quinta-feira, 20 de novembro de 2014

RETRATOS DE BAURU (166)


DULCE BATÉ OU DULCE DE TIBIRIÇÁ É O RETRATO DE UMA FAMÍLIA DE RESISTÊNCIA

Sabe aqueles dias em que você não quer se limitar a escrever somente de uma pessoa, mas o fazendo estará, conseqüentemente escrevendo de uma família inteira. Nada melhor do que tentar isso hoje, dia 20/11, o Dia da Consciência Negra, data nacional de resistência e de luta. Aqui em Bauru, a data é lembrada em atividades variadas e espalhadas pelos mais diferentes lugares da cidade. Na mais significativa delas, a forma como uma família de negros faz questão de lembrar a data e homenagear pessoas que se destacaram na defesa e na luta pela conscientização da luta do povo negro. Estive na festa, recebi uma das medalhas e escrevo da mais ilustre dentre tantas por lá presentes.

DULCINÉIA COSMO LEIZICO é pouco conhecida pelo nome completo. Moradora de uma família mais do que tradicional no distrito de Tibiriçá (distante 10km da cidade), os Baté fizeram dali o seu reduto de luta e resistência. Esse fincar de raízes nesse lugar não é de hoje, começou muito tempo atrás e com os avós de Dulce Baté, ou mesmo Dulce de Tibiriçá, como é mais conhecida.
Tudo começou em Resende, estado do RJ, com Vô Nenê, nascido lá em 1894 e migrando para Bauru. Esse casou por aqui com Maria Dulce Pedro Vitório, gerando daí numerosa família. Foi o casal, quem começou nos 13 de maio realizar almoços coletivos para lembrar da data da libertação dos escravos. Em 2003, o almoço mudou de data e passou a ser comemorado em 20/11, dia reverenciando Zumbi e a Consciência Negra. Dulce é a responsável pelo prosseguimento da tradição familiar e faz tudo com requinte, carinho, esmero e dedicação. Além do almoço, diz reunir a família e irem lembrando do nome de pessoas que contribuem para a causa e daí hoje também a entrega da medalha Zumbi dos Palmares. A Dulce e sua família não podem e nem devem serem retratados em tão poucas linhas. São merecedores de um tratado, talvez um catatau com milhares de páginas, mas hoje, até pela falta de espaço me reservo a isso. Dulce é Baté, é também Tibiriçá, é guerreira, batalhadora e antes de tudo uma negra. Hoje ao vê-la chorar pela homenagem da Moção de Aplauso da Câmara Municipal, a emoção foi transferida para todos os presentes, pois o emanado dela e dos seus irradia algo inebriante, inexplicável, mas cheio de muita luz. Viva Dulce!

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