quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (186)


DUAS COISINHAS SOBRE A TRANSIÇÃO GOVERNAMENTAL EM BAURU
1.) COMO SE DÁ A MOVIMENTAÇÃO DOS TAIS “FORÇAS VIVAS” E “DONOS DO PODER”
Erro quando escrevo nas sempre mal traçadas linhas produzidas por este mafuento que as “forças vivas” e os “donos do poder” foram vergados e alijados do poder aqui em Bauru, com a eleição da Suéllen Rosim e seu novo grupo político – não tão novo assim. Tem muita coisa por detrás dessas afirmações e muitas me desmentem. Primeiro, as tais “tais forças vivas” estão a perder eleições aqui em Bauru faz muito tempo. Perdem, mas quem ganha logo se alinha aos seus interesses, ou seja, não conseguem colocar lá o indicado por eles, mas no jogo político na sequência, sempre ganham. Se a pessoa é dita e vista como “dona do poder”, ela detém o mesmo e faz dele uso ao seu bel prazer, para atendimento dos seus interesses. Ponto. Poucos ousaram querer ter vontade própria nessas plagas. A maioria pagou caro pela ousadia. Observem hoje, quando todas tais forças já estão unidas e praticamente exigindo que Suéllen capitule e vá até eles pedir a benção. Se ela não foi até o presente momento, o incômodo é geral, gerando já os comentários na cidade: “ela não dura mais que um ano no poder” ou “isolada não resistirá”. Esses tais querem todos perfilados aos seus interesses e jogam pesado. Os capôs da Câmara de Vereadores estão aguardando a ida da prefeita para “dialogar” com eles, que nada mais é do que compor. E se não o fizer? Esses sabem como agir, pois podem se unir e decidir lá mesmo pelo destino da alcaide ou até mesmo acionar o Ministério Público por qualquer coisa aí, um assuntinho qualquer e ela cai. O jogo é este.
Esse chamamento para que a Suéllen sente na mesa com os tais “Donos da Cidade” nada mais é do que fazer o jogo, jogar segundo as regras estabelecidas por estes. Não que ela vá ter independência suficiente para realizar e colocar em prática o que este povo precisa no atendimento de suas reivindicações. Longe disso, mas só pelo fato de querer se mostrar independente já geral incomodo nestes. Veremos o que virá pela frente. A capitulação total e absoluta da prefeita aos interesses destes ou ela os irá peitar e pagar pra ver. O poder de fato continua em pleno vigor e pronto para exercer seu domínio da forma mais violenta possível, quer para Suéllen, quer para outro, alguém que por ventura chegasse lá com intenções de métodos de viés popular, passando por cima do estabelecido. Ela neste momento está quase no ponto para ser enquadrada e tudo voltar ao normal por essas plagas, devolvendo a tranquilidade para os detentores do mando sobre nossas vidas. O jogo lá com eles é de pesado para impraticável para bem intencionados e propositivos do bem.
OBS: O termo "Donos do Poder" é brilhantemente explicado num livro didático sobre como se dá essas relações no Brasil, escrito pelo jurista Raimundo Faoro - de saudosa memória.

2.) TEM QUEM ACEITE DE CARA, TEM QUEM PEÇA PARA PENSAR E TEM QUEM, COMO MEU AMIGO, DIGA LOGO DE BATE PRONTO: "NÃO"
A composição do novíssimo (sic) governo municipal bauruense está em plena formatação - ou seria gestação?. O fato é um só, está o mais disque-disque na cidade, com gente se oferecendo e fazendo de tudo e mais um pouco para ser notado. Outros tentam ao seu modo e jeito se segurar ao menos no lugar onde estão. Os nomes circulam de lá pra cá e em todos os sentidos, jeitos, maneiras e posições (ui!). Tem para todos os gostos. Ontem à noite, amigo de longa data me liga e conta algo ocorrido com ele. Decido registrar o diálogo, que se deu mais ou menos desta forma e jeito:

- Henrique, por essa eu não esperava. Fui procurado. Você sabe, eu sou técnico, faço a coisa como deve ser feita, sem desvios. Trabalho e muito e se meu nome está circulando por aí, sei ter batalhado muito para isso. Tenho meu posicionamento político. Não sou de esquerda, ou seja, não sou comunista, mas algo pelo qual não quero ser confundido é isso que vemos, os extremistas de direita, esses bolsonaristas afundando com o país, renegando a ciência, queimando o país e destruindo o que nos resta de soberania. Recebi hoje uma ligação e estavam a me sondar.

- E você aceitou? Impôs condições? Como se deu?

- Não vou te contar nomes, pois não vem ao caso. Foi entre eu e a pessoa. Nem sei se era algo oficial, mas me ligaram para saber que toparia participar do grupo que atuaria junto da prefeita. Explicou o que estavam precisando e disse terem chegado ao meu nome. Agradeci, fiquei lisonjeado, mas declinei. O cara insistiu, disse que outros tantos estão aceitando, pois o grupo montado é bem eclético, estarão atuando acima da política, pelo bem da cidade.

- Você não caiu nessa? Marcou algo?

- Marquei nada, disse logo de cara que não poderia fazer parte de algo pelo qual combati e combato. Depois de tudo, não posso estar ao lado de tudo o que não aceito como o correto. Imagine se o Bolsonaro vem para a posse dela, pois Bauru vai ser o QG do Patriota e do bolsonarismo em São Paulo, fazendo o contraponto com o Dória. Eles devem ter uma linha e não vão aceitar ninguém chegando e dizendo que a coisa deve ser feita de uma forma diferente da deles. Não vai ser fácil trabalhar com gente assim. Percebi estarem caçando técnicos e pelo que me disse, alguns já aceitaram. Fui educado, pois conheço a pessoa que ligou e nunca tive contato com a prefeita, nem com o seu vice. Prefiro continuar tocando minha vida e meus projetos sem manchar meu currículo. Eles precisam do meu nome, não do que posso fazer pela cidade, pois isso, creio não implantariam. Não sei quanto tempo isso vai durar, não sei quem mais estará lá, não sei o que pretendem, não sabemos nada. Seria um baita tiro no escuro. Fiz errado ou certo?

- Fez muito bem. Estou vendo alguns conhecidos aceitando continuar atuando em seus cargos, mesmo não sendo de carreira. Os de carreira vão ter que segurar a pinimba no braço , mas os cargos de confiança também se movimentam. Você foi muito altivo. Seria uma oportunidade de prestar um serviço valioso para Bauru, mas sei o que te impede de aceitar. Você tem brio, vergonha na cara. Passo a te considerar mais depois do que me conta. Se pudesse te daria um forte abraço, o que farei em breve.

E mais não conto, pois não quero identificar nem um, nem outro. Pelo que me disse, convites como este pululam pela Bauru às vésperas da chegada da "patriotada" ao poder. 

DA SEÇÃO, A VIDA AINDA É BELA
DELICIOSO QUANDO O MÉDICO QUER BATER PAPO E PUXA CONVERSA CONTIGO – ELE SABIA COISAS DE MINHA TIA QUE NEM EU SONHAVA ALGUÉM COMO ELE GUARDARIA DE MEMÓRIA
Essa aconteceu comigo hoje e tenho que passar adiante. Difícil a gente prosear com médicos em consultas. Primeiro, porque a maioria se limita a clinicar e poucos ousam ouvir algo mais. O tempo sempre é curto, fila do lado de fora e formalidade sem rapapés quando sentados um diante do outro. Conheço alguns que gostam de olhar no olho do paciente e querem algo mais. Salvam a profissão, pois a sisudez é mesmo uma nhaca, ocorra onde ocorrer. Fui hoje naquele prédio novo da Unimed fazer três exames, um atrás do outro, doppler, ergométrico e ecocardiograma. No último um cardiologista e como passaríamos um quinze minutos juntos, ele lá me esfregando, eu deitadão na maca, puxou conversa:

- Queria te perguntar algo, se você conhece uma Perazzi que foi minha paciente. Dona Edi. É tua parente?

Pronto estava dado o mote. Dona Edi é minha tia, irmã gêmea de minha mãe e a partir da deixa, discorremos por longo tempo sobre ela. Difícil um médico que lembra tantos detalhes de uma paciente e mesmo ela tendo falecido já há alguns anos. Sabia tudo dela, que ela adorava dançar e bater perna, que havia se separado e vivia num segundo relacionamento, que era feliz, viajando bastante e fazendo o que gostava. Contou coisas que nem eu sabia. Dessas coisas que a gente esconde de todo mundo e só conta pro médico, quando este é de confiança. A conversa foi tão agradável que me disse mais.

- Certa feita dona Edi trouxe aqui outra pessoa, dona Norma, a italiana. Ela todo ano vinha pra Bauru e pelo menos esteve comigo por umas cinco vezes. Falou de sua família, do filho e de uma loja de vinhos, dos tempos quando foi aeromoça, de Ravena e algo não esqueço. Numa das vezes necessitava de um procedimento que não podia fazer por aqui, mas sim pelo SUS. Disse a ela que se fosse lá no posto onde atendia às 6h30 da manhã a encaixaria. Ela foi, estava lá e conversou horrores. Dona Edi e dona Norma, assim como tantas outras me contaram suas vidas e eu dei corda.

- Sim, doutor, ela foi muito cedo pra Itália e aprendeu algo com eles, os europeus. Eles não tem a vergonha que o classe média daqui tem. Se eles tiverem que posar num albergue, posam sem pestanejar, pegam todo tipo de ônibus numa boa e ir atrás do atendimento do SUS é fichinha. Ela, tia Norma tem seu plano de saúde governamental lá e está acostumada. Deve ter tirado de letra.

Falamos horrores e como não tinha mais ninguém depois de mim para fazer o tal exame, ele contou algo mais do que anda fazendo nestes tempos de pandemia, sua auxiliar entrou na conversa (são raros os casos neste país de uma auxiliar participar da prosa e também dar pitacos, contar e assuntar) e aproveitei também para discorrer uns casos. Ele finalizou o caso familiar me relatando algo que não sabia:

- Tua prima, a que mora em Palmas (me pergunta o nome, digo, Célia), ela veio aqui quando sua tia começou a piorar e conversamos muito só os dois sobre o que achava da saúde de sua tia. Depois, quando ela faleceu, ela voltou aqui e conversamos também. Veio me comunicar do falecimento dela e são essas relações que guardo para sempre. Tenho até hoje o endereço da Norma anotado e talvez um dia ainda a visite em Ravena. Da Célia, mande meu abraço para ela em Palmas e diga que quando voltar pra Bauru, passe por aqui e se um dia for lá pra Palmas vou visita-la no condomínio onde me disse morar.

Ele é dotado de uma memória de elefante, possui um compartimento para cada cliente que gosta. Perguntou muito de mim e sei, deve estar memorizando tudo – seu chips memorial deve ser dos melhores. A conversa foi tão gostosa e como não ocorria de mim para com um médico e de um médico para comigo fazia muito tempo, encerrei o papo na despedida pedindo algo muito do sui generis, ainda mais para um “doutor”:

- Gostei tanto da prosa e te peço algo. Invente aí uns motivos e me peça para voltar, ao menos de três em três meses, me coloque como o último a ser atendido no dia e assim continuamos confabulando como o fizemos hoje.

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