domingo, 18 de maio de 2008

UM COMENTÁRIO QUALQUER (12)
Escrevi esse texto para uma palestra que ministrei semana passada no Museu de Lençóis Paulista SP, dentro da programação da 6ª Semana dos Museus. Preparei um esboço e apresento aqui um resumo do que falei lá. Tudo foi preparado para jovens de aproximadamente 14 anos.

MUSEU, O CAVALEIRO ANDANTE DO SÉCULO XXI
Todos aqui conhecem, já ouviram falar ou leram algo sobre Miguel de Cervantes, o grande escritor espanhol e sua mais importante obra “Dom Quixote de la Mancha”. Quem foi esse personagem? O que representa a sua ação? A lança contra os tais moinhos de vento, o que afinal seria isso? Vamos todos fazer um pequeno exercício e transportar aquilo tudo para nossos dias: o que vem a ser a ser luta, a saga do Quixote? É a nossa própria luta, a do mais fraco enfrentando o mais forte. Exemplos: a luta do povo palestino com paus e pedras contra o armamento pesado de Israel, a ira do iraquiano contra o invasor norte americano e o levantar a voz contra os desmandos cometidos contra a natureza, as injustiças todas desse mundo. Agora mesmo, estamos vendo o julgamento do mandante da missionária Dorothy, no Pará. Quer luta mais quixotesca do que essa?

Esse atirar lanças contra tudo isso é algo quixotesco. Recorro a fala de Cervantes, enquanto Cavaleiro Andante. O museu deve ser o “cavaleiro andante que, pelos desertos, pelas soledades, pelas encruzilhadas, pelas selvas e pelos montes, anda procurando perigosas aventuras, com a intenção de lhes dar ditoso e afortunado termo, só para alcançar glória e perdurável fama”. Que a semelhança do tal cavaleiro, o museu devasse “todos os cantos do mundo, entre os mais intrincados labirintos, acometa o impossível a cada passo, resistas nos ermos páramos aos ardentes raios de sol de um pleno estio, e no inverno áspero ao influxo dos ventos e dos gelos”.

O que seriam essas perigosas aventuras, devassando todos os cantos do mundo. É a ousadia, seria o museu retrarar de tudo um pouco. Não somente o lado dos vitoriosos, dos poderosos, dos endinheirados, mas o do povo mais simples, das massas, dos trabalhadores, dos explorados e dos perdedores. Explicar cada lado, dar voz a todas as vertentes e resgatar a história de
cada pedaço de nossa história, principalmente a da nossa aldeia, o nosso mundinho. Paro aqui para falar sobre os Museus de Bauru:

1.Museu Ferroviário ontem: bela exposição, retratando o lado imponente da ferrovia, móveis da chefia, quase nada do trabalhador. Tudo estático, sem alterações e com muitos avisos: Não isso e não aquilo. Não por todos os lados. Por mais bonito que isso possa ser, ninguém gosta de ir num lugar onde não se pode fazer nada, tudo é proibido. Foi uma vez, não precisa mais voltar, tudo continua como dantes. Sabe que tudo continuará comoantes.

2.O Museu de hoje é a uma renovação constante, tudo para que não ocorra a perda de interesse. Quixote foi assim, inquieto e fez disso o grande motivador de sua vida. Essa busca de outros caminhos, outras possibilidades é o grande poder transformador dos museus atuais. Tudo possibilita várias abordagens, enfoques e pontos de vista, nada deve ser definitivo. Uma exposição sobre um tema pode gerar outra, com outro enfoque e material. Isso faz pensar, gera debate e educa.

Hoje, a grande maioria dos museus latinos passa por essa movimentação, comum a grande renovação no campo museal. Tudo isso é muito benéfico, propicia o entendimento do que realmente acontece no campo social. Volto para Museu Ferroviário Bauru que, hoje mostra o lado do trabalhador, suas peças, vestuário. Cito também o Museu Histórico que hoje expõe uma MostraUmbandista, dentro do centenário dessa religião. Fizemos uma sobre documentos extraídos do DOPS, desenhos de alunos japoneses, o passado do carnaval, preparamos uma sobre mangás japoneses, a história da imprensa de bar na cidade e muitas outras. Isso tudo é muito quixotesco e movimenta a equipe. Saliento algo: não basta também expor sem fundamentação, sem aprofundamentos, pois isso não leva a reflexão nenhuma.

HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO – PROFESSOR DE HISTÓRIA - 15/05/2008

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