quinta-feira, 26 de setembro de 2019

CARTAS (204)


QUANDO UM AMIGO PARTE, PARO TUDO E O REVERENCIO COM O DEVIDO LOUVOR


A LEMBRANÇA QUE QUERO TER DE FÁBIO NEGRÃO
"Eu, assim como um dos mestre de todos nós, Fábio Negrão fomos um dia inveterados boêmios, desses de dançar pelos bares com quem aparecesse pela frente, aqui o faz com a cantante e encantante Denise Amaral. Isso não denigre ninguém, aliás, só enaltece, pois o que seria desta vida sem os rastapés e os enroscos pela aí. Num dia de abril de 2014, eu e ele nos encontramos no Makalé Bar, lugar onde batíamos cartão, pois ali, além da cerveja gelada, da certeza de reencontrar gente da nossa laia conversativa, também ainda se podia desfrutar de boa música. Foi uma noite e tanto. Num certo momento, Fabião se achegou do meu lado e me disse no pé do ouvido: "Veja lá o que você vai fazer com essas fotos". Eu as guardei até o dia de hoje, quando me pus a procurá-las, pois diante de duas fotos que vejo os amigos publicando dele, prefiro essas, com ele na esbórnia, ainda todo pimpão, tentando driblar as adversidades e pululando pelos bares desta insólita aldeia. Ele foi muito ao Makalé por esses tempos, como também foi em outro ali mais perto de sua casa, o General Bar, do amigo Vagnão. Não quero escrever muita coisa dele, pois as fotos aqui reproduzidas, guardadas por certo tempo e hoje sendo espalhadas ao vento (nem todas, tenho mais um tanto daquele dia), dizem por si só de como foi o mestre de toda uma geração. Outro dia vi uma foto significativa dele, enfrentando os gendarmes da ditadura quando da visita do presidente general Figueiredo à Bauru. Ele na frente da resistência no palco dos acontecimentos, a praça Rui Barbosa.

Ou seja, cada um tem um belo momento com ele. Eu não tive o prazer de desfrutar de sua amizade nos tempos da resistência à ditadura militar, mas algum tempo depois, ele ainda na Unesp Bauru, descontente da vida, mas sempre um bom papo, conversas a atravessar a noite. Minha homenagem a ele é essa, ele alegre, ruando como fazem os grandes seres humanos. Hoje ele se foi fisicamente, só isso e os bares todos, os pontos de encontro onde a gente se reunia para desfiar o rosário contra os dragões da maldade que nos assolam, esses estão mais tristes, pois nem peças de reposição à altura existem mais. Foi-se alguém pelo qual valia a pena a gente fazer algo e escrever um bocado de linhas, que o diga a sua amiga e colega de trabalho, Dalva Aleixo, pois ela o acompanhou nas agruras dentro do hospital nos últimos meses. Um efusivo VIVA para esse guerreiro!", Henrique Perazzi de Aquino.

"Conheci Fábio em 1979, no movimento estudantil, quando a ditadura ainda fazia suas vítimas. Mas fiquei mas próximo do Fábio quando aceitou coordenar o projeto CPPT (Centro de Pesquisa e Produção Teatral) que apresentei para a Vice-Diretora da FAAC/UNESP na época Loriza Lacerda, durante este período tivemos uma convivência diária e de muito trabalho, e que constatei nesta época foi a relação de amizade que ele tinha com os alunos, sua casa estava sempre aberta para reuniões ou festas e ele sempre disposto a ajudar a todos. Descanse em paz meu grande AMIGO", Sivaldo Camargo.

"Fábio Negrão faleceu. O único professor que levou pra gente aquele livro de mídia radical, famosão no jornalismo e que a gente ia demorar pra saber se não fosse por ele. Que lia em voz alta na sala, porque sabia que talvez alguns ali não leriam em casa mesmo. Gerava debate, questionava, instigava. E falava de verdade quando não tava bem. Ia embora. Batia na tecla diante da morosidade estudantil, da burocracia acadêmica, da cultura do lattes. E não é só porque ele morreu que eu tô falando isso. Quando cheguei na faculdade já comentavam dele, nem sempre coisas legais. E quando tive aula com ele vi que era outra coisa. Outras ideias - muitas vezes levadas pelo outro lado. Naquela época e mesmo depois, era um professor realmente disposto a conhecer seus alunos e alunas, que nunca deixou de dar um sorriso e um abraço. Eu não quis deixar em branco essa memória aqui. Que os anjinhos te abençoem no céu, professor", Bibiana, jornalista do Jornal Dois.
"As aulas da minha turma com o Fábio Negrão eram aos sábados de manhã e quando tinha sol eram para fora da sala, perto da cantina. Um professor que se sentava ao chão com os alunos... Já formada, o jazz nos deixou sempre próximos. Nosso último encontro foi depois de uma cantoria no TemploBar Bauru, no bom e velho balcão. Com tom professoral, ele me disse: Zonta, está mandando bem, deveria cantar mais. Está gostoso de ouvir... Fabio Figueira vá na luz e no som. Valeram as lições e as muitas conversas na mesa do bar", jornalista Luly Zonta.

FÁBIO NEGRÃO, GUERREIRO INDOMÁVEL!
"Conheci o professor Fábio Negrão em 1978 e juntos participamos de jornadas inesquecíveis na luta pela liberdade, democracia e fim da Ditadura Militar. O camarada era um aguerrido combatente e não fugia jamais da luta. Participamos juntos em janeiro de 1979, da Jornada Nacional de Cine Clubes em Santa Tereza no Espirito Santo e em Maio do mesmo ano, do Congresso de Reconstrução da União Nacional dos Estudantes em Salvador-Ba. Viagens e eventos memoráveis. Atuamos juntos no antigo MDB – Movimento Democratico Brasileiro – e no então clandestino Movimento Revolucionário 8 de Outubro – MR-8 -, o popular “oito”, participamos de atividades memoráveis como o protesto contra a visita do ditador João Figueiredo à Bauru, em agosto de 1980, onde o companheiro Pedro Romualdo registrou Fábio enfrentando cara-a-cara o então temido Delegado Romeu Tuma.
A luta pelo passe escolar com 50% de desconto de 1979, foi outra luta memorável que devolveu os movimentos populares para as ruas de nossa cidade. Conseguimos mobilizar parcela considerável da comunidade bauruense pela luta pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita, promovendo debates, palestras em defesa da causa. E o companheiro Fábio foi um guerreiro, participando ativamente de todas as lutas encetadas no período, sempre com uma coerência inconteste. Alternava suas atividades políticas com a cultural, em especial a música e o teatro. Gostava de tocar seu contrabaixo e de representar, tendo inclusive trabalhado na montagem bauruense da Casa de Bernarda Alba que lhe proporcionou uma inesquecível viagem para a Espanha, onde o grupo bauruense se apresentou. O cartaz desta peça, encontra-se até hoje no Templo Bar. A partir de meados dos anos 80, afastou-se da militância política, dedicando-se somente a carreira docente, inicialmente na Fundação Educacional de Bauru – FEB – e posteriormente, até o final de seus dias na UNESP. Dois meses atrás, o companheiro Fábio sofreu uma violenta queda na quadra 1 da rua Júlio Maringoni, muito certamente ocasionada por um AVC e o que lhe ocasionou uma grande hemorragia cerebral e desde então estava internado no Hospital de Base. Após leve melhora, seu quadro piorou nos últimos dias, levando-o a óbito, aos 68 anos de idade. Deixa três filhos, Rafael e Thiago do seu primeiro casamento com Luciana e Beatriz do segundo casamento com Simone. Encontrava-se separado há quatorze anos. Fábio resolveu partir, e nos últimos dias de sua vida, deve ter sentido a forte presença ao seu lado da companheira de militância política e de docência Dalva Aleixo Dias que não mediu esforços no sentido de proporcionar afeto e carinho, e principalmente cuidados. Mobilizou companheiros, amigos, professores e alunos que se cotizaram para garantir a presença de cuidadores ao seu lado, diuturnamente. Fábio Negrão faleceu às 1:57 desta madrugada e está sendo velado na Funerária Reunidas, seu sepultamento será às 15:00 horas no Cemitério da Saudade. De uma coisa, estamos certos, Fábio Negrão permanecerá de forma perene na memória daqueles que com ele conviveram", Antonio Pedroso Junior, o Chinelo.

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