quarta-feira, 27 de maio de 2020
OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (137)
PATRICIA, RAINHA DA NOITE E LIDERANÇA ENTRE AS TRAVESTIS EM BAURU SE FOI E DEIXARÁ ETERNA SAUDADE
Quando morre algum importantão aqui da cidade de Bauru, o obituário do jornal ou da TV se encarregam de fazer as devidas despedidas, com todos os salamaleques devidos e indevidos. São bons nisso. Já quando morre alguém oriundo dos embates populares, gente com declarada exposição e enfronhada no meio do seio popular, talvez uma breve nota, sem cartas para o jornal e tudo em pouquíssimas linhas. Ontem faleceu alguém a merecer um baita destaque e não se pode passar em branco diante de tão valorosa pessoa humana. PATRICIA BERNARDO, 57 anos, reinou nesta cidade no mundo trans por décadas, sendo uma das mais respeitadas personagens a levantar a bandeira LGBT por essas bandas. Travesti, exerceu liderança incontestável junto aos seus e, querida pela legião no seu entorno, deixa um legado que não pode ser esquecido e nem passado em branco. Décadas de liderança, conquistada na sapiência de como conduzir as questões envolvendo a rua e quem nela atua.
Tempos atrás, quando atuei ali na Secretária de Cultura, final da primeira década dos anos 2000, ela imperava ali na esquina, dando também proteção para todos nós. Fui me aproximando, a conheci e das conversas surgiram bons textos, conhecendo um pouco mais do mundo onde ela estava, atuava e sabia se impor. Aprendi com ela a respeitar mais e mais todas as travestis. A cada reencontro, ela sempre sorridente, me contava histórias de todo tipo, desde as de violência, envolvendo drogas e mesmo os gigolôs que por ali circulavam, como muitas belas, de gente que para aqui veio, se instalou, batalhou, suou muito o corpo na beira da calçada e conseguiu ser alguém na vida com sangue, suor e lágrimas. A esquina ali no cruzamento das Nações com a Ezequiel Ramos merece uma estátua da Patrícia, com ela, ou encostada na parede do teatro ou sentada na muretinha do posto de combustível. Dali ela vigiava tudo, não só suas meninas, sempre com a devida atenção, carinho quando sentia a reciprocidade e mais dura, para não deixar a noite desandar. Fez mais, impunha respeito e não deixava a região fenecer. Era aquilo de ter uma luz mais que própria ali debaixo do poste.
Hoje pela manhã chega a notícia que ela se foi e algo me chamou a atenção. Ela conseguiu tempos atrás uma morada definitiva, após décadas pela aí pagando aluguel. Foi morar num conjunto habitacional e diziam, sua casa sempre foi um brinco. Impecável. Pois bem, quando sentiu algo baqueando dentro de si, um enfraquecimento, até por instinto, arrumou as malas e se foi para sua Arapuá, um pequeno distrito bem perto de Três Lagoas MT. Olha a imensidão do contido neste gesto, o dela perceber que se algo lhe acontecesse, que fosse na sua aldeia. E por lá se deu o desenlace. Não me perguntem o motivo, pois não sei e nem me interessei em saber. Vale mais olhar pra trás e dar a devida importância para uma que, ciente de sua condição, não se deixava vergar, estava toda noite, linda, lépida e fagueira nas esquinas noturnas desta cidade e ali reinou de forma absoluta. Perguntem para todas as que estão hoje por aí e vejam a resposta de quem foi de fato e o que representou na vida de todas elas a Patriciona, como alguns a chamavam, pois tamanho não lhe faltava.
Patrícia é dessas a merecer um livro. Histórias não lhe faltaram. Passou poucas e boas, mas também teve hilariantes e bons momentos. Grande figura humana, hoje com muitas fotos espalhadas pelas redes sociais, todas e todos de sua convivência deixando registrado algo, um carinho, relembrando algo passado juntas. Ela vai permanecer para todo o sempre no panteão das batalhadoras de rua desta insólita e complicada Bauru. Outro dia, pouco antes de falecer, outra grande desse cenário, a cabeleireira Sarah Fernandes, quando a homenageamos e saiu no bloco carnavalesco Bauru Sem Tomate é Mixto, se vendo ali na praça Rui Barbosa, me disse no reservado: “Ah, se essa praça dissesse o que já passei por aqui”. Relembro isso com todo o carinho, me ponho a imaginar o que as esquinas de Bauru já presenciaram de histórias tendo Patrícia como personagem, roteirista, protagonista e também atriz principal. Hoje ela já representa algo mais que saudade e aquela esquina nunca mais será a mesma sem sua presença física.
OBS.: As fotos aqui publicadas me foram passadas por uma de suas amigas, Valentina Pryns e me disse, foram tiradas de sua página no facebook.
EM BAURU VAI OU NÃO SAIR UM EDITAL PÚBLICO DE APOIO AO ARTISTA LOCAL? - SEM PRESSÃO TUDO SERÁ COMPLICADO, LENTO, MOROSO, DEVAGAR QUASE PARANDO Primeiro posto um link de audio transmitido pelo Mídia Ninja, Webconferência com Secretários(as) e Dirigentes Culturais Estaduais e Municipais de Cultura para se entender algo sobre tudo o que está ocorrendo com a Cultura num todo e no país inteiro: https://www.youtube.com/watch?v=Q_r4hoZiRU8&feature=youtu.be. As discussões são muitas e, mais do que evidente que, a Cultura precisa ser melhor compreendida pelo conjunto da sociedade. Fiz questão de antes de me ater a questão local, reproduzir algo de cunho nacional, pois o que ocorre aqui na aldeia bauruense, também ocorre no país inteiro nestes tempos de pandemia e de abandono com a Cultura. Dentro de uma administração, mais do que evidente que deva existir uma abrangência para todos os segmentos. Todos passam por dificuldades e necessitando de amparo e busca de soluções. Neste post me atenho à questão cultural e tão somente dela, pois todas as demais são tratadas em outras instâncias.
Começo o meu sentido relato sobre a situação de Bauru, relembrando que aproximadamente uma semana e meia atrás eu postei algo sobre um Edital preparado pela Secretaria Municipal de Cultura através do Luiz Ricardo Ferreira, o secretário, que sensibilizado com a situação dos artistas locais, idealizou um projeto de atendimento a algo mais que latente e necessário. Ele me disse pessoalmente ter encaminhado o projeto há mais de semanas, mas tudo estava paralisado no Jurídico da Prefitura. Desde que lá chegou, tudo travou e nada mais avançou. Ele lá retornou várias vezes e nada, nenhuma resposta satisfatória e nem sei se o prefeito está a par da situação. Não me atenho a detalhes do proposto, o que pode ser buscado junto a ele. Posto a seguir algo realizado pela Prefeitura de Salto, uma cidade de menor porte que Bauru, mas na junção do que foi feito, conseguiram implantar seu projeto em tempo recorde, pouco mais de uma semana. Por que não o mesmo em Bauru? Eis o link do que foi feito lá: https://salto.sp.gov.br/concurso-cultural-abre-inscricoes-…/. O que existe em Bauru a travar essas iniciativas e, mais ainda, em tempos de exceção como este da vigência de uma cruel e insana pandemia?
Onde Bauru erra? O que faltaria para aqui também as coisas acontecerem e fluirem com maior rapidez? A resposta pode ser dada pelos próprios artistas, pois esses os vejo fazendo o que podem. Na semana passada vi uma live durando um dia todo, idealizada por alguns artistas locais, capitaneada pelo Rafael, tudo para tentar levantar recursos mínimos para sobrevivência de artistas. Será que nem isso sensibiliza o Jurídico da Prefeitura desta cidade? Percebo que, a coisa extrapola o cabedal do secretário, pois está agindo isolado e quando contando com a força de toda classe, algo de concreto poderia ser viabilizado com mais rapidez. Hoje mesmo recebo algo mais do amigo Ivo Fernandes, tentando ao seu modo e jeito fazer algo acontecer: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=2721357181413938&id=2291082554441405&hc_location=ufi. Outra batalhadora para que saia algo pelos meios públicos é a artista Mariza Basso Basso, com constantes cobranças em posts diários pelas redes sociais. Eis um dos seus textos sobre o tema: "Do que é feito a cultura? Aquele modão que vc ouve no rádio, aquele instrumental, aquela novela que vc não perde um capítulo, aquele teatro que vc leva a criança no domingo enquanto a esposa faz o almoço ou que vc vai com a família. Você sabe do que tudo isso é feito? Sim senhores, de pessoas, não só artistas, mas tb técnicos, bilheteiros, copeiros, faxineiros, fotógrafos, maquinistas, marcineiros, carregadores, motoristas, arquitetos... Afff são tantas gentes... Alguns como eu, está em situação confortável, tem um dinheirinho guardado (que logo se acabará), um bem que pode ser vendido em caso de extrema urgência e uma família amorosa e solidária que jamais deixaria que faltasse nada, mas esses como eu são poucos. Deus nos proteja Deus os proteja!".
De tudo, algo bem simples, se os artistas querem ainda obter algum recurso para superar esse período, uma pressão muito grande terá que ocorrrer e JÁ, nesse exato momento. Minha contribuição é contribuir, ajudar, prestar apoio e se colocar a inteira disposição para estar junto, protestar, caminhar juntos e tentar sensibilizar os ainda irreditíveis. Ou vamos todos juntos ou ficaremos todos pelo caminho.
CARNAVAL E A DEVOLUÇÃO DE VALORES QUE NÃO DEVE OCORRER - PRESSÃO PRA CIMA DELES
Ontem, saiu publicado pelo nosso único jornal impresso, o Jornal da Cidade e depois reproduzido com regozijo pela também única rádio com jornalismo o dia inteiro, a indefectível e desacreditada Jovem Pan, ops, digo, velha Klan, que "As Escolas de Samba e Blocos terão que devolver verba". Não foi bem assim, mas pelo visto, tem muita gente já querendo comemorar isso como algo ireversível. A Justiça pode até estar considerando o repasse com problemas, mas o que ocorreu ontem foi mais um degrau dentro da Justiça. Liminares ainda passarão por debaixo desta ponte e ainda com boas possibilidades da Justiça se sensibilizar que, quem menos errou nessa questão toda foram os carnavalescos e a maior festa popular do país, essa que a Prefeitura Municipal de Bauru apenas dá o seu quinhão na ajuda para que aconteça com a pompa merecida possa ter continuidade. Nada está definido. Tudo começou com uma ação de cunho eleitoral, inpetrada por pessoas só enxergando um dos lados da questão, nunca o outro. Existe em tudo nesta vida, sempre dois ou até mais lados, neste do Carnaval, algo bem forte e que precisa ser desmascarado é a vontade de um segmento religioso predatório, o do evangélico neopentecostal de não só desmerecer como criminalizar as festas populares, sendo sua maior ação com o Carnaval. Tem gente querendo sair disso tudo como herói e chegar ao almejado, adentrar o mundo político, tornando-se vereador. Como barrar isso? Toda e qualquer pessoa que goste de Carnaval, entenda de fato o ocorrido com a verba pública na cidade, precisa se posicionar e execrar quem joga contra e quem quer tirar proveito da situação. Os que querem o fim do Carnaval, querem por outro lado infestar a cidade de carolices e isso só tornará esta cidade mais triste, macambuzia e soprumbática. Pressão, muita pressão, demonstrando a viabilidade não só da manutenção da festa, da boa intenção da Prefeitura em manter verba para essa e tantas outras festas e eventos culturais e dar nome aos bois, ou seja, os contrários ao Carnaval não podem ser votados em hipótese nenhuma, pois além de conservadores, retrógrados, pensam pequeno e só no que lhes interessa. Cultura é muito mais que isso e o Carnaval precisa ser cada vez mais valorizado, fortalecido e defendido.
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