* Divagações de final de ano, de quem comeu muito, deitou para tirar uma sesta e ao acordar, este foi o motivo de ter abreviado o descando de barriga cheia. Divagações no meio da tarde...
Enfim, para tudo e me volto para o futebol, onde por estes dias ouvi novamente isso de união latino-americana, quando da Argentina na final da Copa do Mundo. Eu sempre fui adepto do que o técnico argentino disse numa entrevista, que quando um latino na final, todos deveriam se unir e torcer juntos, enfim, um representando nosso podendo galgar a glória maior. Uns a favor, outros contra, por fim, sem consenso. Deu pau até pela divisão do nosso país nos tempos atuais. Se os apoiadores do Lula estavam a favor da argentina, o outro lado, o bolsonarista, se viu apoiando a França. Mas a França tem um time com um pé fincado na África, recheada de descendentes, coisa e tal. Não deu outra, o futebol também é outro item sem consenso. Pois bem, sem problemas, torçam para quem quiser e assim foi feito. Falando em feito, o da Argentina foi portentoso, demais da conta e mesmo os que, estiveram torcendo pelo lado contrário, lá no fundo se vergaram. O futebol tem disso, mesmo muito advsersário, em algum momento, o brilhantismo do apresentado, nos faz torcer pelo espetáculo. Eu mesmo, juntei meu lado latino, Pátria Grande com a Argentina jogando um bolão e, também pelo carinho para com os hermanos, vibrei com essa estupenda vitória.
Isso tudo nos faz voltar a discutir o tema dessa tal unidade, algo meio que impossível, até pela mentalidade vigente. Não que antes fosse muito diferente, mas já fomos mais coesos, hoje bem menos. Isso tudo me faz lembrar de quando morei no Gasparini, algo já com vinte e tantos anos passados. Morava numa esquina do bairro e no quarteirão, uma família muito pobre, permanecendo sua casa sem água e luz, quintal sem piso, chão batido e dificuldades mais do que evidentes. Na família, um casal de filhos, creio que lá pelos 12/13 anos, sendo formatados para a vida. Aquilo que corroía por dentro e por fora, como ter uma vida normal se ali ao meu lado, numa casa quase de frente, tudo mais que precarizado. Uma convivência de aproximação, sem que muitos tivessem o mesmo olhar. Aquele quarteirão poderia vicejar algo não só para eles, mas num pensamento coletivo, algo inexistente não só ali, mas em todos os demais lugares. O individualismo vence e assim tocamos nossas vidas. Lembro dessa história e me ponho a olhar para essa América, que tentou se unir diante de uma final de Copa do Mundo e, agora, dias depois do jogo, se vê com cada qual diante de um passo adiante ou continuar mantendo distanciamento. Lula vem aí e tenho boas lembranças dele e de uma turma que fazia e acontecia, ao lado de Nestor Kirchner, Mujica, Chávez, Rafael Correa, a tentativa com Lugo e na época, Fidel. Hoje existe uma real possibilidade, unindo Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela e a chama podendo ser acesa novamente. São tantas coisas, tantos sonhos, estes viajando muito além de uma partida de futebol.
NO MEIO DA PROBLEMÁTICA DO MODAL IMPRESSO, SÉRGIO DO DEBATE DE SANTA CRUZ, DRIBLA SEUS PROBLEMAS DE SAÚDE PARA COLOCAR O JORNAL EM CIRCULAÇÃO
No meio jornalístico tiveram duas tristíssimas notícias por estes dias. A primeira foi a nível nacional e envolveu o jornalão Folha de SP, que usando a justificativa de contenção de despesas e problemas de forno, mais conhecido como de caixa, demite dois dos seus famosos colunistas, Jânio de Freitas e Gregório Duvivier. O pau comeu solto entre os leitores e, principalmente, admiradores dos dois excelentes jornalistas, donos de primorosos textos. Algo sentido e até entendível se juntarmos os pauzinhos e constatar o quanto deve estar difícil manter qualquer órgão de imprensa no modal impresso. Este, cada vez mais num beco sem saída. Crise generalizada e corroendo a maioria dos ainda resistentes no setor. Aqui mesmo em Bauru, o Jornal da Cidade, claudica, verga e ainda não quebrou, mas dá sinais de pouca resistência.
Relembro isso para adentrar a outra triste notícia, essa de muito maior importância para mim, muito apegado ao jornalismo quando praticado ainda dentro dos padrões da verdade factual dos fatos, principalmente no interior paulista. Quero compartilhar aqui algo sobre a resistência empreendida pelo semanário DEBATE, do amigo jornalista, velho bardo do setor, Sérgio Fleury Moraes. Este pratica algo quase único hoje no interior, jornalismo desatrelado do poder constituído, sem recorrer a acordos de bastidores para tocar o barco. Sobrevive pelo conteúdo produzido, de alta credibilidade e muito esforço pessoal. Isso porém não paga mais todas suas contas e a crise, que não é de hoje, está dia após dia, corroendo pelas beiradas – hoje já querendo tomar conta de tudo o mais. Sérgio resiste como pode, deixou de imprimir o jornal no seu parque gráfico, roda em Bauru no JC, mas tem esse problema pela frente, toda sexta, fecha a edição e alguém tem que vir buscar os jornais em Bauru para distribuição em Santa Cruz do Rio Pardo.
Até um tempo atrás, contava com o filho, André Fleury Moraes, finalizando curso de Jornalismo em Bauru. A dupla fazia e acontecia, mas André aceita convite do JC e vem atuar em Bauru. Com os tempos difíceis, Sérgio se vê sozinho e com o ímpeto de sempre, enfim, o jornal que é a sua vida não pode parar. Ele continua e hoje, numa equipe que já contou com três a cinco na retaguarda, agora sozinho. Até tiraria de braçada a parada, mas algo agravou tudo, seu problema de saúde. O danado teve dois enfartes num período de um ano, hérnia necessitando de cirurgia, pedra na vesícula e para completar, problemas cardíacos. Ele se desdobra, bate escanteio e faz gol, ou seja, no fechamento do jornal, além da correria, é ele quem sai na noite de sexta, vem até Bauru buscar o jornal e depois volta pra Santa Cruz. 200 quilômetros, mais o cansaço.
Semana passada, pela primeira vez seus leitores levam um susto, com a informação de que o jornal não sairia pelo modal impresso, mas estaria totalmente disponível pelo virtual, estando já no sábado disponível em PDF. Isso gerou preocupação de todos, desde leitores, amigos e os familiares. Sérgio não é turrão, mas não quer abandonar o negócio de sua vida, o jornalismo e o DEBATE, algo conquistado ao longo de 45 anos de muita labuta. No passado, quase teve as portas fechadas, mas por outro motivo, as perseguições pela busca da verdade no que produz. Dói mesmo, no fundo da alma, quem conhece o que se passa com o jornalismo atual, neste processo de transformação e remodelação, onde o impresso, vai pouco a pouco deixando de existir. Não é uma aceitação fácil para quem atuou uma vida inteira vendo e lendo sua produção, cheirando sua cria, distribuindo exemplares e participando de um processo secular, o que ainda movimenta a imprensa, mas está prestes a ser alterado - ou sendo, em drops, algo que dizem, inevitável.
No caso do Sérgio e do DEBATE, ele é mais um dos que vivenciam na carne as mudanças em curso. Eu o entendo e sei o quanto é difícil desistir ou mesmo, abandonar o impresso e partir para o jornal virtual. Se a Folha que é a Folha padece e dá seus pulos, imagina a loucura de alguém como ele, hoje produzindo o jornal na unha, sozinho, desde a produção de cada matéria, texto por texto, até ver o jornal sendo distribuído e lido. É uma satisfação inigualável, gerando também cansaço e no caso dele, muitaapreensão e cuidados. O agravante no caso dele é sua saúde e quando estabilizada, ainda dá para ir tocando o barco, mesmo com todo este vento contrário. Sergião é aroeira pura, verga mas não quebra. Como incentivo, contribuo pouco e reafirmo o que já deve ter ouvido muito por aí: RESISTIR É PRECISO.
A cidade se fez com a ferrovia, com o trabalhismo, e continuou se fazendo com o sediamento regional do aparelho estatal; foi temperada com a encampaçao da UB pela UNESP e pelo significado de cursos como arquitetura e jornalismo. Era um contraponto politico e cultural contra a aridez da soberba que os doutores do Direito e da Engeharia até então impunham. Mas o neoliberalismo é implacavel. Destroi tudo, e no lugar onde antes habitava inspiração ele ainda coloca a fé rasa como a cereja do bolo! A cidade sem limites conheceu os seus proprios, e o que parece ilimitado, hoje, é o vazio anímico e espiritual que nos devolve ao pódio do ridiculo. Um consolo? Nao somos apenas nós!!! Mas quem quer consolo a esta altura da vida?
Nenhum comentário:
Postar um comentário