Escrevi esse texto para uma palestra que ministrei semana passada no Museu de Lençóis Paulista SP, dentro da programação da 6ª Semana dos Museus. Preparei um esboço e apresento aqui um resumo do que falei lá. Tudo foi preparado para jovens de aproximadamente 14 anos.
MUSEU, O CAVALEIRO ANDANTE DO SÉCULO XXI
Todos aqui conhecem, já ouviram falar ou leram algo sobre Miguel de Cervantes, o grande escritor espanhol e sua mais importante obra “Dom Quixote de la Mancha”. Quem foi esse personagem? O que representa a sua ação? A lança contra os tais moinhos de vento, o que afinal seria isso? Vamos todos fazer um pequeno exercício e transportar aquilo tudo para nossos dias: o que vem a ser a ser luta, a saga do Quixote? É a nossa própria luta, a do mais fraco enfrentando o mais forte. Exemplos: a luta do povo palestino com paus e pedras contra o armamento pesado de Israel, a ira do iraquiano contra o invasor norte americano e o levantar a voz contra os desmandos cometidos contra a natureza, as injustiças todas desse mundo. Agora mesmo, estamos vendo o julgamento do mandante da missionária Dorothy, no Pará. Quer luta mais quixotesca do que essa?Esse atirar lanças contra tudo isso é algo quixotesco. Recorro a fala de Cervantes, enquanto Cavaleiro Andante. O museu deve ser o “cavaleiro andante que, pelos desertos, pelas soledades, pelas encruzilhadas, pelas selvas e pelos montes, anda procurando perigosas aventuras, com a intenção de lhes dar ditoso e afortunado termo, só para alcançar glória e perdurável fama”. Que a semelhança do tal cavaleiro, o museu devasse “todos os cantos do mundo, entre os mais intrincados labirintos, acometa o impossível a cada passo, resistas nos ermos páramos aos ardentes raios de sol de um pleno estio, e no inverno áspero ao influxo dos ventos e dos gelos”.
O que seriam essas perigosas aventuras, devassando todos os cantos do mundo. É a ousadia, seria o museu retrarar de tudo um pouco. Não somente o lado dos vitoriosos, dos poderosos, dos endinheirados, mas o do povo mais simples, das massas, dos trabalhadores, dos explorados e dos perdedores. Explicar cada lado, dar voz a todas as vertentes e resgatar a história de
cada pedaço de nossa história, principalmente a da nossa aldeia, o nosso mundinho. Paro aqui para falar sobre os Museus de Bauru:
1.Museu Ferroviário ontem: bela exposição, retratando o lado imponente da ferrovia, móveis da chefia, quase nada do trabalhador. Tudo estático, sem alterações e com muitos avisos: Não isso e não aquilo. Não por todos os lados. Por mais bonito que isso possa ser, ninguém gosta de ir num lugar onde não se pode fazer nada, tudo é proibido. Foi uma vez, não precisa mais voltar, tudo continua como dantes. Sabe que tudo continuará comoantes.
2.O Museu de hoje é a uma renovação constante, tudo para que não ocorra a perda de interesse. Quixote foi assim, inquieto e fez disso o grande motivador de sua vida. Essa busca de outros caminhos, outras possibilidades é o grande poder transformador dos museus atuais. Tudo possibilita várias abordagens, enfoques e pontos de vista, nada deve ser definitivo. Uma exposição sobre um tema pode gerar outra, com outro enfoque e material. Isso faz pensar, gera debate e educa.
Hoje, a grande maioria dos museus latinos passa por essa movimentação, comum a grande renovação no campo museal. Tudo isso é muito benéfico, propicia o entendimento do que realmente acontece no campo social. Volto para Museu Ferroviário Bauru que, hoje mostra o lado do trabalhador, suas peças, vestuário. Cito também o Museu Histórico que hoje expõe uma MostraUmbandista, dentro do centenário dessa religião. Fizemos uma sobre documentos extraídos do DOPS, desenhos de alunos japoneses, o passado do carnaval, preparamos uma sobre mangás japoneses, a história da imprensa de bar na cidade e muitas outras. Isso tudo é muito quixotesco e movimenta a equipe. Saliento algo: não basta também expor sem fundamentação, sem aprofundamentos, pois isso não leva a reflexão nenhuma.
HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO – PROFESSOR DE HISTÓRIA - 15/05/2008
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