A GREVE NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS PAULISTAS É NA GRADUAÇÃO – E SE PARASSE A PÓS GRADUAÇÃO E A PESQUISA?
Estou acometido por certa ANGÚSTIA, ocasionada pela GREVE em curso em várias universidades paulistas, em especial na UNESP Bauru, onde tento terminar meu mestrado. Nada contra a greve, aliás, tudo a favor. A insanidade do Governo do Estado de SP, na pessoa do governador do Estado, Geraldo Alckmin, encurralando cada vez a Educação é uma decisão mais do que tomada, a de sucatear cada vez mais essas unidades, para vir com a privatização e de cima para baixo. A movimentação nesse sentido é algo perceptível a cada novo passo dado e o dessa greve, uma luta reivindicatória, que ele tenta a todo custo fazer uso ao contrário, ou seja, se apropria dela para incrementar suas intenções maléficas. Sintam o drama.
Penso sobre essa greve algo que a muito me acomete. A graduação é para mim o fator mais importante dentro de uma universidade, a base de formação de qualquer pessoa, não deve parar nunca e assim deve ser entendida, só que para o insensível e atual Governo (não só estadual como o interino federal do golpista Temer). Percebo que a cada nova greve estão cada vez se lixando menos com a questão universitária e tratando, cada vez mais, sem nenhum respeito. A greve é feita, os alunos ficam sem aula, o campus praticamente parado e sem grandes possibilidades de negociação. Não existe nenhum interesse do governador em negociar nada com os grevistas enquanto só a Graduação estiver parada. Nesse momento em que o país vive, vejo uma situação muito difícil para servidores, professores e alunos. Pode acontecer nessa greve o mesmo que acaba de ocorrer com a greve dos servidores municipais de Bauru, que para surpresa geral tiveram todos os dias parados descontados no pagamento feito no início desse mês. Esperem para ver, a coisa vai endurecer e enquanto perdurar esse regime golpista tende a piorar.
Sabe o que poderia ocorrer para fazer o governador se sensibilizar? Na minha modesta visão o que deveria de fato parar não era a graduação. Essa deveria continuar tendo aulas, mesmo que fosse fora das salas dos campus. Até debaixo de arvores ou em salas emprestadas, mas sem a interrupção das aulas. Uma greve que sensibilizaria o governador é na da Pós Graduação e na Pesquisa, paralisando todos os projetos em andamento de pesquisa, mestrado e doutorado. Esses dois segmentos estão associados a interesses outros, em todas as áreas de conhecimento, inclusive com financiamentos e verbas internacionais. Fácil identificar muitas pesquisas com milionárias verbas em todas as universidades paulistas e quando isso pára, vai gerar de imediato uma revolta em quem está bancando grana.
Daí sim, o governador vai começar a se mexer e buscar uma solução para a greve, pois a mesma estará associada à engrenagem financeira que move o mundo que nos cerca. Ele seria cobrado e teria que dar respostas. Essas duas áreas, a de pós e de pesquisa criam estatísticas para a universidade, geram repasse de verbas e chama a atenção a todo instante para a sua produtividade. E isso não está parado, isso continua em pleno funcionamento e com isso tudo fora da greve, o governador está pouco se lixando em tomar as providências de atender as justas reivindicações feitas pelos grevistas. Pensem nisso? Tenho ou não razão?
5 comentários:
Prevendo a privatização da Unesp e da USP em Bauru
Angelo Sottovia Aranha - Opinião Jornal Cidade, 15/06/2016
A julgar pelas medidas que vêm sendo tomadas pelo governo do Estado de São Paulo, fica cada vez mais claro um projeto para a privatização das universidades públicas. Sim, de privatização, como a privatização indireta que já se fez com a pré-escola e com o ensino público fundamental e médio. Ou seja, as relações de trabalho e as condições de ensino foram tão precarizadas que quem pode pagar já opta por escolas privadas. Contudo, é bem pior o quadro no caso do ensino superior; vislumbram-se propostas sugerindo a cobrança de mensalidades na Unesp, na USP e na Unicamp, apesar do artigo 205 da Constituição assegurar a Educação como direito de todos e dever do Estado.
As autoridades eleitas ou nomeadas pelos eleitos, se examinadas por neurologistas, certamente receberiam diagnósticos constatando sintomas de amnésia transitória, no mínimo. E se verificaria que essas perdas de memória teriam ocorrido justamente quando discutiam e decidiam sobre o destino do Ensino Público Estadual. Teriam esquecido – os parlamentares que decidem onde serão aplicados os recursos previstos para o Orçamento do Estado – que as escolas públicas eram referência de boa qualidade até a década de 1970. Da rede pública saíam os estudantes que ocupariam os bancos da USP e depois da Unesp e da Unicamp, e também do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA. Essa suposta amnésia temporária dos políticos teria feito com que as autoridades esquecessem a importância que têm os médicos para a sociedade, que têm os engenheiros, os administradores, os dentistas, os matemáticos, os físicos e os químicos, enfim, que se esquecessem de todos os especialistas que dão mais autonomia ao Brasil e tornam a vida mais leve e civilizada.
Os responsáveis pelos destinos do Ensino Público teriam esquecido que são os professores, com sua abnegação, os educadores que contribuem para a formação de todos esses profissionais competentes, sem os quais a economia brasileira estagnaria e o país continuaria dependente em todas as áreas. Teriam esquecido que professores são mais que docentes, pois são educadores que estimulam a reflexão para o desenvolvimento da cidadania e da postura ética que valoriza e legitima o Estado Democrático de Direito. Pois é, nesse contexto aconteceu na quinta-feira, dia 9, na Câmara Municipal de Bauru, a audiência pública em que se debateu o orçamento do governo de São Paulo para o próximo ano.
continua
continuação
Representantes de vários setores sugeriram projetos com potencial para se tornarem emendas parlamentares que resultem em investimentos na cidade, entre eles os do setor da Educação.O representante da Unesp explicou a necessidade de se rever o financiamento das universidades públicas paulistas, tendo em vista que os 9,57% da arrecadação do ICMS que cabem às públicas já não são mais suficientes. E explicou: esse percentual foi definido na década de 1990 e de lá para cá foram criados novos câmpus e novos cursos de graduação e pós-graduação sem que se aumentasse o repasse de recursos financeiros. Devido a essa grande expansão sem o aumento proporcional dos recursos de custeio, não são repostos nem os técnicos-administrativos e docentes que se aposentam, não se faz a manutenção adequada das instalações e laboratórios, não são ampliadas as bibliotecas, enfim, há muito tempo é imprescindível o repasse de, pelo menos, 11% do ICMS, considerando-se também o grande crescimento da USP e da Unicamp.
No entanto, entre as demandas sociais apresentadas – que dependem de previsão orçamentária – o que mais chamou a atenção nessa reunião foi o apoio à proposta de criação de um curso de Medicina na Faculdade de Odontologia de Bauru, a FOB-USP. Seria ótimo, sem dúvida. Resta saber de onde sairia o dinheiro para tanto, tendo em vista que os deputados estaduais ainda não aprovaram o aumento do percentual que cabe às três universidades públicas paulistas, e que a USP gasta 105% do seu orçamento apenas com a folha de pagamento. É urgente, para que se garanta o direito à educação pública, gratuita e de boa qualidade, que a Assembleia Legislativa aprove, primeiramente, o financiamento adequado dos cursos superiores já oferecidos pelas três universidades públicas de São Paulo.
O autor é professor da FAAC-Unesp
O desmonte das universidades públicas paulistas
Francisco Rolfsen Belda - Opinião Jornal da Cidade 06.06.2016
Em um contexto de greves, paralisações e manifestações a se alastrar pelos principais campi do estado, a sociedade paulista está chamada a debater e decidir, com urgência, qual modelo de universidade pública quer manter e oferecer para a atual e as futuras gerações. Há dois projetos em jogo.
Um deles significa aprimorar os mecanismos de financiamento e de gestão que, até hoje, garantiram que USP, Unesp e Unicamp conquistassem prestígio nacional e internacional ofertando ensino superior gratuito e de qualidade, pesquisas científicas e tecnológicas de alto impacto e serviços de atendimento social e comunitário em áreas de saúde e educação básica, entre outras, como os do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, o Centrinho, da USP, e dos cursinhos pré-vestibular Principia, Primeiro de Maio e Ferradura, da Unesp, em Bauru, amplamente reconhecidos pela população.
O outro projeto em jogo significa o desmonte gradativo dessa estrutura — e que já está em curso, mediante uma sistemática defasagem nos recursos destinados pelo governo estadual ao custeio dos programas de ensino, pesquisa e extensão que, ao longo das últimas décadas, expandiram-se para garantir a formação profissional e ampliar as oportunidades de emprego e geração de renda para mais de um milhão de egressos de seus cursos de graduação e pós-graduação, além da construção de um patrimônio público inestimável dedicado à ciência e à tecnologia em mais de 30 campus em todas as regiões do estado.
Falta de professores, corte de bolsas, encerramento de projetos de extensão, desvinculação de hospitais universitários, sucateamento de laboratórios, prédios com manutenção deficiente e arrocho salarial são apenas algumas das faces mais visíveis desse desmonte. Em alguns casos, a situação chega às beiras do ridículo, com a falta de papel higiênico, sabonete e toalha de papel nos banheiros. Sem contar inúmeros serviços que só não estão sendo desmontados agora porque, a rigor, nunca chegaram a existir na forma e amplitude devidas, como moradias, refeitórios e transporte coletivo para estudantes de baixa renda.
continua
continuação
Um argumento geralmente usado para apoiar o desmonte alega ser “injusto” usar o dinheiro público, que é de todos, para bancar ensino de excelência para “alguns privilegiados”. Considerada de relance, a tese parece ter sentido, mas é falsa, assim como a ideia de que o parque universitário paulista poderia ser gerido com “mais eficiência” se fosse vendido ou concedido à administração privada. Neste caso, mais ou menos pode ser apenas uma questão de perspectiva, já que uma gestão eficiente muitas vezes visa, prioritariamente, a ampliação das margens de lucro de quem explora a educação como um serviço particular, e não como um direito social — aliás, como dizia meu avô, quem desdenha, geralmente, quer comprar.
Inúmeros estudos sobre desenvolvimento internacional provam que formar quadros qualificados e promover ciência e tecnologia de qualidade são investimentos que produzem efeitos colaterais benéficos a toda a sociedade, e não apenas aos indivíduos que conquistaram propriamente um diploma ou um título de pós-graduação. Em países ditos desenvolvidos, onde algumas universidades datam de mais de três séculos, sobram exemplos de como a produção intelectual e a disseminação e a aplicação do conhecimento estão diretamente relacionadas com o avanço de indicadores socioeconômicos mais amplos, por exemplo, na produtividade do trabalho e na redução dos gastos com licenciamento e importação de tecnologias.
Mas se, lá fora, as melhores universidades são financiadas principalmente com dinheiro privado, via matrículas, doações e fundos empresariais de pesquisa (além, é claro, das encomendas tecnológicas de órgãos governamentais), é preciso reconhecer que países como o Brasil ainda não podem prescindir do papel do estado no fomento e no financiamento do ensino e da pesquisa de qualidade, haja vista o reduzido poder aquisitivo da maioria das famílias, a falta de estímulo tributário à filantropia e a obtusa cultura de distanciamento entre as atividades acadêmicas e o mundo corporativo daqui, que ainda prefere importar soluções a desenvolver e implementar inovação em parceria com a universidade.
Além disso, nos últimos anos, políticas afirmativas passaram a garantir um número expressivo de vagas a estudantes negros e de outras minorias étnicas ou oriundos de escolas públicas, minimizando uma distorção histórica que sempre imperou no acesso ao ensino superior no Brasil. Se é verdade que, em cursos como o de medicina (um exemplo clássico, mas enganoso, devido à sua especificidade), filhos da elite ainda ocupam a maioria das vagas gratuitas, não é menos certo afirmar que, na maioria dos cursos universitários públicos, atualmente, o cenário demográfico é outro, e sobretudo na Unesp, onde o avanço dessas políticas se dá de modo mais acelerado, ainda que não sem contradições.
continua
continuação
Por fim, a pauta salarial dos professores e servidores técnico-administrativos, que entraram novamente em greve na semana passada, em diversos campi paulistas, é um item importante e que também deveria preocupar quem, estando fora dos círculos acadêmicos, ainda defende um modelo de excelência para essas universidades. Afinal, o achatamento gradativo das remunerações vai, aos poucos, afastando os melhores talentos do ensino público, fazendo com que se percam décadas de investimento na formação e qualificação de recursos humanos de nível superior. Em alguns departamentos, a fuga de cérebros já começou e, sem recomposição dos salários, irá se agravar.
Ainda assim, acredito ser possível que docentes e servidores relativizassem o impacto de suas perdas salariais caso vislumbrassem um projeto estratégico mais amplo, que lhes devolvesse uma perspectiva de desenvolvimento profissional e de melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão que são, por dever de ofício, mas sobretudo por vocação, obrigados a ofertar. Por isso, o atual movimento de greve não é apenas pela reposição da inflação no valor dos salários e sim, principalmente, em defesa da universidade pública de excelência e gratuita em benefício da comunidade, com vasto apoio entre estudantes e outros setores sociais.
Aperfeiçoar e corrigir aspectos do atual modelo de gestão e financiamento das universidades públicas do estado de São Paulo, bem como dotá-lo de maior transparência no modo como aplica seus recursos, é certamente necessário, e isso deve ser debatido de forma ampla e participativa pela sociedade paulista e suas lideranças políticas. E a hora é agora. Mas usar essas supostas distorções para justificar um desmonte ou mesmo a privatização desses serviços e desse patrimônio só pode ser obra de uma política que esteja francamente a favor do atraso científico, tecnológico e educacional do estado. Ou, pura e simplesmente, de sua inação.
O autor é jornalista, professor do Departamento de Comunicação Social da FAAC, Unesp, câmpus de Bauru.
Postar um comentário