Qualquer saída pelas ruas se transforma rapidamente num quadro sem retoques do que é de fato a sobrevivência humana. Qualquer pessoa com sensibilidade humana passa mal vendo tanta iniquidade, intolerância e o crescimento da desigualdade humana. Viver em comunhão, um entendendo e ajudando o semelhante seria o próprio paraíso terrestre. Temos tudo para executar isso e desta forma, um transformando a vida do outro, mudar tudo à nossa volta. Essa utopia me acompanha e também me adoece. Ando numa fase de pouca circulação pelas ruas, um tanto recluso, não por medo, nem receio do que alguns malucos estão a anunciar pela aí, mas procurando eveitar embates desnecessários, desgastantes e inúteis.
O nosso mundo está mais do que doente, enfermo e cada vez mais atolado num perigoso indivualismo. Ando mergulhado cada vez mais em minhas leituras e me apresentado pouco pela aí, muito menos do que gostaria, enfim, sou um cidadão que a vida inteira foi movido pelas ruas. Adoro essa convivência humana, esse contato com o outro, ouvir suas hisdtórias, entendê-las e mais que isso, escrever sobre isso. Para tanto, tenho até procurado seguir um conselho de Machado de Assis, o de que "todo drama tem quer ter uma boa dose de humor, a melhor forma de apresentar uma crítica", mas até a utilização da ironia hoje me dói, pois não quero demonstrar insensibilidade diante de tanta perversidade.
Meu mundo, como o sonhei e o tenho como ideal ainda não ruiu num todo, mas está cada vez mais difícil de ser alcançado. Lutar é preciso, sem nunca querer entregar os pontos, pois se assim o fizermos, o lado contrário vence, ocupa espaços e daí sim, a perdição estará estabelecida. Creio eu, hoje estamos a vivenciar um mundo, principalmente o querem impor aqui no Brasil, que já superou o triste momento do neoliberalismo predatório. Nunca pensei existir algo pior que isso, mas vejo existir e muita gente apoiando isso. Existe também algo realmente perverso em construção, que é o ataque a todos os que lutam contra as desigualdades. Querem impor algo dantesco, sem precedentes na história deste país e como estamos desunidos, muitos lutando pelo mesmo ideal, mas desconectados, a percepção é de fraqueza. Eu já não tenho a mesma força de antes, mas quero muito continuar oferecendo o que tenho de melhor para tentar reverter a crueldade e indiferença de hoje. Se isso se chama comunismo ou qualquer outro ismo, pouco importa, pois quanto mais me deparo com a história das dificuldades humanas, exposta por todos os lados e meios, mais adoeço. Só contar e observar histórias humanas sem o devido engajamento em algo transformador também resolve pouca coisa. Minha incomodação junta tudo isso e daí para embaralhar minha cabeça um pulo. Creio só sairei disso quando estiver engajado de fato em algo realmente transformador, sem este amontoado de falsidade por todos os lados.
VOU VER RITA VON HUNTY HOJE NO SESC E PERDI ONTEM O LANÇAMENTO DO LIVRO DO ROBERTO MAGALHÃESTudo passa como uma rápido flash. Se você perde a oportunidade, ela se esvai e dificilmente se repetirá. Ontem perdi a oportunidade de rever muita gente conhecida no lançamento do novo livro do músico e escritor Roberto Magalhães. Era aqui pertinho de casa, no bar Barão, na Henrique Savi. Não tive como e este ainda terei oportunidade de revê-lo e comprar sua última cria, pois é daqui, moramos na mesma aldeia e as oportunidades se repetem. Assim como preciso ir na casa da Diva Fernandes, cuja promessa fiz e ainda não cumpri, a de ir tomar um café em sua casa e trazer junto seu novo livro, o segundo escrito por ela. Ela sabe, ainda irei, mas deve estar cansada de esperar.
Tem aquelas oportunidades que não se repetem facilmente. Ontem tivemos no SESC uma aula da RITA VON HUNTY e também deixei de ir. Ela está em Bauru e cumpre dois compromissos, um ontem e outro hoje, 19h, daí, se perder a de hoje, sabe-se lá quando poderei ir desfrutar do que ela tem pra nos contar. Leio Rita regularmente na Carta Capital, colunista na revista e lá apresentada desta forma: "Rita é persona drag do ator e professor Guilherme Terreri. Pos meio dos estudos culturais, Rita discute temas sociais com o horizonte da emancipação radical". Sua conversa de hoje tem por tema algo difícil de decifrar, "Dinâmica dos Estereótipos", daí a importância de lá estar, ouvir e discutir a relação. Vou ter que dar meu jeito. Por enquanto, afirmando que irei. Conversar é preciso, ouvir, assimilar, debater, confrontar, concordar, discordar, mas estar presente em lugares onde ainda é possível e da forma mais salutar possível.
O QUE CONTO DA AULA DE RITA VON HUNTY HOJE NO SESC BAURUEla deu uma aula ontem no SESC, 19h, muito concorrida, na área de alimentação do SESC, com tudo lotado. Para hoje, prevendo aumento de público, transferiram a conversa para o ginásio de esportes. O horário é o mesmo, 19h, até porque 21h tem show na área ao lado. Tudo começou no horário, Rita hoje versando sobre a "Dinâmica dos Estereótipos". Ontem, ela falou sobre "Microagressões" e nada posso escrever, pois não estive presente. Hoje não resisti. Tudo transbordando de pessoas por lá, um dos maiores públicos que já vi no local. Não sei mensurar, mas ouvi alguém dizendo em aproximadamente mil pessoas. O fato é que, público em sua maior parte de jovens, estudantes e todos muito atentos, todos já a conhecendo das redes sociais.
Destaco alguns dos tópicos das falas da Rita, salpicadas aqui para sentirem como foi sua aula: "Se você está aqui, saiba, está do lado dos fudidos. (...) Uma mudança individual não é estrutural. (...) Quer saber o que são estereótipos, dou um exemplo: qual tipo de carro é mais parado numa blitz policial? (...) Você deve estar sofrendo de um problema que se chama capitalismo. (...) Corpos diferentes fazem jornadas diferentes para chegar ao mesmo lugar. (...) Nosso vocabulário reflete uma disputa material. Um exemplo: por que existe o termo nordestino e não o sulestino? (...) Faço muita brincadeirinha, sou drag queen, mas tudo o que vou falar é muito sério. (...) A maioria das pessoas não conhece uma pessoa trans, não sabe o que é dialética, muito menos Paulo Freire, mas opina sobre tudo isso. (...) Nenhuma palavra significa porra nenhuma. Toda palavra está em disputa e tem uma trajetória. (...) Quando alguém me diz que o quer fala é sua opinião, logo pergunto: ninguém a formou para você? (...) Se você consegue produzir opinião em massa você consegue, entre outras coisas, eleger um presidente. (...) A duração da atenção hoje dura um minuto. (...) Uma classe controla a circulação de ideias e ela domina. (...) A partir do momento que um jornal publica, como fazer disputa ideológica se não se tem nada igual à disposição para se contrapor? (...) A classe dominante te convence que o jeito dela é o melhor. (...) O bolsonarismo, não se esqueça, é um movimento da classe trabalhadora. (...) Preconceito é a falta de vontade de mudar. (...) Como o consenso é produzido? (...) Estereótipo é ferramenta de dominação social, prática de dominação. (...) Já renovou o seu imaginário? Quem são seus cantores, escritores, políticos preferidos? Confesse, você está colonizado? (...) Não duvide do poder de produzir e circular imagens. (...) Não existe inclusão se existe o universo de exclusão. (...) Não tem como reformar esse sistema, ele está podre".
Foi isso, só para saber algo do que foi tratado na aula, terminando por volta das 20h30. Rita deixa claro, que tudo o que faz, seus estudos possuem como base a teoria marxista. Foi aplaudida de pé, apupada em diversos momentos e num destes, quando dentre as falas, ressalta que tudo tem que ser feito em prol da classe trabalhadora. Ela para finalizar, lança algo no ar e deixa aqui pairando, sendo levado pelos presentes, algo para pensar, matutar e colocar em prática. "Se temos a capacidade de lotar um ginásio como este e num dia de semana, o que podemos e devemos fazer além disso" e por fim, mais essa: "Se a nossa classe não se organiza, continuaremos massacrados". Falou também da importância do engajamento em algo de luta, via sindicatos ou partidos políticos, entidades, instituições onde a proposta é mudar tudo o que está consolidado.
Sim, a fala foi significativa, a aula foi mais que boa, porém, algo destoa. Acaba a aula, Rita é aplaudida, se tranca no camarim e não poderá atender o público, como ontem, pois tem show na praça de alimentação e assim, todos voltam para suas casas e amanhã, na maioria dos casos, estarão entretidos com sua rotina e em questão de dias terão esquecido do incentivo para ir à luta. Tomara ocorra o contrário, enfim, acreditar é preciso.
3 comentários:
Lembra do que eu falei sobre a diferença entre os 'pensadores' e 'influencers' que serviu até para um texto seu??
Então... um Florestan, um Darcy, um Antonio Candido, um Chico de Oliveira, nunca lotaram ginásios mas fundaram bases de pensamentos que ajudaram a entender o processo brasileiro tal qual ele é desde a sua colonização, foram pessoas que não estavam "influenciando" nas redes, pois sequer existiam, mas de um forte trabalho de base política estarão sempre presentes no movimento da história brasileira e são fundamentais para todos aqueles que querem pensar e entender o Brasil. Já esses 'influencers' o dia que pararem ou que estas plataformas mudarem, desaparecerem, eles somem juntos, porque não há base, só espetacularização para gerar engajamento nas redes, por isso lotam ginásios, com palestras pagas é bom lembrar, como se fosse um show musical de popstar para um público majoritariamente de classe média.
Quando a Rita surgiu, ela era uma pessoa interessante, mas virou um personagem, incorporou esse personagem e se adaptou em vários aspectos ao chamado pós-modernismo que passa longe de "base marxista". Ela virou um produto a ser monetizado pelo adsense das bigtechs.
Henrique, lembre-se do Millôr que certa vez disse que "desconfiava muito do idealista que lucra com seu ideal", sabe quando que esses influencers querem o fim do capitalismo?? Nunca, porque eles ganham a vida, eles lucram com as bigtechs criando conteúdo nichado nas bolhas das redes cujo chamado "engajamento" não vai além do que geração de views.
Eu tive o prazer de trombar nessa vida com o Florestan, Darcy... o Antonio Candido cheguei a conversar com ele num bar, Henrique, veja só, num bar trombei com Antonio Candido e aquilo sim foi uma experiência única para um jovem que iniciava uma vida política mas ainda preso a diversas ilusões, esses caras sim nos fizeram PENSAR, mesmo com várias contradições que faz parte de todo debate político-social.
Essa galerinha "influencer" gosta muito mais de um tapete vermelho do que da bandeira vermelha, o que não leva subversão para a juventude, mas "engajamento", os "descolados orgânicos".
E pensar que 20 anos atrás Fidel Castro lotava o ginásio do Mineirão em BH para falar para uma juventude brasileira com sede de subversão... Hoje o negócio é ser "descolado, engajado no adsense do Google".
Marcão
Para mim, Rita passa ao largo de ser influencer. Toda sua fala e aula está guiada pelo pensamento marxista. Se ela hoje consegue aglutinar tanta gente e fazê-los pensar sob essa ótica, por que não incentivar? Rita não glamurizou seu discurso, pelo contrário. Gostaria que tivesse ido, para assistir as duas aulas e só assim, poder dizer se houve algum descaminho. Eu não tive o prazer de estar num bar com Antonio Cândido, mas sim, numa palestra no Rio com Darcy Ribeiro e tive a mesma sensação. Não tive o prazer de ver pessoalmente Fidel, mas sim, Hugo Chávez e num dia, em Buenos Aires, ao seu lado. Tudo me é inesquecível. Rita para mim não é influencer e sim, uma professora, pois foi assim que se apresentou no SESC. Foi uma bela aula e sua presença seria pertinente, pois gostaria de lere sua apreciação após as provocações lançadas para a platéia. Baita abracito do HPA
Primeiro precisa definir o que é 'pensamento marxista'. Sei bem a linha seguida pela Rita e suas adaptações.
A questão não é o aglutinar, mas o COMO se aglutina. Como dizer que ela não é influencer?? Ela nasceu no youtube e vive de adsense das bigtechs, fala para um público que o "pensar" acha que é ser "descolado".
Seguinte, se eu recebesse polpuda grana das bigtechs e cobrasse 10 mil reais por palestra, também arrebataria uma multidão para espetacularizar ideologias em ginásios.
Eu só não seria mais marxista se fizesse isso.
Sabe quando essa turminha de influencer quer acabar com o status quo do capitalismo?? NUNCA, meu caro... eles vivem e muito bem desse expediente.
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