segunda-feira, 24 de abril de 2023

FRASE DE LIVRO LIDO (188)

 TRECHOS DO QUE ANDO LENDO PELA AÍ

01.) "VIVA A PARTILHA! A trajetória do padre irlandês Jaime Crowe, que celebrava os mártires do povo brasileiro.

"...Mas o pior era a fome. Padre Jaime sempre evocava um acontecimento que o marcou em 1974, quando Benedita, a mulher de um operário, morreu ao dar à luz o seu 11º filho. O sacerdote visitou a família e notou que não havia um grão de feijão na casa. Benedita morrera de fome, não de parto. Fazia dois meses que o marido não ganhava salário. "Só que o dono da empresa onde o operário trabalhava tinha presenteado o filho com um Mustang. Fiquei arrepiado", contava o padre. "Empresários como aqueles se diziam católicos e me pediam para promover encontros de casais com Cristo. Isso me causou horror aos movimentos tradicionais da Igrejas, que desconhecem o dia a dia dos pobres". Logo o pároco que veio ajudar a América Latina a se salvar do comunismo adotou outro discurso. "Viva a partilha", repetia, como Cristo ao dividir o pão e o peixe com seus seguidores".

Trecho de texto de Laura Capriglione, publicado na seção "Despedida", edição de abril da revista mensal Piauí.

02.) DO "O NOVO SÉCULO" Livro entrevista de Eric Hobsbawn para o jornalista italiano Antonio Polito

Na capa, parte detrás, indagações respondidas pelo historiador inglês: "O que nos reserva este novo século que estamos começando a viver? Como serão as novas guerras? Com o avanço da globalização, os Estados nacionais conseguirão manter seu poder? Os Estados Unidos permanecerão como a única superpotência? De que maneira resolveremos os enormes problemas que se anunciam, como a degradação do ambiente e o explosivo crescimento demográfico? O que será do pensamento e da prática da esquerda? Que tipo de mundo iremos legar aos nossos filhos e netos? Eis as questões que Eric J. Hobsbawn enfrenta nesta entrevista. Seu depoimento é luminoso".

Logo no começo algo a salientar sobre isso de falar do futuro: "O senhor mesmo disse que dentro de certos limites, é desejável, é possível e até necessário prever o futuro, e que essa 'função prognóstica' foi equivocadamente posta de lado por seus colegas de profissão. Prarafraseando Augusto Comte, o senhor declarou que as previsões são parte do nosso conhecimento". O livro é da Cia das Letras SP, ano de 2000, 200 páginas.

03.) NO CAPÍTULO "DITADURA, PRENDO, ARREBENTO E MATO", do livro "Nossas câmeras são seus olhos" , do homem de TV Fernando Barbosa Lima (Ediouro RJ, edição de 2006, 200 páginas)

Sempre mantenho um livro sobre a mesa do Mafuá e vou lendo o danado em drops, aos poucos, em cada ida por lá. Ontem li o capítulo sobre os efeitos do golpe 64 na ainda jovem TV brasileira: "Nesse mesmo dia, 1° de abril, dia da mentira, a censura se instala em todos os meios de informação do Brasil. Nesse dia, a verdade deixava de ser o principal sentido da notícia brasileira. (...) Para permanecer no poder, para ter a opinião pública a favor, era preciso uma lavagem cerebral efetivada pela força da televisão. E usaram bem isso. (...) Para mudar e dominar a opinião pública, o maior instrumento de comunicação só podetia ser a televisão. Foi criado um plano quase perfeito. A televisão era o caminho. (...) O empresário brasileiro que mais percebeu essa fantástica escalada da ditadura foi o dr. Roberto Marinho. E aí começa a história de sucesso da Rede Globo. (...) A montagem dessa fantástica máquina, num país pobre, tinha apenas um objetivo: alienar o nosso povo de tudo o que estava acontecendo. (...) A ditadura não queria ter brssileiros mais informados que a pudessem julgar. Daí o escapismo, a TV idiota, o lixo intelectual. Um povo mais vulto seria, na verdade, uma ameaça perigosa para o sistema. (...) Passamos a ser uma imensa massa alienada. (...) Com a ditadura militar perdemos, na verdade, a!alma da televisão". Quase chorei lendo isso.

04.) NADA COMO O "DIÁRIO DE UM CUCARACHA" DO HENFIL, editôra, Record RJ, 1985, 280 páginas

Releio em drops, aos poucos, uma carta por dia, querendo que as mesmas se prolonguem ad eternum. Viajo revendo o querido e fraterno Henfil. "Durante dois anos vivi em Nova York (73 - Watergate-Chile-Vietnã - 75) escrevi perto de 600 cartas para os amigos. A maioria para!Tárik de Souza e José Eduardo Barbosa. Contava meu deslumbramento inicial, minha traumática via-sacra pelos hospitais americanos, o encobtro com o irmão exilado e os detalhes da minga experiência num sindicato distribuidor de quadrinhos para todo o Universo! (...) ...cucaracha, que é como os americanos se referem aos latino-amaricanos e que quer dizer: baratas". Tem uma entrevista dele antes de viajar pros EUA, com a turma toda d'O Pasquim o encurralando, Millôr, Ziraldo, Jaguar, que entro em parafuso toda vez que a releio. Que tempos foram aqueles, com os "homi" nos costados deles e a criatividade aflorando. Não tinha pra mais ninguém. Hoje, tanta gente boa, mas cada um na sua, deslocados da luta principal. 

Num dos desabafos, 9/11/74: "Desisti de conviver com os americanos. Estou enojado. Do povo, instituições, governo, way of life. Aí me fecho fora dos EUA. Estou aqui dentro, fora daqui. Não tenho que conviver com estes bastardos. Apesar de uma certa solidariedade que passei a desenvolver pelos americanos fudidos, eu não cobsigo deixar de ter essa reação. E quais são os americanos fudidos? Não são americanos: porto-riquenhos, pretos, índios, mexicanos. Tô por fora, desisti. Posso usar o Syndicate deles, usar a língua bonita deles, o poder deles: mas conviver COM eles eu não vou não. (...) Os EUA são o país mais corrupto e vazio do mundo. Vim pra receber cultura e descobri que eles querem a minha cultura. Não tem nada pra me dar. A não ser as máquinas deles. Assim, estou tratando diretamente com a máquina". De longe é uma coisa, morando lá e com a sensibilidade de Henfil foi outra.

05.) "PASSO EM FALSO" NA CARTA E A COISA NÃO FOI ASSIM TÃO FEIA

Escrevi texto dias atrás, "Decepção", ao ver a capa da última edição da Carta Capital, a melhor do mercado editorial brasileiro. O fiz sem ler seu conteúdo. Recebi, devorei de imediato e revejo algo do escrito. Nem a revista, nem Mino Carta foram assim tão duros com Lula quando da capa "Passo em falso". "As declarações de Lula nas suas duas últimas visitas causam rebuliço e diversas interpretações mundo afora", está lá no subtítulo do artigo do Mino. Na verdade, a revista assim se posiciona por Lula valorizar mais as razões de Putin, do que a da Ucrânia, o país invadido, como defende Mino e, consequentemente, CC.

"É evidente que Lula aspira a um papel de protagonista, e não é coisa de hoje. (...) Os últimos pronunciamentos do presidente foram, indubitavelmente, um passo em falso. (...) É do conhecimento até do mundo mineral que a!Rússia de Putin é uma ditadura feroz e vingativa, independentemente das razões do conflito desigual", escreve Mino Carta. "Seja como for, o Brasil tem agora uma voz. E uma voz que se faz ouvir. Julgo que isso faz toda a diferença e que deve ser levado a sério pela Europa. O Brasil tem seus próprios interesses e sua política externa não é discípula nem seguidora cega da política externa europeia", escreve José Sócrates, ex-primeiro ministro de Portugal.

CC está no crédito - muito crédito, por sinal. Para mim, se excedeu com o tal do "passo em falso", no mais, criticar é preciso, diria mesmo, necessário. Convenhamos, a capa com o passo em falso de Jânio Quadros também pode ser considerado passo em falso. Nada muda, Mino e a revista continuam muito no apoio a Lula e seu governo. Mino é assim mesmo, o entendo perfeitamente. Muito fez por Lula e até agora, mais de 100 dias de governo e um só anúncio publicitário na revista. No mais, a revista sobrevive e continuará apoiando Lula, como demonstra o restante da referida edição. Continuo entusiasmado leitor.

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