domingo, 5 de abril de 2015

CARTAS (139)


ALCEU E A NOSSA FALTA DE DIÁLOGO*
*Uma carta que seria para o jornal, mas não sendo publicada, sai aqui e no blog Mafuá do HPA:

O show do Alceu Valença no SESC no último sábado (28/03) foi além das expectativas. No palco um artista sintonizado com a platéia. Cantou e encantou. Na platéia, uma junção cada vez mais difícil de ser vista nos tempos atuais. Pensamentos diversos, todos ali, juntinhos da silva e cantando todas as canções a plenos pulmões. E olhem que no palco, um típico nordestino, um dos alvos principais da revolta de muitos dos ali vistos. Mas como? Podem até me dizer que uma coisa é a música e outra a política. Não me convencem de nada. Alceu sempre foi possuidor de uma postura das mais firmes em relação às nossas desigualdades. Preciso no campo pessoal, político e musical. E mesmo assim, vi ali muitos dos que estiveram se digladiando até então e no momento do show cantando juntos.

Olha que nem em jogos da seleção brasileira de futebol isso parece ser mais possível. Qual seria a fórmula mágica do Alceu para conseguir unir no mesmo invólucro a água e o óleo, o sal e o açúcar, o joio e o trigo? Esse artista é mesmo genial e naquela hora e meia, o cara que havia esbravejado nas ruas contra o nordestino pelo fato dele ter sido decisivo para reeleger Dilma, ou esqueceu momentaneamente da desfeita desferida, fez vista grossa ou relegou para outra oportunidade a continuidade da contenda.

Na saída converso com um amigo economista e falamos exatamente disto. “Precisamos é exatamente nos desbestificarmos todos. Essa necessária troca de culturas, opiniões e no bom confronto a constatação do quanto agimos influenciados por bestiais divisionistas e muito de um arcaico reducionismo. Falta-nos isso aqui, daí a importância dos grandes propagadores culturais. Ele aglutina o que parece estar querendo se desmembrar”, foram mais ou menos essas suas palavras. Juntou mais gente e a conversa enveredou para outras vertentes. Todos ali muito sorridentes, contentes da vida, falando maravilhas do Alceu, o bom velhinho (que ele não nos leia).

Paro tudo e tento entender a situação. É evidente ser uma grande besteira essa babosidade dos que pregam uma divisão do país. Algo muito do sem pé nem cabeça. O que falta hoje para os do dito ‘Sul Maravilha’, acredito sobre para os que outrora votavam com ‘cabresto eleitoral’, ou seja, capacidade de dialogar. Primeiro sacar que, se existe eleição é bom respeitá-la, depois respeitar mais ainda a opinião alheia. Esse negócio de impor uma já deu o que tinha que dar. Alceu já sacou faz tempo que, se as coisas hoje não estão pra lá de boas, já estiveram pior. Caminhamos entre erros e acertos e chegamos até aqui. E daí uns apostam até no andar para trás, tudo para fazer valer a sua vontade. Isso aqui poderia ser um maravilhamento sem fim se estivéssemos de fato lutando pelo fim da corrupção e dos desmandos, mas não é nada disso que está em curso. E se o Alceu consegue juntar os injuntáveis, o que de fato estaria pegando? Ou será que hoje, passados poucos dias do show já estariam todos se pegando novamente?

Não estariam todos sendo bobeamente conduzidos para a fragmentação, algo levando o país para um buraco sem fim? Renovar é mais do que preciso, extirpar o ruim idem, mas sem retroceder. Letras de músicas com igual teor a essas todas do Alceu nos falam tanto de um mundo novo, nos incitam a buscar o ‘eldorado’ e, no entanto, permanecemos aqui brigando e nos esfalfando, tudo para continuarmos todos enfurnados dos pés a cabeça no mundo velho e arcaico. Só nós mesmos. Viva Alceu e todos os ainda bons de cabeça.

Um comentário:

Anônimo disse...

meu caro Henrique

Gosto demais de suas provocaççoes e após ler sua carta acredito ter entendido dos motivos da nã opublicação no tal jornal local. os paulistas poderaim não gostar do enun ciado e choveriam cartas dizendo que isso que diz não existe e que tu é um cara cheio de ódio e coisas ruins no coração. Foi por isso.

Aurora