O QUE LEIO E COMO ME ABASTEÇO PARA QUANDO DAQUI SAIR ESTAR
TININDO – A IMPRENSA LIVRE DE FAUSTO WOLFF
Adoro cada vez mais escritos como os do Fausto Wolff, pois
me ajudam a manter a lucidez num país sendo descaracterizado, perdendo sua
identidade, onde a maioria vegeta e não conseguem nem mais distinguir o certo
do errado e na maioria das vezes enaltece o feito de quem lhe crava a estaca no
peito. Digo isso com conhecimento de causa, pois é meio que inimaginável ler
num texto de um promotor de Justiça aposentado, Carlos Roberto Simioni, algo
desta natureza, como o faço na Tribuna do Leitor de hoje, do Jornal da Cidade –
Bauru: “...não há comparação entre o que a esquerda produziu no Brasil e nos
últimos anos e o que Bolsonaro representa para a nação. A esquerda é,
comprovadamente corrupta, mentirosa, safada, sem vergonha e mais um monte de
adjetivos negativos. (...) Desejo ver o Brasil ético, crescendo e sendo
governado por gente de bem. Por enquanto, quem nos dá a expectativa é o
presidente Bolsonaro”. Este senhor foi promotor de Justiça e com essa
mentalidade dizia fazer justiça enquanto atuou. Essas pessoas, mesmo com todo
dito estudo que tiveram, perderam totalmente a razão e estão enlouquecidas,
desvairada, despirocadas, desajustadas, daí não existe nenhum outra opção, terá
que ocorrer o confronto e para tanto, quero estar preparado.
Lerei enquanto aqui permanecer de quarentena (e até minha morte) gente como Fausto Wolff,
pois só assim permanecerá dentro de mim acesa a chama da liberdade e do sonho
de outro mundo ser possível. Nada se dará sem confronto, tenho a mais absoluta
certeza. E o que fazer quando se está a ponto de explodir? Aqui no meu
isolamento eu LEIO. Minha fuga se dá com a leitura. O que Fausto Wolff escreve
me conforta, me alivia e me encoraja a resistir e continuar sendo o que sempre
fui. Dias atrás pedi alguns livros pela Estante Virtual, alguns já me chegaram
e os devoro. O primeiro deles é “A Imprensa livre de Fausto Wolff”, L&PM
Editora RS, 2004, 280 páginas. Comprei pela bagatela de R$ 6 reais, do sebo
Amadeu Amadei, na Teodoro Sampaio, capital paulista e o frete me custou mais
que o livro. Publico algumas frases encorajadoras, dentre tudo o que vou
grifando durante a leitura e assim passo meu domingo, entre revolta e preparativos
para a inevitável contenda que se avizinha:
- “A liberdade é uma carcereira terrível!”.
- “Houve uma época em que o jornalismo foi parcialmente do
povo. Enquanto o poder brigava podia-se dizer a verdade. Isso se devia ao fato
da maioria dos jornalistas também proceder do povo. Logo sua visão do país e
dos acontecimentos não era uma visão burguesa mas principalmente classe média
baixa, proletária ou sindical. (...) Quase todos entendíamos que a sociedade e
as autoridades eram injustas para com os humildes e nos colocávamos ao lado
deles, pois os conhecíamos bem. (...) A vida era uma aventura e ser jornalista,
um orgulho, uma glória. (...) O jornalista deixou de ser o herói marginal para
tornar-se uma espécie de poodle de divã, uma espécie de office-boy do poder.
(...) Uns passaram a contínuos do poder e outros tornaram-se íntimos do poder.
(...) Muitos que se julgavam revolucionários, no sentido humanístico e
filosófico do termo, demonstraram-se apenas rebeldes. Ao primeiro sorriso já se
aninhavam no colo da autoridade”.
- “O Brasil é um país, quase um continente rico demais e com
gente trouxa demais para que o poder transnacional permita que qualquer
candidato (sempre que ele exista) comprometido com o sofrimento nacional possa
ganhar as eleições. O capital internacional (cerca de mil empresas e bancos)
gastou muito tempo e dinheiro para que as coisas chegassem onde estão. Não
podem permitir um jogo honesto. (...) Caso – milagres podem acontecer – o candidato
escolhido pelo sistema perca, as eleições serão fraudadas”.
- “Existe algum partido de esquerda, algum partido que veja
no povo o seu soberano e o fim que lhe dá significado? Se existem partidos de
esquerda, por que não se unem sob uma única bandeira socialista neste momento
em que os cachorros grandes estão brigando e disputam eleições? (...) As grande
batalhas na TV são para nós, os trouxas, os palhaços”.
- Bem cedo descobri a diferença entre os que têm e humilham
e os que não têm e são humilhados. (...) Uma coisa que aprendi de cara: tudo
aquilo que era vendido aos pobres era de péssima qualidade. (...) Ao contrário
das aparências, o patrão é que é o escravo do escravo, pois sem este ele não é
o patrão de ninguém. As transnacionais, os bancos, as grandes redes de TV que
nos convencem a consumir mais e mais todo tipo de porcarias não podem viver sem
escravos. (...) Pensem bem: o domador sem o tigre não passa de um palhaço com
um chicote na mão. (...) Não é preciso ser muito inteligente para perceber que
uma pessoa que tem dez automóveis, dez casas, dez aviões, dez cozinheiros
(façam aí a lista de vocês) e que não pode utilizá-los ao mesmo tempo só pode
ser louca. Precisamos dar as costas a essas pessoas, precisamos nos afastar delas,
precisamos entender que o que é bom para elas não é bom para nós”.
- “Não vivemos mais num regime de exceção. A exceção,
finalmente, acabou. Transformou-se em regra. O Brasil não é um país. Virou uma
firma que pode dar bons dividendos financeiros para seus donos.Logo, logo,
estaremos anunciando na imprensa mundial: ‘Invista no Brazil. Salários de fome,
trabalho escravo, incentivos fiscais, total ausência de sindicatos, justiça e
parlamento facilmente corruptíveis, população completamente alienada e call
girls pouco exigentes. Tudo isso comissão módica aos arrendatários nacionais.
Tratar diretamente com os capachos no Palácio do Planalto”.
- “Os morros são governados por criminosos de direita, o
resto do Brasil é governado por criminosos de direita, a televisão administrada
por criminosos de direita e a grande maioria da população alienada física,
econômica, cultural e politicamente. Esse é o cenário que nos envolve. Dentro
dele, se um dia houver uma revolução, será provavelmente fascista”.
- “Um filme, produto de um tempo de ficção, comove o mundo
às lagrimas. A realidade não comove ninguém. Nossa unha encravada é mais
importante que o massacre de afegãos e palestinos. (...) Nós brasileiros sofremos
há séculos uma lavagem cerebral tão constante e violenta que nos esquecemos de
que as grandes propriedades são roubo em sua maioria; que as fazendas dos príncipes
foi comprada com o sangue, o suor, a fome, o trabalho dos operários e dos
camponeses. (...) Ser tolerante com os intolerantes é burrice”.
- “Nem sabem mais porque amam tanto o dinheiro. Só sabem que
dele não abrem mão. O dinheiro que os pobres produzem é deles, segundo eles.
Não está a serviço da sociedade humana. Está a serviço deles e por isso, por
causa deles, o mundo é o que é: um inferno para três quartas partes dos terráqueos.
(...) Em verdade, essas transnacionais não investem no Brasil. O Brasil é que
investe nelas”.
- “A religião judaico-cristã e a Igreja Católica são
responsáveis pela mais longa noite de ignorância, superstição e miséria que já
se abateu sobre a humanidade desde o surgimento do primeiro protozoário. É fácil
conferir matematicamente que foram cometidos mais crimes em nome de Deus do que
em qualquer outro nome. Deus, é claro, existindo ou não, nunca teve nada a ver
com isso. Os ricos sempre o cafetinizaram para explorar os pobres, manter o
poder e dinheiro. (...) São criminosos que se tornaram excelentes
profissionais.
Convenceram milhões de pessoas que, se rezarem, se comportarem
direitinho, se não se masturbarem, não beberem e se, sobretudo, pagarem o
dízimo, a vida vai melhorar”.
- “O negócio deles é vender e ter lucro e para isso precisam
de um povo burro, que vem sendo imbecilizado desde 1964. (...) Opovo precisa
ser crente: precisa acreditar num vigarista como o ‘bispo’ Macedo e em qualquer
porcaria anunciada pela televisão. (...) O neoliberalismo não quer seres
humanos em pleno uso de seu potencial. Quer vacas, consumidores passivos, gente
que se deixa conduzir mesmo sem líderes: robôs famintos – mas não a ponto de
não consumir. (...) A imperfeição e a patifaria são invenções do homem. Não
metam Deus no meio”.
- “Sou um homem de fé porque acredito no caráter e no
destino do homem que acabará por vencer seus algozes e descobrir a verdade que
a realidade teima em esconder graças aos arautos da mentira a serviço do
sistema de senhores e escravos que diz que os últimos devem sofrer aqui na
Terra para serem recompensados num hipotético reino nos ceús. (..) Acho que os
lugares mais quentes no reino das trevas estão reservados para aqueles que nos momentos
de crise preferem a neutralidade. Estão, é claro, reservados também para
aqueles que se dizem religiosos profissionais e cujas igrejas são arapucas para
tirar um pouco do quase nada que ganham os humildes”.
- “Errado não é o povo querer casa, comida, saúde, transporte,
educação, emprego e dignidade. Errado e criminoso é uma minoria ter tudo isso
de mão beijada e não abrir mão de nada; ao contrário, querer que o homem se
contente com esse destino e castiga-lo caso se revolte. (...) Uma das mentiras
mais interessantes é a de fazer crer que acreditamos naquele que nos mente.
(...) Enquanto houver um povo alienada não faltarão leões, lobos, hienas,
abutres, urubus para disputar-lhe a carcaça”.
- “Uma das razões pelas quais considero o homem uma criatura
inviável é a sua capacidade de só poder existir destruindo. (...) Não por ódio
ou patriotismo mas por ganância de uns poucos que resulta na miséria, na fome,
no sofrimento e na morte da maioria. (...) Graças a essa corja sem coração que
compõe a classe dominante nosso país transformou-se num país de pedintes. (...)
A certeza de que quando a direita briga, quem acaba apanhando é o eu estrou da
esquerda”.
- “Como podemos convencer o brasileiro de que o petróleo é
dele se a gasolina sobe, que a energia é dele se as tarifas sobem, que o
subsolo é dele se ele jamais viu uma grama de ouro, que a água é dele se ela
não chega à sua casa, que o Banco do Brasil é dele se ele jamais lhe emprestou
dez centavos?”.
Gente, acho que já ficou longo demais. De um livro com 290
páginas, as frases aqui postadas vão até sua página 95. Qualquer dia transcrevo
as demais. Já deu para ter noção do que me move e me abastece para, quando
daqui sair, estar tinindo, na ponta dos cascos. Daqui pore diante, sem tréguas,
sem perdão para os traidores da nação. Vamos pro pau!
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