A primeira é famosa e acontece há mais de trinta anos no mesmo local, embaixo do viaduto da Perimetral, num espaço que abrange mais de 600 metros, indo da estação das Barcas até as imediações do Museu Histórico Nacional, na famosa Praça Quinze, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente era denominada de Feira do Troca-Troca e depois, quando foi conquistando maior consistência ganhou o nome definitivo, "Feira de Antiguidades da Praça Quinze". Ela acontece semanalmente, das 7h30 até por volta das 16h, todo sábado, contando com aproximadamente 150 expositores, com uma ampla variedade de bancas, vendendo as coisas mais inusitadas possíveis.
Sua fama e abrangência só cresce e dentre os seus habituais frequentadores está o economista Carlos Lessa, ex presidente do BNDES e um dos maiores incentivadores da recuperação do patrimônio histórico do Rio Antigo. Ele comparece quase todos os sábados e não circula por todo o espaço, possuindo algumas barracas de sua preferência, dentre elas uma de selos, postais, fotos antigas e similares. Conta com a amizade dos expositores, pois adentra a parte interna das barracas, onde já encontra uma pré-seleção do que procura. Ali, faz suas escolhas e paga, quase sempre em cheque. Depois, acaba se informando das novidades e sai meio na surdina. No sábado, dia 10/05, uma manhã chuvosa, fez o trajeto habitual e antes das 10h já estava de partida, quase sem ser notado. E saia satisfeito, com variadas compras efetuadas. Assim como Lessa, muitos vão para a feira sabendo exatamente o que querem e onde o encontrarão. Numa animada banca, um grupo de quinze pessoas discutem sobre filmes antigos e demonstram todo o conhecimento, diante de verdadeiras raridades, opções das mais inusitadas. Ouço de Nonato, um habituê no local: "somos um grupo não muito grande, todos nos conhecemos e amantes de filmes antigos, temos aqui um espaço para conversar com quem também conhece o assunto". Isso acontece por todo o espaço e as bancas refletem a diversidade encontrada por ali. Tem para todos os gostos e preferências. Desde tampinhas de garrafas, pins de eventos famosos, discos e CDs, moedas, selos, obras de arte, instrumentos musicais, móveis, latas de embalagens, facas, cartões telefônicos, livros, até os inusitados capacetes de guerra, perucas e bonecas importadas."Pense em algo e procure por aqui, certamente você vai acabar encontrando. A grande atração é exatamente essa diversidade, o encontrar de tudo um pouco. A maioria vem para comprar, mas tem muita gente que vem para passear, andar e voltar ao passado. Andando por aqui, você encontra sempre gente em lágrimas", diz Rafael Barbeito, o responsável pela organização daFeira, sentado numa confortável cadeira, daquelas tipo "do papai", observando o fluxo agitado do local, mesmo com o frio e a persistente garoa daquela manhã. "Nosso local é maravilhoso, pois abrange uma extensa parte coberta, justamente embaixo do viaduto. Aqui ninguém toma chuva e pelo próprio espírito do evento, a segurança é feita pelos próprios expositores. Todos nos conhecemos há muitos anos e somos unidos para o que der e vier", conclui Rafael.
Se a feira não é propriamente uma fonte de referência turística na capital carioca, não está longe disso, pois além do público local, muitos são proveninetes de outros estados e até países. Não é difícil observar estacionados nas imediações ônibus de turistas e muitas vans. Táxis chegam e partem a todo instante com gente vindo exclusivamente para o local. E andar pelos corredores formados pelas barracas é ir se deparando com diálogos emocionantes, como o de um antigo marinheiro que, diante de uma banca com instrumentos de sopro, pede para tocar um pouco, é atendido e executa canções, principalmente as militares. Junta pessoas e alegremente conclui: "Mesmo na reserva, não me esqueço disso e muitos também gostam". O bate papo descontraído entre vendedor e comprador prevalesce por todos os cantos e contagia a todos.
Esse espírito é o mesmo espalhado por feiras similares acontecendo nos mais diferentes locais do mundo. Em muitos locais são também conhecidas como "Mercado das Pulgas" e além da venda, o troca-troca também é um grande diferencial. Em Bauru não é diferente e já na segunda edição, a feira Estação Arte, acontecendo no prolongamento da conhecida Feira do Rolo, com a abertura de um amplo estacionamento da antiga Estação da Cia Paulista, hoje sendo ocupado e recuperado pela Secretaria Municipal de Cultura, que pretende instalar no local dois museus municipais, o Histórico e o MIS – da Imagem e do Som. A idéia de trazer pessoas ao local e aproveitar o público da conhecida Feira do Rolo é antiga e só foi colocada em prática com a união de uma equipe de trabalho totalmente envolvida com essas questões. Orlando Alves, RicardoIlha, Neli Viotto e Alex Gimenes estiveram à frente dos trabalhos de revitalização do local e de idealização da feira.
"Ela é um sucesso, reunimos os artesãos da UBÁ, para encorpar o evento e junto dela trouxemos muitas outras iniciativas, como as exposições dos museus e uma banca de livre circulação de livros. Muitas outras virão, como um artesão que apareceu no último domingo, com um carro de boi e um casinha de barro. Arrumamos um espaço para ele expor seu trabalho", conta Orlando Alves. Junto a tudo isso não poderia faltar manifestações artísticas e elas aconteceram e já conquistaram o público. O teatro de rua, com dois artistas da cidade, Ezequiel Rosa e Marisa de Oliveira atrai muita gente e interage com o público das ruas. Não têm como não dar uma parada e ficar observando o trabalho deles. "Estar aqui é algo que faço com gosto, pois a feira dominical é um dos lugares mais movimentados da cidade e ela lota sempre", conta Ezequiel.
Uma feira nesse sentido atrai muita gente e principalmente os envolvidos com a questão artística. Na primeira edição quem estava por lá foram o poeta Luis Vitor Martinello, o idealizador do Grupo de Estudos Folclóricos Yauaretê, Tito Pereira e o membro da Academia Bauruense deLetras, escritor José Perea Martins. Esse último acabou levando seus livros para a banca livre na segunda edição e entusiasmado relata: "Fiz um carimbo próprio informando que os livros poderiam ser levados gratuitamente e após lidos, com a recomendação de que sejam passados para a frente". Ficou ao lado da banca por um bom tempo distribuindo os seus e tudo o mais que estava disponível naquele momento.
A idéia está vingando e entusiasmando. Todos os envolvidos sabem do trabalho incessante despontando no horizonte, pois de duas edições previstas, uma já aconteceu de forma extraordinária e o número de interessados só cresce. Com muito trabalho pela frente, algo está bem definido com essas primeiras experiências, a feira vai crescer, ganhar cada vez mais corpo, tomará mais tempo de todos e propiciará uma nova opção de difusão de lazer e cultura para a cidade. E quem ganha é a própria cidade num todo e por tudo o que representa, já é uma espécie de alento para a reduzida equipe de retaguarda, desdobrando-se eletricamente e sendo recarregada com o entusiasmo recebido do público presente. Tanto que é sempre maravilhoso ouvir da boca de Neli Viotto, uma das pessoas envolvidas até o pescoço com o evento, algo que personifica tudo o que está sendo realizado: "Como é bom trabalhar em equipe. Tudo flue e acontece". Parece que essa é mais uma bela iniciativa que veio para ficar.Henrique Perazzi de Aquino, escrito em 14/05/2008
Um comentário:
Conheci a do Rio de Jneiro já faz bem uns 5 anos e não sabia que havia crescido tanto. A de Bauru fui visitar nesse último domingo e até fiz uma passeio de trem. A daqui está começando, mas pode crescer. Posso contatar o pessoal de lá para colaborar? Como faço?
Manoel dos Santos - ferroviário aposentado
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