"HENRIQUE, CUIDE-SE", PEDIDO FEITO A MIM POR LÍDIA POSSAS*
* Minha eterna professora e uma das culpadas por eu saber discernir o certo do errado.
Fui convidado para visitar minha amiga Paula (nome fictício), tínhamos assuntos profissionais a tratar. Ela me avisou antecipadamente algo que a preocupava. Seu pai, de uns tempos para cá, tinha se transformado num empedernido bolsonarista e daí, a recomendação era para tocar o mínimo possível em temas políticos. Cheguei desarmado e assim permaneci, porém, o que ali se passou é bom exemplo de como anda se dando o diálogo entre os dois lados do confronto brasileiro, ainda mais quando um deles não pretende mais dialogar e sim, impor sua posição e nada além disso.
Ele deve ter tomado conhecimento prévio de algo a meu respeito, pois percebi o constrangimento já nos cumprimentos. No cumprimento básico, “Tudo bem, como vai o senhor?”, a resposta já veio enviesada: “Tudo bem uma ova, você não sabe que fomos roubados. A gente não tinha como perder a eleição e se não fosse o cabeça de ovo, tínhamos ganho. O Brasil não pode permitir uma sacanagem deste tipo”.
Percebo que o tal do “cabeça de ovo” dito por ele é o ministro Xandão do STF. Como já estava avisado e não querendo estragar tudo na entrada, me fingi de morto e mudo de assunto: “Como chove por estes dias, né!”. O tal não quer mudar de assunto e insiste na pegada: “Faça sol ou chuva, o Brasil não pode esmorecer, temos que nos manter alertas e unidos, pois o comunismo quer tomar conta deste país e isso não permitiremos”.
Quando minha amiga percebeu que iria responder, delicadamente me dá um bicudo por debaixo da mesa e faz cara de sério, sinal evidente para não entrar no jogo. Ela, simpaticamente me puxa para o lado e diz para todos dos motivos de minha vinda ali, da necessidade de uma conversa particular e me puxa para outro cômodo. Vou, não sem antes ouvir mais uma vinda do senhor, com um olhar cada vez nervoso: “Minha filha precisa ouvir mais seu pai, pois estão tentando destruir nosso mito e o Brasil vai parar por causa dessa maldade”.
Já só com ela, digo não ter acreditado ser tão sério o seu pedido, agora comprovado. Pergunto se já havia buscado algum tipo de orientação psicológica. Ela, tão consciente da destruição provocada pelo bolsonarismo, resume tudo em poucas palavras: “Meu pai está transtornado e transformado. Antes de aderir de corpo e alma nessa perversa seita, era um homem comum e hoje, diante de uma lavagem cerebral, ninguém mais o aguenta. Só fala nisso e se o confrontasse, correria o risco de ser expulso daqui de casa.
Confabulamos o que havia ali me trazido e, o senhor, fazendo questão de ser ouvido, vez ou outra, gritava para ser ouvido, palavras de ordem do tipo “Isso aqui é uma família e ninguém vai destruir o que construí uma vida inteira”. Ela me conta que, outro dia na fila do banco, alguém o contrariou e ele voltou para casa todo molhado, tinha se urinado todo de nervoso. Hoje só sai nas ruas de verde-amarelo e enrolado numa bandeira do Brasil.
A história aqui contada por parecer exagerada, mas trata-se da mais pura verdade. Queria reagir, mas tive a certeza de estar diante de alguém perturbado e com sinais de problemas mentais. Na saída, me provoca novamente: “Igual o mito não tem ninguém. Ele não vai vender o Brasil e o verdadeiros brasileiros vão reagir à altura”. Me despedi sem muitos salamaleques e já do lado de fora, o vejo ele rodando na sala enrolado na bandeira brasileira.
Saio de lá entristecido, pois quando me vejo diante de alguém aceitando o diálogo, estou sempre apto, mas diante de situação tão esdrúxula, faço comparação com os tantos hoje dançando e clamando aos céus por uma tal de “intervenção sideral”, postando diante de quartéis militares, agora tenho a mais absoluta certeza, estes só com sério tratamento psicológico. Perderam mais do que a razão.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
RECADO DO HPA (11)*
* Ela me ligou, retruquei e do diálogo, algo a registrar, estilo vapt-vupt.
SEM RAZÃO E SEM NOÇÃO** Meu 86º texto para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição nas bancas a partir de hoje - aqui em Bauru, na da Ilda, junto do Aeroclube:
Fui convidado para visitar minha amiga Paula (nome fictício), tínhamos assuntos profissionais a tratar. Ela me avisou antecipadamente algo que a preocupava. Seu pai, de uns tempos para cá, tinha se transformado num empedernido bolsonarista e daí, a recomendação era para tocar o mínimo possível em temas políticos. Cheguei desarmado e assim permaneci, porém, o que ali se passou é bom exemplo de como anda se dando o diálogo entre os dois lados do confronto brasileiro, ainda mais quando um deles não pretende mais dialogar e sim, impor sua posição e nada além disso.
Ele deve ter tomado conhecimento prévio de algo a meu respeito, pois percebi o constrangimento já nos cumprimentos. No cumprimento básico, “Tudo bem, como vai o senhor?”, a resposta já veio enviesada: “Tudo bem uma ova, você não sabe que fomos roubados. A gente não tinha como perder a eleição e se não fosse o cabeça de ovo, tínhamos ganho. O Brasil não pode permitir uma sacanagem deste tipo”.
Percebo que o tal do “cabeça de ovo” dito por ele é o ministro Xandão do STF. Como já estava avisado e não querendo estragar tudo na entrada, me fingi de morto e mudo de assunto: “Como chove por estes dias, né!”. O tal não quer mudar de assunto e insiste na pegada: “Faça sol ou chuva, o Brasil não pode esmorecer, temos que nos manter alertas e unidos, pois o comunismo quer tomar conta deste país e isso não permitiremos”.
Quando minha amiga percebeu que iria responder, delicadamente me dá um bicudo por debaixo da mesa e faz cara de sério, sinal evidente para não entrar no jogo. Ela, simpaticamente me puxa para o lado e diz para todos dos motivos de minha vinda ali, da necessidade de uma conversa particular e me puxa para outro cômodo. Vou, não sem antes ouvir mais uma vinda do senhor, com um olhar cada vez nervoso: “Minha filha precisa ouvir mais seu pai, pois estão tentando destruir nosso mito e o Brasil vai parar por causa dessa maldade”.
Já só com ela, digo não ter acreditado ser tão sério o seu pedido, agora comprovado. Pergunto se já havia buscado algum tipo de orientação psicológica. Ela, tão consciente da destruição provocada pelo bolsonarismo, resume tudo em poucas palavras: “Meu pai está transtornado e transformado. Antes de aderir de corpo e alma nessa perversa seita, era um homem comum e hoje, diante de uma lavagem cerebral, ninguém mais o aguenta. Só fala nisso e se o confrontasse, correria o risco de ser expulso daqui de casa.
Confabulamos o que havia ali me trazido e, o senhor, fazendo questão de ser ouvido, vez ou outra, gritava para ser ouvido, palavras de ordem do tipo “Isso aqui é uma família e ninguém vai destruir o que construí uma vida inteira”. Ela me conta que, outro dia na fila do banco, alguém o contrariou e ele voltou para casa todo molhado, tinha se urinado todo de nervoso. Hoje só sai nas ruas de verde-amarelo e enrolado numa bandeira do Brasil.
A história aqui contada por parecer exagerada, mas trata-se da mais pura verdade. Queria reagir, mas tive a certeza de estar diante de alguém perturbado e com sinais de problemas mentais. Na saída, me provoca novamente: “Igual o mito não tem ninguém. Ele não vai vender o Brasil e o verdadeiros brasileiros vão reagir à altura”. Me despedi sem muitos salamaleques e já do lado de fora, o vejo ele rodando na sala enrolado na bandeira brasileira.
Saio de lá entristecido, pois quando me vejo diante de alguém aceitando o diálogo, estou sempre apto, mas diante de situação tão esdrúxula, faço comparação com os tantos hoje dançando e clamando aos céus por uma tal de “intervenção sideral”, postando diante de quartéis militares, agora tenho a mais absoluta certeza, estes só com sério tratamento psicológico. Perderam mais do que a razão.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
HPA NA "PIAUÍ" DE DEZEMBRO 2022 E A BANDEIRA DO BRASIL
Meu caros, não contemos pra ninguém, mas tenho a segredar algo sobre os exemplares da PIAUÍ que, leio desde o número 1 – leio e guardo, tenho todos os números. Vocês tiveram capas lindas, algumas pra emoldurar, outras nem tanto. Tudo dentro da probabilidade de agradar e ser agradado. Dias sim, dias não. Minha confissão, em caráter confessional, é que, desde que PIAUÍ circula, essa foi a primeira vez que senti vergonha de andar expondo a capa pela aí. Não que ela não seja boa, mas infelizmente, a nossa bandeira não anda num estágio bom de confiabilidade e credibilidade. A gamação por ela é tão desabrida de patriotismo, que chega a doer. Então, todos os meses circulava com a danada da PIAUÍ pra cima e pra baixo, capa exposta, propaganda gratuita pra revista, sem nunca ter pedido nada em troca. Neste mês me contive para circular com o exemplar, criei uma embalagem, ou seja, encapei a capa e assim a leio nos cafés de minha aldeia. Mesmo com o tom de evidente crítica ao momento, só o fato de vê-la na banca, exposta junto dos produtos bolsonaristas e dos da Copa do Mundo, confunde a cabeça de muitos incautos. Tá tudo tão misturado e daí temo, serem confundidos com admiradores do demo. Tomem tento, meninos (as)!!!
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com)
A resposta deles, irônica como merecia, ao velho estilo de como procedia O Pasquim veio desta forma e jeito: "NOTA INSTRUTIVA DA REDAÇÃO - Henrique, mas você não andava por aí com a capa do Bolsonaro beijando o Olavo de Carvalho? Do Bolsonaro beijando a morte? Do Bolsonaro dançando valsa com o Putin? Do Bolsonaro amamentando o Daniel Silveira? Do Bolsonaro brincando de ser Pinochet? No fundo era um grande prelúdio para você poder carregar a bandeira do Brasil debaixo do braço".
HPA, tendo a certeza de que, ironizando, a gente destrói a perversidade, maledicência e também a emburrecida e maléfica extrema-direita.
Meu caros, não contemos pra ninguém, mas tenho a segredar algo sobre os exemplares da PIAUÍ que, leio desde o número 1 – leio e guardo, tenho todos os números. Vocês tiveram capas lindas, algumas pra emoldurar, outras nem tanto. Tudo dentro da probabilidade de agradar e ser agradado. Dias sim, dias não. Minha confissão, em caráter confessional, é que, desde que PIAUÍ circula, essa foi a primeira vez que senti vergonha de andar expondo a capa pela aí. Não que ela não seja boa, mas infelizmente, a nossa bandeira não anda num estágio bom de confiabilidade e credibilidade. A gamação por ela é tão desabrida de patriotismo, que chega a doer. Então, todos os meses circulava com a danada da PIAUÍ pra cima e pra baixo, capa exposta, propaganda gratuita pra revista, sem nunca ter pedido nada em troca. Neste mês me contive para circular com o exemplar, criei uma embalagem, ou seja, encapei a capa e assim a leio nos cafés de minha aldeia. Mesmo com o tom de evidente crítica ao momento, só o fato de vê-la na banca, exposta junto dos produtos bolsonaristas e dos da Copa do Mundo, confunde a cabeça de muitos incautos. Tá tudo tão misturado e daí temo, serem confundidos com admiradores do demo. Tomem tento, meninos (as)!!!
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com)
A resposta deles, irônica como merecia, ao velho estilo de como procedia O Pasquim veio desta forma e jeito: "NOTA INSTRUTIVA DA REDAÇÃO - Henrique, mas você não andava por aí com a capa do Bolsonaro beijando o Olavo de Carvalho? Do Bolsonaro beijando a morte? Do Bolsonaro dançando valsa com o Putin? Do Bolsonaro amamentando o Daniel Silveira? Do Bolsonaro brincando de ser Pinochet? No fundo era um grande prelúdio para você poder carregar a bandeira do Brasil debaixo do braço".
HPA, tendo a certeza de que, ironizando, a gente destrói a perversidade, maledicência e também a emburrecida e maléfica extrema-direita.
ESCRAVOS DO SÉCULO XXI E O CONSERVADORISMO VIGENTE
O trabalhador com menor poder de compra, inclusive aquele atuando de forma autônoma, carregando caixas às costas, além de toda vulnerabilidade, considerado hoje como "trabalhador cancelado", sofre além da conta e sem o perceber, ainda apóia aquele que o apunhala. O atual sistema capitalista impôs a este as piores condições, totalmente reféns das plataformas autônomas e se quiser continuar ganhando algum dinheiro, ficam totalmente sujeitos às regras impostas pelo suposto empregador, sem nenhum vínculo empregatício. São párias hoje do mundo do trabalho, sem nenhuma qualidade de vida e obrigados a aceitar a regulamentação imposta. Verdadeiros escravos, sem tempo livre para mais nada, trabalham de sol a sol, em condições péssimas, com legislação cada vez mais precarizada. Mesmo sem o perceber são hoje prisioneiros de uma máquina que os torna escravos digitais. Pensam como o opressor, agem em seu nome e chegam a apunhalar que os oferece ajuda. Este o mundo das entregas diárias, seja a dos motoqueiros com caixas às costa, como o dos motoristas de aplicativo. Muito triste vê-los, em grande quantidade, reproduzindo o discurso de ódio propagado pela extrema-direita. Ou seja, o processo de lavagem cerebral foi muito bem feito. Se faz necessário desconstruir isso tudo, mas isso, pelo visto, requer tempo e trabalho intenso de reeducação perdida. Hoje, os "colaboradores" dos aplicativos reclamam da falta de amparo e de transparência no que fazem como meio de pura sobrevivência, mas poucos conseguem identificar a origem de quem os enfiou nesse tipo de trabalho quase escravo. Muito trabalho pela frente. Para melhor exemplificar isto tudo, relembro algo aqui já escrito. Adesivei meu carro na campanha com algo de Lula e morando na Zona Sul, os graúdos daqui nunca me molestaram pelo que viam e quem o fazia eram os motoqueiros, carregando suas caixas às costas, passando pelo meu carro e gritando "Lula Ladrão". Perceberam onde nos enfiamos? Eu sei, para quem luta pelo mínimo para sobreviver, é natural que a descrença seja absoluta, mas também sei, quanto menos consciência, mais fácil a ultra-direita conseguir garantir sua supremacia.* Ela me ligou, retruquei e do diálogo, algo a registrar, estilo vapt-vupt.
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