domingo, 30 de setembro de 2012

PALANQUE – USE SEU MEGAFONE (29)

O MEDO DO MEDO QUE DÁ E UM SALVE AOS CORAJOSOS, UM URUGUAIO EM ESPECIAL
Tentei assistir ao debate entre os candidatos à Prefeitura de Bauru ontem à noite pela TV Preve. Não deu, parecia uma confraria de velhos conhecidos, cada um tentando se mostrar diferente do outro, mas todos irmãos univitelinos. Num outro canal da TV, o Palmeiras sapecava a Ponte Preta e as emoções estavam todas ali e nenhuma no debate. Preferi o jogo. Nunca fui dado a assistir o mesmo filme mais de uma vez e esse estou reassistindo já nem sei quantas vezes. Haja saco, coisa tediosa. Num certo momento vendo-os discutir alguns assuntos como se estivessem pisando em ovos, lembrei-me que o que mais grassa nesse país nos tempos atuais é a falta de coragem política. Alguns temas quando à baila fazem até o mais renhido esquerdista recuar. Aborto, descriminalização da maconha ou até mesmo para a mera instalação de uma Comissão da Verdade, que não vai incriminar ninguém, não colocará ninguém na cadeia, só culpabilizará agentes da repressão e mesmo assim todos recuam e ficam em cima do muro. Nossos políticos estão se materializando cada vez mais em cagões. A igreja (todas, indistintamente) pressiona daqui e todos ficam de uma hora para outra contrários. O conservadorismo pressiona e poucos possuem a coragem de discutir alguns temas com a devida seriedade. A maioria foge dos embates como o diabo foge da cruz. Enfim, diante de uma suposta perda de votos e talvez até de uma eleição todos  se calam e cada vez mais ficam na mão de gente retrógrada. Acredito que tem questões que nem precisariam de discussão, pois naturalmente poderiam ser aprovadas. No debate de ontem, percebi isso na fala de cada candidato. Já não defendemos mais nem nossas próprias ideias. Defendemos a que nos interessa.
Escrevi tudo isso por causa de algo a acontecer no Uruguai, nosso vizinho do sul.

Veja o texto que li ontem na imprensa: “O Uruguai deu o primeiro passo para descriminalizar o aborto no país. Na terça 25, a Cãmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que autoriza a interrupção da gravidez durante as primeiras 12 semanas de gravidez. (...) Inspirado na ação de países europeus, o texto permite o aborto, desde que a mulher manifeste esse desejo diante de uma equipe de três profissionais de saúde, após estar ciente dos riscos, das alternativas e dos programas de apoio à maternidade e à adoção. Desde agosto, o Congresso uruguaio debate a possibilidade de o Estado legalizar e controlar a produção e venda da maconha, como forma de combater o tráficxo de drogas”. Lá se propõe, discutem de forma séria e legislam, passando por cima das pressões conservadoras. Aqui, com lobbys fortíssimos tudo continua na estaca zero.

Encerro esse texto conclamando a todos para uma reflexão. Reproduzo um texto do Opera Mundo, El Guia Latino:
"QUE EXEMPLO NOS DÁ O PRESIDENTE DO URUGUAI - Como prometido antes da eleição, o presidente do Uruguai JOSÉ PEPE MUJICA ainda mora em sua pequena fazenda em Rincón del Cerro, nos arredores de Montevidéu. A moradia não poderia deixar de ser modesta, já que o dirigente acaba de ser apontado como o presidente mais pobre do mundo. Pepe recebe 12.500 dólares mensais por seu trabalho à frente do país, mas doa 90% do seu salário, ou seja, vive com 1.250 dólares ou 2.538 reais ou ainda 25.824 pesos uruguaios. O restante do dinheiro é distribuido entre pequenas empresas e ONGs que trabalham com habitação. "Este dinheiro me basta e, tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com menos", diz o presidente. Aos 77 anos, Mujica vive de forma simples, usando as mesmas roupas e desfrutando da companhia dos mesmos amigos de antes de chegar ao poder. Além de sua casa, seu único patrimônio é um velho Volkswagen cor celeste avaliado em pouco mais de mil dólares. Como transporte oficial, usa uma Chevrolet Corsa. Sua esposa, a senadora Lucia Topolansky também doa a maior parte de seus rendimentos. Sem contas bancárias ou dívidas, Mujica disse ao jornal El Mundo, da Espanha, que espera concluir seu mandato para descansar sossegado em Rincón del Cerro. (...) Em julho de 2011, Mujica assinou a venda da residência presiencial de veraneio, localizada em Punta del Este, principal balneário do país, para o banco estatal República. A operação rendeu ao governo 2,7 milhões dólares e abrirá espaço para escritórios e uma espaço cultural. A venda dessa residência estava nos planos de Mujica desde que assumiu a Presidência em meados de 2010. Com os fundos amealhados, será incrementado o orçamento do Plano Juntos de Moradias. Também é planejado o financiamento de uma escola agrária na região, onde jovens de baixa renda poderão ter acesso a cursos técnicos".

sábado, 29 de setembro de 2012

RETRATOS DE BAURU (129)

VANDERLEI, UM DOS LEGAIS DA PERIFERIA
VANDERLEI ANTONIO DE OLIVEIRA
é uma dessas pessoas possuidoras da cara do que faz, no seu caso, a da ONG Periferia Legal, onde atua como dirigente e dedica a maior parte do seu tempo. Seu exemplo serve para todos os que vivem reclamando não terem tempo para atuar além do trabalho e família. Fundador da ONG, ele a coloca a serviço da população do Mary Dota, Beija Flor e adjacências. Corre muito atrás de parcerias, com cursos, oficinas e buscando muitas atividades, opções de profissionalização, lazer e cultura. Literalmente é desses colocando o bloco na rua. De uma sede cedida pela Prefeitura, fez com que o local se tornasse um ponto de referência e vê-la lotada de crianças e adolescentes é sinal de que ali acontecem ações concretas de cunho comunitário. Nos últimos tempos voltou-se para um intenso trabalho ao lado dos jovens, muitos sem possibilidades de lazer e cultura e tem incentivado eventos de Hip Hop, Grafitte e Shows variados no bairro. Virou polo aglutinador e tudo devido a essa busca incessante por ver a garotada envolvida em algo saudável. Os eventos alternativos lá ocorridos  comprovam isso, Vanderlei e sua equipe vão atrás, buscam e colocam em prática. E necessitam de outros apoios, de mais opções, de vertentes outras estarem inseridas no projeto. Da marca de sua ONG, com a imagem de um calango, animal oriundo dos primórdios da região, percebe-se como é cuidadoso com os detalhes, desde os mais pequenos e daí, dessa percepção algo salutar: quem se preocupa com as coisas mais simples, decididamente estará atento a tudo. Esse moço é assim, simples, dedicado, arrojado, um que se propõe a fazer e faz. Entre erros e acertos, seu saldo é sempre positivo, pois tenta, insiste e não esmorece.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

OS QUE FAZEM FALTA E OS QUE SOBRARAM (39)

REVOLUÇÃO TIPOGRÁFICA E POÉTICA EM PRESIDENTE ALVES NOS ANOS 70/80, REVIVIDOS COM VALERO E KHOURI
Esse mafuento espaço vive muito de lembranças, algumas dolorosas, porém saborosas. A história do Zéluiz (ou Valero) é uma delas, emérito professor, especialista em Tipografia, mas mais que isso, uma alucinada pessoa, dessas criadas numa pequena cidadezinha no interior brasileiro e fazendo algo insólito e inimaginável, movimentando-a em plena ditadura militar com discussões sobre temas mais do que controversos. Esse Zé reunia em Presidente Alves, pouco mais de 3 mil habitantes, aqui pertinho de Bauru, umas seis a oito pessoas em conversações semanais para discutir Concretismo, MPB, Literatura, Poesia, Política e tudo o mais. Varavam dia e noite em antológicos momentos, a maioria na praça da cidade. Depois, cada um seguiu seu caminho. Valero foi ser professor da FAAC UNESP até sua morte, ocorrida em 2008. Um desses intrépidos da trupe lá de P. Alves foi o professor OMAR KHOURI (da também vizinha Pirajuí, pouco maior, 50 mil habitantes), que abriu na última quarta, 26/09 aqui em Bauru a Semana Tipográfica da Unesp, com a palestra “Zéluiz Valero ou a Bauhaus nos Trópicos”. Cresceram juntos, viveram intensamente aqueles anos produzindo revistas, fanzines, livros, todos hoje peças de estudo. Omar também foi ser mestre e está no circuito, atuante e sempre revigorado. Convidado pela profa Cassia Letícia Carrara Domiciano, do Design Unesp, além da palestra havia repassado textos escritos sobre a atuação do amigo. Tudo foi inserido numa bela exposição a “Memória Visual VALERO” (de 26 a 29/09, na Fundeb Unesp Bauru). Do Zéluiz Valero tenho poucas recordações, alguns poucos contatos, sempre reverenciando sua coragem e desprendimento por fazer o que fez e na época dura dos nossos anos de chumbo, já do Omar, o conheço por escrevermos juntos por vários anos no semanário O Alfinete, de Pirajuí. Espiar e conhecer o que a dupla produziu é gratificante, recomendo a todos. Abaixo os textos que o Omar escreveu sobre o Zé e as fotos que tirei lá da exposição. Só para começar pergunto: Alguém aí já ouviu falar na revista ARTÈRIA e na NOMUQUE? Aqui mesmo nesse mafuá já escrevi muito do querido Omar e algo mais pode ser lido aqui: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=omar+khouri
. Detalhes sobre o evento Unesp: www.semanatipografica.wordpress.com ou facebook/com/SemanaTipografica  

1.) 7 de março de 2004 - JOSÉ LUIZ VALERO FIGUEIREDO: Foi no ano de 1974, a propósito do meu primeiro livro de poemas: Jogos e Fazimentos, que conheci José Luiz Valero Figueiredo (o Zéluiz), seus irmãos Carlos Alberto e Luiz Antônio e mais: Renato, Roberto e Rita Ghiotto, o Betinho, Maísa (esposa de Luiz Antônio) e outras figuras admiráveis de Presidente Alves. Vilma Negrisoli foi quem possibilitou a aproximação, tendo ouvido uma minha conferência sobre Poesia Concreta no IEDAP e percebendo as afinidades existentes entre nós. Daí, foram agilizados trabalhos da recém-criada Nomuque Edições para que, em 75, saísse o número 1 de ARTÉRIA e outras tantas coisas em que Zéluiz teve participação importante. Paulo Miranda presente em quase tudo. Zéluiz nasceu em Presidente Alves, no ano de 1957, onde estudou, tendo tido uma breve passagem por escola de Pirajuí (o "menino Valero", como Dona Maud a ele se referia). Acabou por se formar em Comunicação Visual, na Fundação Educacional de Bauru, que foi incorporada à UNESP. Depois de andanças pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Bauru, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, fixou-se em Bauru como professor da FAAC-UNESP, especializando-se em Tipologia, dando chance à sua vocação de gráfico e tendo, como docente, uma rara performance (perguntem aos seus alunos - privilegiados, diga-se).

Antes de assumir a função de professor, Zéluiz trabalhou como fotógrafo, diagramador em jornal, pesquisador, programador visual, operário gráfico. Em todos os casos citados, primou pelo rigor, começando por exigir o máximo de si mesmo.Da época em que o conheci e por mais de dez anos, dedicou-se à Fotografia, técnica (e arte) que aprendeu autodidaticamente e com a qual experimentou, daí saindo belos trabalhos, alguns dos quais chegaram a ser publicados, principalmente em revistas da Nomuque. Imagens memoráveis, algumas das quais conservo em minha coleção com o maior apreço, como a da paisagem que traz, em zona de sombra um burro preto: sutileza das sutilezas, o que foi uma constante em seu trabalho. Em Presidente Alves, ainda chegou a trabalhar como fotógrafo profissional, por mais de uma vez. FOTOFORM foi o nome de sua "empresa" (parece-me que bolado por seu irmão mais velho Luiz Antônio). Ao lado disto, Zéluiz cultivava a música, tocando violão, cantando e acompanhando amigos, transitando num repertório finíssimo, onde se encontravam preciosidades do samba tradicional (Luiz Antônio era um grande conhecedor dessa vertente da MPB e trazia até o irmão mais novo toda essa informação) a Caetano Veloso, Gilberto Gil e Walter Franco.
Sua residência em São Paulo, principalmente a segunda, coincidiu com um momento interessantíssimo, em que os amigos se reuniam em bares, restaurantes e choperias e em que as conversas iam longe, com idéias de projetos e suas realizações (porém, nem sempre). Via de regra falando pouco, era um ouvinte atento e, como outros raros humanos, pensava antes de falar: aí, era um acontecimento! Seu rigor gráfico me fez ver nele a Bauhaus nos Trópicos. Sua opinião teve sempre um peso muito grande para aqueles que com ele conviviam e, frente a dificuldades gráficas, ele sempre vinha com a melhor solução, depois de muito estudo. Polimento e generosidade foram e são as suas maiores qualidades, perceptíveis já num primeiro contato. Eu, particularmente, devo muito a Zéluiz que, além da amizade de trinta anos (agora, neste 2004), auxiliou-me em muitos projetos. Posso mesmo dizer que viabilizou com sua sabedoria gráfica alguns de meus trabalhos que estavam apenas em fase de projeto. Sua modéstia (verdadeira) o fará dizer que não foi bem assim, porém, eu sei o quanto foi relevante a mão que me deu em diversas ocasiões, por pura amizade e graças à referida generosidade.

Zéluiz é um produtor de linguagem que pensa não ser. Ou seja, tem amordaçado o poeta da imagem que há dentro de si, o qual, qualquer dia desses, se libertará e nos trará belos trabalhos, como todos aqueles que ele realizou, principalmente nos anos 70 e 80. Chegou a ter, com Paulo Miranda, uma quase-empresa de camisetas, em que faziam tudo, mas principalmente as estampas bastante originais, que eles mesmos imprimiam (serigrafia). A etiqueta aoba só não prosperou porque faltou a eles um sócio honesto e com tino comercial, que viesse a colocar no mercado o produto. Ainda conservo comigo algumas das belas camisetas produzidas pela AOBA. Aguardando novos trabalhos de Zéluiz, deixo-lhe, aqui um forte fotográfico- abraço e uma pergunta: - Zé, quando da minha sugestão da palavra "tipomorfia" (ao invés de "tipologia" ou "tipografia"), você me achou muito ridículo? Pode responder-me por e-mail. Até…

2.) 23 de fevereiro de 2008. ZÉLUIZ VALERO FIGUEIREDO: O DIFÍCIL ADEUS - Para os mais jovens, poderá até parecer exagero, porém, para pessoas como eu, que estão prestes a adentrar o mundo dos sexagenários, não. Uma perda vem a ser algo que não tem reparação, mormente quando se trata de pessoa que, de fato, fez parte de seu universo, foi parte integrante de sua vida e que ocupa um lugar muito especial: nada pode substituir. Daí, que um vazio doído fica no lugar que tal pessoa ocupava em nossos corações e mentes. Este foi o caso da morte recente de José Luiz Valero Figueiredo, um ser-pensante-designer-(gráfico)-docente, aos 50 anos de idade, muito embora não parecesse. A notícia, a qual, diga-se, jamais esperaria ouvir, chegou-me, por telefone, aos 35 minutos do dia 19 de janeiro, algumas horas após o ocorrido (uma queda do 8º andar do edifício onde residia, em Bauru): “Omar, o Valero morreu!” disse-me Gastão Debreix e eu não acreditei, não podia acreditar… O significado daquela frase, para mim, se esvaziou e, tomando na memória o Zéluiz, só conseguia compor uma imagem de pessoa calma, que pensava para falar, e falando: aquele timbre vocal está presente e insiste: um Zéluiz vivo!
Rumei, pela manhã, para Bauru, com Paulo Miranda, um outro grande amigo e nem tínhamos muito o que dizer naqueles momentos duros, a caminho de um velório, impossível até há pouco. Lá, as pernas bambas de quando recebi a notícia deram lugar a um choro incontrolável, mas que me trouxe um certo alívio (pelo menos, diminuiu-se-me a tensão nervosa). Lúcia, a esposa, estava transtornada. Pessoas foram chegando: algumas conhecidas e muitos jovens, alunos e ex-alunos do Valero (como eles o chamavam). A inumação se deu em Presidente Alves, após as 16h do mesmo 19 de janeiro, sob uma chuva que parecia não parar mais e que poderia até ser tomada como um protesto pelo enterramento de alguém tão especial entre os terráqueos e que, amado por muitos, partia, contrariando tantas expectativas! Paulo Miranda, num determinado momento, disse algo que, parecendo óbvio, em verdade estava a constatar um fato irreversível: “Perdemos o Zé para sempre…”
Somente agora escrevo sobre o fato e nem me sinto ainda bem para fazê-lo. Espero poder escrever longamente sobre o José Luiz, que conheci no ano de 1974 e que era um menino de 17 anos, simpático, educado, muitíssimo inteligente, que ligava necessariamente a teoria à pratica, com muito talento para trabalhar linguagens e já muito rigoroso. Era uma época muito especial para mim, para Paulo Miranda e para os irmãos Figueiredo (Luiz Antônio, Carlos e Zéluiz) e mais alguns amigos, como Renato e Roberto Ghiotto, Beto Xavier, Vilma Negrisolli, Neoclair. Estava nascente a revista ARTÉRIA. Zéluiz havia aprendido, sozinho, o manejo das coisas relativas à Fotografia e a praticava (inclusive a parte de laboratório) já fazendo experimentações admiráveis, algumas das quais chegou a publicar.

Tocava violão muito bem, como instrumento que acompanhava o canto de uma música popular, a mais criativa de nosso País e, nos encontros havidos em P. Alves, rolavam Caetano, Gil, Walter Franco, Nelson Cavaquinho e tantos outros grandes, e a performance do coro de vozes era algo indescritível, de tão mavioso. Muitos dos encontros eram registrados fotograficamente por Zéluiz e, parece que centenas dessas fotos acabaram sendo destruídas (e esta é uma outra história, sobre a qual falarei algum dia). Presidente Alves era a “capital cultural do mundo” quando havia tais encontros, ocasiões em que se discutiam assuntos muitos, todos relacionados às Artes: Poesia Concreta, Webern, Caetano Veloso, Mallarmé, Pound, Duchamp, Godard… Luiz Antônio e Carlos Valero, possuíam um repertório invejável e muita influência tiveram sobre os mais novos, que absorviam as informações – esse era o caso de Zéluiz – e iam para diante.
ARTÉRIA nasceu nesse clima e esta foi uma época muito feliz (anos de 1970), em que a festa se estendia, de Pirajuí a Presidente Alves, acabando por desembocar em São Paulo capital. Zéluiz passou por muitas mudanças: de companheiras, de cidades, de profissão. De uma grande seriedade, não podia admitir uma solução para um problema técnico-artístico que não fosse fruto de todo um pensamento. Das coisas práticas que se propunha a fazer, aprendia com uma rapidez inacreditável: uma nova técnica ou processo, de modo a chegar, no mínimo, ao nível da excelência, não aceitando operar algo que ele não pudesse compreender em sua plenitude. Abandonou a Fotografia, a Música (o violão), a Serigrafia para ser um grande designer gráfico (fez, para mim, pacientemente, excelentes trabalhos de diagramação). Zéluiz se tornou um dos maiores entendedores de Tipografia no Brasil, adentrando o campo da Informática, um professor universitário como poucos: acabou fazendo da docência sua razão de viver. Que falem de sua grandeza seus ex-alunos… Agora, terei um trabalho importante a fazer, que é o de reunir principalmente suas incursões no campo da Fotografia e, talvez, publicá-las num número especial de ARTÉRIA, com a qual ele tanto colaborou. Por outro lado, vou empenhar esforços no sentido de publicar, com a devida autorização da família, sua tese de Doutorado, um importante trabalho que versa sobre “Poesia Impressa no Brasil e Tipografia”. Com a partida do Zé, perdem os familiares, os amigos, os alunos, o Brasil e o Mundo, pois sua estada no Planeta foi altamente benéfica. José Luiz Valero Figueiredo: Presidente Alves, 06.05.1957 – Bauru, 18.01.2008.
REQUIESCAT IN PACE - (Pirajuí, 23 de fevereiro e 1º de março de 2008)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

UM LUGAR POR AÍ (29)

A ESPANHA BUSCA UM NOVO CAMINHO E SUAS RUAS DEMONSTRAM ISSO
As praças espanholas estão ocupadas durante toda essa semana. O povo está mobilizado e nas ruas exigindo que direitos sejam garantidos e que seu governo respeite sua população e não somente dê ouvidos para as grandes corporações, bancos e conglomerados financeiros. Resolva a crise sem penalizar o lado mais fraco. Quem perde mais com a crise espanhola é o povo. As imagens das manifestações nas ruas não são quase vistas na mídia nacional. Mostradas em pequenas doses, imagens rápidas, flashes esporádicos, parecem ter a função de que o vírus do que ocorre lá não acabe por se espalhar por aqui. Ver uma praça lotada de povo, insuflado por seus clamores mais justos e sinceros e não para ver um show, por exemplo, de um Michel Teló é algo pouco conhecido no Brasil. Povo na rua, mobilizado e a reclamar sempre foi um perigo para as instituições sem respaldo. Imaginem um povo na praça e clamando contra decisões judiciárias, do legislativo e até do executivo, onde isso poderia chegar? Um povo culto, esclarecido, ciente dos desmandos a que é submetido não aceitaria ver um Judiciário legislando constantemente a favor dos poderosos, ver o mesmo ocorrendo no Legislativo e Executivo. Estariam nas ruas e não para fazer festa, não para seguir cegamente cordões religiosos, nem marchas para fortalecimento de grupos, que nada fazem para transformar, mas para inseridos no contexto, beneficiarem-se de suas benesses. O protesto tem que ser outro. Imagine algo como ocorre na Espanha nesse momento com o movimento “Ocupe o Congresso” e com gritos de “Fora! Fora! Fora! Eles não nos representam! Que sejam demitidos!”. O maior slogan desses indignados resume-se num: “NINGUÉM NOS REPRESENTA”. O mais significativo disso tudo é ir percebendo como são as reações do povo mobilizado, o que pensa, os reais motivos de sua insatisfação. Quer coisa mais instigante do que se colocar no lugar de um manifestante, postar-se no seu lugar. “Nossa Carta Magna foi escrita logo que acabou uma longa ditadura e naquele momento, no final dos anos 70, parecia avançada. Mas hoje se vê que era uma forma de manter o poder nas mãos dos mesmos grupos para sempre”, reclamava um jovem de não mais de 30 anos que, como todos os demais entrevistados, não quis identificar-se. No Brasil sobram ideias, como a dos atuais candidatos à Prefeitura, todas de remendar a atual situação, nada transformador, revolucionário, a alterar o curso dos acontecimentos. É isso que falta, é isso que busco, é isso que me instiga, é isso que me move. Não quero mais saber de governos ligados umbilicalmente com quem o detrata. Quero contestar a ação do detrator e se possível o seu enquadramento. É o que os espanhóis buscam nas ruas. É o que precisaríamos fazer.
Deixo um link elucidativo sobre essa situação, retirado do site da CARTA MAIOR: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20972

O NOROESTE PRECISA BUSCAR ESSE NOVO CAMINHO, UMA NOVA REPRESENTAÇÃO
O desenlace dessa vez parece ser irremediável. De outras feitas teve volta, algo difícil dessa. A cidade já deveria estar preparada para isso e da forma como aconteceu, intempestiva e saindo de um dia para outro, acho mais conveniente bancarem o time pelo menos até o final do ano. Janeiro tudo seria comandado por outro esquema. A grosso modo, sinto muito pelo que poderá acontecer com as categorias de base, nunca dantes tão incentivadas como nos últimos tempos. Toda a grana investida ali é salutar, pois essa base é o futuro de um time de futebol. Encerrando tudo, volta-se ao ciclo somente com time profissional e seria um retrocesso horroroso. Sei que a Prefeitura nada pode fazer pelo futebol profissional (e nem deveria), mas pode fazer pela garotada, talvez numa parceria de formação com a união dos dois nomes, Noroeste/SEMEL. Bancaria toda parte de alimentação, infraestrutura do alojamento e educação, com vagas em suas escolas. Seria um belo projeto, instigante e de ajuda social. Na revelação e repasse de jogadores, os valores auferidos, parte para o time e a parte da SEMEL toda reinvestida no projeto, que poderia até se auto sustentar com o passar do tempo. Minha crítica à família Damião sempre se ateve à pouquíssima vontade de integração com a cidade, fazendo tudo a revelia dela e um time, mexendo com o  coração das pessoas, mesmo com todo dinheiro investido é muito diferente de dirigir uma empresa privada. Reclamei também que nunca vi nenhum balancete de gastos, a tal entrada e saída de grana. Ninguém sabe, ninguém viu. Valores são jogados ao sabor do vento. Ontem mesmo ouvi do Toninho Gimenes que os tais R$ 400 mil mês não são colocados todo mês. Uns sim, outros bem menos. Nem se sabe ao certo quanto é gasto mês. Para uma nova eleição ser marcada seria de bom alvitre ter isso em mãos. Imaginem um algo novo no ar, a Prefeitura já disponibilizando o que poderá fazer pelas categorias de base e algo concreto de gastos com elenco, quadro de funcionários, fornecedores e despesas para colocar os times em campo. Da transparência disso e da atual situação, sem dívidas no ativo e passivo, uma luz no fim do túnel para o surgimento de algo viável, palatável e saudável. O momento é ruim, mas pode ser salutar, se bem trabalhado, despontando dele o algo novo, duradouro. Quanto a um dos motivos alegados pelo desenlace, o das
críticas pelas redes sociais, para as mais grosseiras existem formas de brecá-las e basta que sejam usadas. Eu escrevo muito, de tudo um pouco e assumo pelo que escrevo. Que outros o façam e quando escrevem algo indevido, que respondam por isso. Ficamos dez anos reclamando, mas acomodados, pois existia bem bancava a brincadeira de tocar um time para a cidade. O sonho acabou e a rapidez nas atitudes daqui para frente será primordial para decretar o futuro possível. Dinheiro eu não tenho (nunca tive), só ideias e com elas quero ajudar o time a permanecer vivo. Estou à disposição.
Li algo na coluna do considerado CANHOTA 10, ou melhor, o FERNANDO BH,  da Rede Bom Dia e reproduzo, pois vi ali um belo resumão de tudo o que acabei lendo e vendo entre ontem e hoje: http://globoesporte.globo.com/sp/sorocaba/canhota-10/platb/2012/09/27/renuncia/. Todas as fotos do Noroeste foram tiradas por mim na Feijoada da Sangue Rubro, último dia 22/09.