrata um momento desses, também possível, mas me faz pensar em tantos outros.

As cenas do filme fogem do realismo e partem para outro campo, o do realismo fantástico. Não quero entrar nesse campo, mesmo ciente de que muitos saem de suas casas loucos para acontecimentos dessa natureza, pois o trivial de suas vidas está um tanto enfadonho. Como não vivenciar histórias novas diante de personagens tão distintos como dentro de um movimentado bar? Os tipos mais diversos estão ali. Muitos com instintos animais, como o diretor aborda na frase citada por mim. Com isso, ele toca no pertinente tema de todos vivermos numa espécie de situação limite e nos protegemos uns nos outros. Uma frágil proteção que pode, a qualquer momento ser rompida e ocorrer um ato muito louco, o ato animal, intempestivo, muitas vezes irreversível, fatal, sem volta. Vou em bares e sempre estou prestando atenção nas pessoas à minha volta, até mais do que deveria. Tanto num de ponta de vila, com num mais chique, mais rebuscado, os personagens ali reunidos me encantam. Viajo imaginando o que os moveram até ali e o início do filme mostram bem isso, cada um ali com um propósito, uma finalidade e sendo envolvidos por um acontecimento inesperado a mudar, dar nova forma para a ação de cada um ali presente. Como a vida é mesma cheia de momentos inesperados, isso por si só me faz seguir buscando decifrar como se dá de fato essa selvageria embutida em cada um de nós. Agora mesmo, dou uma paradinha em tudo que faço e vou pra feira, claro, passo depois num bar e ali, como o filme "Um Bar" deixa claro, tudo pode acontecer. Mas a história vivida hoje eu só posso contar no retorno, se ele ocorrer...


Queria muito ouvir sua história de bar, triste ou alegre, doída ou despudorada. Desabroche e assim tentemos juntos esquecer esse triste estado de golpe de estado a que estamos submetidos. Revoluções até podem ter início numa mesa de bar. Pudera, ter início uma hoje...

Um comentário:

Anônimo disse...

É como que uma contemporização paradoxal inconsciente aquele que frequenta bares e Igrejas. Se a reação é de alegria tipo alegria de pinga, alegria falsa, cai no mais profundo da inconsciência, o levar tudo na brincadeira. O irmão é inocente e vítima de sua ignorância involuntária. Assim ele foi como que configurado pela história contemporânea à sua vida. Estatisticamente faltou-lhe em primeira mão escola. Foi vítima do egoísmo. O quadro piora quando se trata de um intelectual que arroga para si o conhecimento da verdade e torna-se um debochador da verdadeira verdade. A coisa é muito complexa. Parece que aí então entra a ação do maligno. Nos bares ele, o contemporizador, é um representante dele, dele do maligno. Nas igrejas ele busca se afastar dele, dele do maligno. A gente aposta na vitória do bem. Os botecos e bares vão se esvair de sua vida...e o irmão terá paz...:)