quarta-feira, 22 de junho de 2016

FRASES DE UM LIVRO LIDO (104)


EU ME APAIXONEI PELAS “PEDRINHAS MIUDINHAS” DO CARIOCA SIMAS

Estive duas semanas atrás no Rio de Janeiro e conto aqui algo ocorrido por lá. Toda vez que passo pelo centro do Rio faço questão de rever o Rodrigo Ferrari, lá na livraria mais carioca de todas, a Folha Seca, localizada na rua do Ouvidor 37, centro velho e reduto de bons reencontros. Rodrigo estava revoltado naquele dia, pois tinha acabado de ser notificado que não poderia se utilizar da frase “ano olímpico” na vitrine da loja (https://www.facebook.com/daniel.a.deandrade.90/posts/10206639952824630). Como sempre, fiquei à vontade e também como sempre, desde mais de uma década atrás, passo e levo algo. Dessa vez, escolhi a dedo e pelo título do livro “PEDRINHAS MIUDINHAS – Ensaios sobre ruas, aldeias e terreiros” (Editora Morula RJ – www.morula.com.br), do ilustre professor de carioquice Luiz Antonio Simas. Fiquei zanzando pelo Rio naquela tarde e depois voltei de ônibus no dia seguinte para Bauru. Não consegui dormir, mesmo com o frio enquanto não terminei a leitura do danado do livrinho. Foi identificação à primeira vista e como indico para tudo, todas e todos, deixo junto como espécie de tira gosto algumas frases sacadas das crônicas de 132 páginas devoradas e redevoradas, algumas várias vezes. Grifo todos meus livros e nesse quase acabei a caneta marca-texto. Não consigo tirar o danado de cima de minha mesa e logo na abertura, num escrito do poeta Manoel de Barros, um dos motivos por ter gostado tanto: “Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas. E me encantei”.

Sintam o que veio a seguir e foi por mim grifado:
- “Nas histórias que conto, por prazer ou ofício, não cabem grandes batalhas, feitos extraordinários, líderes políticos, gênios da humanidade, efemérides da pátria e similares. Esclareço, portanto, para abrir a gira. Acontece que não me sinto confortável nos jantares requintados, dentro de ternos bem cortados, nos salões da academia ou nos templos suntuosos. (...) Eu sou maravilhado pelas pedrinhas miudinhas, nelas me vejo e dela faço meu pertencimento”.
- “Os homens que me civilizaram chegaram às praias do meu país nos porões infectos dos tumbeiros e foram vendidos e marcados feito gado no mercado”.
- “O Brasil em que fui criado passa longe, muito longe, de salões empedernidos, bancos acadêmicos, bolsas de valores, altares suntuosos, restaurantes chiques e esquinas elegantes. O Brasil dos meus olhos de criança e das minhas saudades de adulto é o dos campos de futebol, mercados populares, terreiros de macumba e rodas de samba”.
- “Fujo de responsabilidades que impliquem em dar ordens a alguém. Canto Noel, João do Vale, Wilson Batista, Geraldo Pereira e Pixinguinha enquanto trabalho e vejo nisso, como no batuque, um privilégio. (...) ...e tenho a decência de não almejar fortuna”.
- “O sujeito tratava os vinhos com uma intimidade impressionante e parecia um psicólogo descrevendo a perfil emocional da bebida: ‘é um vinho que a princípio se mostra tímido, mas aos poucos revela um caráter agressivo e grande responsabilidade’. Dei um jeito de pular fora”.
- “O botequim é o anti-shopping center, a recusa mais veemente ao corpo irreal dos atletas olímpicos ou ao corpo pau de virar tripa das anoréxicas, sintomas da doença comum desse mundo desencantado:: metáforas da morte”.
- “Não sou um homem de fé; sou um homem de ritos. (...) Só compreendo a devoção quando ela se manifesta em reza, festa, dança, batuque, comida e camaradagem. (...) Se a fé me falta, sobra o apreço pelos ritos do povo”.
- “A arte da criação e o exercício da simplicidade generosa é, para os filhos de Ogum, o descanso na loucura e a única maneira de domar o inimigo que (me) espreita ao final de cada jornada”.
- “Comemoro gols de todos os atacantes que não vi jogar, defendo pênaltis perdidos, apoio amores desvairados, serestas ao luar, rodas de capoeira, cachaças pros santos e beijo a nobreza em mãos calejadas. Navego rios imundos, sou carpideira de suicídios das putas, brindo em copos quebrados aos beijos partidos, aos cantos dos fodidos e aos passos gingados. A cidade, emaranhada em mim, comove feito o diabo. Porque é hoje”.
- “...divinas são as damas dos cabarés e todas as boas fodas”.
- “O homem justo bebe cerveja como quem reza, reza com o fervor amoroso de quem toma umas geladas com os do peito no boteco da esquina e sabe que ninguém faz amizades tomando leite em balcão de padaria”.
- “Amante que sou das miudezas que bordam e iluminam as histórias dos homens”.
- “A educação precisa, urgentemente, assumir a única tarefa hoje digna deste nome: deseducar. Aos professores cabe a condução da tarefa desafiadora de deseducar as gerações. É ela que me estimula”.
- “Há um senhor de engenho morando em cada brasileiro, adormecido. Vez por outra ele acorda, diz que está presente, se manifesta e adormece de novo, em sono leve”.
- “Às armas, pois, meus camaradas! Sigam-me os que forem baderneiros, bradarei feito um general da banda à sorrelfa”.


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