quinta-feira, 9 de abril de 2015

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (77)


MINHA PROFESSORA DE ESPANHOL E DUAS DE MINHAS SOCIOLÓGICAS TRADUÇÕES

Amante dessa América Latina a nos envolver, sempre tive uma imensa vontade de aprender de verdade o idioma dos nossos irmãos, parede meia com o Brasil. A oportunidade surgiu agora e tenho aulas regulares com Gioconda Aguirre Rios, uma equatoriana radicada a mais de uma década em Bauru (contatos para aulas: espanholglobal@gmail.com). Não esperava a dificuldade que estou tendo, uma vez sempre achar o espanhol uma língua fácil. Longe disso, apanho um bocado, mas estou me enquadrando (ou sendo enquadrado pela mestra) e cada vez mais mergulhando na língua predominante no continente. Tenho feito muitas interpretações de textos e mesmo leituras dinâmicas. Ela me instiga e sabendo de minhas preferências políticas e apresenta textos que, além da leitura me possibilitam debater, dialogar mais e dessa forma o aprendizado flui, acredito, de forma mais fácil. Apresento o resultado de minha livre tradução para dois trechos de textos lidos e destrinchados em suas aulas.

TEXTO E TRADUÇÃO 1 – No primeiro, o artigo do jornal argentino Página 12 (esse indicado a ela por mim), edição de 06/04/2015, “La Vigencia de los Buzones” (A vigência dos fofoqueiros), escrito por Eduardo Aliverti. Trata sobre o que alguns denominam de “periodismo de investigação”, mas na verdade é isso: “Ou seja, qualquer coisa mesmo contendo poucos dados, não importando se falsos; quantos números, não importando se ridículos; algumas fontes, não importando se sólidas e certos testemunhos, não importando se relevantes. Longe de ser uma questão somente profissional ou um aporte de frivolidade inocente, o tema encaixa com um algo político bem definido, inescrupuloso, onde operam fatores de direita através de seus tanques midáticos. Os tanques da atualidade, na falta dos históricos”. Dentro do texto o autor faz uma citação a artigo do brasileiro Emir Sader, lido e relido por mim várias vezes e agora transcrito aqui: “O que quer a direita, quais são as propostas para vencer a crise no mundo?: A direita segue em frente, com seus meios de comunicação, seus partidos, seus governos, suas politicas econômicas.
Mas o quer quer a direita? O que a direita tem a propor ao mundo hoje? Que balanço ela faz do seu desempenho? Que perspectiva oferece hoje a direita? (...) que pode propor a direita para a Argentina, por exemplo? Que atitude pode ter frente aos governos que recuperaram o país da pior crise da sua história? Vão questionar o modelo de crescimento econômico com distribuição de renda? Vão sair dos processos de integração regional? Vão diminuir o tamanho do Estado, para voltar a promover a centralidade do mercado? Retomarão as políticas de paridade com o colar? Vão abolir as políticas sociais, que fizeram com que a Argentina se recuperasse dos terríveis retrocessos impostos a seu povo pela ditadura militar, pelo governo neoliberal? Não foi a direita, com o governo de FHC, que levou o Brasil à sua mais profunda e prolongada recessão, com um imenso endividamento com o FMI, de que o Brasil só saiu com o governo de Lula? Não foi a direita que praticamente privatizou a PDVSA, a empresa estatal venezuelana de petróleo, a mesma direita que tentou derrubar o governo legitimamente eleito de Hugo Chávez com um golo em 2002? Foi a direita que tentou privatizar a água na Bolívia, tentativa frustrada pela formidável mobilização do povo boliviano, liderado por Evo Morales. Foi essa mesma direita que tentou dividir ao país, para buscar bloquear os extraordinários avanços do primeiro governo indígena da Bolívia. Foi a direita quem entregou as riquezas equatorianas nas mãos de empresas estrangeiras como a Chevron, que promoveu uma brutal contaminação da Amazônia equatoriana. Foi a direita desse país que teve como candidato à presidência o maior banqueiro do pais. Foi a direita a responsável pelos piores governos que teve o continente: as ditaduras militares e os governos neoliberais. É a direita que quer impor um freio aos avanços que os governos progressistas da região lograram e forçar um retrocesso de gigantescas proporções nesses países. Por que não pode confessar o que faria se ganhasse as eleições, a direita se limita às críticas, à difusão de um cenário pessimista sobre a economia e sobre o país, ao denuncismo vazio. Porque só se um país vai mal, a direita pode ir bem”.


O artigo é longo é pode ser lido em espanhol clicando a seguir: http://www.pagina12.com.ar/diario/elpais/1-269807-2015-04-06.html. Estou me deliciando com as traduções que tenho feito. Essa uma delas e assim estudo.

TEXTO E TRADUÇÃO 2 – Esse foi Gioconda quem trouxe à baila, trata-se de uma entrevista do sociólogo espanhol Manuel Castells, “La Sociabilidad real se da hoy em Internet” (A real sociabilidade se dá hoje na Internet) e consta de prova escrita de Língua Espanhola e Portuguesa para admissão à carreira de Diplomata. A entrevista é longa e pode ser conferida clicando a seguir: http://ssociologos.com/2013/08/04/manuel-castells-la-sociabilidad-real-se-da-hoy-en-internet/. Pincei frases esparsas ao longo da entrevista e as junto com o intuito de ampliar discussão sobre esses problemas todos advindos e provocados pelo autor: “Aprendi que as relações de poder são fundamentais em toda sociedade. Quem tem poder organiza institucionalmente nossas vidas em função dos seus interesses e valores. (...) Aprendi que sempre há um contrapoder. (...) Os movimentos sociais não buscam tomar o poder, eles buscam mudar a mente das pessoas. (...) Todos os grandes mudanças sociais saíram desses movimentos. (...) O pior que pode ocorrer a um movimento social é sua transformação no mesmo que combate. Conquistar o poder para fazer o mesmo do mesmo, como ocorre com a social democracia, sepulta a legitimidade do processo. (...) A ideia de que só se chega ao poder fazendo o jogo dos que estão no poder é histórica e empiricamente errônea. Dessa forma, todos os movimentos sociais terminam sendo cooptados e destruídos. Nunca ganham como movimentos sociais. (...) As lutas sociais que ocorrem hoje não são definitivamente lutas de classe. São lutas por direitos humanos. A palavra para todas essas luta é dignidade. Se produz um efeito de indignação em defesa da dignidade, uma explosão espontânea de gente que se sente humilhada constantemente por um sistema político. Não é uma luta de classes. (...) Saem de uma experiência de exploração e aí se pode expressar que exista uma estrutura de classe na sociedade. A única luta de classe está se dando na China. (...) Em todo o mundo estamos em um processo de individualização dessas relações. (...) Dessocialização das grandes concentrações de trabalho e formação de redes de trabalho, pequenas e medias empresas trabalhando para grandes empresas que estão descentralizadas e numa rede global com outras empresas. (...) São movimentos que se iniciam pela rede, desde ali vão e vem ao espaço urbano. Partem de uma indignação espontânea e ante tudo definem sua dignidade. (...) Em questão de objetivos programáticos, possuem tantos programa e não possuem nenhum. Não há um objetivo nem numa ideologia em comum e em todos os casos o tema central é a democracia. (...) Não possuem um modelo definido. (...) Sou feliz escrevendo, investigando, ensinando, isto é o centro de minha vida”.

Após ler e reler, buscar as palavras mais complicadas e chegar num denominador comum, ei que o comentário de Gioconda encarra tudo com um fecho de ouro: “Isso sim é que é ser sociólogo, não esse aqui de vocês, o FHC”. Rimos muito na concordância. Viva meus estudos de espanhol e minha professora de mente muita aberta!!!

Um comentário:

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:

Manoel Carlos Rubira Você nem falou do Florestan Fernandes, Octávio Ianni e outros prá ela, Henrique? O FHC é cientista social???
Ontem às 18:31 · Descurtir · 3

Manoel Carlos Rubira Maravilhosa a mestra Gioconda!
Ontem às 18:32 · Descurtir · 2

Arthur Monteiro Junior um grande beijo pra Gioconda, querida amiga!
Ontem às 18:33 · Descurtir · 3

Wellington Leite querida, Gioconda!
Ontem às 19:22 · Curtir · 2

Joel Bernardes Queiroz Queiróz · Amigo(a) de Gioconda Aguirre
Parabens.
Ontem às 21:19 · Curtir · 1

Gioconda Aguirre Muchas gracias Henrique por tu cariño. Yo también aprendo muchas cosas de ti, ya que eres inteligente. Tú haces que las clases sean muy divertidas y productivas.
Ver tradução
Ontem às 21:43 · Descurtir · 2