PERDER UM AMIGO - publicado na edição de ontem, sábado, 10/04
“Boi preto anda com boi preto”, me ensinou uma amiga. E nessa trilha somos uns poucos, abnegados e irreconciliáveis com alguns procedimentos atuais. Vivemos à margem de um monte de coisas. Fazemos parte de um clube, cujos associados, com seu falecimento, praticamente sem peças de reposição no mercado. Outsiders por osmose. Quinta passada, um desses se foi. Percy Coppieters partiu. Agüentou o quanto pode e irá fazer uma falta dos diabos. Esse era batuta, um artista na acepção da palavra. Era dos grandes, vivia como tal, alheio aos novos rumos que o mundo insiste em tomar. Tentava viver como nos velhos tempos, num mundo à parte. E não o fazia para aparecer, para se mostrar, nada disso, era sua forma de encarar a realidade, “cagando” para ela. Falar de Percy neste momento é falar de um mundo que não mais existe. Lutamos tanto pelo fim das injustiças, abominamos esse consumismo desenfreado e essa vida feita de descartáveis. Perdemos a guerra, sabemos disso, não sem antes provocar alguns probleminhas aos poderosos de plantão. Outro desses, passou dia desses por aqui, Carlos Latuff e deixou sua mensagem: “O mundo não vai ser mesmo como queremos. Eles venceram, mas podemos é causar embaraços constantes a todos eles”. “Resistir é preciso”, disse outro. Percy resistiu bravamente, provocou embaraços, fez e aconteceu. Deixou seu nome inscrito e marcado a ferro e fogo por aí. Esse o grande motivo de não mais ser esquecido. Não fez parte do mundo bovino. Repudiava viver dessa forma.
CONSUMISMO INÚTIL - publicado jornal Bom Dia, edição de 03/04
Já notaram como acumulamos inutilidades? Esse hábito, comum no meio capitalista é prejudicial para o próprio ser humano. Somos incentivados a ter cada vez mais, juntarmos coisas que nunca usaremos, mas fazemos questão de ter, possuir e expor (que adianta ter, se não puder expor). Observo as pessoas em alguns templos de consumo local e constato que, somos cada vez mais engolidos por um mercado de consumo de massa. O dinheiro é muito mal utilizado, se gasta mal, em suas maioria coisas desprezíveis e desnecessárias. Penduricalhos domésticos, de embelezamento e de utilidade nula. Compramos o que não precisamos e em alguns casos, até coisas que precisamos, mas não temos condições de pagar. Poucos são os que continuam a ouvir música num velho aparelho de som. Tudo precisa ser feito no mais moderno, com um Blu-ray, iPod ou Ipad. Vergonha ao tirar do bolso o celular modelo antigo. As caminhadas matinais não são feitas com roupas simples. Precisa estar unida ao tênis último modelo e ao short de marca. E tudo isso precisa ser visto (e comentado) pelo outro. Tudo no capitalismo envolve dinheiro, até nas coisas mais simples. E existe a insistência para o consumo. Na verdade, estamos sendo corrompidos, nossas crianças sendo seduzidas e direcionadas para o lado prejudicial ao seu desenvolvimento. O jeito simples de tocar a vida, sem esses penduricalhos todos acaba sendo visto como algo retro, fora de moda e de contexto. E ad eternum continuará sendo o jeito correto.
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