sábado, 30 de março de 2013

MEUS TEXTOS NO BOM DIA (220, 221 E 222)

FINANCIADORES DE OPRESSÃOtexto publicado na edição de hoje, 30/03/2013:

Essa brasileira Comissão Nacional da Verdade deixa muito a desejar. Ela não pune ninguém, tem uma dificuldade tremenda em chamar alguém para depor, cheio de cuidados com algozes do passado e mais por receio, vai sendo tocada meio que no vai da valsa. Queríamos algo mais contundente, com exposição de fatos, motivos e na não incidência de punições, ao menos, que o país inteiro pudesse tomar conhecimento de quem fez algo mais do que danoso contra a pátria. Infelizmente, nem isso vai acabar sendo divulgado. Em outros países latinos, que também vivenciaram regimes de opressão, desmedida truculência, tem até ex-presidente detido em prisão domiciliar. Por aqui tudo caminha a passos de tartaruga e a presidente para não ferir suscetibilidades (nome bonito, não?), não faz mínimo esforço para ver tudo caminhando. Seria de bom alvitre ver tudo revelado, horrores execrados, algo mínimo para que nada pudesse voltar a ocorrer. Algo me intriga mais que tudo e diz respeito a fatos ocorridos aqui na nossa aldeia, Bauru e pouco discutidos. Trata-se da participação do poder econômico privado, o que não só apoiou como também financiou aquele horror todo. Quem seriam por aqui os que colaboraram com a repressão? Muitos deles é mais do que sabido ainda estão por aí, todos pimpões, como se nada houvesse ocorrido e nesse momento, fazendo o que sempre fizeram, dando o seu quinhão, torcendo contra o momento atual e clamando por um retorno a governos autoritários. A tolerância do poder econômico com propostas autoritárias torna esses ainda mais poderosos. No Brasil garantiram um prolongado poder de dominação. Com a redemocratização brasileira, a repressão foi desarticulada, a guerrilha armada foi desmantelada, mas o poderio econômico conservador permaneceu ativo. Esses só se reforçaram e no momento em que são criados as Comissões da Verdade país afora nada melhor do que desvendar quem foram seus financiadores e apoiadores. Aqui em Bauru quem teria bancado aquele festim todo? Longe de ser delação, revelar isso é fazer história.

QUANDO A RELIGIÃO NÃO É ÓPIOtexto publicado em 23/03/2013:
 
Escrever de religião é sempre um eterno pisar em ovos. O que mais se vê são opiniões e cartas nos jornais sobre esse tema, desmedida demonstração de fé. Respeito todas, mas não suporto as que desmerecem outras e, principalmente as se mostrando conservadoras, excludentes, homofóbicas e preconceituosas. “E diante disso, sobraria alguma?”, poderiam me perguntar. Hoje está difícil, confesso, mas quando jovem tentei seguir os ditames de pregações de Casaldaliga, Boff, frei Beto, Cardenal, Hélder e Arns. Foram expoentes de algo bem diferente do pregado hoje em dia. Aqui em Bauru muitos estiveram ao lado de uma igreja libertadora, tendo o progressista bispo Dom Cândido Padin como seu maior expoente. Tivemos muita sorte, pois esse não se vergava. Aroeira pura. Hoje, muitos dos que estiveram ao seu lado, pregam o contrário do aprendido lá atrás e demonstram nada terem depurado de salutar com a vivência ao seu lado. De todos só Casaldaliga e Cardenal resistem, defendendo os pobres de forma verdadeira e sincera. Nunca se aliaram a nenhuma podridão e o que sempre fizeram foram arriscar e muito a própria pele. Os púlpitos atuais são outros. O discurso indiscutivelmente mais moderado, quase um reverso da moeda. Junto todas no mesmo balaio e as vejo pregando e usando as escrituras para justificar uma ladainha cada vez mais andando para trás. Pregam contra os pobres, pois não o defendem. Quando criticados, pedem para que os deixem em paz, não se metendo com as coisas de sua fé, porém insistem em tentar fazer valer seu credo como verdade única para todos. Fazem até lobby nesse sentido. Como aceitar isso? Não posso nem mais decidir o que fazer livremente com meu próprio corpo. Creio numa igreja (se é que ela existe), seja ela qual for, que proceda como o dito por frei Tito, torturado pela ditadura militar, respondendo a um jornalista italiano que perguntava se ele era marxista. “Para quem pretende mudar as estruturas da sociedade, Marx é indispensável”, respondeu. A que defendo é assim e está bem longe de ser o “ópio do povo”.

É PROIBIDO PROTESTAR - texto publicado em 16/03/2013:

Esse negócio de ser favorável a tudo é de uma chatice cavalar. Sou de um tempo (e não faz tanto tempo assim) que a manifestação contrária era livre e até incentivada. Vivíamos mais oxigenados, podendo numa encruzilhada escolher entre vários caminhos. Hoje, quando uma voz se levanta e se mostra do contra, sempre pipocam agourentos conceitos conservadores. Vivíamos, mesmo saindo de um regime opressor, mais libertos e sem essa pressão quase nos obrigando a seguir uma só linha de pensamento. A passagem da inexpressiva blogueira cubana pelo Brasil evidenciou isso. No resto do mundo está sendo recebida com desprezo, pois não representa nada a não ser ela mesma e aqui foi endeusada pelos que a usaram para atingir seus objetivos, espezinhar a pobre ilha caribenha que despreza o deus dinheiro. Ousaram criticá-la com gritos, apupos e daí tudo veio à tona, evidenciando estarmos todos impedidos até disso. No meu tempo de estudante apartávamos políticos e era regra vê-los em situação vexatória. Quem não se lembra de um repórter ao estilo de Ernesto Varela espezinhando Maluf e o Nabi? Aqui em Bauru muito engravatado suou para escapulir de saias justas. Até o refinado Fernando Morais, investido do cargo de Secretário da Educação penou junto de professores revoltados. Fino, ouviu a todos, pois via no ato uma demonstração de algo dentro da mais absoluta normalidade. Vaia para autoridades em cima de palanque já foi mato, mas hoje sofre certa resistência. Foi-se o tempo. Ser do contra virou crime hediondo. Um mero protesto, gritar palavras de ordem, demonstração espontânea de discordância, faixas e cartazes é tudo considerado ofensa grave. Resumo tudo num trecho do algo lido e desfavorável aos protestos: “sentimo-nos atacados naquilo que mais prezamos e propalamos: o direito do cidadão”. Esse direito só parece valer para os discordantes dos que protestavam. E onde fica o direito do cidadão de protestar? Inverteram tudo só para fazer valer suas ideias. Estamos a um passo de protesto dar cadeia.

5 comentários:

Anônimo disse...

Esses animais que oprimiram as pessoas da sociedade tem que aparecer e serem julgados por suas atrocidades, doa a quem doer, tem muita gente escondida....
José Eduardo Ávila

Anônimo disse...

De: Silvio Rodrigues - Revista JÁ!
P/: Henrique Perazzi de Aquino


Li (e reli). Ficou uma sensação estranha no ar, a de que os bauruenses vinculados ao poder econômico continuam organizados. Já os dissidentes do regime de opressão simplesmente se fragmentaram. Logo, vitória do primeiro grupo.

Não custa lembrar: numa guerra, a primeira vítima é a verdade com ou sem comissão.

Anônimo disse...

Henrique


Três belos textos.
Três belas reflexões.
Três belas polêmicas.
Três belos temas, pena que, ao serem levantados hoje em dia, ao invés de ocorrer belas discussões, com opiniões divergentes sendo colocadas, o que mais ocorre é o começo de uma guerra entre as partes.
Tem muitos sem argumentos, que nem discutem mais e nem se interessam mais por saber do tema a fundo, já vão logo dando porrada e colocando tudo a perder.

Está difícil discutir hoje em dia, caro Henrique.

Boa Páscoa

Aurora

Anônimo disse...

Azenha é cabra macho, não tem medo de mostrar a podridão que rola na "grande mídia". É Homem com H. É Homem de caráter e coragem. Ele precisa do nosso apoio e da nossa solidariedade. Não podemos permitir precedentes de censura como estão fazendo com o Azenha.

Rui Zilnet - Rio de Janeiro

Anônimo disse...

já que se fala tanto na comissão da verdade.........POR QUE NÃO REABREM O CASO MARA LÚCIA, aí em Bauru ?????? foi em 1969....

ALTAIR JR