UMA FRASE (50)
A CASA FECHOU, MAS E O ACERVO LÁ EXISTENTE, QUE SERÁ FEITO DELE?
Demoro uma semana para postar algo acontecido no domingo passado, 04/04, o fechamento do Bauru Chic, casa do Egberto Cavariani. Estive lá com amigos na despedida juntamente com meu filho, Henrique Aquino, 16 anos, Sivaldo Camargo, Ana Bia Andrade e Marcos Paulo Rezende. Percorremos a casa nos seus últimos instantes e fomos os últimos a sair de lá. Fomos agracidos com um vinho, servido de mão em mão de forma melancólica pelo proprietário (também com alegria, pois a missão foi mais do que cumprida). Não estávamos ali para comemorar o fechamento, mas para dizer que a casa do Egberto marcou época. Sim, ela em tão pouco tempo soube fazer isso. Reuniu de forma fantástica a história de personagens que fizeram a vida principalmente fora dessa cidade e a divulgaram. Muitos deles estão retratados em suas paredes, com fotos e documentos. Uma raridade, mas só de ver o destino que poderá ser dado aquilo tudo, dava tristeza (continua dando). Comemos naquele dia o último Bauru original diferenciado. A receita do Egberto estava além das demais, pois seguia fielmente a prescrição de Casimiro. Perdemos todos a oportunidade de continuar consumindo aquela preciosidade.
Se a casa do Egberto é página virada na história de Bauru é o que veremos nos próximos dias. Ele bem que tentou conseguir um sócio, alguém com quem conseguisse dividir as agruras de manter uma casa comercial ao estilo da que possuia. Criou algo único, mas estava cansado, sem forças para tocar algo bem montado, mas necessitando de uma injeção nova e mais tino comercial. Ela não veio até o dia do fechamento, mas foi sinalizada, pois no apagar das luzes um casal de empresários bauruenses, também lá presentes estava a "parlar" com Egberto sobre uma possibilidade. Como já faz uma semana não sei se algo avançou ou foi só mais uma balão de ensaio. O que sei é que a casa permaneceria intacta, com tudo no lugar, porém tracada, por mais uns quinze dias, quando seria dado uma destinação a tudo o que está exposto no seu interior.
Vendo aquilo tudo e a intenção do Egberto em devolver tudo para os familiares de cada homenageado (quer algo mais ético do que isso?), não me segurei nas calças. Como presidente da Associação dos Amigos do Museus de Bauru fiz, através de ofício, uma solicitação junto ao prefeito municipal (para o dirigente da Cultura local, nem pensar, pois não possui direcionamento nessas coisas culturais) para que verifique as possibilidades junto à Egberto, para que todo o acervo lá existente tenha como seu destino o Museu Histórico Municipal de Bauru. Como ninguém por lá havia atinado para tal possibilidade me antecipei e dei o pontapé inicial. Esperei uma semana e vou hoje me certificar do que avançou. Lá no Museu já existe uma Sala homenageando o Sanduíche Bauru e nela poderiam estar acomodados o diploma do Casimiro e peças raras do Ponto Chic, a casa paulistana. Num outro espaço, a história de outros personagens bauruenses e da própria passagem por nós do Bauru Chic. Cá do meu canto vou informando a todos se pelo menos isso ocorreu, pois deixar aquele rico acervo ser dispersado é algo para endoidecer gente sã. Veremos...
Para finalizar, uma frase de João Guimarães Rosa (1908-1967), servindo para uma reflexão coletiva sobre isso tudo e algo mais: "A gente morre pra mostrar que viveu".
segunda-feira, 12 de abril de 2010
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14 comentários:
Apoio integralmente a idéia. Sou (era) fã assíduo do Bauru do Egberto, além de seu amigo há muitos anos.
MAURO BETTI
Meus caro
Choves no molhado...
O Bauru Chic era ótimo, mas acabou, foi-se e são poucos, cada vez mais, pouquíssimos os que ainda se interessam por questões culturais, patrimoniais e preservacionistas. Escreva aí, tudo vai se perder. Isso é Bauru meu caro e não adianta remar contra a maré.
Paulo Lima
Me desculpa Paulo, mas se cada um acreditar ainda penso que o coletivo possa ser modificado. eta moçada que vem por aí é pensante sim e pode estar bem orientada também pra conhecer coisas que já foram tentadas e a partir delas ter suas próprias idéias. eu, carioca-bauruense novata já tenho um convênio da unesp com o museu do futuro em bauru. estou apostando meu trabalho enquanto professora e meus alunos estão felizes com a idéia e trabalhando com paixão, fé, ideologia, ética e tantos dos valores que - na minha opiñião, podem mover o mundo. é um pouquinho a cada dia e cada um fazendo a sua parte. eu faço a minha e durmo tranquila. um beijo da ana bia andrade
ps - e eu nado muito bem. nunca contra. sempre com a maré a meu favor. converso com ela e a gente se resolve. beijo da ana bia otimista sempre.
O que pode parecer pessimismo do Paulo Lima, é uma constatação, é realismo. As pessoas tem a mania de estar ao lado da cruel realidade mas não fazem questão, não há ousadia e compreensão para se olhar para o lado.
Viver como Alice não dá.
Marcos Paulo
Mov. Comunismo em Ação
meus queridos
A Bauru de hoje não quer preservar nada. Veja o caso do BAC, do Tênis Clube, onde estão a jogar pesado com o pessoal do CODEPAC, pois querem derrubar tudo, fazer dinheiro, bufunfa de tudo. O Henrique me disse que numa das reuniões, bem lá atrás, um pessoal da Casa Luzitana lhes disseram que achavam a preservação linda, que admiravam tudo lá na Europa, mas aqui não, pois não fazia sentido. Disso extrai que, quando recai sobre os outros, maravilhoso, quando se volta para o nosso buraco, tô fora. É lindo lá e horrível aqui. Eles sempre pensaram e agiram assim. Esqueça e toquem suas vidas, continuando aprontando, cada vez mais, pois não vão mudar essa mentalidade retrógrada.
Paulo Lima
queridos
eu continuo acreditando nas mudanças. senão não respiro. acredito também no mundo da fantasia sim ! dos sonhos, da imaginação. lamento, sou um ser criativo que pensa, reflete, projeta e incita os alunos a projetarem uma realidade possível. quem sabe o que é possível ou não ? no meu caso - que acredito em deus, só ele. como estou chegando em bauru, desconheço as estórias, mas de onde venho se as pessoas não tentarem mudar, daí nada acontece mesmo. conversa de botequim é bacana pra relaxar, mas ação de verdade é no dia a dia. sendo ou não alice, o país das maravilhas está logo ali. basta cada um fazer - e digo arregaçar as mangas mesmo - um pouquinho. assim aprendi na minha trajetória de vida. espero o melhor desta cidade e penso que já estou provocando alguma mudança sim - a cada dia com o meu trabalho. se a mentalidade é ultrapassada... sabe que eu nem reparei? nem ligo pra isto. olho pro lado, mas continuo acreditando nas possibilidades e escapo que nem peixinho pelas frestas que sempre existem. se não fosse assim na estória ainda estaríamos brigando pelo fogo ou dentro da caverna tentando decifrar o que é ou não realidade (conceito aliás muito relativo). enfim, acredito na luta de cada minuto da vida. e, assim vou caminhando. beijos da ana bia
"E todos viverão felizes para sempre".
Marcos Paulo
Mov. Comunismo em Ação
Posso ser sincero.
Vou ser.
Nós, que ainda nos preocupamos com essas questões, fazemos questão de ficarmos nos digladiando sempre, em todos os momentos, como gato e rato. Paremos e pensemos: estamos na mesma trincheira e temos que lutar sim, cada vez mais, cientes de que perdemos o jogo ou não. Eu sei não desistiremos e criaremos muito caso para esses pulhas de plantão.
Baixemos a bola entre a gente e centremos nosso fogo na corja da qual não concordamos com nada.
Após isso, deixo minhaperguntinha para o Henrique:
Voce disse que estaria verificando o que já foi feito para que os documentos do Bauru Chic fiquem por aqui. E aí? O que tem para nos informar. Eles já fizeram alguma coisa ou tudo vai mesmo ser devolvido para os parentes dos homenageados. Informe a gente para que o debate ocorra e ataquemos quem nada faz para resgatar peças tão importantes.
Aguardo, viu seu Henrique...
Gutão
valeu gutão ! pensamos parecido. também sou muito prática e operacional. concordo contigo e continuo acreditando que seremos felizes para sempre sim ! já dizia o astronauta quando pisou na lua que a terra era azul. caso você tenha acesso ao jc - daqui de bauru - veja o projeto que estou tocando com meus alunos pra pensar um bauru mais bacana - mesmo que a médio e a longo prazo. não importa. a questão é não chegar no caos no qual se encontra hoje a minha cidade maravilhosa. mesmo perdidinha nesta terrinha caipira, estou tentando com unhas, dentes e garras, fazer alguma diferença e sair do marasmo. aliás esta palavra não faz parte do meu dicionário pessoal. caso contrário não estaria falando de meu projeto de doutorado com a daspu, mesmo correndo riscos de não ser compreendida por aqui - em estágio probatório - tendo sido manchete do jornal bom dia de segunda feira. o projeto do museu do futuro em bauru pode ser muito legal se esta garotada - com 20 anos a menos do que eu - participar de maneira pensante e reflexiva. mexendo a bunda da cadeira e botando a mão na massa. também queria saber do henrique como estão as coisas quanto ao bauru chic. só pra provocar e não perder a piada: sou beatlemaníaca por geração e idade - não esqueço do dia que john lennon morreu, tampouco que foi na park avenue em frente ao central park. sempre que passo por lá dou uma paradinha pra lembrar dele. e strawberry fields no meio do central park também é tudo de bom. como dizia sempre em sala de aula uma velha professora minha - ana branco - sonho que se sonha só continua sonho e junto pode tornar-se realidade. e, pra mim the dream is not over, parecido com as palavras de che guevara quanto a não perder a ternura jamais, né? beijitos a todos. anabia
"Tem pessoas que enxergam o que apontam para ver, tem pessoas que enxergam todo o horizonte, e tem aqueles que enxergam além do vasto horizonte conquistando-o, são os reais revolucionários". Assim como o real Strawberry Field em Liverpool.
Marcos Paulo
Mov. Comunismo em Ação
Gente, basta disso. Como beatlemaniaco concordo que o Strawberry Field seja em Liverpool, mas todos aqui estamos no mesmo barco, uns mais animados para a luta, outros desanimados, pois cientes de como agem as forças reacionárias, mas na mesma trincheira de luta, por um país melhor e mais justo. Um a das coisas que aprendi na vida e com a vida é nunca mne vangloriar dos lugares por onde passei, nunca apregoar isso atabalhoadamente, pois passa a impressão de que estou querendo me mostar aos demais. Sei que ninguém aqui está a fazer isso, mas a questão levantada pelo Henrique, e que perguntei a ele, é se o acervo lá do Bauru Chic vai ou não ser repassado para um museu de Bauru ou se será devolvido para os familiares dos homenageados no bar que fechou?
Cadê o Henrique?
Gutão
não foi a intenção de desfilar currículo por aqui. perdoem-me se fui mal compreendida. até porque tenho enorme respeito por este fórum criado pelo henrique. mas, no central park tem o monumento strawberry fields dedicado aos beatles e é o local onde em algumas datas os fãs locais prestam homenagem ao john lennon. enfim, henrique daqui a pouco chega já morrendo de rir de toda esta bobagem. depois destas - tô fora ou fui como se diz na minha terra. detesto gastar meu tempo com coisas que não levam a lugar nenhum. realmente me interessa mais o bauru chic do lado de casa que me deixou sem meu lanche noturno e com dó de uma cidade que não preserva um patrimônio tão bonito e importante. ana bia
AQUI ENTRA MEU COMENTÁRIO:
Senti muito a perda do Bauru Chic, do amigo Egberto e mais ainda, se ocorrer mesmo,a também perda do acervo lá existente, com sua dissolvição, ou melhor, distribuição entre as famílias do homenageados. Do ofício enviado ao prefeito, por enquanto não tenho nenhuma resposta.Ligo hoje para o Egberto ver se já foi contatado e verifico com os amigos dos museus e depois informo. A cobrança deve existir sim, sempre, pois trata-se de peças importantes que com algum trabalho poderiam ser incorporadas ao acervo do Museu Histórico.
Quanto à discussão entre duas pessoas queridas, digo que são divergências naturais, de posturas, posicionamento diante da vida, formas de ação e de como cada um encara sua vida. A vida deve ser mesmo recheada de discussões, nada pronto e acabado. Acho que poderia ser conduzida de uma outra forma, mas da forma como foi, serviu para conhecer melhor duas cabeças pensantes, cada uma agindo e atuando ao seu modo. Continuo antenado com ambos, cada um ao seu modo.
Henrique - direto do mafuá
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