A pergunta feita acima eu respondo com uma historinha das ruas. Eu fui no último momento comprar um presente para Natal e com a maioria das lojas já fechadas, adentrei o Bauru Shopping. Entrei em algumas lojas e nada me caia no gosto do que gostaria de comprar para a parceira de todas as horas. Foi quando me disseram de uma loja no segundo andar, especializada em roupas indianas e quetais. Entrei, fui muito bem atendido e sai de lá com a certeza de ter escolhido algo mais que satisfatório. Só errei, como sempre faço, no tamanho. Passado o Natal, voltamos na quarta para fazer a troca e levo Ana junto. Entramos e somos atendidos por uma senhora de meia idade, vestida com as roupas da loja e um sotaque dos mais apetitosos. A loja estava abrindo e não havia quase ninguém por lá. A atenção dela nos chamou a atenção, pela dedicação, atenção e presteza.
Num certo momento, depois de estarmos ambos encantados, virei e lhe perguntei:
- A senhora não é daqui, esse sotaque, de onde é?
- Sou do Recife, pernambucana – e nos contou sua história. Vim para ajudar nesses dias na loja da filha. Estou aposentada, tempo livre e a vendo começando um negócio, quis vir dar minha contribuição. Cá estou já há alguns meses em Bauru, aluguei um pequeno apartamento por temporada aqui em frente.
A empatia foi crescendo e o que mais nos chamou a atenção foi a disposição dela em nos atender com uma dedicação de assustar. Ajudou a provar, não se mostrando em nenhum momento indiferente, aquele ar enfadonho. Ao contrário, sempre disposta a conversar e ajudar a pessoa ali diante dela. Viemos trocar uma roupa e levamos mais duas, foi o mínimo diante de tão envolvente pessoa. Num certo momento lhe dissemos ter gostado muito do atendimento e da linha de produtos da loja, dissemos morar ali em frente e que voltaríamos muitas outras vezes.
- Eu já conheço sua esposa. Eu moro no mesmo prédio que vocês e a vejo circulando nos corredores com uns lenços coloridos, vistosos e cheios de charme.
Conversamos mais algum tempo, falamos de nossas cidades, de nossas vidas, do presente, do futuro e ao sair, eu e Ana viemos conversando sobre a forma como fomos atendidos. Uma vivida nordestina, com uma experiência de vida bem consolidada e saindo de onda mora, onde estão localizados seus amigos para vir num mundo estranho, tudo para ajudar uma filha. Não comparamos com nada, nem com o atendimento do paulista dentro de seus negócios, mas de como o estar de bem consigo mesmo, o viver com a mente arejada, ajuda e muito no relacionamento com tudo à sua volta. Bateu uma simpatia imediata, algo inusitado nos tempos atuais.
Cada vez me encanto mais com o trato, a conversa, o jeito do nordestino se relacionar com tudo à sua volta. Que nome se pode dar a isso? O contato tido com essa recifense em Bauru me fez pensar por esses dias, na contemplação proveniente das festas, em como é muito diferente esse país, como o trato de um para com os demais é bem distinto de outro. Claro, a formação de cada pessoa está embutida em como se relaciona, mas isso do nordestino está latente, exposto como marca registrada, como cartão de apresentação de cada pessoa. Por fim, me encanta esse jeito nordestino de se relacionar e isso precisa ser passado adiante, ainda mais num final de ano. É o que faço neste momento de despedida de 2017. Eles nos fazem um bem danado de bom. Essa estreita convivência nos ajuda e muito a tocar o barco. Em certos momentos contribui até para uma mudança de trato com o semelhante.
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