quinta-feira, 5 de setembro de 2019
RELATOS PORTENHOS / LATINOS (70)
GUALEGUAYCHÚ: CAPITAL NACIONAL DA COMUNICAÇÃO E RETAGUARDA DO EXPRESSIONISMO – GRAFIAS ARGENTINAS COMPARADAS COM AS DE NOSSAS PAREDES
Quando estive em Buenos Aires este ano para participar do “Congreso Latinoamericano de Enzeñanza del Diseño”, de 29 a 31/Julho, na Universidade de Palermo, participei do Grupo denominado “Identidade Locais e Regionais” e nele, além de minha apresentação, a “O livro como forma de resistência”, uma apresentação muito me impressionou e é sobre isso que escrevo nesse momento. Trata-se de um trabalho com o tema do título deste texto, apresentado por dois argentinos, Federizo Rozo e Jero de Carlis. A apresentação deles esteve baseado na pesquisa de ambos na cidade de Gualeguauchú, com aproximadamente 60 mil habitantes e logo de cara me chamou bastante a atenção, pois algo com alguma semelhança é feito mundo afora, cada um com uma abordagem específica, nenhum tendo como base a ideia do outro, mas todos se fundindo, se juntando lá na frente, quando se entende dos objetivos de cada um na observação de paredes, fachadas e inscrições pelos mais diferentes cantos do mundo. Escrevi tempos atrás aqui mesmo sobre um TCC sobre um aluno de Design retratando em fotos as inscrições feitas em três diferentes lugares da cidade de Bauru, sendo o que mais me causou comoção, o feito no Geisel, com letreiros, faixas e cartazes anunciando negócios e na maioria das vezes feitos pelos próprios pequenos comerciantes.
O trabalho dos argentinos é sobre algo muito parecido, mas muito diferente (entenderam?). Eles tiraram fotos da cidade inteira e das muitas inscrições que iam encontrando pela frente, como fachadas de lojas, todas em paredes variadas e múltiplas, algo bem simples, porém de imensa utilidade dentro da comunicação feita naquela comunidade. Tudo o que foi retratado foi idealizado em sua grande maioria por dois profissionais da cidade, eles praticamente dominando o mercado local e a grafia de ambos bem presente por todos os lugares. Nas fotos, na percepção dos que se debruçaram para, não só registrar, mas também estudar mais a fundo o que vem a ser isso, do povo resolver ao seu modo e jeito as suas situações de necessidade. Existe um lema no Brasil, o “quem não tem cão caça com gato” e ele serve como uma luva para dar uma ampla visão do que vem a ser de fato a grande revelação desse trabalho de pesquisa. Eles, pela dezenas de fotos tiradas nos mais diferentes lugares daquela cidade, com exemplos bem vivos, explicitaram que, quando o pequeno comerciante não tem recurso para fazer algo de grande monte, ele acaba se virando com o que tem em mãos e nesse caso, a contratação dos tais dois profissionais da cidade, os que pintam e bordam em todas as paredes da localidade. Como faço algo parecido por aqui na aldeia bauruense e fico observando tudo o mais ocorrendo pela aí dentro do mesmo quesito, o trabalho deles muito me impressionou. Ao final da apresentação ficamos a conversar, trocamos endereços eletrônicos e por fim, quando os contatei, recebo como resposta algo alentador: “Oi Enrique querido, Um prazer te conhecer e obrigado per nos escrever! Nos tamben gostamos muito da sua presentacao e sua atividad ativista, vala a redundança!! Adjunto o PDF com nostras fotinhos de Gualeguaychu para que uses como queras e nos menciones. Abrazao irmao!!!”.
No livreto de apresentação dos trabalhos acadêmicos lá em Palermo estava escrito sobre o trabalho deles: “Por que somos desenhistas gráficos? Vale a pergunta. Para buscar o resultado de um balancete entre estética cultural e o mais importante, através dela entregamos uma mensagem, ela chega a um destino e assim cumpre sua função. Dentro deste contexto de apresentará o “Diseño Autóctono”. Essa disciplina é o desenho gráfico de populações onde não existe necessariamente um desenhista gráfico profissional/universitário, mas existe um artista, um cartelista, chargista e ele é simplesmente dono de um negócio que se aventura a comunicar a sua proposta. O resultado funciona de fato e não apenas decora”. Eu me encantei com a fala deles, ainda mais quando um deles durante a apresentação dá um toque especial para o que conseguiram enxergar nas grafias retratadas: “Se não nos atentamos para o lugar onde estamos situados e o resto?”. O sujeito atento ao que rola à sua volta, no seu mundo é um sujeito deste mundo, faz parte dele, inserido da cabeça aos pés.
Poderia escrever mais e mais disso que vemos pelas paredes das mais diferentes localidades mundo afora, mas não quero mais me estender. Eu adoro ir retratando isso, as inscrições, o modo como as pessoas se comunicam pelas inscrições feitas nos mais diferentes lugares. Isso tudo é comunicação. Vale mais do que um estudo de caso. Deixo aqui publicadas algumas dessas fotos e ao observá-las, espero que consigam captar o mesmo que os dois que escreveram sobre elas, eu que as comparo com muitas que faço e com tantos livros que li, muitos tenho aqui, com grafias, placas, letreiros e tudo o mais usado como identificação. Passo um bocadinho para quem me lê, compartilhando o que rola lá no interior da Argentina, mas se formos parar para pensar, rolou no trabalho de TCC feito ali no bairro Geisel em Bauru e por tudo o mais. Essa grafia das ruas, muito popular, brejeira, simples, sem nenhum rebuscamento, ela tem cheiro de povo, é do povo e para o povo, possuidora de uma importância mais que enorme dentro do contexto de quem tem olhos para lhe dar valor.
OBS.: No trabalho original são 42 fotos, aqui somente algumas poucas para exemplificar o escrito.
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