FRASES DE UM LIVRO LIDO (144)

LIVRO REÚNE ALGUNS QUE PODEM VIRAR A MESA NESTA CIDADE

Querem saber do poder de um livro, de seu autor e do seu tema? Eis aqui algo revolucionário, a impulsionar gente a não só sair de casa na noite calorenta de uma terça-feira, mas se postar pronto para os embates que virão pela frente. Conto algo do presenciado no lançamento do livro "O pulsar da resistência - A história de Alberto de Souza, um homem entre revoluções", primeiro livro do advogado e militante social Arthur Monteiro Junior (Mireveja Editora, Bauru SP, 2019, 128 páginas). São tantas coisas, difícil de começar. Tento puxar o fio da meada por algo tão inebriante como a reunião de diletas pessoas da aldeia bauruense, todos em torno de um livro, mas na verdade, saindo de suas casas em busca de um algo mais, uma proposta para se reencontrar e se posicionar contrário a esses insanos tempos, onde queimar livros parece ser a sina, mas os ali presentes claramente no oposto a isso, não só comparecem no lançamento de um, com tema mais que contundente, deixando bem claro algo bem simples até então: resistir é preciso e não nos vergaremos tão facilmente.

Essa a mensagem cifrada e pairando no ar ali no lançamento do livro do Arthur. Seu Alberto por si só é um personagem desses mais que inebriantes, pois fruto de outra época, era dessas pessoas que não se seguravam nas calças e diante das atrocidades do mundo, saiam em defesa dos menos favorecidos. O que dizer de um homem que saiu cedo de sua casa, em busca de defender os interesses dos pobres e nunca mais voltou, ou seja, fez de toda sua vida a própria luta. A história de seu Alberto é meia que incompreensível nos dias de hoje para todos esses amantes das leis de mercado, pois são poucos hoje os que como ele e como Apolônio de Carvalho, outro da mesma cepa, esse saindo daqui para lutar ao lados dos libertários da Revolução Espanhola. Seu Alberto fez igual a vida inteira. Certa feita, ele já velhinho, sem recursos, vida fodida, vivendo de ajuda, Arthur dele já bem próximo lhe pergunta o que o aflige e ele responde: "As agruras do mundo. Quero lutar, não posso presenciar essas injustiças todas e permanecer aqui quieto". A sua causa, o seu problema não tem importância nenhuma diante do que os outros estão passando e ele quer ir lutar pela defesa desses. Um ser do outro mundo, comunista como não se faz mais hoje.

Arthur escreveu esse texto para seu TCC de conclusão de curso universitário e o mantinha engavetado, contado a história para diletos amigos, pois sempre foi um profundo admirador de seu Alberto, desde o primeiro momento que o viu, anos 80, quando Luiz Carlos Prestes passou por Bauru para um comício e reencontrou seu antigo soldado da Coluna Prestes. Foi amor à primeira vista, tanto que Arthur nunca mais perdeu de vista o revolucionário, esse já em idade avançada e necessitando de amparos. Da paixão pela história de vida, nasceu algo mais, tanto que nunca mais se separaram. As histórias contadas pela boca de quem as viveu intensamente foram sendo guardadas, primeiro na memória, depois em registros, aqui agora reunidos e eternizados numa dessas merecedoras de um filme. No filme da vida do seu Alberto, ele nunca foi o grande protagonista da história, mas esteve envolvido em muitas delas e como participante. Foi um soldado, um militante, um aguerrido guerreiro na defesa dos interesses populares. Foi dessas pessoas que bastava chamá-lo e dizer que uma injustiça ocorria em tal lugar e ele já estava pronto, disposto a ir lá defender o oprimido com as armas que tivesse às mãos. Isso tudo contado nos mínimo detalhes é mais que contagiante.

Das pessoas ali reunidas notei um algo mais e não só a disposição de estar no lançamento de mais um livro. Esse não é mais um livro e nem o grande motivador foi somente esse. Vivemos o começo de tempos que, se nada for feito agora, serão mais que sombrios o futuro de todos. Todos os presentes tem plena consciência disso e ao marcarem presença se dispõe a também marchar contra a tacanhice retrógrada desses tempos. O levante pode começar exatamente desse jeito, numa reunião em torno de um livro e a partir disso, um algo a mais, a propositura de juntos, sem ninguém soltar da mão do outro, balançar as roseiras, bagunçar o coreto e trepidar ao alicerces. Todos estão mais do que cientes de que, isolados o conservadorismo avançará, mas se todos juntos levantarem a voz, o lado de lá vai sentir o baque e como ninguém aguenta a força do povo nas ruas, só falta o levante para ter início a queda da bestialidade. Ninguém ali presente deve ter conseguido voltar para suas casas e tocar a vida normalmente daqui por diante, como se nada estivesse acontecendo. O chamado para ir pras ruas, pra botar a cara a tapa, pra atender ao chamado pela participação coletiva foi dado e todos entenderam. Na fala de Arthur e de Bruno Sanches, apresentador do evento e seu entrevistador, numa gravação feita por mim, a demonstração de que, os caminhos para virar essa mesa podem começar após a conscientização e da presença no lançamento de um livro. Por que não? Seu Alberto pode estar impulsionando algo da necessária resistência. Conclamo tudo, todas e todos a lerem o livro e buscar a devida inspiração para não só protestar, mas sair às ruas e botar tudo abaixo. Passou da hora. Eis o link da fala do Arthur durante evento: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/2892856004077723/

OBS.: Esse texto foi escrito em homenagem a algo lembrado por Arthur quando de sua fala. Exatamente no dia de hoje, 11/09, no ano de 1973, através de um cruel e insano golpe militar, a democracia foi interrompida no Chile com a derrubada do presidente legitimamente eleito de Salvador Allende pelo truculento militar Augusto Pinochet, de triste memória, tirano tão doente e perverso quanto Bolsonaro.