Essa pergunta não é assim tão difícil de ser respondida e me foi feita ontem, após o STF ter cumprido mandatos de busca e apreensão no país quase inteiro, contra envolvidos nas manifestações dos perdedores da eleição, amotinados defronte quartéis desde então. Estávamos, eu e amigo que trabalha na região, próximos da rua Bandeirantes, onde a quadra inteira defronte o quartel do Exército está fechada.
- O local é constantemente abastecido com alimentação, barracas e uma estrutura bem montada, com rodízio permanente de pessoas se apresentando como liderança. Quem são estes? Quem bancam estes? Tem gente de Bauru financiando isso e qual a conecção com o que acontece no restante do país? - me pergunta o amigo.
- O local é constantemente abastecido com alimentação, barracas e uma estrutura bem montada, com rodízio permanente de pessoas se apresentando como liderança. Quem são estes? Quem bancam estes? Tem gente de Bauru financiando isso e qual a conecção com o que acontece no restante do país? - me pergunta o amigo.
A mesma dúvida eu também a tenho. Ele me explica o que tem visto acontecendo por ali.
- Vejo chegar comida frequentemente, muitos entregadores. Está tudo muito bem organizado, ou seja, existe uma retaguarda bancando este festim todo. Enquanto uns falam, tem quem financie isso tudo e deve ser gente daqui da cidade. Se eu, que sou leigo, vejo tudo isso, imagine se algum corpo investigativo tivesse interesse em descobrir de onde vem isso tudo, tudo seria esclarecido num vapt-vupt. É só ir puxando o fio da meada e facilmente chegariam na raiz de tudo. Tem até som profissional lá no local. É alugado? Se quisessem já teriam desvendado este mistério.
- Tem gente de fora, alguns que nunca vi, mas impossível tudo ser gerado de fora. Agora que o STF pegou pesado com os ilegais país afora, pra começar basta ouvir um bocadinho da Jovem Pan daqui. Ali já surgem dicas de quem sejam os financiadores, pois pelos entrevistados, muitas pistas. O incentivo para ir lá no quarteirão também vem pelas ondas do rádio. Vejo transitando por ali figurões conhecidos daqui da cidade, todos muito bolsonaristas, assumindo posições neste sentido em suas páginas e quando ali no quarteirão, falta saber se passam para fazer número ou possuem outro papel, o de ajudar a bancar a estrutura. E por fim, o que querem com isso? Qual o interesse destes na continuidade dessa aberração nas ruas?
Finalizamos a prosa, com a certeza de que, se algo está a ocorrer a nível nacional, a ramificação local já deve ter sido detectada e nos próximos dias, alguma novidade deve pintar nas paradas de sucesso. Por fim, me pergunta:
- Será que quando conhecermos os nomes de quem daqui está por detrás disso tudo, a imprensa local terá coragem de divulgar seus nomes? E o que mais me intriga é que, depois de como estamos tomando conhecimento do Brasil sem caixa, gastaram tudo, precarização absoluta, situação de penúria e irresponsabilidade deste final melancóligo de Bolsonaro, estes ainda aprovam isso e fazem o mesmo com o caixa de suas empresas? É este o patriotismo e o Brasil que defendem?
Para mim, tudo isso é a exata cara do que é o bolsonarismo. Sem tirar, nem por.
AUTORITARITARISMO DO FASCISTA
UFA! Tardou, mas não falhou. Finalmente começam a ser punidos os que estão a bancar os atos defronte os quartéis e também os que bloquearam estradas e avenidas em cidades brasileiras. Protestar é uma coisa, fazer a revolução bem outra, mas agir com o intuito de fascistizar o país é o incomcebível na sua plenitude. Não tem como passar o pano para quem tripudia de algo tão duramente conquistado. Ontem, por decisão do STF, foram cumpridos mandatos em quase cem localidades, identificando a fonte, o gerador a bancar a bestialidade. Não há base popular nenhuma nos movimentos que travaram mais de 200 rodovias pelo País. O que vimos são estratos médios da sociedade que dispõem de tempo, recursos e automóveis para se prestarem a tal papel. "O bolsonarista é uma espécie de sujeito irracional (e/ou perverso) que ignora 700 mil mortes pela pandemia, mas se põe de luto por algo totalmente autoritário e perigoso.Que advoga que a economia não pode parar quando se anuncia uma pandemia, mas que deixa obstruídas rodovias quando seu candidato não se elege. O autoritarismo preserva sempre algum traço infantil e perverso que torna seu convívio na democracia impossível", Rita Von Hunty. A grande missão do novo governo, comandado por Lula não será só o de retomar o nome e a estatura das instituições. Terão que recompor toda a estrutura, corroída e depauperrada. Não podemos e nem devemos produzir de novo uma "ampla anistia". O futuro não nos perdoará e este, com punições severas, é o único caminho plausível neste momento da vida brasileira.A MUVUCA DO CATAR E DE BAURU*
* Este é o 88º texto do HPA para o DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição que iria pra bancas hoje pela manhã, mas exepcionalmente não sai impressa nessa semana, por motivos de saúde. Estará disponível somente na versão virtual:
O Catar, local da realização desta Copa do Mundo, como todos já sabemos, não é lugar nada democrático. Protestar por lá, algo impensável e para quem o faz, certeza de cana dura e muita violência física. Durante os dias dos jogos um lugar tem se sobressaído como local a abrigar as mais diferentes tribos e dentro de um espírito diferente do que normalmente ocorre por lá.
O metrô da capital do país, Doha, é sui generis e tornou-se o ponto de encontro de torcedores de todo o planeta. São três linhas, serve 37 estações ao longo de 75 quilômetros de vias e por estes dias abriga uma mistura improvável, gente de todas as partes do planeta. É o lugar para se estar, respirar gente. Tudo de salutar acontece nessa junção, escapando do rigoroso controle e propiciando cenas inenarráveis de congraçamento humano. Me encantei assistindo vídeos das estações cheias e mesmo entre línguas diferentes, muita conversação.
Lugares assim são mais que ótimos, primeiro por fugirem do tradicional e possibilitarem o inusitado. Já tivemos um local assim aqui em Bauru. Era a Estação da NOB e as suas cercanias. O trem ia e voltava da Bolívia e Bauru foi terra de passagem de latinos de todas as origens. Era divinal a possibilidade de prosear com bolivianos, colombianos, peruanos, equatorianos, venezuelanos e todos os demais, que por aqui aportavam em bando. Com a privatização das ferrovias e o fim dos trens de passageiros, nunca mais tivemos algo parecido por aqui.
Na verdade, algo igual, nunca mais. Assim como Doha vive hoje este raro momento, Bauru teve o seu. Em breve o maravilhamento humano hoje ocorrendo nos vagões dos trens de Doha, com mexicanos trombando com indianos, argentinos com croatas, espanhóis com australianos terá fim e a cidade voltará para sua normalidade e marasmo. Bauru sente uma falta imensa da agitação proporcionada pelos latinos em suas ruas e com Doha não será diferente.
Essa muvuca agitativa move o mundo e as pessoas. Ninguém consegue ter uma vida plausível sem estar enfronhado em contatos imediatos do terceiro grau. Conhecer outros e estabelecer aproximação é algo recarregador, reconfortante, diria mesmo, mágico. Todos saem ganhando. Dentro deste espírito, aqui em Bauru existe um lugar onde este espírito ainda prevalece. É a domingueira Feira do Rolo, junto da mais famosa feira da cidade. Por ali de tudo um pouco e a possibilidade do interessado encontrar desde um alfinete com cabeça colorida até uma fita cassete, máquina fotográfica, LPs e numismática e camelôs variados e múltiplos.
Além dos objetos, as pessoas. Ali conheci um iraquiano especializado em relógios de pulso, um carioca livreiro, uma pernambucana fazendo o melhor acarajé que já comi, o pastel dos japas e um mato-grossense especializado em som de veículos. Como peixe frito, tomo cervejas de marca diferentes e compro camisetas de quase todos os times do futebol, pelo menos os mais conhecidos. Tem revista de mulher pelada, controle de TV, chaves de fendas de todos os calibres e muita prosa, alguma briga e por fim, todos sorrindo ao final.
Creio que, aí por Santa Cruz deve ter algo parecido ou ao menos, com algumas dessas características de congraçamento humano. Nenhuma cidade sobrevive sem um lugar assim, onde tudo acaba acontecendo. E quem quiser botar controle e regras, acaba percebendo, aquilo tudo só funciona na desorganização, que é uma organização, a encontrada da coisa continuar viva e pulsante. O ser humano precisa de lugares assim. É muito triste viver em lugares onde predomina o marasmo. Ninguém aguenta.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
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