segunda-feira, 10 de novembro de 2014

DIÁRIO DE CUBA (72) e MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (303)


MAS QUEM SERIA MESMO ESSE TAL DE HPA?
Ontem me provocaram (e quando não fazem isso?). Não deveria nem responder, mas o faço. Disseram que tenho sorte na vida. Nisso acertaram. Só não gostei da afirmação de que, para mim as “coisas caem do céu”, pois sei que nada tem sido fácil em minha atribulada vida. Padeço para quitar minhas contas e meus caraminguás são mais do que contados. Outro me diz não poder fazer uso de carro, computador, celular e nenhuma outra benesse capitalista, pois me dizendo socialista (eu? tens certeza?), deveria viver a pão e água. Ou nem deveria comer e vestir a contento, pela simples solidariedade aos que nada possuem. Deveria, isso sim, andar em andrajos e catar restos de comida em latas de lixo. Bebericar em bares então, impensável sacrilégio e por fazê-lo de forma seguida, arderei no fogo do inferno tão logo bata as botas (mas ele já não é aqui?). Seria divertido se não fosse trágico. É o mesmo tipo de ameaça daqueles que me pedem para, pensando e escrevendo como faço, deveria ir morar em Cuba. Um mais ousado diz que isso é pouco e que no meu caso só mesmo a Coréia do Norte, onde “irei e não poderei nunca mais sair”. Santa ignorância.

Outro quer saber como vivo, como faço para pagar minhas contas. “Mas quem é esse cara para dizer isso? Quem o financia para ficar repetindo isso?”, afirma. Não sei se dou risadas ou se choro. Morro de medo de revelar meus segredos mais secretos. O faço porque acuado como estou, faca no pescoço, não me vejo mais em condições de esconder de ninguém o financiador da esbórnia pela qual se transformou minha vida: SOU UM AGENTE SECRETO RUSSO. Isso mesmo, sou da época da antiga KGB, vivo e pago minhas contas com o ouro advindo de Moscou, antes enviado pelo ditador Stalin (sou velhinho, ô meu!), hoje do quase ditador Putin. É uma longa história. O dinheiro não me chega diretamente via banco, como recomendável e sim através de um emissário, desses que atravessa toda a Sibéria com um malote, desses do tipo enbornal, viajando em lombos de burro, pingüins, baleias, urubus, até chegar ao seu destino, o nada discreto Mafuá do HPA. Não vendi minha alma para o capeta, mas para o dinheiro sujo da Rússia, hoje oriundo de negociações mais do que estranhas, envolvendo o submundo da malversação do Kremlin. Aceito, pois não estou mais em condições de recusar dinheiro, venha de onde vier, afinal, como se apregoa muito por aqui dentre uns e outros, “dinheiro não se olha os dentes” (não seria cavalo dado?). E assim gasto tudo na boêmia, regiamente pago para desmerecer, dia após dia, esse modo de vida tão audaz e eloqüente vivido pelos capitalistas predatórios e neoliberais desse lado do mundo. Eu faço a minha parte, tento minar os alicerces desse monstro capitalista, mas pelo visto, perderei minha boquinha em breve, pois não consigo mais nem uma coisa nem outra. Virei um devasso, alcoviteiro (adoro um covil) e minto para meus financiadores. Descrevo que conspiro de forma veemente, que balanço as estruturas do capital. Quando descobrirem que gasto o dinheiro deles e nas maiores orgias, as possíveis e as impossíveis (também as inimagináveis), não sei o que será de mim. Prevejo dias nebulosos para quem até então tinha sorte na vida. Tudo o que falam de mi, confesso, é a mais pura verdade. Tudo, mas tudo mesmo.

Revelado meu segredo, conto abaixo como vou tentando ao meu estilo Dom Quixote ir minando as forças predatórias, reacionárias, preconceituosas e outros osas. Esse texto saiu publicado no Bom Dia Bauru, como nº 300 e n’O Alfinete de Pirajuí, ambos em 08/11/2014, também hoje no portal virtual do Participi. Eis uma amostra do que os russos (não seriam os soviéticos?) me pagam para fazer, ou seja, mentir descaradamente sobre o que vejo à minha volta, demonstrando toda a minha irresponsabilidade, pragmatismo e maldade para tão buena e acolhedora gente. Pronto, tudo o que escrevo é a mais deslavada mentira, eu não presto, sou regiamente pago para escrever essas coisas. Me desculpem e me perdoem, se assim puderem fazer:

“VOCÊ TEM CARA DE POBRE?
O absurdo da semana é ter visto um conhecido advogado bauruense divulgando pelas redes sociais algo assim: “... quem recebe Bolsa Família não deve votar”. Fui tentar entender a coisa e lhe escrevi na ironia: “Não somos todos iguais com o mesmo poder de voto? Acharia justo a proposta de paulista não mais poder votar por só fazê-lo em tucano?”. Sua resposta demonstra a que ponto chegaram: “Os paulistas e metade dos demais eleitores votam em tucano por convicção, os bolsistas votam no PT por conveniência..., acorda, caia na real”. Era o que queria ler, fiquei pasmo. Então segundo eles, uns podem, outros não. Para apoiar a ditadura (e outras ditas) é um passo, se é que já não apoiam e até financiam.

Ouvi outras escabrosas histórias de como parcela significativa de bauruenses estão acostumados a tratar seus semelhantes (sic) e as relato aqui. Vindo de fora, pessoa ainda desconhecida na cidade, sem nada saberem a seu respeito, a primeira pergunta é sempre nessa linha: “Mora aonde? Que família você pertence?”. A partir das respostas, o estabelecimento do comportamento a seguir. Morando em área nobre (ufa!), a possibilidade de confiabilidade e tendo um sobrenome de responsa (que seria isso?), a certeza de ter ou não algum status social. Corriqueiro isso por aqui.

Os relatos não param por aí. Estarrecido tomei conhecimento de um senhor negro, vestimenta não tão usual para shopping (qual seria ela?) e adentrando um, numa loja pergunta o preço de um terno. A resposta da vendedora (não era nem a dona da loja) foi mais ou menos assim: “Esse é muito caro pro senhor, por que não aluga, assim não se endivida?”. O senhor tenta argumentar dessa forma antes de sair da loja: “Pensava em comprar, pois vou casar meu filho, faz tempo que não compro um terno, mas...”. Provando um e ouvindo a conversa, esse meu conhecido sai de lá e dá um esculacho danado na vendedora e repassa o caso para o gerente. Adianta?

Essa foi de uma conceituada professora universitária, vinda de grande centro urbano e acostumada a sair de casa com roupas leves e surradas, freqüentar lojas com rasteirinhas nos pés, sem os habituais empoamentos refinados do interior paulista. Numa loja num dos shoppings, acompanhada da filha, pergunta o preço de um sapato. A vendedora dá aquela olhada de cima embaixo e lhe diz: “Esse é caro para a senhora, mas os daquela banca estão em torno de R$ 30 reais. Vá lá escolher”. Achou que fosse algo localizado só naquela loja, mas viu tudo sendo repetido na seguinte, daí teve a certeza de que, pelo visto, está decretada a proibição da entrada de gente com cara de pobre em certos estabelecimentos comercias. Será que esses também referendam que o voto dos beneficiados pelo Bolsa Família não deve valer?”.

Em Tempo: Meu mestre, o jornalista Mino Carta, certa vez vaticinou algo e acho que não assimilei direito: "Refreie a sua ironia, eles vão entender que você fala sério".

5 comentários:

Henrique disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:

Lazaro Carneiro Carneiro eu sabia que um dia a casa ia cair meu caro , agora ou vai pra Cuba ou vai Sibéria.
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Chu Arroyo dos tempos dos caraminguás
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Chu Arroyo ri muito e achei pouco
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Tatiana Calmon provocado seu texto fica ainda melhor rs...
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Gilberto Truijo TA LINDO DE GRAVATA E SEM CAMISA.
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Vera Padilha Adorei a imaginação!!!!!!
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Rosangela Maria Barrenha eu ri muito e achei pouco 2...
21 h · Descurtir · 2

Fatima Brasilia Faria Adorei saber de onde vem toda a sua grana....rsrsrs quem diria Henrique Perazzi de Aquino, espião russo...
20 h · Descurtir · 2

Fatima Brasilia Faria Adorei saber de onde vem toda a sua grana....rsrsrs quem diria Henrique Perazzi de Aquino, espião russo...
20 h · Descurtir · 2

Ademir Elias kkkkkk
13 h · Curtir · 1

Agnaldo Lulinha Silva Pensa nas coisas boas que você faz e não no que os outros pensão tenha fé
13 h · Descurtir · 2

Paul Sampaio Chediak Alves stalinista da kgb foi muito extremo ... vc é um cara legal até, Henrique Perazzi de Aquino kkkkk
12 h · Descurtir · 2

Carmen Lucia Bezerra Bandeira Pai Henrique, faltou dizer que entra também uma graninha boa "fazendo trabalho" ou tirando olho grande do PC rsr
11 h · Descurtir · 2

Henrique disse...

COMENTÁRIOS NO FACEBOOK SOBRE O TEXTO NO BOM DIA BAURU:

Rosangela Maria Barrenha Aqui é assim mesmo.
Ontem às 09:17 · Descurtir · 2

Juliana Guido Tão Bauru. Eu sempre achei muito estranho estar em reuniões sociais por aí e me perguntarem qual é o meu sobrenome, antes de tudo. Eu não era a Juliana, era a filha do Guido da Caixa Econômica Federal. (Só depois eu virei "a ruiva gorducha do Soul+Blues", porque toda vez que a gente ia fazer show aparecia com foto e tudo no Roberto Rufino, mas antes disso não tinha muito jeito.)
Ontem às 09:18 · Descurtir · 2

Almir Ribeiro Fosse só em Bauru, eu seria um homem feliz.
Ontem às 09:21 · Descurtir · 4

Tatiana Calmon Bauru não é uma ilha meu caro, isso se passa em todos os lugares.
Ontem às 09:22 · Descurtir · 4

Maria Cristina Zanin Sant'Anna Não avançam.
Ontem às 09:24 · Descurtir · 3

Roque Ferreira Henrique, isso é muito mais comum que você imagina. É resultado de uma cultura escravocrata que ainda persiste depositda na terceira geração de senhores de escravos.
Ontem às 09:27 · Descurtir · 7

Silvio Selva tal "adevogado", deve fazer o mesmo que aconselho aos comentaristas fracassados que pululam no "feissibâqui": ser candidato, ser eleito, fazer um projeto de lei e batalhar por sua aprovação. Podem também ser presidentes e mandarem ver num decreto. Podem também, liderar um golpe de estado e impor suas ideias. Pra mim, na realidade, são todos Ramon, muito machos na rede social, mas enfartam a menor ameaça
Ontem às 10:35 · Curtir · 2

Silvio Selva quanto a moça da loja, apesar de ser negro, muitos não me vêem como tal, dizem que sou moreninho, ok. Mas já cheguei fazer o teste: entrar no Tauste com minha inseparavel mochila e de paletó. No dia seguinte, a mesma mochila e bermudas. Já fui barrado. EM lojas de shopping, também já ouvi o tal: "é caro, viu". Fazer o que? continuar lutando né?
Ontem às 10:37 · Descurtir · 2

Aline Rodriguero Dentre muitas coisas que me assustam neste relato, e na atitude das pessoas em geral, a maior delas é a falta de solidariedade. Se pensarmos que os vendedores de loja são em sua maioria "classe média", pessoas que batalham bastante pra sobreviver, é difícil aceitar a necessidade de humilhar alguém que tenha, supostamente, uma vida tão semelhante a dele. É como se a pessoa buscasse alguém em "desvantagem" para extravasar suas frustrações... para que ao menos por alguns segundos possa ser o que não é da pior maneira que encontrou.
Ontem às 12:12 · Descurtir · 1

Henrique Perazzi de Aquino Aline Rodriguero, isso que escreveu é realmente o mais assustador de tudo. Alguém numa situação beirando o semelhante agindo com a mentalidade que não deveria ser a dela e em nenhuma hipótese.
Ontem às 12:21 · Curtir · 1

Alberto Pereira Ah Aline, se fosse mera necessidade pisicologica de extravasar frustrações.
Ê sócio-histórico. Precisa tempo e atitude pra mudar.
Quando iniciei a construção da CaSá da Capoeira, vizinhos do pedaço foram me dizer que não poderia colocar "meu barracão de capoeira ao lado das suas casas.. continuo lá... vai ser ruim dele tirar
Ontem às 12:26 · Descurtir · 2

José Eduardo Avila é o modão do Tião Carreiro e Pardinho é atual....http://youtu.be/YZ-Q_adAizo

Tiao Carreiro e Pardinho-Rei do Gado
Tiao Carreiro e Pardinho
YOUTUBE.COM
Ontem às 17:37 · Curtir · 3 · Remover visualização

Lindomarcio Pereira · Amigo(a) de Alberto Pereira
Ouvindo tantos relatos iguais, cheguei a conclusão que não podemo nos vestir nas a vontade, e sim como ricaços que não somos, para manter o ego de uma meia dúzia de enganados no próprio mundo! essa moda de viola diz tudo, a aparência as vezes engana ....
9 h · Descurtir · 1

Anônimo disse...

HENRIQUE
Bauru é uma cidade adorável para se viver, mas alguém de fora que se mude para lá vai estranhar algumas coisas.
Por exemplo, o fato de se perguntar o sobrenome da família: você não é a Juliana (pelo menos não só ela), é a filha do Rogério Guido da CEF e irmã do João da Inform. (Eu só comecei a ser outra coisa, no caso "a ruiva gorducha do Soul+Blues", tempos depois, porque toda vez que a gente ia fazer show aparecia foto nossa na coluna social.)
E mais, todo mundo sabe da sua vida. Gente que você nunca viu na vida vai cortar o papo para perguntar "ah, então é você que veio de São Paulo para trabalhar com o Fulano de Tal?".
E sim, as mulheres se montam para ir ao shopping. Maquiagem, laquê e jóias, no plural. Para um paulistano acostumado a ir a esses lugares nos fins de semana, todo relaxado de bermuda e chinelo, chega a ser surreal.
Chega a ser engraçado pensar que uma cidade com seus 500 mil habitantes (se eu estiver errada me corrijam), universidades a rodo e uma vida cultural bastante animada possa ainda ter uma mentalidade tão provinciana. Mas eu gosto de Bauru, punto e basta! Não sei se um dia eu voltaria a viver lá, mas é a cidade onde tenho boa parte de minha família e amigos muito queridos. E apesar do estranhamento que nunca deixou de fato esta paulistana empedernida, sou muito bem recebida e me sinto em casa por lá.
Juliana Guido

Henrique disse...

É que por aqui, ufa!, existem os dois lados da mesma moeda. Um agindo como no texto e outro mais cordial, acolhedor e envolvente. É claro, estamos mais ligados e sintonizados nesse segundo. Daí sentirmos amor por essa terra varonil. E esse quadro não ocorre sé em Bauru e sim, por tudo quanto é cidade interiorana.
Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Ai meus lindos chinelinhos,duro mesmo é quando saio direto do jardim com os pés cheio de terra e corro comprar algo que esqueci,ninguem me atende.....socorrro!

Vera Lúcia Padilha Pereira