COBRADOS E COBRADORES – publicado na edição de 07/09/2012
Junto historinhas ouvidas nas ruas. Três são relacionadas com um mesmo tema, as empresas de cobrança, cuja Bauru é seu epicentro. Convido todos para coletivas reflexões ao junta-las no mesmo texto. Na primeira, moça inicia seu trabalho de cobrança via telemarketing e em cada ligação, do outro lado da linha uma história diferente, uma mais doída que a outra. Aquilo a sensibilizava e para amenizar o sofrimento do devedor propunha descontos não permitidos e inimaginados pela empresa, muito maiores do proposto por sua tabela. Percebia do outro lado a alegria por conseguirem saldar o débito com indescritíveis descontos. Começou a receber elogios da empresa pelos altos índices na resolução das negociações. Os elogios duraram pouco. Ao descobrirem que tudo ocorria somente por causa do alto desconto, com o lucro da empresa cada vez mais baixo, o resultado foi uma sumária demissão. “Que podia fazer? Eles precisavam, fiz a minha parte e percebia a felicidade do outro lado da linha. Também estou”, diz. Num outro, talvez na mesma empresa, um rapaz religioso foi aconselhado a durante as negociações via telemarketing, se necessário, florear um pouco, não revelar todo conteúdo das possibilidades contratuais e assim, fechar bons acordos. Isso contrariava os ensinamentos de sua igreja e coisa que não conseguia fazer era mentir, por menor que fosse. Nem motivado pela garantia do seu emprego. Com seus índices de fechamento de acordos sempre baixos, apertos aconteceram, mas não conseguia agir diferente. Resultado: os conselhos não surtiram efeito e acabou demitido. “Mentir é errado e não iria fazer isso com meu semelhante”, diz. Na última, a comprovação de que nem tudo são mazelas no ofício de cobrar e ser cobrado. Existe impedimento na aproximação de um e outro, mas essas coisas escapam do controle, mesmo com ininterrupto monitoramento. Um cobrou e outra foi cobrada, o infortúnio dela calou nele, a voz idem e daí nasce algo proibido, a troca de telefones. Estão a namorar. As negociações continuam.O QUE FOI FEITO DEVERA – publicado na edição de 14/09/2012.
O último filme do Ugo Giorgetti, “Cara ou Coroa” revive o ano de 1971, plena ditadura militar e uma cena me chama a atenção. Diálogo sobre a participação dos jovens na luta de resistência contra o cruel regime. Cientes de que esses entrariam de cabeça, algo natural, instintivo, a questão era: valeria a pena? Seriam trucidados, tudo pela causa. E hoje, olhando para trás, persiste a dúvida. Nem todas nossas lutas geram orgulhos posteriores, mas não renego a necessidade de resistir. Daquele envolvimento, frutificou o momento vivido hoje, as conquistas e coisa e tal. Mais que isso, o filme me fez ir além. Vi ali o retrato de um tempo, o envolvimento de uma geração com os destinos de seu país. Mesmo sob o tacão de um cruel regime, existia uma efervescência, que não enxergo, nem na geração atual, muito menos nos de minha geração, que hoje leem menos e gostam mais de postar futilidades nos facebooks da vida do que provocar, instigar. Cadê aquela riqueza de ideias? Aquela rebeldia de antanho, expressa inclusive no comportamento, esvaiu-se com o tempo. Predomina o mutismo, onde poucos discutem, debatem, vão à luta, leem e estão realmente interessados em decifrar os meandros da atual dominação. Mas como redespertar esse país, reabrir seus olhos? Tem quem não enxergue isso como algo possível. A luta estaria irremediavelmente perdida. Retrocedemos absurdamente, as pessoas estão presas e reprimidas. Falta coragem. O filme mostra isso claramente, na comparação do ontem, a fraqueza é a característica atual. Ninguém mais quer invadir os espaços. O que mais vemos são manipuladores de públicos, do político, show business, hetero, gay, mas ninguém com poder e ímpeto transformador. Só pensam em ganhar dinheiro sem propor mudança nenhuma. Alguns dos pseudo esquerdistas de hoje não imaginam o mal que fizeram para esse país na sua distorcida ação adesista nessas últimas décadas. Comem o cadáver do Lamarca todas as noites e nem se dão conta. Emburrecemos todos, do banco acadêmico ao da praça.
BLINDAGEM NO PT BAURUENSE – publicado na edição de 22/09/2012
Embolo dois fatos num só. No primeiro o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, diz que após o término do julgamento do mensalão vai estudar uma forma de incluir o nome do ex-presidente Lula na continuidade do processo. Isso após uma matéria da Veja, que já comprovou possuir ligação umbilical com o crime organizado (e nem foi chamada para depor na CPI), onde numa suposta e secreta carta, guardada a sete chaves, um dos incriminados, o publicitário Marcos Valério afirmaria ser Lula o mandante de tudo. A finalidade do Gurgel é clara, impedir de forma antecipada que Lula possa querer disputar novamente uma eleição (2014 bate às nossas portas). Meu comentário é simples, direto e reto. Nessa semana o vereador Roque Ferreira divulga da tribuna da Câmara de Vereadores degravações escabrosas, ainda em sigilo de Justiça, diálogos reveladores da tramoia envolvendo o mensalão de Bauru, esse comprovado e ainda não julgado escândalo de ilícito reparte de recursos públicos. Se lá Lula deve ser incluído, deixo aqui minha pergunta: o deputado Pedro Tobias também não deveria o ser? Algo mais do que natural. Um faz campanha para Haddad em Sampa e o outro para Chiara em Bauru. Disso tudo, além do enraizado preconceito, extraio o seguinte: é muito fácil escrever e propagar aos ventos dos males de quem está distante de nós. Falar de Lula, Zé Dirceu, FHC, Serra, Dilma, Alckmin, Mensalão é simples demais, eles estão longe do nosso alcance. Já fazer o mesmo com algum figurão local e ligado ao establishment, um claro recuo. Simples assim. Ouço na manhã de quarta o Informasom, da 94FM. Na pesquisa do dia uma pergunta com múltiplas escolhas: “Em que você acredita mais?”. Cinco opções e numa delas: “Lula será ligado ao mensalão”. Votei numa das opções e deixei um comentário, que como já esperava não foi lido no ar, como outros o foram: “Pedro Tobias será ligado ao escândalo da AHB”. Não leram e é disso que trata esse texto. Estaria vendo coisas ou somos mesmo medrosos? Ou tendenciosos?
OBS sobre fotos ilustrativas: Todas foram tiradas por mim em Barcelona, na Catalunha, em abril 2012 e demonstram que as grafites e pichações de muros e paredes estão globalizadas e mais que isso, muito parecidas umas com as outras.
3 comentários:
O Paulo Sérgio e o Reynaldo Cafêo, criticam acertadamente e democraticamente no Programa Informação da FM 94 os envolvidos no Mensalão...mas não se vê criticas e nem inquetes perguntando se vão ser condenados ou não os que desviaram milhões do Hospital de Base e com isso ceifaram e ceifam a vida de centenas de pacientes do SUS.
Não deve e nem pode haver dois pesos e duas medidas !
Pedro Valentim
MUITA GENTE QUERENDO QUE O CASOAHB TERMINE EM PIZZA
GILBERTO TRUIJO
ESPOSTA DE ROQUE FERREIRA RETIRADO DO GRUPO FACEBOOK "DIREITOS HUMANOS":
Caro Henrique Perazzi de Aquino, e também Pedro Valentim Valentim- Gilberto Truijo. Os veículos de radio difusão são concessões públicas e todos sabemos como elas são distribuídas no país. Já em relação ao que se convencionou chamar de mensalão, desde que haja provas nos autos que se puna quem de fato tiver culpa.
ROQUE FERREIRA
Colado por HPA - direto do mafuá
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