TERMINO DEZEMBRO COM SEIS LIVROS LIDOS – AQUI UM BOCADINHO DE CADA UMO que me anda dando mesmo enorme prazer é poder continuar desfrutando de bom livros. Não consigo ficar um só dia sem permanecer algumas horas dedicadas à leitura. Afogo tudo, inclusive mágoas e também alegrias, na leitura. Me tiram da monotonia. Viajo sem tirar os pés do lugar onde me encontro. Só neste mês de dezembro, consegui ler, além das revistas Carta Capital e Piauí, seis livros. Não conto vantagem, pois pelo tanto de outros tantos aqui à minha volta, tenho certeza, poderia ter lido, no mínimo, o dobro. Sigo, levando-os para todos os lugares por onde vou. Hoje mesmo, enquanto aguardava ser atendido num salão de espera lá na Unimed, termino o sexto. Descrevo algumas particularidades de cada um deles:
1 – “Meu querido canalha”, crônicas de Ruy Castro, Carlos Heitor Cony, Aldir Blanc, Marcelo Madureira, Bráulio Pedroso e Geraldo Carneiro, editora Objetiva RJ, 1ª edição, 2004, 141 páginas. Quem nunca foi canalha uma vez pelo menos na vida que levante a mão? Não um canalha político, mas no dia a dia. Pelas histórias lidas, algumas hilariantes, escritas para diversão, não para serem seguidas, estilo manual. Essa canalhice pode parecer machismo, e até o é, mas quando descrito pela verve de um Ruy Castro ou Aldir Blanc, ganha conotações de picardia. Se entrar em detalhes de algumas das crônicas, posso até apanhar. O fato é que, a leitura de um tema como este é magnifica para desviar um bocadinho que seja do foco quase contínuo do campo da política. Se a gente não fizer isso de vez em quando, deixando a sisudez de lado, o que seria desta vida. Ser canalha uma ou outra vez é uma coisa, já uma vida toda, deve ser um fardo, pois deve ter momentos que até o pervertido, clama por se tornar um sujeito normal, sem arroubos e salamaleques.
2 – “Universidade, pra que?”, Darcy Ribeiro, série UnB, editora UnB DF, 1ª edição, 1986, 36 páginas. A Universidade de Brasília nasceu da verve e vontade de gente como este intrépido Darcy. Com o golpe de 64, ela foi desfigurada e comandada por um sujeito com vestimenta verde-oliva. Com a redemocratização, seu primeiro reitor foi Cristovam Buarque no evento da posse, o convidado de honra é justamente seu criador e mentor principal. Darcy produz um discurso épico, transformado num pequeno e contundente livro. Terminei sua leitura justamente após assistir o premiado “O Agente Secreto” no cinema. Lá, um professor universitário sofre atroz perseguição e é morto pelo simples fato do exercício de seu ofício com afinco, dedicação e sem se vergar aos poderosos de plantão. Ele não se vergou um só momento, foi exilado e voltou para fazer o que mais gostava, movimentar a Educação. Termina o discurso com um questionamento servindo para a grande maioria do mundo acadêmico destes tempos: “E nós, intelectuais, com poder precaríssimo, mas precioso, de mobilização da consciência nacional, estamos fazendo o que?”.
3 – “Tio Pedro”, Orígenes Lessa, coleção Texto Imagem, editora do Brasil SP, 1ª edição, 1985, ilustrações de Roberto Echeverria, 48 páginas. Estou tentando ler toda a obra o lençoense Lessa, junto com a de seu filho, Ivan. Cada um na sua, diferentes como a água e o vinho, porém, cada qual com seu estilo. Vejo no que se transformou a escrita do Ivan Lessa, desde os seus tempos do Pasquim, numa trajetória seguindo os passos do pai. Ambos com uma escrita precisa, cirúrgica. No curto texto, ilustrado pelo artista bauruense, algo bem marcante de todos os seus livros, lições para os jovens de como deve ser encarada a vida. Mostra os preconceitos e os falsos valores de uma sociedade consumista na deformação da consciência das pessoas. Achei num sebo e a ilustração da capa, aliada do nome do autor me fez trazer para casa e devorar numa tarde, sala de espera de um consultório dentário. Esqueci até da dor de dente.
4 – “Adalgisa Nery”, de Ana Arruda Callado, coleção Perfis do Rio, Editora Relume Dumará RJ, 1999, 1ª edição, 148 páginas. Sabia muito pouca coisa a seu respeito, mas pelo que ouvi, foi uma ousada mulher, corajosa, impetuosa, linda e na junção disso tudo, tornou-se uma lenda na história dos ricos personagens da ex-Capital Federal. “Ela foi a primeira moça do Rio a usar vestidos com as costas de fora”, leio. Na verdade, foi muito mais que isso. Dois casamentos, viúva do pintor Ismael Nery e do diplomata Lourival Fontes. Vivenciou o Rio e sua época de camarote, porém, não se contentou em ser uma diva quieta. Enxergou que, mesmo com todas as benesses possíveis, tornou-se uma defensora dos do outro lado, os fracos e oprimidos do seu tempo. Fosse homem, já seria perseguida, sendo mulher, o foi duplamente. Como deputada estadual, no meio da infame ditadura militar pós-64, peitou milicos e conservadores. Poetisa e dona de um espaço para crônicas nos jornais cariocas, desceu a lenha até não mais poder nos vetustos da época. Pagou o preço, pois teve que se isolar e no final da vida, não querendo mais perturbar ninguém, se auto internou num retirado asilo, onde veio a falecer alguns anos depois, mais precisamente em 1980. Uma história que daria bela narrativa de alguém que, bela como se ouvia de todas bocas, soube se impor e assim atravessou gerações. Coleciono estes belos livros com Perfis do Rio, um mais vibrante que o outro. Carioca sabe falar de si mesmo com a devida maestria. Eu, na qualidade de leitor, devoro o que encontro pela frente.
5 – “As grandes entrevistas do Pasquim – Doze depoimentos antológicos”, editora Codecri RJ, 1ª edição, 1975, 160 páginas. Tenho a coleção quase completa dos livros da editora do rato que ri, a Codecri, com publicações que são verdadeiras raridades, todas editadas na época da ditadura militar. Comecei a ler o Pasquim aos 13 anos, já com três quatro anos de sua existência e depois, consegui quase completar a coleção completa. Guardo alguns até hoje. O modo como entrevistavam seus convidados tornou-se pioneiro, com a transcrição exatamente da forma como tudo transcorria. E regado a um bom uísque. Tem muito de machismo, impossível dissociar isso dos pasquineiros, porém, foram baluartes e revolucionários. Esse jeito de ser e estar carioca, que tanto seduziu o país, está personificado na forma como Ziraldo, Jaguar, Ivan Lessa, Millôr, Paulo Francis, Sergio Cabral, Glauber Rocha cercavam os entrevistados. Adorável ler como Elke Maravilha, Jorge Amado, Almir Pernambuquinho, Madame Satã, Meneghetti e Florinda Bolkan se saíram cercados pela troupe. Olho para trás, principalmente para o modal impresso, hoje nos seus estertores e me bate bruta saudade, pois creio, nunca conseguirei ler com a mesma desenvoltura pelo computador. Talvez por isso guarde o que me restou dos Pasquins, tentando livrá-los de traças e cupins, atravessando o tempo, onde vez ou outra, sento e abro tudo com a mesma sofreguidão de antanho. Sou um saudosista.
6 – “Moreno como vocês”, Sonia Nolasco, W11 Editores SP, 2003, 1ª edição pelo selo Francis, 248 páginas. Quando estava quase findando a leitura, pergunto para o dileto amigo Sivaldo Camargo se ele se lembrava dela, Sonia Nolasco em Bauru. Ele se lembrava, não só dela, mas de sua irmã. Falamos de como, anos depois, se transformou numa catedrática de Rio de Janeiro e Nova York, assim como seu marido, o controvertido jornalista Paulo Francis. Nolasco tem um sobrenome pomposo na Bauru de antanho. Hoje não mais. De seu livro, uma história contagiante de dois amigos, Bira e Ronaldo, um permanecendo no Rio de Janeiro e outro indo morar em Nova York. Belezura de citações, de lá e de cá, sem pedantismo, como Francis era mestre em fazer. Tivemos uma geração de deslumbrados por Nova York, anos 80, quando mesmo todos cucarachos, não sofriam tanto como nos tempos atuais. Muitos se foram para buscar o que não tínhamos aqui, como muitos aqui de onde moro, Bauru se foram para o Rio, a deslumbrante capital. Nolasco se foi para fazer companhia ao marido, mas nunca mais voltou. Creio eu, nem para Bauru. E voltar pra que? Fazer o que aqui? Fosse o Rio, como os personagens fizeram ao longo da obra, compreensivo. O livro fala muito dessa busca e dois quando lá, muito também da frustração. Enfim, quantos que buscaram Nova York como destino final estiveram totalmente satisfeitos após alguns anos por lá. Muitos, como o personagem do livro, fingem tudo ser mil maravilhas, porém, como nem tudo são flores, Nolasco nos apresenta o outro lado da moeda. Todos seus livros são uma delícia de leitura.
São estes. Como percebem, tento ser o mais eclético possível. Leio de tudo, menos aqueles livros com teses cheias de escrita acadêmica. Meu chips aos 65 anos, não permite mais compreensão. Fico nas adoráveis trivialidades. Mês que vem tem mais.
2 – “Universidade, pra que?”, Darcy Ribeiro, série UnB, editora UnB DF, 1ª edição, 1986, 36 páginas. A Universidade de Brasília nasceu da verve e vontade de gente como este intrépido Darcy. Com o golpe de 64, ela foi desfigurada e comandada por um sujeito com vestimenta verde-oliva. Com a redemocratização, seu primeiro reitor foi Cristovam Buarque no evento da posse, o convidado de honra é justamente seu criador e mentor principal. Darcy produz um discurso épico, transformado num pequeno e contundente livro. Terminei sua leitura justamente após assistir o premiado “O Agente Secreto” no cinema. Lá, um professor universitário sofre atroz perseguição e é morto pelo simples fato do exercício de seu ofício com afinco, dedicação e sem se vergar aos poderosos de plantão. Ele não se vergou um só momento, foi exilado e voltou para fazer o que mais gostava, movimentar a Educação. Termina o discurso com um questionamento servindo para a grande maioria do mundo acadêmico destes tempos: “E nós, intelectuais, com poder precaríssimo, mas precioso, de mobilização da consciência nacional, estamos fazendo o que?”.
3 – “Tio Pedro”, Orígenes Lessa, coleção Texto Imagem, editora do Brasil SP, 1ª edição, 1985, ilustrações de Roberto Echeverria, 48 páginas. Estou tentando ler toda a obra o lençoense Lessa, junto com a de seu filho, Ivan. Cada um na sua, diferentes como a água e o vinho, porém, cada qual com seu estilo. Vejo no que se transformou a escrita do Ivan Lessa, desde os seus tempos do Pasquim, numa trajetória seguindo os passos do pai. Ambos com uma escrita precisa, cirúrgica. No curto texto, ilustrado pelo artista bauruense, algo bem marcante de todos os seus livros, lições para os jovens de como deve ser encarada a vida. Mostra os preconceitos e os falsos valores de uma sociedade consumista na deformação da consciência das pessoas. Achei num sebo e a ilustração da capa, aliada do nome do autor me fez trazer para casa e devorar numa tarde, sala de espera de um consultório dentário. Esqueci até da dor de dente.
4 – “Adalgisa Nery”, de Ana Arruda Callado, coleção Perfis do Rio, Editora Relume Dumará RJ, 1999, 1ª edição, 148 páginas. Sabia muito pouca coisa a seu respeito, mas pelo que ouvi, foi uma ousada mulher, corajosa, impetuosa, linda e na junção disso tudo, tornou-se uma lenda na história dos ricos personagens da ex-Capital Federal. “Ela foi a primeira moça do Rio a usar vestidos com as costas de fora”, leio. Na verdade, foi muito mais que isso. Dois casamentos, viúva do pintor Ismael Nery e do diplomata Lourival Fontes. Vivenciou o Rio e sua época de camarote, porém, não se contentou em ser uma diva quieta. Enxergou que, mesmo com todas as benesses possíveis, tornou-se uma defensora dos do outro lado, os fracos e oprimidos do seu tempo. Fosse homem, já seria perseguida, sendo mulher, o foi duplamente. Como deputada estadual, no meio da infame ditadura militar pós-64, peitou milicos e conservadores. Poetisa e dona de um espaço para crônicas nos jornais cariocas, desceu a lenha até não mais poder nos vetustos da época. Pagou o preço, pois teve que se isolar e no final da vida, não querendo mais perturbar ninguém, se auto internou num retirado asilo, onde veio a falecer alguns anos depois, mais precisamente em 1980. Uma história que daria bela narrativa de alguém que, bela como se ouvia de todas bocas, soube se impor e assim atravessou gerações. Coleciono estes belos livros com Perfis do Rio, um mais vibrante que o outro. Carioca sabe falar de si mesmo com a devida maestria. Eu, na qualidade de leitor, devoro o que encontro pela frente.
5 – “As grandes entrevistas do Pasquim – Doze depoimentos antológicos”, editora Codecri RJ, 1ª edição, 1975, 160 páginas. Tenho a coleção quase completa dos livros da editora do rato que ri, a Codecri, com publicações que são verdadeiras raridades, todas editadas na época da ditadura militar. Comecei a ler o Pasquim aos 13 anos, já com três quatro anos de sua existência e depois, consegui quase completar a coleção completa. Guardo alguns até hoje. O modo como entrevistavam seus convidados tornou-se pioneiro, com a transcrição exatamente da forma como tudo transcorria. E regado a um bom uísque. Tem muito de machismo, impossível dissociar isso dos pasquineiros, porém, foram baluartes e revolucionários. Esse jeito de ser e estar carioca, que tanto seduziu o país, está personificado na forma como Ziraldo, Jaguar, Ivan Lessa, Millôr, Paulo Francis, Sergio Cabral, Glauber Rocha cercavam os entrevistados. Adorável ler como Elke Maravilha, Jorge Amado, Almir Pernambuquinho, Madame Satã, Meneghetti e Florinda Bolkan se saíram cercados pela troupe. Olho para trás, principalmente para o modal impresso, hoje nos seus estertores e me bate bruta saudade, pois creio, nunca conseguirei ler com a mesma desenvoltura pelo computador. Talvez por isso guarde o que me restou dos Pasquins, tentando livrá-los de traças e cupins, atravessando o tempo, onde vez ou outra, sento e abro tudo com a mesma sofreguidão de antanho. Sou um saudosista.
6 – “Moreno como vocês”, Sonia Nolasco, W11 Editores SP, 2003, 1ª edição pelo selo Francis, 248 páginas. Quando estava quase findando a leitura, pergunto para o dileto amigo Sivaldo Camargo se ele se lembrava dela, Sonia Nolasco em Bauru. Ele se lembrava, não só dela, mas de sua irmã. Falamos de como, anos depois, se transformou numa catedrática de Rio de Janeiro e Nova York, assim como seu marido, o controvertido jornalista Paulo Francis. Nolasco tem um sobrenome pomposo na Bauru de antanho. Hoje não mais. De seu livro, uma história contagiante de dois amigos, Bira e Ronaldo, um permanecendo no Rio de Janeiro e outro indo morar em Nova York. Belezura de citações, de lá e de cá, sem pedantismo, como Francis era mestre em fazer. Tivemos uma geração de deslumbrados por Nova York, anos 80, quando mesmo todos cucarachos, não sofriam tanto como nos tempos atuais. Muitos se foram para buscar o que não tínhamos aqui, como muitos aqui de onde moro, Bauru se foram para o Rio, a deslumbrante capital. Nolasco se foi para fazer companhia ao marido, mas nunca mais voltou. Creio eu, nem para Bauru. E voltar pra que? Fazer o que aqui? Fosse o Rio, como os personagens fizeram ao longo da obra, compreensivo. O livro fala muito dessa busca e dois quando lá, muito também da frustração. Enfim, quantos que buscaram Nova York como destino final estiveram totalmente satisfeitos após alguns anos por lá. Muitos, como o personagem do livro, fingem tudo ser mil maravilhas, porém, como nem tudo são flores, Nolasco nos apresenta o outro lado da moeda. Todos seus livros são uma delícia de leitura.
São estes. Como percebem, tento ser o mais eclético possível. Leio de tudo, menos aqueles livros com teses cheias de escrita acadêmica. Meu chips aos 65 anos, não permite mais compreensão. Fico nas adoráveis trivialidades. Mês que vem tem mais.








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