sexta-feira, 29 de setembro de 2023

MEMÓRIA ORAL (297)


APARECIDA SURGIU DO NADA E MOSTROU DAS POSSIBILIDADES DA VIDA - ELA PRECISA DE UMA CARTILHA PARA AGILIZAR O APRENDIZADO, QUER LER, POIS ENTENDE, ISSO IRÁ MUDAR SUA VIDA
Acontecem coisas tão inesperadas na vida da gente e algumas delas comprovam da importância de estar no lugar certo, na hora certa. Hoje, na parte da tarde, eu e o advogado Arthur Monteiro Jr, ele militante de longa década em Bauru, estávamos trocando figurinhas, ou seja, confabulando sobre livros, quando me levou para conhecer o seu "mafuá" de livros e guardados outros, todos de papéis, destes que a gente acha da maior importância deste mundo e assim, acumula e depois, com o passar do tempo, alguns destes precisam ser passados adiante. Arthur estava se desfazendo de alguns livros, me ofereceu e desta forma fui conhecer seu espaço, que também já foi um belo lugar de encontro e possibilidades culturais. O tempo passou e na virada de mais uma página de sua vida, o lugar onde estão guardados suas preciosidades, precisa ser revisto. Muita coisa ele já levou para sua casa, outras terá que dispor. Fui lá para ficar com algo.

Escolhi dentre tudo o que me foi oferecido e já no portão, ainda escolhendo algo mais, estes dentro do seu carro, eis que desponta assim do nada, surge ao nosso lado alguém, chegando sem ser notada e quando nos demos conta estava a perguntar: "Vocês trabalham com livros?". Foi um susto, achei que aquela senhora detrás de um carrinho de reciclados queria papéis, no caso livros para vender e ganhar uns trocados. Foi quando ele continuou e nos assombrou. "Eu estou vendo vocês dois aí com tantos livros e como estou só agora aprendendo a ler, quero ver com vocês se não tem aí nesse monte alguns para mim ler. Preciso de uma cartilha de leitura, para me ajudar, pois agora estou aprendendo a ler".

Pronto, o estalo estava dado, paramos tudo, deixamos tudo aquilo onde estávamos metido de lado e passamos a prestar toda a atenção do mundo no que aquela senhora nos dizia. Ela se apresenta melhor, dona Aparecida, moradora ali das beiradas do Bela Vista, vila Quagio, rua Marconi, numa casinha nos fundos, a última de um lugar, num lugar difícil de ser achado. Sua vida é dura, acorda por volta das 4h da manhã, limpa a frente de algumas casas, ganha R$ 40 reais por mês de algumas dessas e tudo o mais é conseguido com reciclagem. Estava passando por ali e como, só agora, aos 56 anos, depois dos tantos tombos da vida, resolveu que precisa aprender a ler e escrever, nos viu ali com livros e parou para ver se podíamos ajudá-la.

Desua história, contada aos poucos, tudo era por demais envolvente. Trabalhou por cinco anos numa empresa, como faxineira, mas lá precisava saber ler. Disse que sabia e no pe´riodo uma amiga preenchia a ficha para ela todo dia, mas com a mudança da chefia, foram falar para a nova coordenadora que ela não sabia ler. Teve que confirmar e foi mandada embora, mesmo sabendo fazer todo o serviço. Não sabia ler, algo que seus pais nunca incentivaram ela a fazer de pequena, pois a vida sempre foi dura, trabalho duro para todos desde sempre. Perdeu o emprego e teve que se virar na rua. Tentou outros, mas pelo fato de não saber ler, foi sendo renegada, preterida. Restou catar reciclados.

E hoje, passando ali pelo Bela Vista, narua que dá ao lado da escola São Francisco, eis que vê dois caras com um monte de livros nas mãos e resolve parar e assuntar. Nos aborda, a mim e ao Arthur e nós, embasbacados, sem saber direito o que fazer, procuramos alguns livros pelos quais ela pudesse se interessar ou ao menos servir para se iniciar no propósito de ler. "Eu quero mesmo uma cartilha que me ensine mais fácil como ler. Tenho aula noturna durante a semana. Não perco uma, chego em casa final da tarde, deixo as minhas coisas da rua e vou pra aula. Eu aprendendo a ler, muita coisa vai se abrir para mim", nos conta. Arthur volta para dentro da casa e traz uma dezena de livros destes para jovens adolescentes, com letras não tão miúdas e ela se encanta. Eu acho um Atlas, explico a ela o que seja e também um livrão da Folha, com muitas ilustrações, mostrando as coisas por dentro. Ela acomoda tudo dentro do seu carrinho e nos diz que quer muito ter sua história contada na TV. Queria aparecer no Gugu, mas o Gugu morreu, pensou no Ratinho e em outros.

Perguntou o que podíamos fazer para ela ter sua história divulgada, pois queria ter uma nova oportunidade em sua vida. Arthur olha pra mim e diz, "algo precisa ser escrito". Sim, eu teria que contar a história dela e o faço neste momento. Farei mais, indicarei para alguns conhecidos da TV bauruense, para que, lendo o que escrevi, façam algo, conheçam seus pedaço de mundo, seu canto e seu esforço. Sua história é mais do que contagiante. Ela nos envolvei e fomos mais do que tocados. Foram uns trinta minutos, no máximo isso, de contato ali no portão e Arthur, sem um papel para anotar, o faz na palma da mão, pois ficamos de, como missão primeira, achar uma Cartilha, tipo a Caminho Suave e levar para ela.

Antes da despedida, ela nos diz que foi a coisa mais maravilhosa do mundo ela ter encontrado com duas pessoas que gostam de livros. Guardou todos num cantinho especial dentro do carrinho e ouviu de nós dois algo muito parecido, pois se para ela, aquele inusitado e inesperado encontro foi demais de importante, para nós dois foi como se ganhássemos o dia. Arthur me diz algo disso: "Henrique, eu estava desanimado hoje, tantos desencontros, tanta coisa ruim acontecendo à nossa volta e nós todos, podendo fazer tão pouco, agora me aparece essa senhora. Tenho obrigação de lhe arrumar não só a cartilha, mas acompanhar o seu desenvolvimento, o desenrolar dessa história. se estava até agora desanimado, após isso tudo ocorrido aqui no portão, ganhei um folêgo novo. Ela nos acendeu uma nova chama. Eu ainda não consigo acreditar em tudo o que nos aconteceu". Nem ele, nem eu, mas tudo aconteceu exatamente como tentei descrever e neste momento, paro tudo, sento aqui diante do computador e descrevo, com o que minha memória guardou do encontro. Essa história precisa ser passada adiante e se alguém puder me ajudar para que alguma TV conte a história de dona Aparecida, seria mais um sonho dela se realizando.

DUAS HISTÓRIAS COM CERTA SEMELHANÇA
01.) POR TODA ETERNIDADE
Porto Alegre, 1983 -
O Hotel Majestic colocou Mário Quintana no olho da rua.
A miséria havia chegado absoluta ao universo do poeta.
Mário não se casou e não tinha filhos.
Estava só, falido, desesperançoso e sem ter para onde ir.
O porteiro do hotel, jogou na calçada um agasalho de Mário, que tinha ficado no quarto, e disse com frieza: - Toma, velho!
Derrotado, recitou ao porteiro: - A poesia não se entrega a quem a define.
Mário estava só.
Absolutamente só.
Onde estavam os passarinhos?
A sarjeta aguardava o ancião. Alguém como Mário Quintana jogado à própria sorte!
Paulo Roberto Falcão, que jogava na Roma, à época, estava de férias em sua cidade natal e soube do acontecido.
Imediatamente se dirigiu ao hotel e observou aquela cena absurda. Triste, Mário chorava.
O craque estacionou seu carro, caminhou até o poeta e indagou: - Sr. Quintana, o que está acontecendo?
Mário ergueu os olhos e enxugou as lágrimas - daquelas que insistem em povoar os olhos dos poetas - e, reconhecendo o craque, lhe disse: - Quisera não fossem lágrimas, quisera eu não fosse um poeta, quisera ouvisse os conselhos de minha mãe e fosse engenheiro, médico, professor. Ninguém vive de comer poesia.
Mário explicou a Falcão que todo seu dinheiro acabara, que tudo o que possuía não era suficiente para pagar sequer uma diária do hotel.
Seus bens se resumiam apenas às malas depositadas na calçada.
De súbito, Falcão colocou a bagagem em seu carro, no mais completo silêncio.
E, em silencio, abriu a porta para Mario e o convidou a sentar-se no banco do carona.
Manobrou e estacionou na garagem de um outro hotel, o pomposo Royal.
Desceu as malas.
Chamou o gerente e lhe disse: - O Sr. Quintana agora é meu hóspede!
Por quanto tempo, Sr. Falcão? - indagou o funcionário.
O jogador observou o olhar tímido e surpreso do poeta e, enquanto o abraçava, comovido, respondeu: - POR TODA ETERNIDADE.
O Hotel Royal pertencia ao jogador!
O poeta faleceu em 1994.
Por isso sou fã desse ex jogador!!POR TODA ETERNIDADE

02.) PEREIO É O CARA, 82 ANOS
Cissa Guimarães visita o ex-marido, o ator Paulo César Pereio, no Retiro dos Artistas
Veterano de 82 anos é pai dos dois filhos da atriz.
Cissa Guimarães reencontrou neste sábado o ator Paulo César Pereio, com quem foi casada durante 15 anos e é pai de seus dois filhos, Tomás e João. A atriz esteve no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, e visitou o veterano ator, de 82 anos. Os dois se abraçaram e caminharam juntos pelo local, como mostram os registros postados pelo perfil do Retiro no Instagram.Paulo César Pereio, considerado por muitos um mito do cinema brasileiro, vive no Retiro dos Artistas desde o início do ano de 2020 por opção dele e não da família.
Ele tem moradia e dinheiro, mas preferiu ficar ao lado dos amigos de longa data.

LACRANDO
MAFALDA NASCEU NUM SETEMBRO, ANO DE 1964, PELAS MÃOS DO QUINO
O desenho aqui publicado é do também argentino Miguel Rep.

3 comentários:

Marcos disse...

A verdadeira história entre Falcão e o poeta Quintana

POR HENRIQUE MANN

Prezados amigos, gostaria de esclarecer algo importante sobre o que corre na internet a respeito do meu querido parceiro e Mestre Mario Quintana. Está sendo divulgado um texto que diz que o Mario foi despejado do Hotel Majestic e teve suas malas colocadas na calçada; que o "porteiro" teria dado-lhe um casaco e dito-lhe "toma velho" e que o jogador de futebol (Falcão, pessoa por quem tenho a maior admiração, respeito e gratidão) teria passado naquele exato momento e recolhido-o como a um mendigo. Isto NÃO É VERDADE ! Com todo o respeito e admiração que tenho por Paulo Roberto Falcão (um dos maiores jogadores da história do Brasil e da Itália… e do mundo), pessoa boníssima e de grande caráter, generoso como só os grandes como ele podem ser, a "estória" descrita por um autor que desconheço, não corresponde à verdade.

Realmente, Falcão acolheu de forma graciosa e vitalícia, o Poeta em
seu Hotel Royal, mas não foi deste modo humilhante descrito. Suponho
que o autor, de boa fé e intenção, tenha "romantizado" por
"licença poética" a verdade dos fatos.

Mas, devido à importância vital para a história do Brasil e do
Mundo, que envolve o mais proeminente Poeta do RS e também um dos
maiores atletas futebolistas e até mesmo Treinador da Seleção
Brasileira, cabem esclarecimentos: quando o Hotel Majestic faliu e foi
fechado, Mario foi morar no Hotel Presidente (isso foi por volta de
1982) e ficou em situação precária, até porque este hotel também
estava em fase falimentar. Isto tudo ganhou grande difusão nos meios
de comunicação. Mario ainda passou por outros hotéis, como o "
Residence", onde sempre obteve carinhosa acolhida.

Ele nunca foi "abandonado" com "malas na calçada" e jamais um
porteiro do Majestic (hoje Casa de Cultura Mario Quintana) diria a ele
"toma velho" algum casaco.

Ele foi apoiado e cuidado por pessoas maravilhosas como a sua
sobrinha-neta Elena, teve apoio da Sandra Ritzel, da Dulce Helfer, das
empresas Samrig e Ipiranga, mas, fundamentalmente, de um homem de
extremo valor chamado Enio Lindenbaum, à época à testa do antigo
Banco Maisonave.

Marcos disse...

Foi através deles, Elena e Enio, que conheci o Mario e tive a maior
graça musical de minha vida, por tornar-me seu parceiro no disco
"Quintanares & Cantares", lançado em 1986 pela Riocel, com produção
da Ribalta (de Paulo Satt).

Falcão, o majestoso craque do futebol mundial, foi SIM, uma das
pessoas mais importantes nisso tudo. Mas não é verdade que tenha
encontrado o Poeta "com as malas na calçada".

Até porque, como sabemos, a recepção do Hotel Majestic fica na
atual "Travessa dos Cataventos", só entram lá carros que sejam
destinados ao hotel… jamais Falcão poderia ter passado
acidentalmente ou por acaso ali e defrontado-se com esta cena. Também
o Mario nunca seria abandonado pelos gaúchos da forma como foi
descrita.

Eu tornei-me seu parceiro musical em 1985. Em 1986 lançamos o projeto
do LP no Museu de Artes do RS e em 1987 o disco pronto, com a maior
formação instrumental do RS, o Grupo Raiz de Pedra e uma seleção
das maiores cantoras da época. Foi o disco independente mais vendido
da história do RS, se somadas as versões em LP e CD.

Sou eternamente grato ao Paulo Roberto Falcão, por sua generosidade
em acolher o Poeta em seu Hotel Royal, que fica (até hoje) na mesma
rua Marechal Floriano, onde eu morava (o que facilitou muito a nossa
parceria musical).

Mas acho injusto que seja "criada" uma lenda, uma história
inverídica, sobre a vida de um dos maiores poetas do idioma
português. E, mais ainda, que sejam sonegadas as importâncias das
empresas que o apoiaram naquele momento de aflição e PRINCIPALMENTE
de duas pessoas que JAMAIS permitiriam que o Poeta passasse por esta
situação humilhante descrita no texto inverídico que corre na
internet: Elena Quintana (já falecida) e Enio Lindenbaum foram seus
"guardiães" incansáveis e inquebrantáveis até o último de seus
dias. Sou testemunha disto. Assim com a Dulce Helfer foi sua amiga,
tanto quanto a Dª Mafalda Veríssimo e seu esposo Érico.

Olha, gente, eu admiro demais o Falcão por sua carreira no futebol,
por sua atitude nobre, por seu carater, por sua generosidade em
socorrer o Poeta, meu parceiro, na hora em que foi mais urgente… mas
este texto que corre na internet não é verdadeiro e é até injusto
para dois gigantes da nossa história como Mario Quintana e Falcão.

Que seja reestabelecida a VERDADE dos fatos em nome dos dois! Ambos
são grandes demais e não precisam de inveracidades para o
engrandecimento de suas biografias… são muito maiores que isto!

Marcos disse...

Se restarem dúvidas, ainda, basta ler aqui o depoimento do próprio
Falcão sobre o assunto:

_Eu estava em Roma quando a sobrinha do Mario falou com meu irmão que
ele tinha deixado outro hotel, e fizemos questão que ele ficasse
hospedado conosco. Um tempo depois, eu vim para o Brasil e coincidiu
de ele estar no hospital, após ter se submetido a uma cirurgia na
vista. Fui visitá-lo e, ali, pude ver a humildade impressionante que
o Mario tinha – recorda Falcão, ao diário Lance!._

_O ex-meia dimensionou o quanto foi marcante o encontro com Quintana.
Segundo ele, o futebol não entrou em pauta._

_– Diante de uma pessoa admirável como ele, você escuta mais do
que fala, né?! E ele sempre humilde, fazendo piadas sobre a cirurgia.
Mario é um poeta muito intuitivo, escreve com naturalidade sobre a
vida – disse._

_Falcão detalhou alguns dos versos de Quintana que mais ficaram
marcados em sua memória._

_– Tem uma frase dele que acho belíssima: "A amizade é uma
espécie de amor que nunca morre". Agora, uma divertida é em
relação aos chatos. "Há duas espécies de chatos: os chatos
propriamente ditos e… os amigos, que são nossos chatos prediletos"
(risos). A outra é aquela "Quando alguém pergunta ao autor o que
este quis dizer, é porque um dos dois é burro" (risos). É tudo de
uma simplicidade impressionante! – afirmou._

_Falcão endossa a crítica à atitude da Academia Brasileira de
Letras (ABL) em relação a Mario Quintana._

_– É de se lamentar que ele nunca tenha conseguido uma cadeira da
Academia Brasileira de Letras. Com uma obra tão bonita, tão vasta,
com a facilidade que tinha para escrever seus versos, foi uma grande
injustiça – disse._

_Mario Quintana se candidatou por três vezes a uma cadeira na ABL.
Entretanto, não conseguiu em nenhuma delas alcançar os 20 votos
necessários para se eleger. Ao ser convidado para uma quarta
candidatura, o poeta recusou. Logo depois, lançou o "Poeminha Do
Contra", que tem os versos:_

_"Todos esses que aí estão_

_Atravancando meu caminho_

_Eles passarão…_

_E eu passarinho"._

_Aos olhos de Paulo Roberto Falcão, a "injustiça" com Quintana foi
parecida com a que ocorreu a com um ex-treinador do meia no Inter._

_– O Rubens Minelli era um grande treinador, e conduziu o
Internacional aos títulos do Brasileiro de 1975 e 1976. Depois, ele
foi para o São Paulo e ganhou seu tricampeonato brasileiro. Nada mais
natural que ele treinasse a Seleção Brasileira na Copa de 1978. Não
foi o que aconteceu. Injustiça da Seleção como o Minelli, e da
Academia com o Mario – declarou._

_O ex-volante detalhou em qual setor acredita que Mario Quintana
jogaria se trocasse as letras pela bola._

_– Mario escrevia de maneira intuitiva. Da mesma forma que há
jogadores que têm capacidade de pensar a partida, adivinhar para onde
irá a jogada, ele foi com as palavras. Acredito que atuaria no meio
de campo, não como marcador, mas para distribuir as jogadas, tentando
encontrar o caminho do gol – acredita._

_Em meio à pandemia do novo coronavírus, na qual grandes jogos são
reapresentados, outros versos de Mario Quintana cabem perfeitamente na
forma como a memória dos esquadrões do futebol nacional não pode
ser deixada de lado: "Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem
devagarinho"._