quinta-feira, 14 de maio de 2020

O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (86)


COMO O BRASILEIRO É VISTO MUNDO AFORA – PROFUNDAS MUDANÇAS, E PARA MUITO PIOR
Sabe aquilo do brasileiro ser bem recebido por onde passe, em qualquer lugar do planeta ao saber estar diante de um brasileiro, a abertura de um sorriso, portas abertas? Temo tudo isso estar por um fio. Explico. Abro o Jornal da Cidade, edição de hoje e lá nas suas duas páginas de Internacional uma matéria: “Colômbia militariza fronteira com Brasil e Peru por causa do Covid-19 – Estado colombiano do Amazonas, fronteiriço com Peru e Brasil, é o mais atingido: 94 contaminados para cada 10 mil habitantes”. Isso se multiplica em outras ações, como as do vizinho Paraguai fechando totalmente a fronteira para a entrada de brasileiros em seu território, pois segundo autoridades locais, representam enorme perigo de contaminação. Isso sem contar o fato concreto do presidente norte-americano Trump querer interromper os únicos voos entre Brasil e os EUA, por um único motivo, o Brasil não toma as medidas necessárias para controle da pandemia. Ou seja, representamos PERIGO.

Junto tudo isso num balaio e temo pelo futuro. Aquela cordialidade com que os brasileiros era recebidos mundo afora, corre sérios riscos de sofrer profundas alterações. Podemos ser vistos daqui por diante, não mais com a jocosidade até então presenciada, mas com temeridade, distanciamento e resguardo, tudo por causa da ação fora do padrão empreendida pelos atuais governantes deste Brasil. Da bestialidade em curso no desgoverno brasileiro, até as pedras do reino mineral sabem e mundo afora, o Senhor Inominável, nosso Bozo é visto como elemento perigoso, perverso, cruel, insano, demente e representante de um fascismo da pior espécie. O ruim deste personagem e da continuidade do que faz irá resvalar, com toda certeza, nos brasileiros espalhados e circulando pela aí, pois todos poderão passar a ser alvo de repulsa, devendo merecer desde já certo distanciamento.

Não brinco quando escrevo isso. Trata-se de algo sério. Imaginem os senhores algo bem próximo de acontecer: as fronteiras dos países vizinhas todas abertas de circulação entre Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile e as com o Brasil sendo excluídas, permanecendo fechadas e sob forte vigilância. O brasileiro representa perigo não só pelos atos do seu presidente, mas também pelo que se vê nas TVs mundo afora, pois quando o mundo todo se cuida, se preserva, leva a sério a quarentena, por aqui as imagens mostram muita gente nas ruas, desmazelo despropositado e sob clara anuência das autoridades do Governo Federal. Além de toda precaução que terão conosco daqui por diante, imagino as cenas onde seremos motivo de chacota e teremos que, mesmo demonstrando não concordância com os atos do Bozo, aguentar a piada que, certamente farão, sem poder muito argumentar: “Como permitiram um presidente como esse e a reprodução de atos como os vistos mundo afora?”.

Preparem-se, pois o pior ainda está por vir e isso tende a ser de longa duração: chacota e distanciamento mundial. Quer se queira ou não, será impossível dissociar o brasileiro do que aqui acontece. Aguardem, seremos mais vigiados até para fazer meras compras em Ciudad del Este, na fronteira com o Paraguai...

TEMOS CHANCE COM A LEGIÃO DE DESCONTENTES COM BOLSONARO, EVANGÉLICOS E DESCRENTES? – DIALOGAR COM OS ÓRFÃOS POLÍTICOS E AFETIVOS
O país, como se sabe e se vê, continua com sua sina destrutiva, sendo perversamente levado ao cadafalso. Muitos como eu, estamos no limite do tolerável, por um fio para explodir. Como é possível, depois de tudo, persistir esse bando de lunáticos, desvairados, descompensados, destrambelhados, , imbecilizados a defender o Senhor Indefensável? Essa pergunta rumina meu interior. Sonho com o assunto. O que levou essa turba a se envolver com alguém tão fora da lei? Em todo aglomerado de pessoas, existem os descerebrados, desajustados, fora da casinha, dito também como irrecuperáveis. Desses, não vejo como ainda possível voltarem ao normal – se é que um dia o foram.

Tentando entender esse agrupamento de bolsonaristas, percebe-se que muitos estão abandonando o navio. Dentre esses cito um como bom exemplo. Coaracy é daqui da terrinha bauruense e até bem pouco tempo, um soldado do Bozo. Ele é engenheiro e foi funcionário aposentado do DAE – Departamento de Água e Esgoto. Num certo momento, de tanto ver as iniquidades o estalo foi dado e caiu fora, hoje postando e se posicionando contra o que representa a continuidade desse desgoverno. Coaracy faz parte de um grupo que estão abandonando o navio. Ufa! Conseguiram enxergar. Não deixarão de ser conservadores, pois logo mais encontrarão outro para defenderem. Talvez o façam com Moro ou outro qualquer, mas felizmente não mais com Bolsonaro. Penso nesses todos que conseguiram se livrar de seguir cegamente a seita bolsosímia e pergunto: Dá para contar com esses e incluir no grupo dos que lutam pela queda do presidente?

Essa uma questão. Outra a seguir. Devemos ter em mente que na luta para defenestrar Bozo e tudo o que representa, existe um grupo – e não é pequeno – de bolsonaristas que com ele irão até o fim, as últimas consequências e aconteça o que acontecer, pelo visto, lhe darão apoio. Esses os irrecuperáveis, promovendo atos fascistas nas ruas e merecendo ser tratados no chicote. Enfim, pra que adular gente irrecuperável? Tolerância zero para com esses, mas e os demais? Escrevo deles. Li um belo artigo da socióloga Esther Solano, “Imbecilidade ad infinitum”, hoje morando na Espanha, publicado na edição da semana passada da revista Capital e aqui reproduzo parte para continuar a conversa: “O bolsonarismo é religião, fé, afeto, opção de vida, união, grupo, coletivo, é tudo. Para eles, negar Bolsonaro é negar a si próprios. São movidos afetivamente pelo ódio e a destruição do alheio. São os misóginos, os racistas, aqueles que odeiam tudo quanto não conseguem entender, pois, no fundo, são seres limitados, pequenos, de uma mediocridade fatal. Esses eu os considero inimigos, porque desejam a nossa aniquilação simbólica e física. Com estes não há conversa. É luta, e pronto. Não há como dialogar com quem me quer morta ou silenciada”.

Daí ela passa a responder sobre outro grupo: “Pensemos nos demais”. Sim, o grupo a defender o capitão presidente não são constituídos somente destes. “Com o resto, deve haver, obrigatoriamente, se quisermos sair do poço. Esses são órfãos políticos e afetivos. Não encontraram o que procuravam em Bolsonaro e estão à espera de onde o encontrarão”, começa a demonstrar onde quer chegar. “Não devemos somente tirar o monstro do poder. Devemos criar as possibilidades sociais do diálogo, as pontes necessárias para construir um novo consenso social. (...) É imperativo entender que há muita gente que depositou sua esperança em Bolsonaro e que hoje estaria disposta a dar as costas a ele, mas não encontra uma alternativa real. Devemos construir essa alternativa, devemos ser a alternativa”, sua proposta.

O que Esther Solano propõe é o que me também me move. Não conseguiremos virar devidamente essa mesa sem uma construção com a participação de outros personagens. O que estamos fazendo de fato para mudar a situação atual e propondo algo novo, onde esses perdidos, remediados e iludidos possam embarcar? Não falo de iludir ninguém, mas propor algo concreto, palpável, substancioso, uma real alternativa onde nós, os que desistiram de seguir Bolsonaro os que estão aptos a fazê-lo possamos seguir juntos e conseguir o intento principal? “Não adianta pensar que temos as melhores soluções para esta crise se não conseguirmos nos comunicar com a população. Não faz sentido pensar que a opção progressista seria a melhor para os mais excluídos e vulneráveis se não formos capazes, por exemplo, de dialogar com os evangélicos periféricos que ainda apoiam Bolsonaro. Devemos criar redes, caminhos, palavras, gestos de aproximação. Se não o fizermos, chegarão outros monstros”, ela conclui.

Cá me encontro isolado, em rígida quarentena, sem nenhuma ação efetiva nas ruas, pensando, meditando e escrevendo. Ciente de que, Bolsonaro já passou de todos os limites e não teremos muito tempo pela frente para uma ação de aproximação com o restante da nação, uma ainda possível de conversa, creio já ser mais do que tarde para pegarmos o touro a unha, botar a mão na massa e tentar ao menos, nem que não consigamos, mas ao menos tentar juntar todos os cacos e ir à luta, casa por casa, lugar por lugar, igreja por igreja, empresa por empresa ou fazer o que Bozo fez, essa outra opção, levar a todos de atacado, com algo grandioso e via internet, celular. Me dizem que hoje o serviço não mais ocorre de pessoa para pessoa, mas desta forma, tudo de uma só vez. Se algo foi feito assim para construir o mal, por que não fazer o mesmo para desconstruir esse mal e levando outra mensagem?

2 comentários:

Anônimo disse...

ELE ESTÁ CERTO. É PRECISO SAIR DA BOLHA

Diálogo com um amigo, vendedor ambulante que segue na ativa, 43 anos, inteligente, meu eleitor e companheiro de campanha em 2012, 14 e 16:

- Tá se cuidando?

- Olha aqui a máscara e o alcool gel...

- Mas só isso não chega...

- Deus me protege.

- Mas se depender desse governo...

- O que é que tem?

- Bolsonaro não está fazendo nada para proteger o povo da doença.

- E deixam?

- Como não?

- Os governadores e prefeitos querem mandar em tudo. Olha esse rodízio aí. Proibem os carros, mas metrô e ônibus tá tudo lotado... Isso é só política do Dória contra o Bolsonaro.

- Você tá contente com Bolsonaro?

- (Fazendo continência) Até agora não tenho reclamação.

- O que ele fez de bom?

- Ué, com esse senado aí, com esses deputados não tem como. Ele não consegue governar...

Sim, ele tem razão.

Isso tudo é "política". Desde o estelionato eleitoral de 2014-15, a "política" foi desqualificada, as alternativas concretas para a vida das pessoas desapareceram e campanhas como a do impeachment são apenas "política".

Enquanto não nos reconectarmos com o mundo real, seguiremos a pregar para convertidos.
Gilberto Maringoni

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK BRASIL VISTO LÁ FORA:
Daniel Pestana Mota Conseguimos fazer de um momento grave e triste tudo, menos uma possibilidade de articulação solidária. A eleição de Bolsonaro nos trouxe o brasileiro que deu origem à Lei de Gérson. O que estamos pagando pra ver é se há, do outro lado, pessoas disposta…Ver mais

René Ruschel Seu texto Henrique Perazzi de Aquino é muito reflexivo. Somos os párias da America-latina e do mundo. Todas as fronteiras, de fato, estão fechadas para o Brasil. Enquanto isso, um ignóbil, um trapalhão - no sentido pejorativo da palavra -, com a apoio de uma horda de fundamentalistas, insiste em suas loucuras. O pior: ninguém toma medidas para impedir que esse caos se aprofunde ainda mais.

Henrique Perazzi de Aquino Eis um ótimo mote para um dos seus sempre bons textos para Carta Capital. Mais triste impossível.

Beto Castilho Retrocedemos tanto desde o golpe de 2016...

Oscar Fernandes da Cunha O isolamento total do Brasil será imposto por todos os países do mundo. Espere e verás e nem precisa ser profeta.

Oscar Fernandes da Cunha Vem ai "Os Isolados da América Latina", nova série da Netiflix.

Eric Schmitt Não foi falta de avisar dessas consequências desde antes da eleição... Sempre foi o que me preocupou, a imagem do Brasil lá fora enquanto o mundo se internacionaliza... erguida nas alturas desde os anos 2000 e derrubada desde 2014...