domingo, 17 de dezembro de 2017

FRASES DE UM LIVRO LIDO (122)


‘PAI SOLTEIRO E OUTRAS HISTÓRIAS’, CRÔNICAS DE TARSO DE CASTRO
Na última sexta, antes do desenlace de minha sogra, passei a tarde inteira na sala de espera do hospital aguardando notícias de um procedimento médico. Não consigo esperar nada sem ter em mãos algo para ler. Me inquieta a espera e como não quero nesses momentos ficar batucando redes sociais no celular, termino naquele instante a leitura do primeiro livro de crônicas do jornalista gaúcho, um dos mais porretas que conheci até hoje, Tarso de Castro (editora Laser Press, 1990, 212 páginas). Comprei num sebo paulistano na avenida São João, dias atrás, pela bagatela de R$ 5 reias. Em poucas frases que consigo aqui transcrever neste momento, um pouco da linha de pensamento desse vibrante e empolgante jornalista:

- “Na verdade, o que menos importou na música Garota de Ipanema foi a moça que passou, a Helô, ainda que bela. O fato é que a verdadeira garota era todo aquele nosso bairro, hoje quase morto”;

- “O Brasil é de cabeça para baixo. O crime é ter sucesso é acabou o assunto. Ninguém fala mal dos grandes ladrões. Toda a culpa é dos artistas”.

- “No interior, aliás, acontece de tudo, especialmente quando o prefeito ou o rico resolve fazer uma festa para o artista da capital. Aí é fogo. Como todos levam o cuidado de não levar o violão ou algo parecido, acontece sempre o pior: Então conta uma piada carioca”.

- “Sabemos muito sobre a ditadura, mas sempre me surpreende que ela tenha conseguido matar, também, a poesia das ruas, a velha província que um dia se chamou Brasil”.

- “Houve um momento em que os mineiros decidiram que toda e qualquer inteligência emanava de Minas Gerais”.

- “O golpe se consolidava no poder e a perseguição era total. Os chefes de redação, os diretores de jornal, todos esses que hoje se arrogam liberais, se escondiam sob o manto da covardia”.

- “... nada melhor do que ser leitor anônimo e quieto, coisa que pouca gente entende”.

- “A distância é o inferno da alma”.

- “...a última crítica útil no Brasil é a de ouvido, ou seja, a palavra do amigo que já viu o espetáculo e dá sua opinião. O resto, de uma maneira geral, é demonstração de falsa cultura”.

- “...os mais otimistas dariam a vida para viver em qualquer outro país. Os pessimistas morrem à míngua”.

- “...a postura de esquerda sempre foi uma alegria. Nunca uma questão de emprego. Nunca precisamos, os malditos bêbados, os malditos vagabundos, lamber os pés sujos de uma poesia mal escrita de Sarney, nunca nos ajoelhamos aos pés divinos de Roberto Marinho”.

- “A coisa mais lindo do mundo eram os joelhos da Nara leão”.

- “No caso do golpe de estado existiu em cada jovem o choque na contramão. A gente ia no sentido da liberdade e bateu no poste da escuridão. Não é triste, me entendam. É apenas fatal”.

- “Depois dos quarenta anos a gente começa a ter notícia da morte de amigo todo dia”.

- “Há um momento em que você pode tudo na vida. Tudo é simplesmente interminável, o vigor, a resistência da máquina do corpo, aquelas coisas. É da natureza humana ser levada a pensar assim. E isso, naturalmente, exige um brinde. Nada como o álcool para comemorar tais fatos. É uma das grandes invenções do homem”.

- “...só os verdadeiramente homens levam verdadeiramente a sério a traição”.

- “Eu era um desses que lutavam para começar uma brilhante carreira naquilo que sonhávamos ser a maravilhosa profissão de jornalista”.

- “Aos olhos de uma menina, nós, pobres escravos da máquina de escrever, somos algo estranho”.

- “Éramos muito jovens. Mas metidos, como a atual geração deveria ser. O ardor estava nas ruas. A gente queria as coisas decentes para um mínimo de vida, coisa que não se conquistou até hoje”.

- “Eu faria qualquer coisa para me livrar do longo tempo que a missa envolvia. Não que eu tivesse qualquer coisa contra Deus. Nada – acho que nunca tivemos queixa um do outro, embora a dúvida sobre a existência mútua nos tem há corroído durante tanto tempo”.

- “A proibição de passear de bicicleta no meio da praça era o quer mais nos alegrava: era ali mesmo que iríamos rodar”.

- “Hoje, anos depois, poucas coisas tão insuportáveis ao ver que, cada vez mais, tanta alegtria começa a ser apenas uma vaga recordação da infância”.

- “...eu começava a descobrir que parece haver uma tragédia por detrás de cada feriado”.

- “Da infância ao início da adolescência estivemos juntos lado a lado, nas festas e nas brigas. O tempo nos separou até outro dia, passados quinze anos, nos encontramos. Meu amigo correu para abraçar-me. Fizemos uma festa enorme. E dois minutos depois, vendo que nada tínhamos a dizer descobrimos que o tempo se encarregara de matar a amizade. E o passado”.

Um comentário:

Anônimo disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:

Marlene Rosa Muito lindo texto !

Cris Faustino chorei. Que sensibilidade!

Ana Tereza Muito lindo!!