CENA BAURUENSE (150)

O RECONHECIMENTO RECEBIDO E ALGO SOBRE UM TERRITÓRIO "AINDA" LIVRE NA CIDADE

1.) O RECONHECIMENTO
Esse me acontece assim do nada, inesperado e muito me enaltece. Envaidecido fico, diria derretido, se desmanchando como manteiga aquecida. Ao final da tarde, paro o carro para atender um telefonema. Era uma antiga amiga, Celinha, hoje assessora parlamentar do vereador Markinhos da Diversidade. O motivo é me comunicar que serei agraciado na próxima terça, 23/08, 20h, na Câmara Municipal de Bauru, sendo um dos premiados com o troféu “EU FAÇO A DIFERENÇA”, entregue para personalidades (viu que chique), empresas e instituições que se destacaram no combate ao preconceito e à desigualdade em Bauru, evento dando o pontapé inicial na Semana da Diversidade 2016, cujo tema deste ano é “Eu voto contra o preconceito”. Dentre tudo o que escrevinho por aqui e alhures, sempre tive como um dos temas principais a luta contra a discriminação (em sua totalidade), principalmente a que são submetidos os segmentos ligados ao movimento LGBT. Agora mesmo, publico abaixo algo referente ao tema e como sempre, com uma leve pitada de polêmica no ar.

2.) UM TEXTO JÁ ESTAVA NO PRELO SOBRE O TEMA EM QUESTÃO

O “SÍTIO” É UM DOS ÚNICOS LUGARES DE BAURU ONDE OCORRE PROSTITUIÇÃO SEM COBRANÇA DE PEDÁGIO
Não tenho certeza da procedência do termo “sítio” para designar um dos locais mais famosos de prostituição em Bauru. Sei é que ele existe e já foi motivo de inúmeras matérias jornalísticas. Está localizado ao lado da rodovia que dá acesso a Bauru à Jaú, mais especificamente ao lado do motel Riviera, entre o campus da Unesp e um braço dessa rodovia. Para facilitar sua localização, do outro lado da pista estão o SAGAE e o motel Tropical. Durante o dia todo (manhã, tarde e parte inicial da noite), por ali circulam há aproximadamente dez anos, ou até mais, um famoso ponto de prostituição masculina, quase exclusivo de travestis e, com algumas prostitutas femininas. O motivo de ali estarem, credito ao motel de baixo custo. Alguma deve ter iniciado algo por ali, criou fama e foram ficando. Nas proximidades só ruas de terra batida, com pouquíssimas residências e daí o nome “sítio”, lugar afastado, sem constrangimentos de abordagens. Elas ficam paradas nas esquinas, literalmente no meio do mato, onde são abordadas e levadas para o motel ou mesmo no próprio mato. Sol inclemente, com pouca sombra, poeira e tudo o que possa ser proveniente do mato, essa a localização e o cenário.

Não existe romantismo nesse trabalho profissional da prostituição. Quando se vê alguém trabalhando, por exemplo, na Nações Unidas, não pensem que estão ali e atuam de graça. Todo o território urbano da prostituição é alvo de pedágio. Isso aqui e em todo o país, nenhuma novidade. Essa é uma lei do asfalto. Sem aqui querer analisar se é correta ou não (claro que não é), isso existe e assim se processa esse tipo de trabalho. Para estar ali num ponto a pessoa paga para alguém uma espécie de diária. Alguém recebe para permitir que outrem ali permaneça em exposição algumas horas do dia oferecendo seu corpo como material de consumo. Pagamento feito para um cafetão, cafetina ou mesmo outros. Alguém se intitula dono de quadriláteros, oferecem velada segurança para o exercício da prostituição e quem não paga sofre o pão que o diabo amassou. Tudo isso de pleno conhecimento de tudo, todas e todos. Por enquanto, nenhuma novidade.

Tempos atrás foi notícia na mídia o fato de uma cafetina ter sido espancada no local. Teve que ir embora de Bauru. Ela agenciava travestis no sítio, mas entrou em desacordo com outro segmento que age também nos mais diferentes pontos dessa e de todas as demais cidades do país, o do tráfico. Expulsa, abandona tudo e cria uma nova situação, essa não tendo informação se já foi preenchida por outrem ou não. O fato é que, essa ausência criou algo libertário na cidade, um território livre. Sem ninguém para dizer “esse espaço é meu”, todas e todos puderam dar início ao seu trabalho diário sem ter que pagar diária por isso a ninguém. Cito o fato como novidade, num mundo onde tudo é tão delimitado, “isso aqui é meu”, “até aqui você pode circular” e coisa e tal.

Como sei disso? Essas notícias são do conhecimento geral. Quem ouve histórias aqui e ali, se interessam por todas, inclusive por essas. As da prostituição sempre me interessaram. Fazer um amplo estudo sobre elas, suas particularidades é algo que, talvez um dia venha a me dedicar. Por enquanto, fico no superficial, ou seja, no caso específico desse texto, algo surreal diante do modus operandi da prostituição como ocorre hoje nas ruas brasileiras: um local ainda sem as cruéis amarras da diária para ali permanecerem. Inusitado? Sim, muito. Por quanto tempo permanecerá assim? Nem imagino. O fato em si a chamar a atenção desse escriba, causador de frisson entre os/as profissionais é que, algo assim pode vir a se transformar num bom exemplo para uma verdadeira revolução, rebeldia coletiva, expandindo-se para outros pontos. Se isso ocorrer me convidem, pois ajudo levantar tabuleta: “FORA PEDÁGIO!”.