domingo, 8 de outubro de 2023

RETRATOS DE BAURU (281)

pra começar os trabalhos
ALGO MAIS DA HISTÓRIA DOS QUE NÃO PAGAM CONTA DA ÁGUA DE JEITO NENHUM EM BAURU
Essa história é velha. Sempre rende bons enredos, pois não é de hoje que os endinheirados destas plagas não gostam de colocar as mãos nos bolsos para pagar suas contas. Sendo essas públicas, nem se conta (sic).

O que acontece neste momento e, até agora, só foi noticiado pelo Contraponto não é nenhuma novidade. Os maiores devedores são os endinheirados. Roque Ferreira, nosso eterno vereador, empreendida luta contínua contra estes e sempre ameaçava divulgar a lista com os nomes todos. Os sacanas conseguiram barrar a divulgação e assim farra continuou. Se teve fim, não sei, mas algo aconteceu e com o noticiado pela Contraponto, do jornalista Nelson Gonçalves, uma boa tentativa de reversão e de normalizar a questão. Ou seja, a situação só será mesmo normalizada quando os ricos destas plagas, todos já identificados nas listas dos eternos devedores do DAE, pagarem suas contas.

Isso da ARCO, a associação, que dentre outras atividades, produz a Expo lá no recinto Mello Moraes não paga, nenhuma novidade. Todos já sabiam. Tenho a mais absoluta certeza dee ser mais do que louvável a cobrança e agora, execuação, com parte da renda do lucro do evento sendo revertido para o pagamento de dívida até então nunca paga. Enfim, por que o pobre paga suas contas de água, nem que seja aos trancos e barrancos e os abonados, os que poderiam fazê-lo não o fazem? Explicado também pela queda de braço existente hoje no país sobre a cobrança de impostos sobre as maiores fortunas. Estes pagam no mundo todo, mas aqui querem continuar isentos e exercem forte pressão, com lobby constituído e fazendo das suas. De vergonha em vergonha, de bom alvitre ir verificando pro aqui, quem dá essa notícia e quem se omite de sua repercussão. Mais do que sabido que, muitos os ricos endinheirados destas plagas, estão entrelaçados inclusive com os meios de comunicação massiva da terrinha "sem limites" - e também sem vergonha na cara.

dando continuidade no dia, nada como cair no samba
1.) 
BAURU, DO RELÓGIO ADIANTADO AO PALAVRA CANTADA - UMA ESCOLA DE SAMBA ANTENADA COM A HISTÓRIA DA CIDADE
Um privilégio presenciar neste domingo, 09/10, uma inusitada eleição dentro da cidade "sem limites", a dos cinco concorrentes para escolha do Samba Enredo da Escola de Samba Estação Primeiro de Agosto, localizada lá nos altos do Jardim Ferraz, junto a outro reduto de bom samba na cidade, o Ouro Verde e quase boca de entrada - ou acesso - para Piratininga. O inusitado e creio eu, algo único dentro do universo do Carnaval bauruense em seu atual estágio foi ter cinco concorrentes na disputa.

Choveu muito neste dia em Bauru, onde uma grande festa estava armada, diria mesmo, engatilhada para acontecer no local, até com Caminhão Palco da Prefeitura, mas tudo teve mesmo que rolar dentro das acomodações do barracão e salão de festas e dança da escola, local de trabalho do Tobias Terceiro, também morando ali ao lado junto de sua mãe, a eterna foliã Lea Maria Tuba. Entre eles circula sangue carnavalesco desde muito tempo e pelo visto, continuará circulando e pulsando de forma forte, pujante e altaneira. Tobias leva a sério esse "negócio" denominado Carnaval e em pouco tempo, levantou não só seu espaço, como a cada ano dá mais cara, identidade própria para sua escola de samba. Quem já foi ou conhece o que por ali acontece sabe muito bem do que falo.

Eu, Ana Bia e Cláudio Lago chegamos cedo e presenciamos tudo, desde a chegada do pessoal, como a conversa com os compositores. Foi divinal ver por ali gente como o Léo do Rasi, a Cátia Machado e o dançarino Geraldo Inhesta. Depois, sentados defronte uma mesa, onde o pessoal da escola produzia um samba de primeira, um trio de ferro, cantando de tudo dentro do universo do que existe de melhor. Tudo ia contagiando os presentes. Parecia até algo premeditado, feito para causar e arrebatar. Confesso, fui arrebatado.

Passamos uma tarde inteira envolvidos e entrelaçados com a boa música e o bom astral. Tobias e o que acontece no desenvolvimento da Estação Primeiro de Agosto é mais que um bom exemplo, pois trata-se de trabalho, dedicação e abnegação. Os resultados aparecem após tudo isso junto - e misturado. Existe até se chegar lá sem a coisa estar organizada, mas daí já é contar com muita sorte. Esse pessoal desta escola arregaça as mangas e foram, ou melhor, estão todos na luta, numa clara demonstração de querer é também poder. Isso serve para tudo nesta vida.

Da escolha do samba enredo vencedor, como todos ali presentes, tinha meu preferido, mas quando o resultado é divulgado, um empate e uma decisão, certamente a contando como Tobias deseja sua escola na avenida, apresentando sempre o melhor. Os sambas de Léo do Rasi e Cátia Machado, dois letristas já bastante conhecidos e com histórico de sucesso na cidade. Foi solicitado aos dois se podiam sentar e fundir os dois, unindo o que de melhor fizeram e assim definindo o samba enredo. Pode ter assustado alguns, mas isso não é novidade e assim se deu, sem traumas. Quem vai ganhar com isso? Claro, o Estação Primeiro de Agosto.

Todos saíram de lá extasiados com o divinal som de uma bateria batendo muito, compassada e com muito ritmo, gente que sabe fazer a coisa e no lugar certo. Se existe esperança de um futuro cheio de coisas boas para o Carnaval de Bauru, creio eu, o Tobias já encontrou seu lugar e sua pegada. Ele está no caminho mais que certo, porém, outras não. Que sirva de espelho, de algo, não a ser copiado, mas usado como exemplo. Nada cai do céu, Tobias sabe muito bem disso, mesmo tendo os pais que têm, ambos com quilometragem de entendimento do que venha a ser Carnaval. Valeu tudo, inclusive ter enfrentado a chuvarada e ter lá estado. Volto pensando na bela escolha do tema de seu samba, algo muito emblemático na história desta cidade, os tais relógios adiantados, que hoje culminam com outra história, uma referendando a outra, a compra de um inútil Palavra Cantada. Tudo pode ser levado pra avenida e ser entendido pelo viés de quem samba. O roteiro, o embasamento histórico utilizado ficou um primor, daí, tudo tende a dar certo e ajudar e muito as pessoas a tomarem consciência de sua situação, unindo o antes, com o hoje e o amanhã.

2.) O REENCONTRO COM BETH, ANOS DEPOIS, DA TRADIÇÃO AO ESTAÇÃO PRIMEIRO DE AGOSTO
Em 13/02/2015, portanto, 8 anos atrás, ao percorrer os ensaios das Escolas de Sama de Bauru, me deparei com algo despontando na linha do horizonte, uma ainda menina, negra e batendo muito forte num imenso surdão. Dela escrevi maravilhado: "ELIZABETH TOMA CONTA DO SURDO NA TRADIÇÃO DO MARY DOTA - As pessoas se descobrem e são descobertas pela forma como se vestem, pelo andar, pelas companhias e até pelos instrumentos que tocam. Tem pessoas que só de bater os olhos em algo, dizem pra si mesmas: “É isso que quero”. Daí uma busca até conseguir o intento. Para uns o caminho é mais doloroso, árduo, para outros nem tanto e ao conseguirem a aproximação e depois a consumação, eis um momento mais do que mágico. Conto hoje um pouco dessa magia na descoberta que uma pessoa teve com um instrumento musical. ELIZABETH SOUZA SÁ, 21 anos é grandona, forte, dessas impondo muito respeito por onde passe, tudo isso aliado a outro forte quesito, muito simpática. Mora no Beija Flor e formada em Educação Física, trabalha na área como educadora. Gosta muito de música e nas horas vagas toca violão. Acompanhava até ano passado, a escola de samba do seu bairro, a Tradição, meio que a distância. Fez isso por três anos, sem coragem de se aproximar. Ia ver os ensaios, mas nunca tinha saído na avenida. Esse ano, através de um amigo lá na bateria da escola, o Paulo, chegou mais e de tanto olhar, acabou recebendo o convite: “por que não vem tocar com a gente?”. Aceitou e pediu para escolher o instrumento. Foi de cara no surdo, o maior de todos. “Nunca tinha tocado esse instrumento, mas sabia só de olhar que me daria bem com ele, prestava a atenção em todos os seus detalhes. E me dei mesmo, foi amor à primeira vista. Eu entrego um pouco da alma batendo nele”, diz. Quem a vê tocando, percebe a intimidade dela com o instrumento, a forma forte, exigência do ritmo, porém com acerto, a batida no momento certo, o ouvido atento e a pegada certa. Elizabeth vive uma verdadeira história de amor nesse carnaval".

Passa um filme pela minha cabeça e agora, 2023, cá estou na festa da escolha do samba-enredo da Escola de Samba Estação Primeiro de Agosto, do Jardim Ferraz, comandanda pelo Tobias Terceiro, o Tubinha - será que ele gosta de ser assim chamado?. E quem revejo por lá, a Beth, agora já muito mais solta, experiente e senhora de si. Continua batendo forte seu instrumento e agora, só lá na Estação Primeira de Agosto. Ela comanda a bateria, comando a pegada forte da escola e acabou por se transformar numa beleza pura, dessas para ser ouvida e vista. O tempo passou, a acompanhei à distância e, depois destes anos todos, uma só certeza, ela conseguiu alcançar um nível de ter encontrado a tal da "batida perfeita", a qual se refere Marcelo D2 no seu samba funk. Foi mais que uma maravilha vê-la no estágio atual. Eu a conheci quando saiu pela primeira vez e, confesso, se já me encantei lá nos idos de 2015, imaginem agora, quando acumulou muito mais conhecimento e sapiência no que faz? E continua irradiando a mesma simpatia de antes. Ou seja, a evolução continua e vai dar nos píncaros da glória.
Beth, oito anos atrás, quando ainda na Tradição do Mary Dota.

Um comentário:

Marcos disse...

Faz uns 10 anos que a lista dos grandes devedores de água foi divulgada na câmara municipal pelo Roque... na lista tinha a Arco, a Unesp, a Catedral e vários empresários da cidade. A questão sempre é de classe, e gestores públicos são financiados por estes para atenderem seus interesses de classe dominante.

Assim como em nenhum lugar do mundo rico paga imposto, se vc fosse marxista estaria atento a isso... revolucionário é expropriar a burguesia, porque o rico nunca paga imposto, tudo o que lhe é "cobrado" volta pra ele seja no valor embutido da mercadoria, seja na forma de juros de títulos públicos. Quem paga é sempre a classe explorada. Podem criar o imposto que for que no final sempre recai no lombo do trabalhador.