terça-feira, 15 de maio de 2012


ALFINETADA (98) - a cada mês, na ordem, reproduzo três textos, iniciados em 2000.
APONTAMENTOS DA PERIFERIA DE PIRAJUÍ (04) - UM VIOLEIRO DE PIRAJUÍ EM BAURU – publicado no semanário O Alfinete nº 68, 17/06/2000:

“Dias desses, fui ao recém-inaugurado Teatro Municipal de Bauru assistir a um evento de catira. E qual não foi minha surpresa ao me deparar com um violeiro, verdadeiro cabra da peste, que entre um show do pessoal do Clube da Viola, enquanto aguardávamos os catireiros, adentra ao palco um personagem de Pirajuí. Com uma camisa xadrez, duas violas embaixo do braço, esbanjando simpatia e falante por todos os poros. Era o LEVI RAMIRO em pessoa. Figura das mais simpáticas. A propaganda havia sido feita pelos apresentadores, que alardeava que ele mesmo fabricava suas violas. O som e a afinação estavam uma maravilha. Levi deitou e rolou. Acabou se dando muito bem numa outra especialidade sua: a de contador de histórias e causos caipiras. Todos deram boas risadas, principalmente quando ele cantou e contou a música “A Espingarda”. Acho até que o Levi deveria passar a letra para a publicação neste semanário. Ainda mais porque ele fez questão de fazer uma justificativa, afirmando nada ter contra o pessoal da Terceira Idade. Cobrem a letrado violeiro para saberem dos motivos. O bonito disso tudo é que por mais que nossas TVs e rádios insistam com aquelas musiquinhas chatas, nós, enquanto povo, resistimos e não perdemos nunca nossa verdadeira identidade. A cada momento, andando por aí, despontam vários Levis, demonstrando que tudo por aqui ainda é possível. O cabra é muito bom e merecedor de uma cantoria daquelas bem caprichadas, a ser executada aí no centro cultural da pracinha central”.
APONTAMENTOS DA PERIFERIA DE PIRAJUÍ (05) – RECUPERE UM AMIGO – publicado no semanário O Alfinete nº 69, 24/06/2000:
“Gostaria de lançar nas páginas d’O Alfinete uma campanha de utilidade pública, de forte apelo publicitário. Ela é muito simples e objetiva. RECUPERE UM AMIGO devolvendo aquele objeto emprestado e não devolvido. Nós brasileiros, infelizmente temos esse hábito, o de emprestar as coisas e não devolvê-las. Pois bem, agora no momento de visitar esse amigo, aproveite e leve de volta aquele livro que está contigo há muitos anos e que não lhe pertence. Leve para aquele outro amigo, o disco/CD que já estava incorporado na sua discoteca, mas que infelizmente não é seu. Emprestar e não devolver é coisa feia e ninguém está isento desse mal. Basta dar uma boa repassada nos nossos pertences e vamos acabar encontrando livros, discos e outras coisas dos mais variados donos. Pior que padecer desse mal é estar ciente do delito, continuar encontrando o amigo com frequência e agir como se nada tivesse acontecido. Devolva já e constate a fisionomia de recuperação estampada no semblante daquele que fazia cara feia até momentos atrás. Eu mesmo estou terminando de separar tudo o que não é meu e cuidando de devolver rapidinho. Faça o mesmo, pois o verdadeiro dono nunca se esquece  daquilo que lhe pertence. Talvez não tenha coragem para lhe cobrar, mas sempre que bate os olhos em ti, sabe que é um caloteiro. Recupere esse amigo perdido. Abaixo a cretinice que está instalada em cada um de nós. P.S.: O autor é um membro honorário da entidade de classe dos Emprestadores Juramentados de Livros e Disco e está revoltado com a perda de parte de seu acervo para os ditos amigos”.
APONTAMENTO DA PERIFERIA DE PIRAJUÍ (06) – O MISTÉRIO DA FALTA DE RESPOSTA – publicado no semanário O Alfinete nº 70, 01/07/2000:
“Nós, uma imensa legião de pessoas que gostamos de escrever cartas, que ainda mantemos esse salutar hábito, emitindo opiniões sobre os mais diferentes assuntos, mantemos entre si um certo código de ética, podendo ser facilmente traduzido no que o jornalista Alberto Dines recentemente escreveu numa revista de grande circulação. Dines defende a ideia de que o brasileiro peca pela falta de resposta: ‘um submistério, incapacidade de sustentar o diálogo. No sistema social vigente somos bombardeados por uma série de solicitações, escolhemos aquelas que nos tocam, nos estimulam e iniciamos o intercâmbio. Que deve levar a um desfecho’. Simplesmente, para dines não há o desfecho. O brasileiro abandona o assunto antes de ser concluído. Para ele, ‘o fogo de palha domina o nosso sistema de relações pessoais’, Jornais levantam uma manchete e alguns dias após, o assunto é esquecido. Recebemos cartas e as deixamos no fundo das gavetas, sem resposta. Escrevemos muito pouco. E agora, com a efervescência do computador, ao que tudo indica, a grande maioria da troca de mensagens são de temas menos nobres. O jornalista conclui afirmando: ‘sabemos que o brasileiro não responde cartas (está ai um mote para uma sensacional campanha dos Correios). A réplica é uma das partes do diálogo. Sem ela, o processo de geração compartilhada de ideias emperra, não se desenvolve, fica manco. Corta-se a aproximação, distanciam-se os interlocutores’. Escrever faz tão bem, que não pude evitar de repassar essa mensagem adiante. Coloquem-na em prática”.

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