sexta-feira, 28 de novembro de 2014

MEMÓRIA ORAL (170)


A EQUATORIANA DANDO AULAS AOS BAURUENSES – GIOCONDA SE DESCOBRIU PROFESSORA DE ESPANHOL E NUNCA MAIS PAROU
Nesses tempos prevalecendo algo pelas vias da intolerância, quando tudo é colocado num mesmo balaio e a denominação de “bolivariano”, engloba tudo e todos dentro de um raio de ação pelas vias esquerdistas, nada melhor do que conhecer demonstrações explícitas da má utilização do termo. Até os latinos, até então tão bem aceitos entre nós, passaram a ser vistos meio que atravessados, com olhares enviesados. E olha que, Bauru foi palco de uma infinidade deles, áureos tempos da efervescência das ferrovias e do Trem da Morte, um que nos ligava umbilicalmente com a Bolívia. Eles faziam dessa cidade uma bela “terra de passagem”. Muitos ficaram, outros vieram e aproveito o momento para contar a história de uma equatoriana, que acabou vindo aqui morar, ficou e não pensa mais em sair. EMPERATRIZ GIOCONDA AGUIRRE TORRES é seu nome, professora de línguas e aqui estabelecida com um conceituado curso de espanhol e inglês.

Gioconda, como gosta e é normalmente chamada, de certa forma prefere que não a chamem pelo primeiro nome, Emperatriz, pois esse foi um título que seu pai resolveu juntar ao nome escolhido e a acompanhará por todo o sempre. Mora em Bauru desde 1987 e relembra como veio a primeira vez ao país. “Sou de Guayaquil, uma das maiores cidades equatorianas, com mais de dois milhões e meio de habitantes e lá me formei em Ecomomia. Sou graduada na área e meu pai me deu um presente, uma viagem ao Brasil, para fazer compras e montar uma loja. Fiquei quinze dias no Rio de Janeiro e outros quinze em São Paulo, fazendo as compras necessárias para montar a tal loja de produtos esportivos. E no penúltimo dia de minha estadia, conheço por acaso o meu ex-marido e isso dá uma guinada em minha vida”, conta.

Nem é preciso contar que, para uma moça criada dentro dos padrões equatorianos, sua vida sofreu uma transformação. “A loja durou um ano e comecei desde que voltei ao meu país a trocar cartas, e-mails e telefones contínuos com ele. Voltei nesse período umas quatro ou cinco vezes fazer novas compras e em todas o reencontrava. Resultado, casamos no civil em São Paulo, no religioso em Bauru e aqui me estabeleci”, continua seu relato. O casamento não deu certo, mas algo mais descoberto em relação a essa cidade, tanto que daqui não mais saiu. Hoje confessa já fazer mais de sete anos que não retorna ao Equador e muita coisa mudou em sua vida depois disso. “Como economista comecei a pensar esse país e com o dinheiro que tinha consegui fazer alguns negócios que me mantinham, como comercializar terrenos e até comprar uma casa”, diz.

Mas o que fazer após o casamento desfeito? Tudo ainda estava incerto até o momento onde leu pelo jornal um anúncio de um executivo necessitando de aulas particulares de espanhol e daí o click para esse novo momento em sua vida. “A educação no Equador é muito boa, desde a privada como a pública. Muito barata, tipo cem dólares a mensalidade de um Curso de Medicina. A diferença é mera questão de status e as mulheres possuem um alto índice em estudos no meu país. Tive ótimos professores e na universidade três anos seguidos de castelhano, isso para todos os cursos. Existe um lema, uma obrigação seguida por todos lá que é o de ser inadmissível qualquer profissional escrever errado sua própria língua. Daí me vi preparada para dar aulas particulares de espanhol para brasileiros. Tudo começou aí”. Começou e não mais parou, pois fez história por onde passou. Antes da escola em casa teve uma no centro da cidade, outra em outro bairro. Não possuía automóvel e voltando a pé num dia a noite, quase 23hs foi assaltada e daí a idéia de juntar tudo no mesmo lugar.

Aqui mais duas coisas. Uma o fato de não querer mais possuir um veículo próprio. Sofreu um acidente quando teve um e isso a constrangeu, daí disse para si mesmo, não mais. E se dá muito bem sem um quatro rodas estacionado na sua garagem. E depois sobre o não voltar ao seu país por longos sete anos, isso se deve exclusivamente por um simples motivo, o “dos meus alunos, pois como vou fazer para deixá-los sem aulas, algo ininterrupto, saiu um e entra o outro. Não consegui resolver muito bem isso até hoje”, confessa. Conclui o assunto dizendo que folga mesmo tem só em intervalos curtos entre os dias 25 e 31 de dezembro, depois tudo volta à rotina. Isso mesmo, Gioconda ministra aulas na escola montada em sua casa, a ‘Español Global – Escola de Línguas” nos três períodos do dia, preferindo as individuais, mas não abrindo mãos das em grupo, de no máximo 5 alunos, para dessa forma obter o rendimento deles que acha conveniente.

“Tenho comigo que, se o aluno não aprende, prefiro que ele pare de estudar e se enganar. Trabalho na maioria das vezes com adultos e se trabalho com quem não dá conta de suas mínimas obrigações, por favor, não serei eu a mudar seu estilo de vida. Em grupo percebo que uma boa parcela não possui a devida atenção e são muitos aspectos. Levo em conta a vergonha, interesses distintos e até mesmo o professor não tem como ter a mesma atenção da obtida no trabalho individual. Trabalho por resultados, esse meu cronograma, acompanho o que cada um tem a dar e minha maior satisfação é ir vendo eles vencendo etapas”, conta emocionada sobre como gosta de atuar. Nisso percebo um entra e sai na casa. Só dai percebo ser o de sua filha, 21 anos, Carolina, fluente em português, espanhol e inglês, tudo aprendido ali e também em outras escolas. Gioconda confessa, sem contar (e nem lhe pergunto) a idade, mas revela já ter completado 27 anos de Brasil, ou seja, de Bauru.

Como toquei no tema sobre suas aulas, ela faz questão de dizer um algo a mais. “Eu quase não faço divulgação nenhuma de minhas aulas, sendo a maioria no boca a boca. As vezes, muito raramente faço algo pelo jornal ou mesmo pela internet. Na verdade, meus alunos acabam indicando uns aos outros e não posso reclamar de falta de movimento. Não tenho parado, ou melhor, tenho grupos de alunos que vão se renovando e isso é uma forma de reconhecimento”. Sim, ela é uma pessoa feliz, namorado novo, totalmente integrada à cidade, filha bauruense, uns vinte alunos cursando inglês e aproximadamente uns sessenta no de espanhol, casa sempre cheia, movimentada e quase sem tempo para mais nada. Mas não reclama, pois com muitas amizades bem construídas ainda encontra tempo para sair bastante e divertir-se numa cidade que aprendeu a gostar e chamar também de sua.

Por fim, se existe a mais remota possibilidade dela ser inserida nessa provocação de tudo e todos serem denominados de bolivarianos, ela demonstra isso ao dizer: “Adoro ler o Tijolaço e a Carta Capital pela internet. Tenho identificação pela linha de pensamento deles. Vejo também que um povo nunca deve ser aprisionado e o melhor mesmo é a liberdade de ir e vir. Quando autoritário e prepotente, um líder e um Governo estão a agir errados, sendo eles de direita ou de esquerda. A liberdade do meu povo custou muito sangue, a vida de muitas pessoas. Não sofremos uma ditadura cruel como a de outros países e podemos ser considerados um oásis, diante da Colômbia e do Peru, por exemplo. O Equador é um país muito bonito e barato de ser visitado. Dos países ali próximos vejo que a Bolívia é o que hoje está conseguindo realmente se transformar e pela Educação, algo que até então não ocorria e reconheço isso”.
OBS.: Para os interessados a Español Global está localizada à Rua Alto Purus 4-35, Jd. Bela Vista e o seu fone é 14.32324992.

Um comentário:

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:

Maria José Ursolini Parabéns Henrique pelo texto!!Conheço a Gioconda,essa equatoriana linda de viver, é uma pessoa maravilhosa,íntegra,guerreira.Sua história de vida realmente é fascinante, faz jus estar aqui na sua "Memória Oral".Valeu!!!
28 de novembro às 21:40 · Editado · Descurtir · 4

Gioconda Aguirre Muchas gracias Henrique. Ha sido muy bueno conocerte.
Ver tradução
28 de novembro às 20:45 · Descurtir · 3

Paul Sampaio Chediak Alves legal conhecer a Gioconda, Henrique Perazzi de Aquino ... então aproveitemos para mandar u abraço para uma amiga de infância lá no Equador: abração Sonia Gutierres de Britto e família aí no Equador !!!
28 de novembro às 22:47 · Curtir · 1

Caroline Oliveira · 6 amigos em comum
Ótima professora!! Prestativa, educada, alegre, história de vida realmente fascinante!!
28 de novembro às 23:07 · Curtir · 1

Sonia Gutierres de Britto · Amigo(a) de Paul Sampaio Chediak Alves
OiPaul Sampaio Chediak Alves, td bem? Vivi no Equador em Quito por 4 anos e meio, agora estou em Miami, mas com certeza um pedaço de mim ficou, amei viver em Quito e deixei muitos amigos.
29 de novembro às 02:40 · Curtir · 2

Wellington Leite Minha querida mestra!
29 de novembro às 07:05 · Curtir · 1

Paul Sampaio Chediak Alves que legal Sonia Gutierres de Britto (Soninha), não sabia .. então foi por isso aquele 'visu' seu e do maridão, vestidos de Policiais no Halloween .... a tá ...kkkkk ... que legal ... conheci Miami em 96. Era pra ficar um dia só, a caminho de Orlando ....Ver mais
29 de novembro às 11:01 · Curtir · 1

Paul Sampaio Chediak Alves E para a professora Gioconda, vai aí um pedido de amizade ... abração
29 de novembro às 11:03 · Curtir · 1

Luciene Moura · Amigo(a) de Gioconda Aguirre
Mi querida maestra de español , sin duda la mejor de todo, no hay mejor que mí perdone a los otros, yo y mi familia la amamos mucho yo sé que és mi amiga me siento honrada.
Ver tradução
29 de novembro às 15:13 · Descurtir · 2

Wander Florencio Minha querida mestra de espanhol! Eu tive aulas de espanhol com ela lá na Casa da Esperança, no Fortunato Rocha Lima, quando eu morava no Núcleo Habitacional 9 de Julho! iGracias por tudo Maestra Gioconda Aguirre!
Ontem às 14:12 · Editado · Descurtir · 1