quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

COMENTÁRIO QUALQUER (170)


CADÊ O ESPÍRITO NATALINO? - SECA PIMENTEIRA
Estou como o personagem Lukas, do Miguel Rep, extraído do Página12. Contagiante alegria desses dias onde o golpe avança sobre nossos costados, agora na sua fase violenta de exclusão de liberdades e direitos. Onde encosto e vejo a alegria desses dias onde o consumo é exacerbado, chego com meu jeito e seco tudo. Não dá para ser feliz num país tomando as proporções de entristecer e apunhalar os interesses de seu povo. Resistir e enfrentar tudo o que virá pela frente sem medo de fazer os enfrentamentos necessários.
Espírito natalino nunca foi o meu forte. Essas festas coletivas reverenciando o consumismo sempre me incomodaram, ainda mais porque hoje estamos vivendo sob o constante espectro da desigualdade. Cada dia se acentuando mais e mais as diferenças sociais. Sempre algo me inquietará: Como ser inteiramente feliz quando a maioria não o é? Eu sempre fui um “pronto”. Um duro, para ser mais exato. Isto nunca me envergonhou. Porém, consigo ir me safando. Até hoje, do alto dos meus 57 anos, consegui dar meus pulos, driblar essa merda toda ocorrendo no meu entorno. Eu consigo, mas a maioria não consegue. Eu aprendi uma coisa bem cedo e das mais simples, algo como 2 + 2 são quatro, com as minhas variadas leituras: nunca vai existir uma perfeita distribuição de renda dentro do capitalismo. Nem é esse o objeto de quem está por detrás do manuseio da teoria e da ação capitalista. Quem bolou esse sistema sabia muito bem desde o começo: a conta não fecha. Para alguns ganharem muito, a imensa maioria precisa obrigatoriamente ganhar pouco. O reino do explorador e do explorado. Sou do time dos vivendo com as migalhas permitidas por esse injusto e insano sistema.

Nunca precisei de muito para viver. Gosto das coisas boas, principalmente viajar. Tive sorte até aqui e não tenho do que reclamar. Nunca explorei meu semelhante para ter conseguido o pouco que tenho. Não me arrependo de nada, mas sei poderia (e posso) fazer mais, não para mim, mas para o coletivo. Diante de tantas injustiças, creio fiz pouco. Engoli em seco a maioria das vezes onde poderia ter me exposto mais. São os tais momentos onde nos sentimos meio bananas. E daí, eu hoje aqui num hospital paulistano, rascunhando esse texto num guardanapo e numa sala de espera. A sogra lá dentro em mais um “procedimento” médico e eu aqui do lado de fora, poucos metros de distância nos separam e nada posso fazer por ela. O Natal se aproxima e sinto tudo um pouco mais triste. Não só no meu caso em particular, mas no da imensa maioria do povo brasileiro. Na TV ligada na minha frente falam em presentes. Desconverso do assunto, pois não vou entrar no clima este ano. Quero curtir essa angústia aqui dentro do peito comigo mesmo. Eu queria nos áureos tempos resolver todas as coisas do mundo, mas sei hoje de minha impotência, pois nem as minhas consigo mais resolver. Enquanto penso nisso, desço no hall de entrada do hospital, na lojinha da Kopenhagem, peço um capuchino com chantilly e assim me enveneno mais um pouco (sou diabético). Ao pagar R$ 11 reais, saco como gastamos muito mal o pouco que temos. Com esse valor muitos almoçam e outros nem isso possuem. Penso nisso tudo e dou um tremendo bicudo no espírito natalino. Do Ano Novo também espero pouco, pois se nada fizermos com esses golpistas destruindo tudo o que foi construído ao longo de duras décadas, cada dia tudo piorará mais e mais. E como comemorar alguma coisa num clima desses?

HPA – tentando se safar e continuar tocando o barco adiante, mesmo sem esperança de vento algum no final do túnel.

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