terça-feira, 26 de maio de 2020

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (79)


A QUASE EXTINTA PROFISSÃO DE REPÓRTER E UM DELES EM PLENA ATIVIDADE, MAURI ELBUENO – COMPARAÇÕES COM A SITUAÇÃO NO BRASIL
Nas idas e vindas para Buenos Aires, dez anos ininterruptos (neste interromperei), participando de Congresso/Encontro Acadêmico, aprendi a gostar não só do país, da cidade, mas do povo argentino. Circulo por todos os lugares, até já com certa desenvoltura e desde o primeiro momento, primeiro descobri o melhor jornal do nosso mundo, o Página 12 e uma rádio, a 750 AM, com programas inexistentes nas rádios brasileiras. Os ouço diariamente, principalmente, quase não perdendo um, de segunda a sexta, o La Manãna, com Victor Hugo Morales, das 9 às 12h. Dentro deste programa, travei conhecimento com algo quase extinto no Brasil, o repórter de campo, aquele que empunhando o microfone circula por toda a cidade, trazendo a notícia quando chamado dos mais diferentes pontos. Nesses tempos de pandemia, esse repórter é o que mais se arrisca, pois está principalmente nos lugares onde o vírus mais circula. Os relatos de Mauri Elbueno, um jovem repórter, que circula pela periferia buenarista com uma desenvoltura de causar inveja, dignifica uma profissão tão bela, porém, praticamente não mais existente no país. Os vejo pela TV, todos muito bem paramentados, mas na rádio, peças em extinção.

Mauri é chamado várias vezes durante toda a programação e a cada instante num local diferente, diante de uma greve, manifestação, bloqueio, inauguração, de locais onde pulsa vida humana e resistência. Nestes últimos dias, quando a pandemia, praticamente sob controle em Buenos Aires, mas com muitos cuidados nos bairros periféricos, aqui no Brasil chamados de favelas. Mauri lá está em todos eles, entrevistando pessoas nos “comedores urbanos”, iguais ao nosso Bom Prato, mas administrados pela própria comunidade e ali, no meio do povo que sofre, passa pelas ondas do rádio a versão lá na ponta, quem está a sofrer com as amarguras destes tempos. Um jornalismo na acepção da palavra. Para conhecer um pouco da rádio, eis o link: https://750.am/. Basta clicar no alto no “escuchá la radio” e para saber algo mais sobre o vibrante repórter, eis sua página no facebook:  https://www.facebook.com/mauri.elbueno. Tive o prazer de conhecer muitos desta rádio nas idas anuais até a Argentina, me tornando amigo de vários deles, dentre estes, Mauri. Hoje, aqui de minha quarentena, completando 70 dias de reclusão, fico me imaginando, se será possível voltar ano que vem para Buenos Aires e solicitar para Mauri algo que, em muito me engrandecerá como pessoa humana: pode acompanhar um dia de seu trabalho junto a essas comunidades. Muitas pessoas tem me levado a lugares que nunca iria poder conseguir conhecer sozinho em cidades como Buenos Aires e acompanhar Mauri num dia seria coroar a rara oportunidade de continuar a fazer no exterior algo que já faço por aqui, estar e caminhar junto à periferia.

Por fim, o motivo deste post, além de elogiar o belo trabalho que presencio diariamente do Mauri pelas ondas da 750Am argentina, fazer uma espécie de ODE aos repórteres de rua. “O repórter é aquele profissional que sai às ruas para buscar a verdade e repeti-la aos leitores e ouvintes. Se não estiver satisfeito, investiga. O bom repórter sabe a diferença entre a realidade e a verdade. Sabe que muitas vezes a realidade serve apenas para encobrir a verdade. Para que bons repórteres possam existir são necessários duas coisas: dinheiro e independência. A nossa grande imprensa não é independente e não é independente porque não quer, porque a independência não dá dinheiro. A nossa grande imprensa é sócia do poder e a grande maioria dos repórteres são apanhadores de press-releases que logo, logo encontram um encosto em alguma repartição municipal, estadual ou federal. Alguns bons repórteres, sabendo que não podem exercer a profissão com liberdade, tornam-se cronistas, escritores ou publicitários.(...) Eu e muitos de minha geração arriscávamos a vida por um ideal mais alto que era a verdade e só podíamos fazer isso porque trabalhávamos em jornais independentes não importa quem apoiassem politicamente. Hoje, não são os repórteres que vão atrás das notícias, mas as notícias que batem na porta da redação dos jornais e revistas para dizerem: Oi, eu sou a notícia”, texto de Fausto Wolff, no livro, “A Imprensa Livre de Fausto Wolff”, L&PM, 2004.

Na despedida uma justa lembrança para um dos maiores repórteres que este país já teve, JOEL SILVEIRA, um homem que sabia separar a verdade da realidade de superfície e além disto, escrevia com contundente lirismo, o que o tornou também num dos maiores escritores do Brasil. Com pouquíssimas exceções, não temos mais repórteres como Joel, pois são caros. Repórteres como MAURI ELBUENO, pegando o touro à unha, estando no local dos acontecimentos, mostrando ao público a versão do povo, do lado do trabalhador, do oprimido, isso acabou no Brasil, mas felizmente persiste pela aí e na Argentina neste momento acompanho atentamente o trabalho de um desses. Esse é o jornalismo que acompanho com a devida atenção, pois produz a verdade factual dos fatos. O Brasil segue no atraso e a novidade é acompanhar que várias equipes de TV estão a partir de hoje não mais acompanhando as cercanias do Palácio do Planalto, as saídas diárias do presidente, pois não mais existe segurança para produzir um trabalho sem a perseguição dos bolsomínions ali localizados. Que diferença!
OBS.: Todas as fotos foram sacadas da página de facebook de Mauri Elbueno.

DE UM PAÍS ONDE O PRESIDENTE ESTÁ AO LADO DE SEU POVO
A Argentina de hoje é o maior orgulho para toda essa América Latina. Um Governo democrático e atuando junto aos interesses deste povo, tendo como primeira atitude estar ao lado do seu povo e de suas necessidades. 
Aqui num ato na Casa Rosada, o palácio presidencial, o reconhecimento governamental para todos os que estão na frente de batalha combatendo o coronavírus. A Argentina tem um verdadeiro Presidente, enquanto que no Brasil temos um arremedo, algo a nos envergonhar. 
Que falta nos faz um presidente de verdade!

2 comentários:

Anônimo disse...

Henrique Perazzi de Aquino, no puedo no sorprenderme por tus palabras. Te agradezco, como siempre, tu generosidad. Muy amable. Te espero en Buenos Aires, para salir de gira radial. Abrazo grande amigo 👍🎤
Mauri Elbueno

Mafuá do HPA disse...

Mauri compartilhou meu texto no seu facebook com este texto de abertura:

"Acá un amigo de Brasil me deja estás palabras por mi laburo.

El cariño de la gente y el apoyo de los tuyos, no hay mayor premio para esta profesión!"

Eis o link do mesmo:

https://www.facebook.com/mauri.elbueno/posts/2930695526979304