A PROFESSORA E AS ETERNAS EXPLICAÇÕES*
Texto publicado na edição 24, abril de 2015 da revista AZ!, sendo distribuida a partir de hoje em toda Bauru:
Estariam os tempos atuais se tornando obscurantistas? Existem sinais mais do que evidentes nesse sentido. Relato um deles. Mariza Bianconcini Teixeira Mendes é professora aposentada da UNESP, doutorado em Araraquara e com atuação no campus de Bauru, área de Letras, sua especialidade.
Discursos linguísticos e não linguísticos, além de Literatura, Arte, Comunicação e Mídia. A experiência no campo da semiótica a tornou catedrática na análise de textos da mídia impressa e televisiva. E quando faz isso, na maioria das vezes cria caso, pois bate de frente com o pré-estabelecido pela sociedade onde vivemos.
Cabedal para discussão não lhe falta, mas discutir como se a informação hoje chega fracionada, distorcida e favorecendo quem a produz e a distribui? Formou gerações de estudantes dentro de uma proposta crítica, mostrando o que de fato somos e o que muitos gostariam que não fossemos. Uma pesquisadora na acepção da palavra. Foi alvo de intenso ataque quando propôs uma séria discussão sobre um olhar agnóstico em cima dos textos bíblicos. Profana foi pouco quando afirmou que os fatos ali narrados fogem da realidade e não passariam de mitos.
Em sua tese de doutorado No Princípio Era o Poder (Editora Fapesp), transformado em livro em 2009, vai muito além do termo mito. Explica que, podem até terem ocorrido, mas não na exata forma como narrados. Nem isso aplacou muita ira e polêmica.
O reconhecimento do mito e da riqueza do simbolismo contido naqueles textos em nada os desmerecem. Partindo daí estaria estabelecido o bom debate. Querendo impor tudo ali contido como fato consumado não propicia um milímetro de avanço na discussão. Toda cultura possui expressões simbólicas e nelas reconhecemos a identidade cultural de cada agrupamento. A Religião e a Arte são as duas mais fortes expressões simbólicas do planeta.
Até hoje quando diante do tema, Mariza está sempre pronta para responder detalhadamente sobre seu estudo. Tempos atrás, após ler um longo, acalorado e infrutífero debate via redes sociais entre contendores, prós e contras, deu uma resposta bem reveladora, servindo para leigos e não leigos, fiéis e infiéis: “Vou explicar o principal. Jamais quis pesquisar a existência ou não de Deus, apenas analisei o ‘discurso’ que deu origem à crença, que é um discurso mítico como outros tantos; Eneida, Ilíada, Odisseia. Jamais ofendi os que creem”.
As eternas explicações arroladas ao longo do tempo demonstram algo da dita incompreensão humana. Daí o motivo de muitos terem perdido o interesse em debater. A agressão tem sido a primeira reação e os distanciamentos humanos só aumentando. Sinal mais do que entristecedor dos rumos desses nossos tempos.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
OBS.: A revista AZ!, idealizada e capitaneada por Rodrigo Chiquito é a com maior distribuição na cidade, 10 mil exemplares e uma nova proposta, a de fomentar a boa discussão com temas diversos e sem aquilo que permeia a maioria das publicações pelo interior do estado, o jabá. Eis o motivo de estar inserido nesse contexto. Vida longa para a AZ!
2 comentários:
lindo texto, verdadeiro. as pessoas estão tão agressivas que se fecham até para o diálogo. Já não se pode exteriorizar os nossos pensamentos que aumentamos os inimigos(porque ficam inimigos) muito triste.
Rejane Aisling Rocha
Olá, boa tarde!
Tudo bem com você?
Segue abaixo endereço para acesso à edição de abril da Revista Az!, que já está circulando em Bauru e região.
http://issuu.com/revistaaz/docs/az24
Muito conteúdo e muito resultado para quem é parceiro.
Nossa próxima edição, a de maio, já está sendo construída. Venha fazer parte dela com a gente!
Estou à disposição.
Abraços
Att
Bruno Mestrinelli
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