segunda-feira, 25 de abril de 2011

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (27)

O QUE DEU PARA PESCAR NESSES DIAS DE FERIADO PROLONGADO
Meus dias de feriado foram todos passados entre livros dentro da Cidade Maravilhosa. Por sorte não padeço do mal da rinite e adoro estar enfurnado entre papéis. Nas poucas horas vagas, vislumbrei algumas coisinhas, relatadas a seguir:

1. A presidenta Dilma no dia do feriado de Tiradentes falou sobre alguns dos inconfidentes: “Eles foram exilados por haverem se atrevido a desejar um Brasil independente. Na nossa História, muitos tiveram que se exilar por desejar também liberdade e democracia. Os brasileiros que, como eu, sofreram na pele os efeitos da privação de liberdade sabem o quanto a democracia institucional faz falta quando desaparece”. Uns lutaram por um ideal lá atrás e hoje estão em outra, esses precisam ser denunciados. Mais ainda: cada povo tem o herói que merece.

2. Lula foi taxado de gostar duma birinaite, mas quem foi pego com a boca na botija foi mesmo um tucano, Aécio Neves, que recusou-se a fazer o teste do bafômetro. Sobre o assunto muita baboseira, mas Zeca Pagodinho foi categórico: “Se fosse eu, não teria bebido. Mas esse não é o meu caso, porque não dirijo mais, só bebo”.

3. Um guru indiano, xodó norte-americano, Parag Khanna, desses a palestrar por todos os cantos do mundo cobrando altas somas, autor de um livro intitulado “Como governar o mundo”, disse em entrevista que: “O mundo vive uma segunda Idade Média, com grande fragmentação de poderes e, caminha para uma nova Renascença”. E por fim dá a estocada que eles adoram: “É legítimo matar Muamar Kadafi”. Sim, confirmo eu, mas nada leio dele sobre o rei da Jordânia e todos os truculentos da mesma cepa, instalados lá na Arábia Saudita. Deve também odiar Cuba e todos batem efusivas palmas.

4. Abismado fico com a constatação de que a imensa maioria dos países da América Central são superdependentes dos EUA, além de afetados por desastres naturais imprevisíveis e prisioneiros da violência e do tráfico. Ou seja, tornaram-se presas fáceis dentro de um jogo de xadrez onde estão sempre encurralados e sem ação. Meros joguetes, com a honrosa exceção de uma ilha caribenha a resistir como pode, Cuba. Como falar mal disso.

5. Meu filho ganhou dezenas de livros nessa viagem, mas não escapei de comprar-lhe um, promessa antiga, “Veias abertas da América Latina”, o clássico do uruguaio Eduardo Galeano. No refeito prefácio, algo a instigar leitores e adoradores da dúvida: “Em 27 de julho de 2001, o presidente do EUA, George Bush perguntou aos seus compatriotas: ‘Voces já imaginaram um país incapaz de cultivar alimentos suficientes para prover sua população? Seria uma nação exposta as pressões internacionais. Seria uma nação vulnerável. Por isso quando falamos em agricultura estamos falando de uma questão de segurança nacional’. Foi a única vez em que não mentiu”, conclui o escritor. Seria hilário se não fosse cruel. Eles pensam muito na soberania deles, mas lhufas na dos outros. Nos fodem de verde e amarelo. Na revista Brasileiros desse mês uma entrevista com Galeano: http://www.revistabrasileiros.com.br/edicoes/45/textos/1473/

6. Duas matérias me agradaram muito em órgãos de imprensa. A primeira na edição 643 de Carta Capital, “O diário do Araguaia”, com o dia a dia narrado pelo líder da guerrilha, Maurício Grabois, em escritos mantidos sob segredo pelo Exército há 38 anos (http://www.cartacapital.com.br/politica/exclusivo-o-diario-do-araguaia ) e no jornal O Globo RJ de ontem, “Agenda revela a rede de terror do Riocentro”, com a divulgação da caderneta de telefones do sargento morto, onde listava os envolvidos com a tortura e a espionagem (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/04/23/agenda-do-sargento-que-morreu-no-atentado-no-riocentro-revela-apos-30-anos-rede-de-conspiradores-do-periodo-924305027.asp ). Da Carta Capital, a confirmação do que já sabia, são bons, mas d’O Globo, um revival de tempos saudosos de uma imprensa que saia a campo para grandes reportagens. Guardo as duas.

Ernesto Varela (não digo Marcelo Tas, pois esse é igualzinho a todos os outros) faria um estrago com algo assim nas mãos.

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