Eis o link dessas 1h40 de bate papo, desses para se guardar do lado esquerdo do peito:
ALGO DO DITO POR ABEL BARRETO NO 113º LADO B E QUE NÃO DEVE PASSAR BATIDO:
Gravação feita na manhã de domingo, 16/04/2023, enquanto ele aguardava ônibus para Brasília, direito do terminal rodoviário de Bauru.- "Nesse embate com o sistema sofri várias ameças, até com atentato a tiros. Nem todo mundo tem conhecimento disso. Em 1988, na Usina Sobar, o primeiro atentado, fui resgatado por companheiros, devido perseguição. Aquela tentativa de tentar sustar a luta não teve êxito, aquela violência. Aquilo não me fez parar, não era justo tentar me parar com violência, me incentivou a lutar com mais honradez na luta a favor de minha classe".
- "Sindicato até então era só assistencialismo, não havia luta dos trabalhadores. Eu já vinha com a luta pela não aceitação de ser escravo. Em 1984 perdi e em 1987 ganhamos, luta no enfrentamento à exploração do trabalhador, combate ao sistema. Em 1989, no Pontal do Paranapanema, minha primeira luta pela posse da terra, luta vitoriosa, pois vi famílias sendo assentadas. Isso me despertou para a luta pela terra. Em 1990 conheci o MST e nunca mais tive dúvida da importância da luta pela reforma agrária".
- "A relação capital e trabalho mudou muito através dos tempos. Antes tudo manual, sitiante era explorado, mas conhecíamos o explorador. Hoje, esse pessoal desapareceu. Hoje tudo são grandes indústrias, usineiros, não tratamos mais com o dono do negócio, cartel da laranja e da cana. Grupos poderosos que mandam na questão da terra, mudou a questão da produção do campo, sindicatos fragmentados, enfraquecidos e não tem mais condição de enfrentamento. Desunidos, sem a compreensão de unidade da classe trabalhora não ganhamos mais nada. A gente busca alternativas, como a Pastoral da Terra, dialogando para o enfrentamento, dando conhecimento ao povo para que se juntem".
- "Sindicato tem que ser de luta, organização do trabalhador. Rompi com o assistencialismo até então vigente. Comecei a ter a confiança, o diálogo e respeito do trabalhador. Eles entenderam que o sindicato não era só pra ter médico. Fui rompendo devagar com a estrutura que só beneficiava o sistema e não o trabalhador. Sofremos repressão, tanto que a PM não saia do meu pé. As assembléias que fazíamos eles estavam lá para ver o que o Abel iria fazer, isso em 87, 88".
- "Tentaram me corromper. O que foi oferecido de dinheiro pro Abel, pois sentiram a liderança. Como não conseguiram com dinheiro, tentaram também no estanho. A luta não era só salarial, mas também no transporte do trabalhador. Sai do sindicato quando me tornei assentado pela reforma agrária. Sai do sindicato e ele não saiu de mim, pois até hoje sou cercado pelos trabalhadores, querendo informações sobre como conduzir a luta. Ligo sempre para o Ministério Público e levo reinvindicações de quem não pode se mostrar. O trabalhador me cerca na rua, sempre estou junto, sou um deles. Hoje sou um assentado na luta pela terra, não tenho casa própria em Duartina até hoje. Meu trabalho sempre foi comprometido com a classe trabalhadora, passei muita dificuldade e não me vendi, mesmo sendo oferecido altos valores".
- "Luto através do evangelho comprometido com os interesses da luta dos trabalhadores. A maioria da igreja é contraditória a isso. Sou pelos que rompem contra a mentira propagada contra o trabalhador. Hoje, junto disso, temos um papa diferente, que também defende a reforma agrária, direito a moradia, salário decente, reforma agrária e combatido dentro da estrutura da igreja. Isso fortalece a vertente de luta, não defende só a vida boa no céu, mas a vida boa também aqui. Sou um cristão, mas lutando pelo bem do povo aqui na vida agora na terra".
- "A nossa reforma agrária precisa ser reconstruída. Precisamos de uma que dê benefícios, tanto para o homem do campo, como para os da cidade. Nós temos obrigação de unir o campo e a cidade, conciliando tudo, alimento de boa qualidade, questão de preço, mas com condições pra gente atuar. Gostaríamos de tornar viável a gente conseguir alimentar a companheirada da cidade, mas com a reforma agrária sendo feita de fato. Se a gente não fizer a nossa parte organizativa essa reforma não saí. Cadê nós. Não importa o governo que vai ter, mas o estado é capitalista burguês. Sem organização não vai acontecer. Lula mesmo quer que a gente continue fazendo pressão no Incra e organizado, pois só assim teremos algo".
- "Por que nós somos fracos se somos maioria? Onde estamos errando? É por continuarmos todos separados, movimentos que não se juntam de jeito nenhum. Fazemos uma briguinha aqui e acolá, mas nada que transforme. Os donos do dinheiro nos dividem para impor, eles sabem como fazer. Nós somos poderosos, mas desunidos, sem interligação, sem se juntar, todos nós, não vamos nunca conseguir algo de concreto. No sindicato a mesma coisa, a luta não pdoe ser interrompida. O capital hoje é mundial e não tem mais pedacinho aqui e acolá, é no mundo todo e o trabalhador continua no seu sindicatinho de base, apenas no seu território, garantindo o indivíduo ali, mas nada além disso".
- "Precisamos se juntar, pois a classe dos trabalhadores é uma só. Tudo é trabalhador e sem entender isso, não vejo como transformar o mundo. Ou nos juntamos ou não vamos para lugar nenhum. Deixar tudo de lado e lutar por um projeto maior, de verdadeira libertação. Na minha concepção, o sitema é escravagista. Não tem como acabar com a escravidão neste sistema, pois ele é escravagista, o grande lucro, a exploração. Como combater isso desunido? Quando o homem foi transformado em mercadoria não valemos nada. Eu sou é cidadão, quero ser assim entendido, lutoi por isso. Um aluno que faz curso no Senai, sai de lá e não percebe que é tão explorado como outro sem qualificação. Ele vai desempenhar um trabalho numa máquina que vai substituir dez ou vinte trabalhadores, vai dar um baita lucro pra empresa e não pensa nos que forma deixados de fora. A gente precisa aprender a ouvir o outro, dialogar, mas deixar que a divergência seja maior que a luta de classe. Debater a divergência, mas deixar as diferenças de lado, pois o mais importante de tudo é a luta de classes. Se não nos juntarmos, vamos continuar perdendo sempre".
- "O sistema é muito criativo para ir nos levando na conversa. Como é que pode uma igreja estar ao lado dos exploradores, vendo tudo o que é feito. Estamos num momento de rfelexão, sentar e ver o que podemos fazer daqui pra frente. Falta de formação, unidade, de um lado um trabalhador e do lado outro, um contra o outro, nunca vi algo como hoje, tudo muito dividido. Faço a luta não por dinheiro, mas por amor a essa cusa, luta do trabalhador. Todo sacrifício vale a pena, tudo vale a pena na defesa do trabalhador, porque eu nãoquero estar bem de vida sózinho. É isso que a gente faz".
Entenderam que é o Abel Barreto, este destemido cidadão do campo, um dos que nunca abandonaram o campo de luta. Na lida há 70 anos e ainda persistindo, disposto a enfrentar os moinhos de vento e mostrar, apontar caminhos. Sua vivência, experiência nos mostra saídas. Entendê-las é algo transformador. Uma conversa e tanto.
* Quando li essa história aqui contada pelo jornalista Ricardo Santana e já ouvida lá na região dos acontecimentos, disse a mim mesmo, "preciso compartilhar". Aqui está:
POVO EM FUGA_o terreno onde um dia foi o Cine Bauru, na esquina das ruas 13 de Maio com Cussy Jr., foi ocupado por moradores de rua entre os quais usuários de drogas.
Normal no centro de Bauru. O problema é que os nóias estariam furtando os moradores que resistem ao assédio do mercado imobiliário, que oferece o paraíso de condomínios de luxo na zona sul.
No capitalismo nada passa desapercebido do sistema de exploração visando potencializar lucro. A Prefeitura não abandonou o centro de Bauru e as pessoas à toa.
Na questão da moradia, vale exclusivismo. Paga-se por exclusividade para residir bem e, agora, segurança é um item a mais e caro. Que encarece o valor de morar. É morar com charme de um condomínio com itens exclusivos e seguro (?).
O que o noinha tem a ver com o mercado imobiliário. É insumo que justifica o discurso que fez uma senhora trocar uma casa sensacional "um dia" na charmosa rua Nobile di Piero por um apê na zona sul, por exemplo. Ela comprou segurança e ganhou o conforto do isolamento da realidade explícita nas ruas bauruenses.
Uma vida toda vivendo com quintal, cômodos amplos, piscina, horta, vários cômodos extras fora da casa e lavanderia.
Seduz o discurso da suposta segurança, da suposta vantagem de um imóvel exclusivo, com serviços diversos, como clube, academia.
Quem afugenta a moradora é o nóia que integra a paisagem de abandono do centro de Bauru.
Eliminaram o último cinema de rua pra quê? E foi assim que centenas de imóveis foram demolidos para gerar vagas de estacionamento no centro.
Uma cidade sem gente no centro, onde há toda uma infraestrutura instalada. Qual a lógica do esvaziamento do centro? Garantir clientes para zona sul e para algumas ilhas de exclusividade.
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