domingo, 13 de dezembro de 2020

BEIRA DE ESTRADA (131)


DANDO UM TEMPO PARA COM A POLÍTICA

1.) UM ELOGIO PARA COMEÇAR O DIA
"As cenas bauruenses do Henrique são pura poesia. Poesia de luta, nostalgia e esperança de uma cidade melhor e para todos. Um Rodrigues de Abreu cheio de preocupação social e humana, uma câmera na mão e ideias de um bem maior no coração. Viva o mafuento HPA!", Gilberto de Almeida Bessa.

2.) ELE ACORDOU HOJE E DECIDIU QUE IRIA PLANTAR ÁRVORES NO CANTEIRO DAS NAÇÕES, ASSIM FEZ E ME ENCANTOU
Eu vinha descendo hoje pela manhã a avenida Nações Unidas, passei pela Marcondes Salgado e ia virar à esquerda, junto a pracinha diminuta que fizeram para homenagear Zumbi dos Palmares quando o vi agachado no meio do canteiro central. Eu pensei em seguir em frente, mas algo me disse lá dentro de mim: Volte. Voltei, virei a Nações no sentido contrário e parei o carro meio fora do lugar, quase defronte a uma borracharia ali existente e fiquei o observando. Ele me encantou.

Tirei a maquininha fotográfica que carrego junto ao console do carro e comecei a disparar algumas fotos. Queria muito registrar aquele senhor de meia idade, ali numa manhã de domingo, saído não sei de onde e com alguns apetrechos de jardinagem, cavocando a terra e plantando alguma coisa. Pessoas como este senhor são iluminadas por algo que vem de dentro, trazem consigo um benfazejo imenso e prontos para serem colocados pra fora. Eu não consegui ir lá perguntar pra ele o que estava fazendo ali, plantando o que, pois iria estragar um pouco da poesia que ia vendo com meus próprios olhos.
Fiquei pouco mais de uns cinco minutos ali, sem sem por ele notado e maravilhado com a cena, ele ali absorto no que fazia, sem notar nada mais no seu entorno, estava com algumas mudas e querendo que aquele lugar escolhido por ele passasse a ter árvores, mais verde e tivesse outro visual, cheio de sombra daqui há alguns anos. Não sei se consegui registrar o rosto daquele senhor e nem era essa minha intenção. O que queria eu consegui, atrasei o que iria fazer, parei e fiquei admirando uma poesia escrita por um cidadão anônimo, alguém querendo transformar o mundo em algo mais palatável e habitável. 

Com ele eu ganhei meu dia e sei que, em todas as trombadas que terei hoje pela frente, pensarei antes na cena do senhor ali agachado e se doando sem pedir nada em troca, mas simplesmente executando. Sua lembrança e o que senti eu quero passar adiante com as fotos que tirei e só não o fiz mais, pois estava tão absorto na sua imagem e no que fazia que, acabei me esquecendo de tudo o mais, até de caprichar e melhorar o foco, essas coisas bobas que a gente não deve esquecer quando empunhando uma maquininha dessas nas mãos.

obs.: José Eduardo Ávila me informa a identidade do senhor: "Esse senhor é o Nelson é corretor de imóveis pessoa do bem, seu escritório é vizinho da borracharia do seu Augusto Pires, eles estão ali estabelecidos a 5 décadas aproximadamente...".

3.) POVO NA FEIRA, CARIOCA, EMICIDA E EU VOLTANDO PARA A TRANCA
Passei hoje rapidamente pela banca de livros do Carioca lá na Feira do Rolo. Sei que ainda deveria manter distância daquele aglomerado de gente, todas se trombando, mas não aguentei e ao chegar até lá, fiquei sentadinho no fundo, encostado na parede da Associação dos Aposentados, só vendo o movimento. E ele foi intenso, como se nada estivesse acontecendo. Carioca me ofereceu uma pinguinha, que dizia ser cloroquina e acabei tomando, só por ser pinga, pois sei que a tal cloroquina vale nada para a Covid. Ele me disse mais, diante do meu mêdo diante do que observava: "Henrique, calma, esse pessoal é meio imune, temos um algo mais que nos garante e nos calçamos com umas cangibrinas". Ah, como gostaria fosse verdade. Sei não é e hoje, sentado aqui em casa, eu e Ana resolvemos assistir o filme do Emicida pela Netflix, o histórico show Amarelo, gravado no Teatro Municipal em São Paulo em novembro de 2019 e quase no final do filme, ele com sua contundente fala proclama o quando os povos das ruas, principalmente os negros são os mais atingidos pelas pandemias e epidemias todas, pois mesmo com muitos anticorpos são os menos favorecidos para se defender, devido à exposição constante, diária, ininterrupta. Queria neste momento voltar lá e dizer isso tudo pro Carioca, mas já estou em casa faz tempo e o que vi por lá não se dá só ali e sim, por todos os lugares, com todos se descuidando. Doideira total.

Fiquei num local isolado, ao fundo, mas mesmo assim, sei, correndo muitos riscos e nas conversas que ouvia, muitos por ali repetindo um bordão: "Perdeu o medo, véio!". O povo perdeu o medo e voltou com força pras ruas. Vendo o que vi, creio que, não existe nada melhor do que voltar a me recolher e esperar mais, pois os sinais são de que a coisa está degringolada novamente, a vacina demorará para chegar aos pobres mortais e se depender desses malucos criminosos que hoje nos governam, o que deve ser incentivado são atitudes como as que vi, do enfrentamento com a cara e a coragem, o que certamente vai resultar em merda. Quis juntar o que presenciei hoje com o que ouvi no filme e me penitenciar pelo erro de ter voltado pra feira e pros ajuntamentos. Eu e Ana já decidimos, o Natal aqui em casa será somente entre nós dois e pronto. Tomara tenha escapado de ter tido contato com o vírus, pois volto a me fechar e me trancar. Não dá para arriscar.

4.) DAS ESCAPULIDAS E DO PRAZER EM SER ACUMULATIVO
Saio agora diariamente de casa. Confesso e explico. Um dos inquilinos do Mafuá se foi - talvez volte em fevereiro -, preciso continuar alimentando meu cão e também passar um tempo ao lado dele, pois além de guardião lá de minhas preciosidades, fica só a maior parte do dia. Assim sendo, lá compareço duas vezes ao dia, pela manhã e ao final tarde. Ontem, sábado, sai da rotina e ao voltar para meu bunker ao lado de Ana, quis antes dar uma passada num local onde minha mana Helena vai muito, o Sebo Clepsidra, ali na Treze de Maio, na quadra debaixo da Duque. Estacionei bem em frente e naquele momento, 10h20, só eu e o rapaz cuidando da casa. Depois chegou outro cliente, como eu, rato de estantes e passamos cada um a devastar o lugar, como se a procura de tesouros. Logo de cara conto como comigo aconteceu.
Comecei por uma estante na entrada e ao pegar um dos livros, o rapaz me disse que tudo ali era por R$ 1 real (Isso mesmo, apenas um real - disse estarem precisando de espaço e daí juntaram muita coisa mais do que aproveitável). Era uma estante, com livros até formando fileira atrás da fileira da frente. Passei pouco mais de meia hora só ali e ao final do rescaldo, ao completar dez livros, me dou por satisfeito, pago os R$ 10 reais, volto para o carro, higienizo mãos e volto para o lar. Limpo livro por livro e vou curti-los, até neste domingo pela manhã levar todos para seu lugar definitivo, o Mafuá, que um dia ainda será ampliado também como uma Biblioteca Mafuenta, com livros sendo emprestados para leitura coletiva. Eu sonho e isso me acalenta. Por enquanto sigo juntando objetos e materializo a coisa com essas comprinhas de livros, LPs e CDs. Atulho mais o espaço e só lá mantenho uns cinco livros abertos ou com marcadores em suas páginas, lendo bocadinho a cada retorno - nem que for uma mera página. Cada pessoa é possuidora de uma ou mais doideiras a lhe mover a vida, as tais coisas que gosta de fazer. Adoro ambiente de sebos e até hoje não consegui ainda ir no que o amigo Reginaldo abriu ali na Saint Martin - mais irei e em breve. Passo também todo dia defronte o Sebo Literário, ali na Antonio Alves e quando estou com o carro parado esperando o sinal abrir, olho lá dentro e sou tomado por uma quase irrefreável, incontida vontade de deixar o carro ligado no meio da rua e ir lá fuçar livros. Isso move minha vida. Assim como, ir também na Banca do Carioca, lá na Feira do Rolo, aos domingos, mas lá é muito agitado e na qualidade de grupo de risco, medrado que sou, permaneço na defensiva. Já do adquirido ontem, alguns com temática de Bauru - possuo uma estante só com livros de Bauru e bauruenses e nela tudo o que encontro pela frente, já perto de cem itens - e tudo o mais, romances, algo de História - adoro ler sobre a Argentina e não resisto ao me deparar com algo sobre eles -, além de romances - um do Jô -, como do Sábato e os contos alegres do Veríssimo. Até um da Cia Letras sobre algo que sempre me instigou, como se dá a vida na Coréia do Norte, outro sobre um mochileiro e outro com depoimentos de jornalistas famosos sobre o seu ofício, além de um roteiro para circular pelas quebradas de Santiago do Chile. Enfim, por dez reais, o Mafuá ganha mais dez livros em seu acervo e já quero lá voltar e fuçar com mais afinco a tal estante. Eis este HPA diante de algo arrebatador, doença da qual não quer se curar, tanto que nem procura pelo antídoto e sim, cai de boca, mais e mais no desenfreado consumo, o que me faz passar por estes dias de confinamento com menos tristeza e passando longe da depressão. Viva os livros e no meu caso, os baratinhos, os de minha preferência.

5.) ADESIVO JÁ NO CARRO
Ganhei do pessoal protestando contra o Fechamento do HS
Muito pertinente, já foi pra varanda externa do possante, melhor lugar pra ser visualizado

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