domingo, 29 de outubro de 2023

AMIGOS DO PEITO (217)


TRÉGUA*
* Sim, hoje não pego no pé de nenhuma das pisadas da bola da alcaide bauruense. Só hoje, viu!!!

trégua um
MAURINHO E UMA BANCA VENDENDO SEU LIVRO NA FEIRA DOMINICAL
Fiquei pouco hoje na feira. O tempo estava nublado, carrancudo. Comprei 5 livros novos e 1 Cd na banca do Carioca, tudo por R$ 25,00, desde a baiana Gal Costa ao grego Nikos Kazantzakis. Mas o mais emocvionante do domingo, foi quando descendo a Gustavo Maciel, nos deparamos ao lado da banca de ovos do Moisés, o querido, um dos maiores compositores destas plagas, Maurinho Santos, com uma banca e ali expondo seu livro, o BIS, com a história de sua vida. Comprei alguns exemplares quando da primeira edição e agora, ele me diz ter conseguido imprimir mais uns 100 exemplares e permaneceu a semana toda com a banca montada no Calçadão da Batista. Sua intenção é vender e assim, espalhar sua obra, ou melhorsua cria, mas faz mais que isso, pois até melhor são as conversas, o flui com ele ao vivo e a cores ali na banca.

Já eram umas 11h e ele todo pimpão, já tinha vendido 4 livros e conversado com incontáveis pessoas. Sua história é a da resistência. Num trecho conta em detalhes como lhe afanaram uma letra e assim do nada, quando se deu conta, um samba famoso com um refrão igual ao seu. Cada capítulo do livro ele traça detalhes de sua trajetória. Mas como disse, melhor que tudo é tê-lo ali ao lado, ao vivo e a cores, com toda sua ginga e malemolência, num conversê de samba que poucos podem fazê-la com tanta propriedade.

Maurinho é bastante conhecido e ali, entre tomates, amendoins e bananas, não precisa gritar, nem falar alto. Com um pequeno banner exposto na frente da banca e sua estampa ali, sempre bem alinhado, recebe a todos com aquele sorriso de sempre. Diz que, só sairá das ruas quando abaixar bastante o estoque. Passo por ali com Cláudio Lago, ele também já tendo comprado seu exemplar da 1ª edição. Ficamos ali enroscados, presos numa conversa pra lá de boa e assim, quando nos demos conta, já estava na hora de levantar âncora e voltar pra casa. Hoje, o melhor da feira foi revere Maurinho e sua coragem estradeira e rueira. Sua banca é itinerante e em breve pode estar aportando pela aí, em qualquer lugar por onde ele ache que pode reencontrar pessoas interessadas em sua prosa e em levar pra casa sua obra.

trégua dois
A PESQUISA DE DUAS ESTUDANTES DA UNESP COM A MEMÓRIA GRÁFICA BAURUENSE
Adoro trabalhos de pesquisa histórica. Tenho acompanhado poucos destes envolvendo o passado e a história bauruense, ainda mais no quesito suas memórias tipográficas e no campo do jornalismo. Quando me deparo com algo, paro, assunto, me interesso e quero saber mais e mais. Foi o que aconteceu quando semanas atrás, eu acabei levando Ana Bia pra Unesp, onde iria julgar trabalhos de alunos no 7º Simpósio do Interdesigners - "Vivências, Identidade e Sociedade". Eram muitos trabalhos ali expostos, todos na forma de banners com um resumo da pesquisa e ao lado, a estudante ali disposta a conversar sobre o assunto.

Como não se interessar, parar e querer saber mais de alguns destes? Os de minha preferência tem por temática a Bauru de antanho. Escolhi dois e por coincidência ambos orientados pela mesma professora, Jade Piata, trabalhando em cima do tema da Memória Tipográfica. Nos dois trabalhos, algo realizado pesquisando o acervo disponível do Nuphis, o Núcleo de Pesquisa Histórico "Gabriel Ruiz Pelegrina", da antiga USC, hoje Unisagrado. Que bom tomar conhecimento que, mesmo depois do falecimento do professor Pelegrina, tudo continua sendo preservado e disponibilizado pra consulta.

Cito os dois trabalhos de pesquisa. "As oficinas tipográficas dos jornais pioneiros de Bauru", pesquisa da estudante Ana - infelizmente não registrei seu nome completo. Estes jornais mais antigos, década de 20 do século passado, creio eu, só mesmo lá no Núcleo da Unisagrado. São peças mais que raras e conversando com Ana, descobrindo seu interesse em recuperar como era feito a montagem dos jornais daquela época, são mais do que importantes na recuperação histórica do que já foi feito por aqui. No outro, "Revista Paulista - Um resgate da memória gráfica de Bauru da década de 1950 no acervo do Nuphis", da estudante Laura - também não registrei o nome completo. Confesso, que muita coisa deste período eu conheço, mas nunca havia ouvido falar dessa revista, editada em Bauru nos anos 50 e com belo trabalho gráfico - suas capas são ótimas. No histórico, algo mais de uma época onde tudo era feito na unha.

Conversando depois com a professora Jade, colega de Ana Bia no curso de Design, vi que, ela dedica boa parte de seu trabalho na recuperação gráfica - consequentemente, tipográfica - e com pouco mais de um ano em Bauru, já tem muita coisa catalogada e no prelo, nas mãos de seus alunos. Ela me diz de outro trabalho, dos mais interessantes, não apresentado no Simpósio, por estar em fase de conclusão, pesquisa sobre a revista Cadência, do jornalista e advogado Oswaldo Pena. A Cadência durou 60 anos e ela me diz que, todos os exemplares do Nuphis estão digitalizados, o que é algo mais do que auspicioso, principalmente para os pesquisadores.

Enfim, quero conhecer mais destes trabalhos e, claro, tomar conhecimento deste sobre a Cadência. Belo trabalho da Jade e de suas alunas. Não podia deixar de escrever do que vi e espalhar para que mais pessoas se interessem em ir atrás e conhecer também o trabalho dessas estudantes. Conhecer algo do que já foi feito por essas bandas é muito importante, até para se chegando nos dias atuais, ir observando nos passos dados, como seu deu essa caminhada. Tem muita coisa pra ser valorizada e revista. Nada pode cair no esquecimento.

trégua três
FAUSTO BERGOCCE NÃO PARA UM SÓ MOMENTO DE FALAR DE SUA REGINÓPOLIS, AGORA O "EM BOAS MÃOS"
Este meu amigo é mesmo do balacobaco. Não me canso de repetir ser ele o maior Embaixador que Reginópolis poderia ter. Não existe algo mais gratificante do que, alguém tendo nascido naquela localidade, quando ganha o mundo, não deixa um só segundo de continuar reverenciando sua aldeia natal. Fausto é um destes. São incontáveis os momentos em que – só os que tomei conhecimento -, ele aproveita algo e lá faz alguma citação sobre o lugar de onde veio. Vez ou outra, volta para lá, algo como recarregar baterias e depois, voltar pra onde mora, Guarulhos, grande São Paulo, onde passa mais um breve tempo. Algo o incomoda quando fica algum tempo sem citar ou fazer algo por Reginópolis. Faz muito e continuará fazendo, mesmo não sendo lá muito bem reconhecido pelo montante de vezes, ações tendo como pano de fundo sua cidade natal.

Por estes dias, tentou emplacar por lá um livro com histórias em quadrinhos tendo como pano de fundo personagens, todos muito conhecidos na cidade. Ainda não emplacou, mas não desiste e mais dia, menos dia, teremos mais um livro tendo como temática Reginópolis. No momento o seu envolvimento com a cidade é outro, pois tem pronta uma exposição intitulada “Reginópolis em Boas Mãos”, que nada mais é do que 40 (quarenta) fotos emolduradas de ilustres brasileiros, todos conhecidos de todos nós, os ditos famosos e eles segurando um exemplar do livro Reginópolis Sua História, ilustrações dele e escritos de minha lavra.

Ele mesmo conta de como surgiu a ideia e dos motivos de entendê-la interessante e importante: “A exposição será na escola municipal Regina Olinda Martins Ferro e ficará no acervo permanente da escola. Acho muito importante dessa forma, pois ajuda a incentivar as crianças, por conta da ligação dessas grandes personalidades com o nome da cidade. Serão 40 fotos emolduras e com legendas sobre cada personalidade. Alguns já são falecidos, como no caso do crítico musical Jose Ramos Tinhorão e do cartunista Nani. Não temos prazos ainda para essa exposição: por enquanto levarei o material e deixarei por lá, a critério deles (da secretária da Cultura e do Prefeito) para agendarem essa mostra”.

Ele quando não consegue quem banque suas ideias, acaba ele mesmo bancando tudo por conta própria, como desta feita. O que o move é este incessante e inabalável amor pela sua cidade. Nesta semana estará de volta, chegando dia 2/11, no feriado, com as fotos na mala e com muitas esperanças de conseguir ao menos inaugurá-la quando na cidade. Não conseguindo, com certeza, voltará quando tudo definido e marcado, pois voltar pra lá é tudo é quer, hoje, amanhã e sempre. Vou recepciona-lo em Bauru e o encaminhar via Expresso de Prata, num dos únicos horários do dia para lá. Ele não tem carro, nem carta de motorista. Gosta mesmo é de circular a pé, ônibus, trem ou mesmo avião. Viajado, conhece desta forma boa parte do mundo. Sei de lugares bem distantes e também por lá, sempre reverenciando Reginópolis.

Posto aqui algumas fotos das escolhidas por ele para este novo trabalho. Se bobear, arrumaremos também um lugar para expor aqui por Bauru o mais novo resultado desta nova empreitada. Portanto, estou comunicando, Fausto chegando por aí, daí impossível não falar e escrever de Reginópolis, pois o que o danado mais faz na vida é tecer loas para essa pequena cidade, ali na barrancas do rio Batalha, localizada uns 80 km daqui de Bauru e hoje, com não mais que uns 7 mil habitantes – será já chegou nessa marca?
OBS.: Na sequência das fotos, Rivelino, Maurício de Souza, Júlio Medaglia e José Ramos Tinhorão.

trégua quatro
BAURUENSE ADRIANA COMANDANDO FEIRA LIVROS EM FRANKFURT, ALEMANHA
Recebo alguns dias atrás um recado de baita amiga, bauruense, hoje residindo na Alemanha: "Será que conseguiria colocar uma nota no jornal sobre a feira do livro. Eu organizei um stand para o Conselho de Imigrantes, no qual autores imigrantes podem apresentar seus trabalhos e expô-los. Mais de 100 autores, e muitos brasileiros. Amanhã teremos a abertura do nosso stand com a prefeita de Frankfurt". Como deixar de atender o pedido dela, que já entrevistei aqui no meu projeto Lado B - A Importância dos Desimportantes. Na verdade, como se vê, todos os ditos por mim como desimportantes, são muito mais do que importantes.

Antes de tudo, quem é a dra. Adriana Maximino dos Santos, mestre e doutora em Estudos da Tradução pela UFSC. Co-fundadora da Associação Abá, ONG em defesa aos direitos humanos em Frankfurt. Foi eleita em 2021 para o Conselho de Imigrantes da cidade de Frankfurt. É também vice-presidente deste conselho. Por que existe este conselho? Imigrantes sem cidadania europeia não podem votar para eleições municipais. Por isso, foi criando há vários anos atrás um conselho, onde imigrantes escolhem seus representantes, para intervir junto a Câmara Municipal, tudo visando melhorias nas suas condições, através de solicitações e projetos.

No ano passado criou o projeto Conselho de Imigrantes na Feira do Livro, reunindo autoras e autores de várias nacionalidades para apresentação de seus livros e leituras pública. A ideia foi tão bem sucedida, que a Feira do Livro ofereceu uma parceira. Neste ano então, o estande do Conselho conta com um espaço muito maior, entradas gratuitas para a comunidade imigrante, visitas guiadas para presidentes de associações de imigrantes e para crianças. Além disso, neste ano, no pavilhão de Frankfurt a abertura desse stand com a presença da prefeita de Frankfurt, do presidente do Conselho, do porta-voz da feira, e um fórum de discussão com Adriana e duas convidadas ilustres, Dr. Natasha Kelly e Dayan Kodua sobre o lema do stand “Ocupar espaços e a perspectiva da mulher na literatura”. O stand do Conselho recebeu aproximadamente 100 autoras e autores, não só de Frankfurt, mas da Alemanha e também da Europa. Um grande destaque é também brasileiras autoras e fundadoras de agência de literatura e editoras.
A feira ocorreu de 18 a 22/10/2023.

O resultado não poderia ter sido melhor. E para nós, os bauruenses, nada melhor do que poder reverenciar uma bauruense fazendo sucesso mundo afora. Ela me conta quando do contato, algo mais. "Henrique, em Frankfurt 54% dos habitantes tem biografia de imigração, ou seja, ou a pessoa imigrou ou os seus pais. Todos os "comandantes" da cidade, ou seja que estão na ponta têm história de imigração, o prefeito, a prefeita e a presidente da Câmara. Isto é único em toda a Alemanha". E olhem a importância maior disto tudo: uma bauruense, aqui da vila Independência lá na coordenação de algo mais do que importante na viabilização deste trabalho.

A grande Feira de Livros de Frankfurt é conhecida mundialmente, tendo já recebido inúmeros escritores brasileiros. Desta feita, com o trabalho de Adriana lá na ponta, a idéia do tema é a de ocupar espaços, buscando também discutir/defender a visibilidade das obras de imigrantes, bem como ocupar espaço dentro da feira, que infelizmente abriga também editoras de extrema direita. Ela me diz algo mais sobre extamente este tema: "Alguns boicotam, eu decidi ocupar o espaco e não deixar para eles". Imigrante é assim, batalhador, instigador e como ela, sempre ativa, operante e conceituada. Enfim, ela é dessas que honram muito positivamente o fato de ser bauruense.

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