sexta-feira, 12 de agosto de 2016
FRASES (146)
OS DESANIMADOS DIANTE DA FESTA OLÍMPICA – EU E O ZÉ SOMOS ALGUNS DELES... “Acabo de fazer uma descoberta pessoal de natureza genealógica. Não sou deste planeta, sou um ET, um Extra-Terrestre. Sou a única pessoa que conheço no planeta que não tá contagiado pelo tal "espírito olímpico". O que me consola é só que faltam 196 dias para o carnaval, única época do ano em que os ETs se sentem em casa.”, ZÉ FILHO, meu amigo carioca, funcionário público federal e sofrendo horrores dentro do seu local de trabalho, pois assume publicamente em sua página nas redes sociais ser pelo “Fora Temer”.
Estive no Rio semana passada e assim como o Zé, não me deixei contagiar pelo tal do espírito olímpico. Foi triste demais ouvir da boca do amigo algo assim: “Havia comprado vários ingressos, para muitos jogos, mas diante dos últimos acontecimentos, perdi totalmente a vontade de ir em qualquer um deles. A Cláudia, minha esposa ainda vai em alguns, mas não vou em mais nenhum. Como posso torcer pelo Brasil, vendo o que estão a fazer com o Brasil. Não tenho estomago para engolir isso”.
Falávamos disso na tarde do domingo retrasado, 07/08, diante do samba que rolava solto defronta e Livraria Folha Seca, lá na rua do Ouvidor, centro do Rio. Quase ali ao lado, coisa de menos de duzentos metros estava armado um imenso palco, no Boulevard Olímpico da Praça Quinze e por lá, gente de muitas nacionalidades, food trucks revendendo de tudo, som e festa. Circulei por ali, tirei fotos, recolhi folhetos, mas não senti a mesma empolgação do samba que rola todo domingo num dos melhores lugares do Rio de Janeiro na atualidade, o com a cara mais autêntica desse ainda maravilhoso Rio. Sai do Boulevard e cai de boca no que vi na autenticidade dessa cidade.
Sim, quero me empolgar com o país. Cheguei a vibrar com a medalha ganha pela judoca Rafaela Silva, da Cidade de Deus e por tudo o que ela representa. Esse país me diz muito, esse que saiu dos grotões, viu e venceu na raça, com alguma ajuda na forma de patrocínio e programas sociais de um Governo que os golpistas estão a deletar, colocando em seu lugar, algo nefasto até o último fio de cabelo.
Como posso vibrar com aqueles ainda envergando a camiseta verde-amarela como se fossem os bastiões da moralidade e esbravejando contra os argentinos nas ruas. Vi isso e me enojei. Aliás, depois dos brasileiros, é claro, o que mais vi pelas ruas foram argentinos. Sempre alegres, em bando, unidos e fazendo questão de botar o bloco na rua. Os invejo. Estava lá no dia em que o tenista deles, o ótimo Del Potro venceu o número um do mundo, o Novak Djokovic e, mesmo não assistindo o jogo (nem pela TV), ouço os comentários, um atrás de outro, de como os brasileiros fizeram questão de hostilizar os Hermanos como se a Guerra da Cisplatina ainda estivesse em pleno curso. Culpabilizo os narradores bestiais que temos, tipo o Galvão Bueno da Globo, que sempre instigou nesse besta provocação.
Assim como Zé não quis ir a jogo nenhum. Afinal, estava lá por outros motivos e de segunda a quinta permaneci num Congresso Acadêmico em Nova Iguaçu, mas sempre existem horas vagas. Usei-as de outra forma. Circulei pela cidade, pelos seus cantos cheios de encantos. Lá também me deparei com muitos turistas e percebi que, nem eu, nem o Zé somos os únicos dispostos a buscar outros ares em plena Olimpíada. Um outro amigo me diz textualmente: “Aproveite, pois outra por aqui, nunca mais”. Mas, aproveitar como, se o que estão a fazer com o país é de uma crueldade dessas de me tirar o ânimo de qualquer consciente cidadão. Eu não estou mais em idade de fingir, nem de dourar a pílula. Aproveitei os momentos lá passados convivendo com os na rua e de tudo o que vivenciei, volto recarregado. Os muitos “Fora Temer” que trombei naqueles dias me deu força para continuar lutando, mesmo ciente de que nesse jogo de cartas marcadas, nem confiar na lisura de um Judiciário é mais possível. A resistência percebida é a mesma que me faz continuar na lida.
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