sábado, 22 de novembro de 2014

FRASES DE UM LIVRO LIDO (85)


VOCÊ JÁ PAGOU POR SEXO? NÃO? SIM? QUE TAL ALGO MAIS EM UM LIVRO DE QUADRINHOS SOBRE O TEMA – EIS MINHA SUGESTÃO

Até um mês atrás eu lia tudo o que me caia às mãos. E li de tudo. Hoje não mais. Explico. Estou centrando, de trinta dias para cá minhas leituras em temas latino-americanos e confesso, estou gostando muito. Minha última leitura assim ao léu foi um despretensioso livrinho de HQ, emprestado pelo filho HA, 21 anos (vidrado em HQ e pelo visto, no tema, o que demonstra ser uma pessoa sadia). O tema pode parecer problemático, mas para mim nada o é. Discuto esse e qualquer outro tema sem nenhum tipo de neura, problema ou receio. O livro chama-se PAGANDO POR SEXO, uma graphic novel do desenhista canadense CHESTER BROWN (introdução de Robert Crumb – Martins Fontes, SP, 2012, 284 páginas). Chester desiludiu-se com o sexo romântico ao lado de uma só fixa parceira e passou a fazê-lo, de forma regular, pagando pelo mesmo e variando as parceiras. Na qualidade de desenhista ele fez duas coisas ao mesmo tempo. Anotou sua trajetória de anos numa espécie de diário e depois desenhou tudo com diálogos esclarecedores de cada ato, sem deixar pistas de identificação das parceiras que havia saído. Podem achar banal escrever disso, mas não acho. Conheço muitas pessoas que fazem o mesmo que Chester, ou seja, pagam pelas suas relações e não possuem complexo nenhum de culpa por causa disso (tanto homens como mulheres, viu!). Então, nada melhor do que espiar do que (e como) o livro trata o sexo pago.

Crumb, esse craque do traço underground diz na introdução: “Se uma mulher quer cobrar pelo sexo, isso não é da conta de mais ninguém. (...) Todas as prostitutas inteligentes que conheço reviram os olhos diante das tentativas dos liberais bonzinhos de reformá-las. (...) A idéia de um homem pagar por sexo é repulsiva para a mulher comum, uma ameaça ao lar, a família e, claro, ao ideal de amor romântico. As mulheres em geral tem de acreditar nas crenças e histórias negativas acerca da prostituição. Existem tantos comportamentos sórdidos entre casais casados quanto no mundo da prostituição. (...) Boa parte dos problemas que afligem as prostitutas resulta do desprezo que a sociedade tem por elas, a ponto de, muitas terem de manter seu trabalho em segredo”. 


Eis as frases mais significativas que fui coletando dos balõezinhos dos quadrinhos:
- “Nossa cultura impõe a idéia de que o amor romântico é mais importante que as outras formas de amor”.
- “Tenho dois desejos contraditórios: o de transar e o de não ter namorada”.
- “Ter namorado não significa que você tem acesso garantido a sexo a qualquer hora”.
- “Quanto mais tempo os casais ficam juntos, menos eles transam”.
- “Não sou contra a idéia de pagar por sexo. Nunca vi sentido nos argumentos contra a prostituição”.
- “Mas é injusto pagar para transar? É errado uma pessoa de de 30 anos transar com uma de 21? E na circunstância de pagar para fazer sexo?”.
- “Se você quer uma experiência sexual que não seja friae impessoal arrume uma namorada”.
- “Os piores clientes são os bêbados e os que tem p~enis grande. Quem dera todos os meus clientes fossem como você”.
- “O que você faz entre um cliente e outro? Não é tedioso? Não, não... assistimos às novelas”.
- “Será preciso um compromisso para que o relacionamento sexual seja satisfatório?”.
- “O amor romântico é uma mentira e não vou perder mais tempo correndo atrás dele”.
- “Para nós, é natural sentir amor por várias pessoas e desejo sexual por várias pessoas ao mesmo tempo”.
- “Cada indivíduo deve ter o direito por si próprio quando está disposto a arriscar a saúde em alguma situação”.
- “A experiência de pagar por sexo não é vazia quanto a gente paga à pessoa certa”.
- “Duas pessoas têm um relacionamento sexual monógamo que já dura anos. Gostam uma da outra (mesmo que não usem a palavra amor) e uma das duas ajuda a outra financeiramente. Como se chama um relacionamento desse tipo?”.
- “A prostituição é só uma forma de namoro”.
- “Em matéria de direitos sexuais, a genética nada significa. Assim como os direitos dos homossexuais, os direitos da prostituição se baseiam no livre arbítrio e no consentimento. Todos os direitos sexuais se baseiam no livre arbítrio e no consentimento”.
- “Seu corpo pertence a você. E deve ter o direito de fazer do seu corpo o que bem entender, desde que respeite os direitos de propriedade das outras pessoas. (...) Se você respeita os direitos de propriedade dos outros e os trata com cortesia, leva uma vida normal”.
- “As prostitutas não são marionetes passivas e a maioria dos clientes é autoritário. (...) O dinheiro pode levar uma mulher a fazer sexo quando ela não quer. Se isso significa que a influência do dinheiro é maléfica, significa também que o amor romântico é maléfico. Muitas pessoas, em relacionamentos amorosos, transam sem ter vontade”.
- “É possível que o fato de pagar por sexo acabe produzindo no homem uma sensibilidade emocional maior, pelo menos no caso de alguns clientes – aqueles abertos à possibilidade de virem a aprender algo em seus encontros com as profissionais do sexo”.
- “As pessoas são exploradas quando não recebem a justa compensação pelo trabalho que exercem. É verdade que algumas prostitutas são exploradas quando o gigolô fica com quase todo o seu dinheiro, mas nem todas as prostitutas são exploradas”.
- “Devemos permitir que as prostitutas andem ou fiquem em pé nas calçadas? Ora, é claro que sim – quem quer que não esteja na cadeia deve ter permissão para usar as calçadas”.

O apêndice final do livro é até mais saboroso que a obra em si, pois discorre sobre o tema sem nenhum tipo de preconceito e tentando dissecar o tema em todos os seus ângulos. Gostei da obra em si, propiciando um bom entendimento sobre a questão. Para os interessados (as), não na prostituição, mas no empréstimo do livro, digo que, o mesmo já foi devolvido a quem de direito, coisa de dois meses atrás e para empréstimos, terão que se dirigir diretamente a ele, meu filho. Adianto que o mesmo é um tanto chato com empréstimos dessa natureza e até a mim, seu pai, me cobra sobre orelhas, dobras, riscos, amassados e outros problemas em sua capa e folhas. Mas, adianto, vale a pena tentar, pois tanto o tema, como os desenhos e a forma de abordagem é por demais instigante. Ótima leitura para um dia de chuva como hoje.

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