GREIFO E OS ARTISTAS GANHANDO A VIDA NAS RUAS DE BAURU A minha preocupação maior não é se os enfeites do Calçadão da Batista vão estar nos trinques, renovados e reluzentes. Sei que nada foi feito, mas como vejo pouca coisa sendo feita entre tantas outras mais necessárias, isso é só mais um dos tantos detalhes de uma questão de ampliado abandono. Neste ano, não por decisão espontânea, mas por necessidade de reduzir gastos, estarei poucas vezes neste local, comparado com os anos anteriores. Presentes, ora presentes, creio ninguém ganhará nenhum de minha pessoa. Darei fartos abracitos (sinceros, necessários e cheios de calor humano), mas ficarei restrito neles. O que me interessa mesmo nas cercanias do centro da cidade, na sua região do comércio mais pujante é ver como se safam os pequenos, aqueles que tentam com todos seus esforços conseguir algo para ter algo digno no Natal e na passagem do ano. Com tudo o que aconteceu ao país, não tenho motivos para sair distribuindo sorrisos, pois ando triste, macambuzio, sorumbático. São tantas coisas. Consegui concluir meu mestrado (ufa!, um alento), o golpe e sua crueldade se amplia, logo a seguir minha sogra adoeceu e continua no hospital, as vendas de meu ganha pão, que insisto em continuar fazendo para pagar minhas contas, miaram e vejo que esse clima triste não é só meu. Mesmo não me faltando nada, continuo numa confortável situação diante de tudo o mais à minha volta, essa degradação dos tempos atuais me incomoda. Ver as pessoas em situação degradante é para mim uma espécie de tortura. Eu não consigo ser feliz vendo tudo no entorno se desmoronando. Saio às ruas hoje à procura de uma pessoa em especial. Queria escrever dele em específico (explico o motivo no final do texto) e ao fazê-lo, falar de todos na mesma situação, dando o seu jeito, dignas tentativas de dar prosseguimento às suas vidas com alguma dignidade, sendo Natal, Ano Novo ou somente tendo que, a cada novo dia, sair à luta para ter o que comer. Na praça mais famosa da cidade, muitos deles e esse, novo por lá, diariamente expõe sua arte como forma de sobrevivência. Valorosa pessoa.
JOSÉ GREIFO, 46 anos é um artista na acepção da palavra, desses que com um lápis, pincel ou caneta colorida nas mãos arrasa e mostra a que veio. Sua história começa no estado do Paraná, onde nasceu, mas veio para Bauru muito cedo, ainda moleque. Pai sapateiro cresceu nas ruas da cidade e foi aluno do Aucione, que o iniciou na arte do desenho. Pessoa por demais conhecida nos meios gráficos e do traço, ilustrador de reconhecida fama, já tendo atuado nas hostes do Jornal da Cidade em duas oportunidades. Tempos depois comandou junto com o amigo Claudinei, tudo o que saia impresso lá na Gráfica Cartões & Cia. Domina as técnicas de editoração e de colorir eletronicamente ilustrações e nos últimos tempos está sempre sentado lá na bancada do ateliê do Leandro Gonçalez, ali na Bandeirantes. Dá aulas, ensina e desenha a quatro mãos muitos do HQs que saem daquele lugar para encantar admiradores. Domina tudo o que tenha o traço como meio de campo, mas como nada é perfeito, deu uma desacertada, descompensada na vida e hoje, tentando se recolocar no mercado, corajosamente, leva diariamente para a praça Rui Barbosa seu aparato e ali faz caricaturas a preços inimagináveis. Senta junto aos artesãos, traz consigo uma pasta com folhas, lápis de várias tonalidades, três banquinhos de plástico e uma placa onde se lê: “Retratos a Lápis”. É seu ganha pão e quando espalha algo já feito, difícil não atrair a atenção e deixa de estar desenhando alguém. O desenho sai muito rápido, em questão de dez minutos a meia hora, dependendo da pressa do freguês e do valor combinado pelo serviço. A força que ele precisa de todos nós é para que, consiga dar logo a volta por cima, pois qualidade e currículo não lhe faltam. Que o cantinho ali ao lado da igreja possa ser algo breve em sua vida e logo volte a desenhar em lugares onde possa ser valorizado a contento.
OBS.: O bloco farsesco, burlesco e algumas vezes carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é MiXto escolhe a cada ano um desenhista ligado à Bauru e ele faz a estampa que vai ser a marca, não só da camiseta, mas da festa toda envolvendo a passagem do furdunço pelo Calçadão. Em cinco desfiles já tivemos a honraria de ter ao nosso lado o Leandro Gonçalez, o Fausto Bergocce, o Junião, o Maringoni e neste ano o Fernandão. E o escolhido para fazer a arte em 2018 foi o consagrado JOSÉ GREIFO. Em breve teremos o tema da arruaça e antes do final do ano a arte já estará espalhada cidade afora. De uma coisa tenho certeza e Greifo concorda: vai dar o que falar.
Artistas da Vida - https://www.letras.mus.br/gonzaguinha/46264/
Gonzaguinha
Vozes de um só coração
Igual no riso e no amor
Irmão no pranto e na dor
Na força da mesma velha emoção
Nós vamos levando este barco
Buscando a tal da felicidade
Pois juntos estamos no palco
Das ruas nas grandes cidades
Nós, os milhões de palhaços
Nós, os milhões de arlequins
Somos apenas pessoas
Somos gente, estrelas sem fim
Sim, somos vozes de um só coração
Pedreiros, padeiros, coristas, passistas
Malabaristas da sorte
Todos, João ou José
Sim, nós, esses grandes artistas da vida
Os equilibristas da fé
Pois é!
Sim, nós, esses grandes artistas dessa vida
Bauru SP, sábado, 09 de dezembro de 2017.
Gonzaguinha
Vozes de um só coração
Igual no riso e no amor
Irmão no pranto e na dor
Na força da mesma velha emoção
Nós vamos levando este barco
Buscando a tal da felicidade
Pois juntos estamos no palco
Das ruas nas grandes cidades
Nós, os milhões de palhaços
Nós, os milhões de arlequins
Somos apenas pessoas
Somos gente, estrelas sem fim
Sim, somos vozes de um só coração
Pedreiros, padeiros, coristas, passistas
Malabaristas da sorte
Todos, João ou José
Sim, nós, esses grandes artistas da vida
Os equilibristas da fé
Pois é!
Sim, nós, esses grandes artistas dessa vida
Bauru SP, sábado, 09 de dezembro de 2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário