MEUS DOIS ÚLTIMOS TEXTOS NO BOM DIA E ALGO SOBRE CONSERVADORISMO REINANTE
01) O ABANDONADO E O ENCONTRADO – texto publicado edição de 02/03/2013
Estou desolado, abandonado pelo filho. Saiu de casa e foi morar em Araraquara. Passou num vestibular e foi estudar Letras longe dos meus tentáculos. Na viagem onde transportei sua parca mudança, papeamos para distrair minha incontida dor. Foi discorrendo sobre alguns dos motivos por ter escolhido esse curso. Mais ouvi que falei, faltavam-me não argumentos, mas preferia ver até onde chegava seu acerto na escolha. “A última epopeia escrita foi inglesa, O Paraíso Perdido, de Newton. A obra mais importante da literatura portuguesa foi Os Lusíadas, a da latina foi Eneida, a da grega foi Odisseia e da italiana, a Divina Comédia. Na última foram ditados os moldes do que viria conduzir o estilo narrativo da literatura nos seus próximos 500 anos. Desde então nenhuma outra, hiato de mais de cinco séculos”, foi sua constatação. Eu não queria intervir. Absorto, pressentia o distanciamento cada vez maior desses dois interlocutores. Um aqui, outro acolá. “Veja pai, todos esses que se dedicaram as artes o fizeram nesse período por diletantismo, prazer e até por diversão. São obras magnificas, profundas, eternas, escritas por pessoas bancadas pelos senhores feudais. A nobreza fez horrores, mas teve esse lado. Foi uma arte para poucos, mas atravessou os séculos. O português Gil Vicente escreveu a peça teatral Auto da Barca do Inferno por encomenda e bancado pela Coroa Portuguesa. Era praxe, daí saíram obras de grande vulto. Pelo menos isso aquela nobreza nos deixou de bom, não?”, me pergunta e respondo de forma monossílaba. Não sou bom de conversa quando me vejo em situação de perigo. E me via, ou melhor, estou nela. Acabrunhado, vi-o crescer diante dos meus olhos, tanto em tamanho, como em conhecimento. Alegre estou, e muito, mas lá deixei meu companheiro de jornadas cinematográficas, resenhas literárias, fuçar sebos e saborosas discussões filosóficas. Volto com o carro leve, cinco caixas de livros despejadas numa quitinete e ele mais atento a isso que na própria alimentação. Que será dele? Que será de mim?
Estou desolado, abandonado pelo filho. Saiu de casa e foi morar em Araraquara. Passou num vestibular e foi estudar Letras longe dos meus tentáculos. Na viagem onde transportei sua parca mudança, papeamos para distrair minha incontida dor. Foi discorrendo sobre alguns dos motivos por ter escolhido esse curso. Mais ouvi que falei, faltavam-me não argumentos, mas preferia ver até onde chegava seu acerto na escolha. “A última epopeia escrita foi inglesa, O Paraíso Perdido, de Newton. A obra mais importante da literatura portuguesa foi Os Lusíadas, a da latina foi Eneida, a da grega foi Odisseia e da italiana, a Divina Comédia. Na última foram ditados os moldes do que viria conduzir o estilo narrativo da literatura nos seus próximos 500 anos. Desde então nenhuma outra, hiato de mais de cinco séculos”, foi sua constatação. Eu não queria intervir. Absorto, pressentia o distanciamento cada vez maior desses dois interlocutores. Um aqui, outro acolá. “Veja pai, todos esses que se dedicaram as artes o fizeram nesse período por diletantismo, prazer e até por diversão. São obras magnificas, profundas, eternas, escritas por pessoas bancadas pelos senhores feudais. A nobreza fez horrores, mas teve esse lado. Foi uma arte para poucos, mas atravessou os séculos. O português Gil Vicente escreveu a peça teatral Auto da Barca do Inferno por encomenda e bancado pela Coroa Portuguesa. Era praxe, daí saíram obras de grande vulto. Pelo menos isso aquela nobreza nos deixou de bom, não?”, me pergunta e respondo de forma monossílaba. Não sou bom de conversa quando me vejo em situação de perigo. E me via, ou melhor, estou nela. Acabrunhado, vi-o crescer diante dos meus olhos, tanto em tamanho, como em conhecimento. Alegre estou, e muito, mas lá deixei meu companheiro de jornadas cinematográficas, resenhas literárias, fuçar sebos e saborosas discussões filosóficas. Volto com o carro leve, cinco caixas de livros despejadas numa quitinete e ele mais atento a isso que na própria alimentação. Que será dele? Que será de mim?
02) UM DIA JÁ FUI ESQUERDISTA – texto publicado edição de 08/03/2013
Não me sai da memória uma declaração do professor Duda Trevisani, num dos seus programas na TV PREVE: “Eu na minha juventude já tive arroubos de esquerda. Com o passar dos anos abandonei isso”. Não é o único. Dizem as boas línguas que o deputado Pedro Tobias quando estudante de medicina na Paris de 1968 atuou nas hostes esquerdistas. Aqui, se chegou com esse ímpeto, foi logo arrefecido pelos seus mais próximos. Poderia citar outros tantos, mas me atenho a texto publicado pelo decano jornalista Zarcillo Barbosa na imprensa local. “Quando era jovem estudante defendi muito Cuba e os ideais de uma sociedade mais justa sonhada pelos revolucionários. Compreendi, mais tarde, que os grupos de extrema esquerda usam um tipo de pensamento binário e totalizante. Na verdade, nossas crenças de juventude não eram esquerdistas, mas simplesmente autoritárias, fruto do desejo de uma explicação simplória e totalizante do mundo”, escreveu ele. A maioria dos que se bandeiam para o outro lado, ou seja, mudam de cancha possuem justificativas parecidas. Devem viver mais felizes dentro do atual contexto, agindo conforme os preceitos da cartilha neoliberal. Foi-se o tempo de valorizar reses desgarradas. O defeito está aí, se fazendo necessário todas serem tangidas ao aprisco do viver bovinamente, como manada. Hoje o pensamento predominante desses não é mais binário, é único, predomínio do deus mercado. Que diriam esses dos que nunca se afastaram da lida esquerdista? Lázaro Carneiro, Geraldo Bergamo, Dino Magnoni, Paulo Neves, Isaías Daibem, Milton Dota, Bordini, Dalva Aleixo, Clodoaldo Meneghello, Darci Rodrigues, Arthur Monteiro Neto, Roque Ferreira, Pedroso Jr, Elisa Carulo, Pitolli, Duílio Duka, Majô, Marcos Paulo, Almir Ribeiro, dona Ruth, Beto Maringoni, José Laranjeira, Woltaire, Ruy Bertotti, Saletinha, Tião Camargo, isso para ficar nos vivos. Seriam todos adeptos de algo simplório e totalizante? Seria ser simplório querer socializar e dividir um bocadinho do imenso bolo amealhado pelos detentores do capital?
DUAS VOZES A EXPRESSAR O ATUAL CONSERVADORISMO:
Que o mundo de hoje está ficando cada vez mais conservador isso são favas contadas. Qualquer pessoa em sã consciência vê isso de forma nítida, absoluta, bastando uma olhada de soslaio nos escritos atuais. Algo interessante é o acompanhar como escreviam ontem e hoje alguns dos que continuam postando e escrevendo por aí em órgãos de imprensa. Arnaldo Jabor seu caso mais gritante e evidente. No passado, até algum respeito e consideração, hoje comiseração e um escrito recheado de bravatas, beirando a insanidade. Isso está sendo reproduzido por todos os lugares, indistintamente. Relembro dois textos publicados nessa semana no Jornal da Cidade, o jornal com maior tiragem em Bauru. No primeiro, artigo publicado em 07/03, pelo jornalista Pedro Grava Zanotelli, “Paradoxos da Liberdade” (clique a seguir para sua leitura: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=227713) e no segundo, artigo publicado hoje, 09/03, pelo jornalista Zarcillo Barbosa, com título “O último caudilho” (clique a seguir para sua leitura: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=227771). Estive hoje pela manhã no estádio Alfredo de Castilho vendo o Noroeste jogar contra o Barueri (1x1) e no intervalo reencontro uma pessoa, também aposentada da Unesp, como Zarcillo, sempre em campos opostos, mas esse me questiona em algo a motivar nossas reflexões pelos quinze minutos seguintes: “O que teria motivado Zarcillo, por exemplo, a assumir para si, fazendo questão de constar em todos seus atuais textos, algo tão conservador e que não correspondia a posicionamentos do passado?”. Tento iniciar o debate, mostrando que nesse último ele não teve como não afirmar dos avanços de Chávez na Venezuela, mas que a critica, mesmo quando não cabe, faz parte do posicionamento de todo órgão midiático com vinculação aos atuais grupos de poder e que todos os nele apegados, para continuarem mantendo o espaço de regular publicação, devem estar atrelados a essa linha de pensamento. Até sai algo contrário a isso, de forma esporádica, mas nunca de alguém com vinculação de publicação, texto que possua a chancela do órgão de comunicação. Ele concordou, indo além, me dizendo que o antigo colega poderia manter seu espaço, se quisesse, sem ter que se mostrar um deles da forma como está fazendo, tão entronizada, mas se assim o faz é porque bandeou-se de vez, de mala e cuia para o lado dos que veem no neoliberalismo a solução para tudo. “Encontrou o que queria e deve ser feliz dessa forma, o que é uma pena, pois renega até algo produzido pouco tempo atrás. Piorou ao invés de melhorar”, foi a conclusão que chegou e mais não pudemos fazer, pois o jogo estava para começar no seu segundo tempo e tivemos que abandonar nossas reflexões.
7 comentários:
Parabéns pela coragem.
Esse conservadorismo está latente hoje por todos os lugares. Cresce a olhos vistos e poucos são os que conseguem fazer algo contra ele. Bater de frente com os poderosos de plantão é algo que poucos fazem.
Eu te respeito por isso.
Paulo Lima
POSTEI ESSE TEXTO DO BOM DIA DE ONTEM NO FACEBBOK E VEJA O QUE ROLOU:
Elza Caputo Ser inteligente é mudar o modo de pensar quando se verifica que a ideologia professada se tornou uma farsa e, portanto, não leva a lugar nenhum.
Ontem às 09:14 · Curtir
Elza Caputo Henrique Perazzi de Aquino, para melhor entender o que eu disse acima, leia este artigo: http://ghiraldelli.pro.br/2013/03/o-corpo-oco-do-presidente-chavez/
O corpo oco do presidente Chávez | ghiraldelli.pro.br
ghiraldelli.pro.br
Chávez não será enterrado, mas embalsamado. Como Lênin e Mao, também embalsamado...Ver mais
Ontem às 09:31 · Curtir · Remover visualização
Henrique Perazzi de Aquino Elza, me desculpe, mas te considero uma CONTORCIONISTA da História, tudo fazendo para que ela seja vista pelos seus olhos, hoje caolhos, pois enxerga só o que lhe interessa.É muito reducionismo para uma pessoa só. Nunca via , só aqui mesmo, pobres defendendo com unhas e dentes a ideologia dos ricos.Jamais se mentiu tanto sobre um homem como com Chávez, tudo por ter feito o que fez pelo povo mais simples. Tu não consegue enxergar isso? Perdeste o bonde da história e me deixe, por favor, ter uma sábado iluminado e sem neuras.
Ontem às 09:52 · Curtir
Elza Caputo Contorcionista, eu? Estás muito enganado. Você é que é incongruente. Ao mesmo tempo que diz que não é mais de esquerda, defende essa esquerda burra e safada com unhas e dentes. Acho que seu curso de história teve muito pouco estudo de filosofia... Que pena! Leu o artigo do filósofo que te enviei? Parece que não. Desisto!
Ontem às 10:15 · Curtir
Bkl Bruno O problema é como ele mesmo escreveu que desistiu de uma sociedade mais justa...uns desistem e vão viver o que está posto sem nenhum tipo de conflito ou preocupação, simplesmente está cuidando de sua vida e outros vivem a vida e mudam de lado.
Ontem às 10:23 · Curtir
Henrique Perazzi de Aquino ELZA, RELEIA O TEXTO, O TÍTULO É UMA FORMA DE CRÍTICA AOS QUE SE BANDEIAM, ALGO QUE NÃO FAREI JAMAIS. Para ti, algo que o Plínio de Arruda Sampaio disse num dos debates na campanha presidencial quando o instigavam sobre ter saído da direita e ido para a esquerda: "Não vejo nada de mal nisso, pois mudei para lado certo. O inconcebível é quem sai da esquerda e vai para direita, esses são irrecuperáveis. Estão perdidos para sempre". Tome tento, pois querer escrever a história só valorizando o lado vesgo é não fazer história. Combatemos isso. Seus textos todos estão imbuídos dessa perdição, a de que existe um só lado em tudo e ele é o certo. Um dia quem sabe para ti a ficha cai, mas acho que vai ter ser a forceps...
Ontem às 11:22 · Curtir
CONTINUA...
CONTINUAÇÃO:
Henrique Perazzi de Aquino Tem uma linda música do Aldir e do Guinga, que no refrão diz assim: "Vovô é neoliberal/ Você é pefelista/ Vovô é neoliberal". Temquem prefira, mesmo estando do lado de cá, ficar só puxando o saco dos que jogam contra a gente. É aquela de ser iguais a eles, os que danam. Eu já estou cada vez mais do lado dos poucos que ainda ousam defender o povo. É com esses que eu vou...
Ontem às 14:34 · Curtir
Elza Caputo Então vai e assume que é de esquerda e não fica falando " UM DIA JÁ FUI ESQUERDISTA".
Ontem às 15:34 · Curtir
Henrique Perazzi de Aquino Elizinha, vou tentar ser o mais didático possível contigo. Acredito que só você não entendeu que o título é uma gozação em cima dos que dizem essa frase, tanto que cito o Duda, o Tobias e o Zarcillo como exemplo desses. É como se fosse eles falando, entendeu? Eu, como já devias saber, continuo como sempre fui um empedernido e irredutível esquerdista. Estamos entendidos? Nunca ouviste falar em retórica?
Ontem às 16:14 · Curtir
Beto Grandini Caro Primo ... Um dia também fui e me orgulho muito disso ... Apanhei, briguei e lutei ... Porém, a decepção com os que hoje estão no poder em 1983 me fez "abrir os olhos" ... São todos hipócritas e pensam somente neles mesmos ...
há 19 horas · Curtir
Henrique Perazzi de Aquino Betão, eles são eles, nós somos nós, e como dizia Quintana, eles vão, eu passarinho... Portanto, continuo no meu poleiro.
há 18 horas · Curtir · 1
cARO Henrique,
Força, dê mais força ainda para seu querido filho.
Falo como pai e avô, mas tenho certeza absoluta que consiguirá superar este triste momento.
Lembre-se, caro amigo,quanto temos filhos dois destinos os mesmos nos reservam: se forem doentes serão criados por nós e para nós e se forem normais ( como o seu, graças a Deus) serão criados para o mundo.
Tenho certeza absoluta que seu filho alcançara grandes voos,pois é filho de um Titã, chamado Henrique P. de Aquino.
Abraços,
Conte comigo,
Do amigo de sempre,
Professor Toka
Henrique
Seu texto sobre o conservadorismo deve ser lido junto desse do Mino Carta na última edição de sua revista:
NOTÁVEL REFORMADOR
O Brasil tem um ponto em comum com a Venezuela: o brutal desequilíbrio social. Havia outro até data recente, representado pela extraordinária semelhança entre a mídia venezuelana e a brasileira, uma e outra a serviço da oligarquia e da treva, sempre e sempre dispostas a inventar, omitir e mentir. Se hoje não há como alegar esta inglória parecença, é porque Hugo Chávez, ao contrário do governo do Brasil, decidiu enfrentar o inimigo.
Populista? Por que lutou contra o neoliberalismo e a favor dos desvalidos? Por que defendeu a unidade latino-americana e o petróleo do seu país?
Por que tirou muitos venezuelanos da miséria e erradicou o analfabetismo?
No momento, mais da metade dos órgãos de comunicação venezuelanos são públicos, o que permite restabelecer um razoável equilíbrio entre as forças envolvidas nesta guerra. As palavras guerra e inimigo estão longe de ser exageradas. O ataque ao governo de Dilma Rousseff é feroz e diuturno, assim como foi a Lula e a Chávez. A mídia nativa, aliás, continua na ofensiva contra o líder venezuelano e celebra sua morte como se o odiado inimigo tivesse tombado no campo de batalha.
As razões são óbvias. Chávez, como Lula e Dilma, mexeu com os interesses da minoria privilegiada. Há diferenças entre o venezuelano e os brasileiros, ao contrário destes, aquele recorreu a formas autoritárias de poder. Mesmo assim, tratou-se de um formidável reformador e de um incentivador da unidade latino-americana a bem da independência do subcontinente, enfim livre da condição de quintal dos Estados Unidos.
Nem tudo na atuação de Chávez merece admiração, mas seus méritos estão expostos à luz do sol. Leio as diatribes ficcionais da nossa mídia, dizem que se tratou de um déspota populista. A definição é tão imprópria quanto foi batizar de “terrorista” quem lutou contra a ditadura civil-militar. Populista porque nacionalista ao defender o petróleo de seu país como fez Getúlio Vargas em 1952 ao criar a Petrobras? Ou populista porque condenou firme e inexoravelmente o neoliberalismo?
CONTINUA...
CONTINUAÇÃO...
Tropecei na quarta 6 de março no delirante editorial da Folha de S.Paulo, que condenava o “populista” Chávez por causa do seu peremptório não ao neoliberalismo. Ora, ora, mas não foi a religião do deus mercado que nos mergulhou na maior crise econômica, política e social dos últimos dois séculos? Algo não menos assustador do que as epidemias de peste negra da Idade Média.
Ah, claro, populista por ter tirado da miséria uma larga fatia de venezuelanos, e por ter garantido assistência médica e hospitalar a todos os concidadãos, e por ter erradicado o analfabetismo. Tal é a linha da mídia nativa, exército dos barões. O jornalismo há de se basear no respeito da verdade -factual, no exercício do espírito crítico e na fiscalização do poder. Os barões midiáticos e seus regimentos desrespeitam a verdade factual e submetem o espírito crítico aos seus dogmas e preconceitos. Quanto à fiscalização do poder, cuidam de investir de arma em punho contra quem ali está há dez anos, depois de ter elevado à glória dos altares o governo tucano de FHC e tornado motivo de culto todas as suas mazelas.
Creio não ser árduo perceber que estamos a assistir, há dez anos, a uma ofensiva bélica, em pleno desrespeito às regras éticas do jornalismo e do senso de responsabilidade imposto pela consciência da cidadania. Não nos defrontamos simplesmente com uma mídia a serviço da oposição, e sim com uma artilharia capaz de executar seu bombardeio sem solução de continuidade.
De uns tempos para cá, me ocorre, de quando em quando, perguntar aos meus perplexos botões se o governo tem vocação de mulher de apache. Estão pasmos, admitem, com tanta leniência, ou paciência, ou resignação. E se declaram perdidos como um pesqueiro ao largo da costa escocesa, em uma madrugada invernal a 20 graus abaixo de zero, em meio à névoa mais espessa e sem apito. Aos leitores sugerem uma pausa de meditação à página 16 desta edição, para inteirar-se da reflexão de Mauricio Dias na sua Rosa dos Ventos.
Ali, entre outras considerações muito oportunas, Mauricio evoca uma entrevista que ambos fizemos com Hugo Chávez, em 2006. Recordo um maciço indivíduo, de carisma explosivo e fala fluente, a dizer coisas que faziam sentido.
POSTADO POR PASQUAL MACARIELLO - RIO RJ
HENRIQUE
NÃO ME CANSO DE MOSTRAR CHAVEZ:
JB em 09 03 2013
Coisas da Política
Chávez e os novos militares
Jornal do Brasil
Mauro Santayana
A morte, prematura, de Hugo Chávez, deixa uma certeza: a Venezuela não voltará a ser o país que foi antes de sua presença no Palácio de Miraflores. Como anotou o New York Times, o presidente não construiu autoestradas nem grandes edifícios, mas legou a seu povo uma nova forma de ver e sentir o país. E esse povo não voltará a aceitar as regras antigas de submissão social. Chávez não era predestinado ao poder, como tantos outros líderes militares latino-americanos, que viam as Forças Armadas como “a última aristocracia”. A definição é do poeta argentino Leopoldo Lugones, ao discursar no centenário da Batalha de Ayacucho, travada em 1826 no Alto Peru, que expulsou os espanhóis de nosso continente.
Os militares, principalmente os argentinos e chilenos, sempre se sentiram herdeiros daqueles nascidos na América do Sul, que participavam dos exércitos espanhóis e se uniram a Bolívar e a San Martin para fazer a independência. Mas isso não impediu que se submetessem aos interesses externos, quando isso interessava às oligarquias internas de que, por origem familiar, procediam.
O homem que morreu terça-feira foi um soldado comum, jogador de beisebol, que se insurgiu contra a desigualdade social em seu país e, depois de frustrado golpe de Estado, elegeu-se seu presidente. Sua ascensão ao poder e seu prestígio popular podem surpreender os que não conhecem a história nestes últimos 20 anos na América Latina. Mas nada houve de insólito em sua vida e destino.
Ele se insurgiu contra a desigualdade social na Venezuela e, depois de frustrado golpe de Estado, elegeu-se seu presidente
Os exércitos da América Latina não são os mesmos. A origem de classe dos oficiais — embora haja ainda alguns com sobrenomes históricos — mudou bastante, depois dos regimes ditatoriais que, patrocinados pelos Estados Unidos, infelicitaram os nossos povos. Não é difícil hoje encontrar oficiais superiores filhos de famílias bem modestas e mesmo pobres. A memória das dificuldades na infância os faz diferentes, dispostos a apoiar governantes que almejam vencer as desigualdades históricas.
“Yo no soy um hombre, soy un pueblo”, dissera o colombiano Jorge Eliécer Gaytán, cujo assassinato, provavelmente com a participação da CIA, levantou o povo de Bogotá em 9 de abril de 1948, e serviu de inspiração a Fidel Castro, que se encontrava na cidade. Naqueles dias, a OEA, mais do que hoje submissa a Washington, realizava ali sua assembleia anual.
Chávez, como personalidade invulgar, não terá substitutos. Coube-lhe ensinar o povo a ver com clareza o seu país e os seus direitos, e assim, cumprir o próprio destino. Ele repetiu a retórica de Jorge Eliécer Gaytán, ao dizer — já resignado com a ideia da morte — que ele já não era ele mesmo, mas, sim, o seu povo. E que, em seu povo, ele continuaria a dirigir a “revolução bolivariana”.
Talvez a mais expressiva homenagem a Chávez tenha partido de Sean Penn, o grande astro do cinema norte-americano. “O povo norte-americano perdeu um grande amigo, que nunca soube que tinha”, disse o excepcional ator de All the King’s Men. Os cineastas Oliver Stone e Michael Moore também manifestaram o mesmo pesar.
O grande dirigente político não foi exceção na América, mas a expressão, que se renova em cada geração, em homens da mesma estatura, na luta permanente pela igualdade, liberdade e soberania nacional de nossos povos. E não adianta matá-los, como fizeram a Allende, nem levá-los ao suicídio, como ocorreu a Vargas. O povo, que há neles, é a forja dos novos combatentes.
Em tempo: o Brasil está presente nos funerais com uma numerosa delegação, chefiada pela presidente Dilma Rousseff. E não poderia ter sido de outra forma. Em seu tempo, Chávez, mais do que um aliado político e parceiro econômico do Brasil, foi um grande e bom amigo de nossa gente.
POSTADO POR PASQUL MACARIELLO - RIO RJ
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