terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (48)


TARCÍSIO MAZZEI E A HISTÓRIA DO SEU INFARTO


Mesmo estando distante de Bauru por alguns dias, tenho alguns temas instigantes para escrever tendo como pano de fundo a aldeia onde moro, principalmente políticos. Poderia fazê-lo neste momento, mas prefiro algo mais ameno no dia hoje, esparecer, pois é disto que preciso. Dia desses estava na porta do Banco do Brasil lá perto do Shopping Center e dou de cara com uma pessoa das mais alegres que conheço nesta terra, dita como "sem limites". Conto um causo dele. Ando emotivo por esses dias, minha sogra operou do coração e está num demorado reestabelecimento e quando comentei isso com esse amigo, eu do lado de fora e ele dentro de um carro estacionado ali defronte o banco, algo mais acabou acontecendo. Com ele sempre acontece. Primeiro, ele desceu do carro, virou para mim e começou a narrar uma longa história:

- Sabe que enfartei dois anos atrás, né? Coloquei um stent.

- Sabia não, como foi? Pelo visto se recuperou bem.
Foi o suficiente para ele me contar tudo, nos mínimos detalhes como só TARCISIO MAZZEI, o CASCUDO sabe fazer. Você não o conhece? Nem sei se ele é carioca, mas seus filhos moram por lá, ele aportou tempos atrás por aqui e encontrou seu primeiro refúgio ali naquele pombal, umas quitinetes que ficam na curva da rua,bem atrás do prédio do Jornal da Cidade, virando a esquerda do Bar do Português. Se ele não foi síndico dali, deve ter sido presidente ou coisa parecida. o fato é ter ele se transformado num instituição por aquelas bandas. Esse meu amigo sabe ir tocando a vida ao estilo do pregado por Zeca Pagodinho, "deixa a vida me levar". Ele deixa e mesmo nas maiores dificuldades, alguém sempre lhe presta socorro e ele se safa. Num mundo onde todos querem se safar e continuar nas paradas de sucesso, se querem saber a senha para ir tocando o barco, mesmo quando sem vento, o negócio e ir perguntar pro Tarcísio. Não sei se ele irá te contar, mas é expert nesse treco de driblar adversidades e continuar de bem com a vida. Agora mesmo, tentando um novo negócio, dentro da sua especialidade, a culinária, ele me diz irá levar em casa um kit de massas prontas e congeladas. Creio ser coisa fina, pois cozinha bem e como vive ali nas rebarbas de tudo o que acontece com os que ainda possuem algum pra gastar, sei que deve estar vendendo tudo o que faz, ao seu modo, artesanalmente em sua residência atual, que nem sei onde fica.

Falava de uma coisa e já emendei em outra. Volto ao ponto inicial. Na história contada a mim sobre o dia do seu enfarte, algo me chamou a atenção: a galhardia comque trata do tema. No dia do negócio, ele havia acabado de brigar com sua ex e desceu da casa dela já sentindo umas pontadas esquisitas. Diz que a dor do infarto não é dos lado e sim no meio do peito, dentro do osso. Sentiu a dor aumentando e ele descendo pra cidade. Não pensou duas vezes e foi direto pro Pronto Socorro. Entrou de carro até lá na porta, na boca do lobo e quando desceu o segurança o abordou:

- O senhor sabe que não pode parar com o carro aqui. Não vai poder ficar aqui.

Bem ao seu estilo, ele desce do carro já com a dor se intensificando, tira a chave do carro, entrega na mão do cara:

- Desculpa, mas não posso fazer nada, estou infartando e depois a gente vê isso. Se me safar dessa busco depois, estaciona em qualquer lugar aí.

Caiu nos braços do assustado segurança, que o carregou para dentro. Ficou alguns dias ali no Hospital de Base e depois, quando amigos souberam de seu caso, conseguiram o transferir para o Hospital Estadual, onde em ambos os lugares fez amizades com tudo e todos, inclusive todas. Contou outras histórias passadas lá, mas pelo alongado do texto, ficam para outro dia. O fato é que, após uns dias no estaleiro, o danado ficou bom de novo. Diante de tudo o que me contou, algo me intrigou e não resistindo lhe perguntei:

- E o carro, o que foi feito do seu carro?

Ele riu, aquela gargalhada que só os que o conhecem sabem como ela é e me disse:

- Quando dei uma melhoradinha, ainda no primeiro hospital, a minha companheira, que depois se separou de mim mesmo assim, ela foi me visitar e se encarregou de buscar o carro. Nem sei como o estacionaram por lá, mas o fato é que me foi devolvido e com tudo dentro, sem tirar nem por.

E assim, Tarcísio sobreviveu ao seu primeiro e ainda único infarto.

PS.: Consultando os alfarrábios, informo misturar infarto e enfarte, uma hora uso um, noutra outro.  "A palavra enfarte é formada por derivação regressiva do verbo enfartar, ou seja, por redução deste. Segundo os dicionários, ambas podem ser utilizadas para indicar uma lesão causada pela parada da circulação arterial, bem como qualquer tipo de obstrução ou bloqueio no coração".
O danado caiu nas graças até do Jornal do Cidade.
 

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