"Eu não podia deixar isso passar em branco. Ligo a Tv e a cada dia mais e mais cidades decidindo pela não reabertura das escolas nesse momento. A ponderação é mais do que justificável. Crianças são nossa esperança e permitindo que elas tenham contato mais imediato, não só como vírus, mas com tudo o mais neste momento, além da crueldade, pitada de insanidade de nossos governantes. Primeiro, porque amanhã, quinta, estaremos adentrando outubro, três últimos meses do ano. Se pouco foi feito até agora, pouco também ocorrerá nesse final de semestre. e se algo já está sendo feito, como se apregoa por aí, no quesito de ensino à distância, online, que tudo possa ser intensificado nesse final de ano, preparando tudo e todos para o reínicio a contento ano que vem. Um pouco de bom sendo não faz falta para ninguém", começa sua fala, Guardião, observando a queda de braço rolando na porta das escolas, dentre os que lutam pela não reabertura e do lado dentro, os que tentam escancarar os portões.
Interesses conflitantes e dissonantes. "Meus caros e caros, que tipo de pressão e quem o faz nesse momento junto ao prefeito, vereadores e cidade num todo? Precisamos dar nomes aos bois. Quais os interesses em jogo? Seriam somente os tais educacionais ou também os do que domina o mundo atual, os tais das leis do mercado, com isso de que, fechados por mais tempo o país fale. Fale pra quem, do que e como? Falidos já estamos com esse modelo educaional excludente implantado e seguido pelo bolsonarismo em curso, vide a fala do ministro da Educação, desdizendo de quem escolheu a profissão de professor como carreira. Que se espera de um desGoverno pensando assim? Quando essa mentalidade se espalha e se multiplica, sendo praticamente reproduzida nos municípios, eis o caos instalado. O debate sério começa com o entendimento de que a pandemia não acabou, segue fazendo muitas vítimas, principalmente neste momento nas periferias, local da maioria das escolas públicas. Juntando tudo isso, se o prefeitão de Bauru se sente acuado, por que não busca apoio junto da população, esculacha com os retrógrados e dá nome aos bois, diz de onde parte a pressão? o que não pode é ir adiando, quando a maioria das cidades no entorno de Bauru já decidiram pela não abertura e pelo jeito, irá tomar sua decisão na bacia das almas. Por que, sr prefeito?", questiona Guardião.
Ponderação, bom sendo e tentar fugir desse consenso bestializando querendo tomar conta de tudo e todos neste momento, eis algo proposto pelo intrépito Guardião: "Demorar mais para tomar a decião só lhe causará mais problemas, sr prefeito. Não demore mais, não tome decisões pensando só e tão somente em algo como peça eleitoral, agindo como candidato. A cidade não é constituida somente de uma fatia de eleitores. Se o todo já se pronunciou pela não abertura, pela falta de segurança, qual o motivo de retardar sua decisão? A cidade aguarda ansiosa sua tomada de posição, a sua e da Câmara de vereadores, outra que age pensando neste momento somente em eleitores e não em cidadãos. O fato é que os leitos disponíveis e reservados para Covid nunca estiveram tão cheios como agora, estamos chegando a 200 mortes, mas com número de atendimentos extrapolando o máximo de vagas de leitos existentes. Coloque isso na balança, o ano já está irremediavelmente perdido. Pensemos num recomeço ano que vem, talvez já com vacina e algum horizonte mais ameno pelo frente. Não faça como de muitas vezes e tomando decisões para atender interesses de minorias abastadas. Estamso todos aguardando...".
OBS.: Guardião é criação da verve do artista Leandro Gonçalez, aqui com pitacos escrevinhativos do mafuento HPA
DESVIANDO DO ASSUNTO PRINCIPAL
MUDANÇA NO MEIO DA NOITEConto aqui uma rica historinha dessa riqueza de ação popular, a dos que lutam desbragadamente pela sobrevivência, fazem e acontecem e sem se dar conta, propõe o algo novo, diferente, ousado e sem se importar se isto vai ou não causar boa impressão. É o tal do precisa ser feito, façamos e pronto.
Perco minha inquilina lá ao lado do Mafuá, a Cleide Souza, mineira do interiorzão das Minas Gerais e aqui aportando em busca de dias melhores, tudo interrompido pela pandemia. Fizemos um acordo de cavalheiros para ela ir conseguindo suportar o período pandemico, ela conseguindo tocar o barco até quando deu e neste último domingo jogou a toalha, se foi de Bauru, aportando junto da irmã na vizinha Bariri, pois ali dividirá custos e sua vida se tornará (toc toco toc, tomara!) mais amena. Arrumou algo provisório para fazer e faz, trabalha, toca a vida e assim prossegue. Na tarde de domingo me diz:
- Henrique, vou ter que ir, não tem mais mais jeito. A coisa ficou impossível. Até para arrumar um cara para fazer o frete não foi fácil. Tentei vários, preços bem fora do que consigo neste momento pagar. Um amigo topou e fez mais, topou também fazer a mudança, o pouco que conseguirei trazer para cá, depois do meu expediente de hoje aqui na pizzaria. Eu trabalho até a meia noite, por aí e depois disso, ele passa lá em casa, vejo se alguém vai comigo para ajudar e tocamos para Bauru buscar tudo que é meu. Posso ir esse horário?
- Cleide, não precisa nem pedir. Venha, faça o que tem que fazer. Tome só cuidado pelo adiantado da hora. Vou até avisar os vizinhos, pois quando orivem barulho na casa de domingo pra segunda, lá pela uma hora da manhã podem se assustar. Já deixo claro que será tu fazendo sua mudança. Cuidado também se passar algum carro de polícia na rua e ver você transportando móveis nesse horário, pois podem achar que é outra coisa. E em qualquer coisa errada, pode me ligar, o celular estará do meu lado.
- Obrigado, seu Henrique. Não tenho outro jeito, nem horário. Ele pode hoje, eu mesmo cansada, também posso hoje e se os dois podem, assim faremos. Agradeço por tudo e agora, tento recomeçar aqui do lado de cá, tendo meu sonho de fazer algo em Bauru interrompido, pois não queria sair deste jeito. Queria mesmo é estar trabalhando aí, cidade maior, mais oportunidades, mas não deu. Desde a pandemia as portas se fecharam de uma forma, que se não fosse o Auxílio Emergencial estaria num mato e sem cachorro. Volto pra Bariri, mas espero ter deixado a porta aberta contigo, pois foi ótimo ter morado aí por estes tempos. A gente percebe que existe solidariedade humana, ela sempre vai continuar existindo.
- Não te incomode, minha cara. Fiz o que pude, pois desde o primeiro momento te vi uma batalhadora, dessas que arregaçam a manga da camisa, vão à luta e não reclamam, dispostas a tudo, tudo em busca de realizar bocadinho do sonho que têm em mente. Siga seu caminho e se voltar um dia pra cá, me ligue, que se tiver vaga por aqui, será tua, pois gente como tu não precisa de avalista. A gente faz tudo pela confiança um no outro.
E assim foi feito, ela veio com uma pequeno caminhãozinho, ela e o amigo no volante, os dois carregaram tudo pelo corredor, o cachorro latiu, mas tudo deu certo. Ninguém a abordou, todos estavam avisados e a coisa rolou dentro da mais absoluta normalidade. Daí, eu cá, já na segunda, fiquei a pensar, matutar com meus botões: esse pessoal das rebarbas da cidade, periferia, subúrbios, mundaréu lutador, faz tudo e mais um pouco, algo bem diferente do que vejo rolar aqui na Zona Sul onde moro. Quando por aqui alguém faria uma mudança no meio da noite, de domingo pra segunda? Primeiro, por aqui morreriam de vergonha, depois creio eu, isso nem seja possível por estas bandas. Na periferia e com eles, isso pode e não tem a menor importância, relevância. Se eles precisam que a coisa aconteça neste dia e desta forma e jeito, pronto, ela acontece e pronto, tudo resolvido, vida que segue. Amos estes todos e o jeito como resolvem tudo dentro da maior simplicidade, normalidade e sem nenhuma dor de cabeça. Viva Cleide e seu novo momento baririense. Que tudo dê certo pra ela e pra todos os que agem desta forma e jeito. Eles fazem com que o brilho dos meu olhos continue flamejando.
NA DESPEDIDA DE QUINO, NÃO SEI COMO AINDA NÃO PRENDERAM A MAFALDA