ELE QUER QUE EU VOTE CANDIDATO DELE*
* 81 texto deste HPA, para edição de ontem nas bancas, do semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo:
Este diálogo realmente aconteceu e foi nessa semana, num dos bairros populares aqui de Bauru e a comprovar algo fora da lei em curso. O bolsonarismo incutiu na mente de alguns que o seguem, poder fazer tudo o que lhe convier, sem prestar contas, como fosse a coisa mais normal deste mundo. Quando inquiridos, se mostram surpresos e não demonstram vontade nenhuma de seguir a legislação ainda existente, como se estivesse acima dela. Coisa de quem se beneficiou demais da conta de insólitas benesses, daí se acostumaram com o anormal e agora quando cobrados, mostram os dentes.
Eu o abordo no portão de sua casa, entrego folhetos dos candidatos pelo qual faço voluntária campanha, Lula presidente e Haddad governador. Ele pega um tanto reticente e como minha função não é somente entregar, mas prosear, ouvir e se possível, dizer algo, o deixo desabafar. “Eu sei que o Lula é o melhor para mim, que sou pobre e trabalhador. Vejo o que está em curso, os direitos já perdidos e quando ocorre pressão pra cima de mim, com o patrão me propondo votar no candidato dele, a certeza de algo estar errado. Ele está desesperado e quer que entregue o meu título de eleitor até sexta lá na firma. Diz que paga a multa de todos mundo”.
Repito aqui minha resposta: “Se faz isso, certeza, está ciente de que o candidato dele está prestes a perder a eleição e daí joga sujo. Ele pode ser punido por isso e vejo que não quer bater de frente. Sabe qual a melhor saída? Entregue o título, mas como votou das outras vezes, vá e vote com o RG ou outro documento com foto. Isso é permitido”. Sorri e diz, não havia pensado nisso. “Ótima saída. Até porque, morri de vontade de lhe dizer do quanto o candidato dele é bem diferente do meu. Tentou até me dizer que o dele, deveria ser também o meu, pois se quer o bem dele, quer o meu também. Como o dele quer o meu bem? Meu patrão viaja todo ano, férias fora do país e eu viajei na vida uma só vez de avião e acho, se o Lula não voltar, dificilmente o farei novamente. Como posso votar no cara que fez eu perder a carteira assinada e agora quer reduzir o percentual do salário do aposentado?”.
Dos mais lúcidos que tive pela frente. Não tinha muita coisa para lhe acrescentar. Sabe tudo o que está em curso. Igual a ele, deveriam muitos evangélicos agir quando o pastor diz que, Lula irá fechar igrejas, quando sabemos isso nem passa pela cabeça do petista. Ambos, ao seu modo e jeito, vivenciam na pele as agruras destes tempos.
Eu não sou um sujeito muito produtivo nesse quesito de distribuir folhetos de porta em porta, pois quando encontro alguém assim, fico para trás, enquanto todos seguem lá na frente. Mas isso é tudo o que quero encontrar nas caminhadas. Num outro local, o evangélico pega o folheto mas me diz irá votar no Bolsonaro. “Sou família, contra o aborto, drogas e temo Lula, pois se o pastor me pede para manter distância, algo de ruim está por detrás”, me diz.
Desfia um rosário bem conhecido e quando demonstro o contrário, com ampla argumentação, pergunto afinal, se sua consciência o conduz para questionar, porque não o faz. Sua resposta me surpreende: “Aqui onde moro, o senhor até vai entender, primeiro a igreja, ela me atende, depois a família. Não consigo ser do contra e continuar olhando para eles e eles para mim. Prefiro não bater de frente com eles, enfim, meu mundo é este”.
Eu bem sei, não será um senhor, primeira vez no seu portão, o fará mudar de ideia e enfrentar todo o seu mundo. Coloco, ao menos algumas minhocas no seu anzol, mostrando existir outros mundos e saídas. Muitos destes sabem disso, senti bem evidente algo assim pululando no ar, mas ainda não sabem como mudar de lado.
Esse trabalho é muita paciência, como me disse outro em seu portão: “Moro aqui e vejo o que acontece. A maioria teve a cabeça feita ao longo do tempo. Isso que o senhor faz, quem faz atualmente é a igreja. Para voltar a ter a sua mensagem entendia, não será de um dia pra o outro. Vá com calma, muita paciência e volte sempre, cave um espaço e se mostre. Já, resultado imediato, praticamente impossível, pois existe uma dianteira a ser vencida. Não desista”.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
EU E LARANJEIRA, DOMINGO LOGO APÓS TERMOS VOTADO - REENCONTRO
Dia da eleição mais importante de nossas vidas, escolho um tempinho pra bater cartão na feira dominical e dentre todos os que por lá reencontro, um deles merece o registro e uma prosa além da foto. José Laranjeira é professor da Unesp Bauru, criador da Pomba da Paz, ali na praça da Paz, altos das Nações. Está feliz da vida, pois conseguiu recuperar suas totais atividades enquanto professor universitário. Revitalizado, levanta com as próprias mãos seu lar, agora rural e duplamente feliz por ter escapado de acidente nessa construção, onde quase teve a cabeça rachada. Ficou a cicatriz no rosto e a certeza de que, viver é ainda o mais importante de tudo. Resolveu pintar os cabelos, o fez com a cor errada, azul, foi dar aula assim e lhe recomendaram pintar por cima com rema, tinta natural e vegetal. Topou. A cor ficou essa exposta mas fotos e, ele sabe, em 20 dias voltará a ter os cabelos brancos. Saiu hoje pra mostrar a feira pro filho, nos trombamos e ficamos tricotando numa sombra sobre esse nosso momento, encruzilhada de dois únicos caminhos. Estamos apreensivos, porém cientes de que, diante de tudo o que já nos aconteceu, ele de 1959, ano da Revolução Cubana, eu de 1960, pouco mais velho, estamos prontos pro que der e vier. Eu com cicatriz de queimadura tomando as costas toda e ele, agora com esse risco na face. Se tivermos que enfrentar o touro a unha, pois que "venha o touro". A gente verga, mas não quebra. Encontro casual antes do meio dia, ambos já tinham sacramentado o voto e, para não enlouquecer vendo TV, escolhemos a feira para espairecer antes da apuração e do que virá depois dela. Não nos surpreendemos com mais nada, porém, estamos suando frio.
ÚNICA PEÇA DE LULA FIXADA NUM MURO DE RESIDÊNCIA EM PEQUENA CIDADE DO INTERIOR PAULISTA
Acabo de ouvir uma história de um casal numa perquena cidade do interior mineiro, onde todos os seus parentes e amigos eram Bolsonaro e para não ter problemas, principalmente profissionais, com perda de clientes, se calaram e o manifesto feito veio através do voto, dado em Lula. Outros assim procederam e a votação dele na cidade surpreende. Essa multidão de gente amedrontada, quando diante da urna eletrônica, foi lá cravou o nome de Lula.
Conto isso logo após saber da vitória e de receber via whatshapp duas fotos enviadas a mim por conhecido de Arealva, cidade próxima de Bauru e com aproximadamente 5 mil eleitores. Uma cidade pacata, tranquila, com poucas empresas e um único grande empregador, além dos produtores rurais, quase todos assumidos bolsonaristas.
Acabo de ouvir uma história de um casal numa perquena cidade do interior mineiro, onde todos os seus parentes e amigos eram Bolsonaro e para não ter problemas, principalmente profissionais, com perda de clientes, se calaram e o manifesto feito veio através do voto, dado em Lula. Outros assim procederam e a votação dele na cidade surpreende. Essa multidão de gente amedrontada, quando diante da urna eletrônica, foi lá cravou o nome de Lula.
Conto isso logo após saber da vitória e de receber via whatshapp duas fotos enviadas a mim por conhecido de Arealva, cidade próxima de Bauru e com aproximadamente 5 mil eleitores. Uma cidade pacata, tranquila, com poucas empresas e um único grande empregador, além dos produtores rurais, quase todos assumidos bolsonaristas.
Duas fotos muito significativas, pois são a de um único muro naquela cidade com algo declarado, explícito de apoio para Lula presidente. Na estampa fixada a famosa toalha com a cara dele. Quem me enviou a foto o fez pelo inusitado e muito pela coragem. É fácil imaginar das dificuldades de algo assim, tão simples em outros lugares, numa cidade de cunho conservador e cujos empregadores são todos bolsonaristas. Quem o faz paga o preço da ousadia. Este morador comprou a briga e lá está a toalha.
Peço o nome do morador e quem me enviou a foto diz não poder me atender, até porque assim, mesmo com a foto publicada, não tendo a localização e a citação do nome, menos exposição e assim, menos problemas. A única coisa que me diz é que trata-se de um jovem e alguns familiares discordaram da atitude. São tantas coisas juntas e algo tão trivial, uma simples peça publicitária num muro, tratado como um a mais no todo, aqui no contexto da cidade de Arealva, vista como algo anormal.
São atos como estes a engrandecer a votação expressiva de Lula e a coragem de tantos abnegados eleitores, que mesmo com a adversidade batendo à sua porta, com o receio da retaliação e o medo das consequências, vão e fazem. Estes são os que dignificam a vitória desta noite, pois a ajudaram a construir de forma decisiva. Não sei mais nada dessa história e mais detalhes não consegui, mas sei que, deve conter um algo mais, uma bela história de resistência por detrás do simbolismo de um pano fixado num muro de Arealva, encravada no interior de uma pequena cidade paulista.
Na verdade, não foi no território bauruense, mas no seu limite, já em Pederneiras. Ontem à tatde e noite, mais uma festa rave, com milhares de jovens, a maioria de Bauru. Como em Bauru essas festas estão proibidas, ocorrem pela região e como recebem de mil a três mil pessoas - algumas até mais -, são locados locais na àrea rural com capacidade para receber grande quantidade de pessoas. Não me oponho a que ocorram, pois sou do tempo do Festival de Água Claras. Evidente, outro público, outro tipo de gosto musical, mas ambos reunindo jovens. Daí, não me peçam pra ser contra, enfim, gosto deste tipo de evento e o que condeno é a falta de estrutura, evidente na sua maioria. Visam hoje uma só coisa, lucro, lucro e lucro.
No de ontem, chuva, raios e a estrutura veio abaixo. Reproduzo relato de pessoa conhecida que lá esteve: "Foi assustador. Nunca passei tanto medo na vida. Cheguei em cada encharcada da chuva. Por outro lado tinha gente sendo carregada, porque caiu raio por lá, algumas pessoas foram atingidas, pisoteadas, tinha placa de ferro voando, o palco desmontou com a chuva. Foi horrível. Perdi tudo, celular ficou encharcado. Pra voltar muita confusão, vento e multidão em desespero".
O que fazer? Como regulamentar? Impedir não seria jogar problema pra debaixo do tapete? Ontem, teve adicionado a tudo a fatalidade da chuva forte e com ventos. Nada sei sobre as informações das mortes, além do que printei e publiquei. Enfim, mais uma tragédia, além de tantas outras em curso, como a bestialidade da população paulista votar numa pessoa tão sem sentido, como este Tarcisio, para nos governar. Como pedir bom senso para decidir e avaliar se os eventos rave são danosos, quando ao mesmo tempo se vê o eleitor paulista escolhendo alguém como Tarcisio? Pedir bom senso para estes opinar sobre algo é mais do estranho...
O "L" DE LULAR (28) - ALGUNS DE MEUS AMIGOS E AMIGAS NO PÓS-RESULTADO ELEITORAL
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