CRÔNICA DE UMA NOITE NO PRONTO SOCORRO CENTRAL DE BAURU*
*Acompanhando um amigo aguardando atendimento e este mafuento HPA só na observação.
Atendo a pedido de dileto amigo e com ele vou para o Pronto Socorro Central de Bauru, noite de segunda, 30/09, chegamos lá por volta das 19h e ele num atendimento com certa urgência. O procedimento de praxe é passar primeiro pela identificação e preenchimento ficha de entrada, com o passo seguinte sendo chamado para a sala da Pré Consulta. Uma profissional com anos de janela, faz tudo sozinha, recebe os formulários, chama um por um, mede a pressão e faz as perguntas iniciais básicas, até para poder identificar o encaminhamento mais adequado. Séria, compenetrada no que faz, não tem tempo para conversinhas fiadas, nem muitos sorrisos e me chama a atenção pelo jeito rápido e eficiente de executar seu serviço. Não tem tempo a perder, pois sabe, na maioria das vezes o salão à sua frente sempre cheio e muitos querendo ser atendidos da forma mais rápida possível. Ela faz o que pode e dá sequência à rotina de mais um dia de trabalho.
O salão de espera pelo atendimento permanece na maioria das vezes lotado, com um fluxo de entrada e saída quase ininterrupto. Ali dá de tudo um pouco e só os mesmo com alguma tarimba sabem tocar aquilo tudo com a devida calma e tranquilidade. Aquilo não foi feito para pessoas com nervos fracos, pois os acontecimentos inusitados acontecem a todo instante, tipo um barril de pólvora prestes a explodir e dependendo da forma como as coisas são tratadas, isso pode ser acelerado ou simplesmente brecado. O horário de nossa chegada não favoreceu muito, pois logo de cara ouvimos ser o pior para o atendimento, troca de plantão, onde o tempo de espera sempre cresce e se multiplica. Chama minha atenção a forma como as pessoas são chamadas para o atendimento, a funcionária lá na sala da Pré Consulta anuncia os nomes sentada em sua cadeira, sem sistema de alto-falantes e os pacientes tem que se desdobrar para ouvir seus nomes e rapidamente adentrar a sala. Ao serem atendidos por essa primeira etapa voltam para o salão principal e ali aguardam um tempo muito maior, até serem chamados para o atendimento médico. Acompanhantes só nos casos específicos, do contrário o paciente adentra sozinho.
Numa placa defronte todos os nomes dos médicos de plantão e também como é o procedimento básico de atendimento para cada tipo de situação, indo da emergência para a menos grave, essa esperando mais tempo. Cada um ali com sua dor e querendo permanecer o mínimo possível naquele ambiente. Vejo um jovem cheio de correntes nos pulsos, anéis nos dedos, demonstrando ter certa autoridade em sua comunidade, mas ali, com a mulher com muita dor, permanece resignado, respeita as regras e a acompanha sempre a abraçando, numa atitude a engrandecê-lo. No mesmo momento vejo uma filha acariciando o rosto do seu velho e cansado pai, esse com dor, ela tentando minimizar sua estada, num certo momento lhe diz aos ouvidos: “Aguente mais um pouco, em casa isso tudo passará”. No outro, uma garota bem nova, dos seus quinze anos empurra a cadeira de rodas com a mãe, essa com o pé bastante inchado, devido um tombo pela manhã. Ouço ela dizer ter ido primeiro numa UPA – Unidade de Pronto Atendimento e para ali sendo encaminhada, pois único lugar com ortopedista de plantão. Na porta percebo um senhor evangélico acompanhando a esposa e esse tentando encontrar dentre o pessoal do atendimento alguém da mesma religião que a sua, pois crê desta forma um facilitador para ser mais rapidamente atendido. Sua estratégia, pelo menos desta vez não deu muito certo e ali permaneceu o mesmo tempo que todos os demais.
Duas pessoas falam sozinhas no salão de espera. Uma mulher com uma mochila nas costas, roupas um tanto sujas e com características de esquizofrenia. Gesticula muito sentada na última fileira das cadeiras e pelo visto não está ali em busca de atendimento, mas somente para passar o tempo, distrair a mente. Quando se cansa sai para fora e desaparece na escuridão do começo da noite. Um senhor tem os olhos vidrados nas chamadas para atendimento, fala para ele mesmo e em voz alta, chama a atenção quando se levanta e praticamente grita contra os que fazem uso do celular, naquele momento quase todos, desde alguns funcionários, como todos os aguardando no salão. Cabeças se levantam e o olham com alguma surpresa, para logo mais, quando ele se retira, tudo voltar como dantes, ou seja, todos plugados em seus celulares. Ninguém com uma mera revista, jornal ou livro, mas todos com seus celulares e plugados em alguma coisa, estabelecendo contato com o mundo ali do lado de fora.
Quem pega os prontuários e chama as pessoas para o atendimento é o funcionário da segurança, com crachá o identificando e a firma terceirizada. Supre muito bem o papel a ele designado, voz com boa entonação, alta e nítido, mesmo não sendo o mais apropriado para fazê-lo. Do lado de fora vem o som de uma música tocada em grupo, com acompanhamento de um violão. É um grupo de jovens evangélicos que não entram no salão, mas permanecem bom tempo lá fora, cantando seus hinos e instigando estarem ali para cumprir uma missão de conforto junto aos ali adoentados ou com suas dores. Abordam alguns do lado de fora, rodeiam esses com suas músicas e como estão em grupo, riem e falam alto, como todo agrupamento de jovens costuma fazer. Do lado de fora do PS um único carrinho de lanches, onde um senhor aparentando ter uns 60 anos faz lanches e tudo o mais sozinho, recebe, dá troco sem luvas, serve, prepara e conversa. Muitos o conhecem e destoa da movimentação do dia, quando muitos carrinhos de lanche permanecem abertos. Ele é o único ali à noite e mata a fome dos permanecendo muito mais tempo do que o previsto inicialmente.
Não consigo enxergar mal atendimento no que vejo e a morosidade se deve a tantos fatores, que quando levados em consideração, olhando para as condições de trabalhos dos profissionais ali detrás dos balcões, em certos momento dá vontade de ajuda-los a fazer fluir aquilo tudo mais rapidamente, mas como tudo na vida tem o seu tempo, esse parece ser o tempo desses lugares. Não vi ninguém esbravejando no período em que ali estive. Meu amigo foi atendido por um médico, fez curativos, tirou RX, voltou para a fila de atendimento, esperou novo tempo e foi atendido por outro médico, nova especialidade, foi medicado e devidamente orientado. Tenho certeza que tudo poderia ser feito com mais fluidez e rapidez, mas não dá para desabonar como vi tudo sendo feito, pois não vi falta de empenho em nenhum semblante. O serviço fluía, acontecia e os problemas, com mais ou menos demora, iam sendo resolvidos, encaminhados e as pessoas voltando para suas casas, algumas com aquela sensação de melhora já estampada no rosto, outras bem menos, ainda com dores, mas com ataduras, faixas, gessos, compressas, etc.
Saímos de lá depois das 23h, cansados, estafados e com fome. Os banheiros não estavam sujos, mesmo sendo utilizados à exaustão pelos ali presentes. No salão um bebedouro sem copos plásticos, muito utilizado, com gente conseguindo copos não se sabe aonde e outros o fazendo em conchinha. Assim a noite foi fluindo, eu tentando captar nuances poucos vislumbradas, sem escrever com aquele espírito negativista ou de mera crítica. Tenho muitas a fazer, mas prefiro citar os acertos, pois enxerguei muitos. O pessoal tenta dar o melhor de si, percebi isso e com melhores condições, num local mais amplo, mais arejado e mais adequado, tudo fluiria muito melhor, mas como sonhar é preciso, necessário, creio nisso, numa mudança de rumos, essa vindo não só na cabeça dos que estão lá no exercício do serviço público, mas ajudados pelos que dele necessitam. Tudo é uma enorme corrente e uma só funciona com o auxílio da outra. Meu amigo pode até reclamar de ter aguardado pouco mais do que esperava, mas não o vi reclamar do atendimento. Esse ocorreu a contento e isso fica ressaltado nessa noite de segunda, eu e ele ali no único lugar onde não imaginávamos estaríamos nessa noite.
Duas pessoas falam sozinhas no salão de espera. Uma mulher com uma mochila nas costas, roupas um tanto sujas e com características de esquizofrenia. Gesticula muito sentada na última fileira das cadeiras e pelo visto não está ali em busca de atendimento, mas somente para passar o tempo, distrair a mente. Quando se cansa sai para fora e desaparece na escuridão do começo da noite. Um senhor tem os olhos vidrados nas chamadas para atendimento, fala para ele mesmo e em voz alta, chama a atenção quando se levanta e praticamente grita contra os que fazem uso do celular, naquele momento quase todos, desde alguns funcionários, como todos os aguardando no salão. Cabeças se levantam e o olham com alguma surpresa, para logo mais, quando ele se retira, tudo voltar como dantes, ou seja, todos plugados em seus celulares. Ninguém com uma mera revista, jornal ou livro, mas todos com seus celulares e plugados em alguma coisa, estabelecendo contato com o mundo ali do lado de fora.
Quem pega os prontuários e chama as pessoas para o atendimento é o funcionário da segurança, com crachá o identificando e a firma terceirizada. Supre muito bem o papel a ele designado, voz com boa entonação, alta e nítido, mesmo não sendo o mais apropriado para fazê-lo. Do lado de fora vem o som de uma música tocada em grupo, com acompanhamento de um violão. É um grupo de jovens evangélicos que não entram no salão, mas permanecem bom tempo lá fora, cantando seus hinos e instigando estarem ali para cumprir uma missão de conforto junto aos ali adoentados ou com suas dores. Abordam alguns do lado de fora, rodeiam esses com suas músicas e como estão em grupo, riem e falam alto, como todo agrupamento de jovens costuma fazer. Do lado de fora do PS um único carrinho de lanches, onde um senhor aparentando ter uns 60 anos faz lanches e tudo o mais sozinho, recebe, dá troco sem luvas, serve, prepara e conversa. Muitos o conhecem e destoa da movimentação do dia, quando muitos carrinhos de lanche permanecem abertos. Ele é o único ali à noite e mata a fome dos permanecendo muito mais tempo do que o previsto inicialmente.
Não consigo enxergar mal atendimento no que vejo e a morosidade se deve a tantos fatores, que quando levados em consideração, olhando para as condições de trabalhos dos profissionais ali detrás dos balcões, em certos momento dá vontade de ajuda-los a fazer fluir aquilo tudo mais rapidamente, mas como tudo na vida tem o seu tempo, esse parece ser o tempo desses lugares. Não vi ninguém esbravejando no período em que ali estive. Meu amigo foi atendido por um médico, fez curativos, tirou RX, voltou para a fila de atendimento, esperou novo tempo e foi atendido por outro médico, nova especialidade, foi medicado e devidamente orientado. Tenho certeza que tudo poderia ser feito com mais fluidez e rapidez, mas não dá para desabonar como vi tudo sendo feito, pois não vi falta de empenho em nenhum semblante. O serviço fluía, acontecia e os problemas, com mais ou menos demora, iam sendo resolvidos, encaminhados e as pessoas voltando para suas casas, algumas com aquela sensação de melhora já estampada no rosto, outras bem menos, ainda com dores, mas com ataduras, faixas, gessos, compressas, etc.
Saímos de lá depois das 23h, cansados, estafados e com fome. Os banheiros não estavam sujos, mesmo sendo utilizados à exaustão pelos ali presentes. No salão um bebedouro sem copos plásticos, muito utilizado, com gente conseguindo copos não se sabe aonde e outros o fazendo em conchinha. Assim a noite foi fluindo, eu tentando captar nuances poucos vislumbradas, sem escrever com aquele espírito negativista ou de mera crítica. Tenho muitas a fazer, mas prefiro citar os acertos, pois enxerguei muitos. O pessoal tenta dar o melhor de si, percebi isso e com melhores condições, num local mais amplo, mais arejado e mais adequado, tudo fluiria muito melhor, mas como sonhar é preciso, necessário, creio nisso, numa mudança de rumos, essa vindo não só na cabeça dos que estão lá no exercício do serviço público, mas ajudados pelos que dele necessitam. Tudo é uma enorme corrente e uma só funciona com o auxílio da outra. Meu amigo pode até reclamar de ter aguardado pouco mais do que esperava, mas não o vi reclamar do atendimento. Esse ocorreu a contento e isso fica ressaltado nessa noite de segunda, eu e ele ali no único lugar onde não imaginávamos estaríamos nessa noite.